Acompanhe a pesca de cerco e pesca da lula em Arraial do Cabo

sex, 25/05/12 por juliana briggs | categoria Episódio da temporada 2012, Temporada 2012

É do alto que o vigia do mar faz seu trabalho. Como um maestro, ele rege uma orquestra de pescadores que, lá embaixo, lançam suas redes ao mar. A jornada começa cedo, ao amanhecer do dia, e muitas vezes só termina no fim da tarde. E quando anoitece, o mar fica todo iluminado para atrair as lulas. A equipe do Globo Mar passou noite e dia nas águas de Arraial do Cabo para mostrar como é o trabalho desses verdadeiros artistas do mar.

Às 6h30, partimos para a praia em Arraial do Cabo. E os pescadores já estão começando a arrumar as canoas para colocar no mar. Junto está o vigia do mar, o regente do espetáculo que está prestes a começar. Seu Quinzinho ainda não está a postos, lá no morro, mas já está de olho em tudo. “A gente olha para ver se a água está boa ou está ruim para peixe. Agora, a gente já vai ver no alto para ver como está a corrente. Lá do alto, eu aviso aos pescadores o jeito que tem que ser jogada a rede”, explica.

O Globo Mar tem uma aula animada sobre a pesca de cerco, uma técnica usada há séculos na Praia Grande de Arraial do Cabo, Região dos Lagos, norte do Rio de Janeiro. Seu Quinzinho revela que é uma tradição dos pescadores desde os índios. “Eu estou com 55 anos e fui ser vigia com 34”, revela. “Aqui é o topo da pescaria, é o ponto mais alto da pesca, para ser vigia de cardume”, diz quando chegamos no alto do morro.

Há cinco vigias do mar e 2,4 mil pescadores artesanais em Arraial do Cabo. “A gente começa puxando o cabo, que chama de cabeiro. Depois vai para o remo, chama remador. Depois, vai jogar a rede, depois vai ser o mestre. O mestre governa a embarcação, é o pescador que vai ficar em pé na canoa. E o sinal que eu faço, ele obedece”, declara Seu Quinzinho.

A repórter Poliana Abritta acompanha o trabalho do vigia e observa como ele e os pescadores estão afinados já na primeira etapa da pesca, que é de armar a rede.

O desenho da rede no mar muda todos os dias conforme a correnteza. A rede fica presa às rochas em uma ponta. Na outra, ao fundo do mar. Dois cabos são esticados até a praia.

“Essa região aqui tem um privilégio de poucas regiões do mundo, que é onde acontece uma ressurgência. A água fria do fundo é mais fria, e a água quente está por cima. Essa região é onde essa água fria sobe para superfície e, quando ela sobe, traz muito alimento. A experiência dos pescadores diz que o cardume vem nessa região e fica se alimentando nesse trecho. Eles aproveitam esse comportamento natural do cardume e fazem o cerco do cardume”, explica o professor Marcelo Vianna;

“Isso aqui é rico. Essa praia é rica. O que atrapalha a gente um pouco é a invasão dos barcos industriais. Nós botamos a canoa aqui de manhã cedo e aguardamos que o cardume venha de encontro à gente. Os barcos industriais vão de encontro ao cardume”, diz Seu Quinzinho.

Mas o professor Marcelo revela que isso não era para acontecer: “não pode acontecer, é uma reserva extrativista. A frota industrial não é artesanal. Ela não participa da reserva extrativista. Então, os barcos industriais têm que obrigatoriamente ficar fora da reserva”.

Depois, nós seguimos para a parte mais alta de Arraial do Cabo, onde Seu Quinzinho já está a postos para orientar os pescadores que vão entrar com a canoa de novo. “Eles entram para puxar a rede e ver qual produção que tem”, diz o vigia. “A gente tem rádio também, a gente tem quase tudo, mas a gente está usando porque o gesto já vem do índio. A tradição do pescador é a toalha, o pano. Se a gente começar a usar o celular, a gente não vai usar o remo, vai usar o motor. Então, a gente tem que manter a pesca, a verdadeira pesca artesanal”.

Chega a hora de puxar a rede. O pessoal da canoa solta as âncoras para rede ser retirada. Os pescadores no mar ficam atentos ao sinal do vigia, que lá no alto se movimenta. É ele que vai orientando à medida que eles vão recolhendo a rede, tudo em harmonia para tirar a rede do mar.

Depois, Seu Quinzinho dá ordens para a turma da areia puxa a rede do canto. É por isso que se chama de pesca de cerco. Eles fazem o cerco, prendem o peixe e puxam a rede. Os peixes ficam procurando uma saída, mas estão cercados.

Inevitavelmente, algumas tartarugas vieram com a rede, mas os pescadores tratam de devolver tudo para o mar: “toda tartaruga que nós pegamos, nós devolvemos. Acontece até alguma morrer, mas isso aqui em 100 acontece com uma”, diz Roberto.

Com cerca de 500 peixes, segundo os pescadores, eles conseguiram uma pesca razoável. À tarde, Seu Quinzinho rege mais uma pescaria de cerco de praia.

À noite, muda o cenário, mudam os artistas. Para acompanhar a pesca da lula, nós partimos em uma embarcação maior. Saímos de Cabo Frio e vamos de novo até Arraial do Cabo.

Para gente fazer a pesca da lula, temos que passar no meio de duas montanhas, um local chamado Boqueirão. A pesca da lula é feita ao longo desses costões e em frente à Praia Grande.

O pescador começa a se preparar às 11h35. A pesca só começa no fim do dia, mas ele já se arruma para não perder a vaga do melhor lugar. Enquanto espera a noite chegar, nossa equipe se divide. Parte vai para o barco Angela Mar. Outra para o Dedéia, o barco de Seu Jorge e Seu Beto, que vão mostrar como se pesca lula.

Seu Beto tem 30 anos de pescaria e revela o segredo para pegar a lula: “é lugar bom e ter sorte. Você tem que pegar um lugar bom, pescar sozinho e a lula vir. Não tem nem segredo”.

A pesca começa ao anoitecer, mas já tem lula na área. Não são nem 17h e já tem pescador pegando lula. É só um começar a pegar, que os outros ajuntam em volta dele. E a baía da Praia Grande começa a lotar. O pescador se prepara para jogar o zangarejo, um anzol com sete pequenos anzoizinhos. Tem até um com oito que é mais pesado.

O sol se põe e o mar fica todo iluminado. A luz é a isca para a lula. Ela fica hipnotizada pela luz e assim é fisgada. Antigamente, os pescadores usavam lampião a gás para fazer a pesca da lula. Depois, passou para luz à bateria. Hoje, já tem gente usando gerador.

Com paciência, as lulas voltam. A repórter Poliana Abritta ajuda na pesca de uma delas e acaba suja com a tinta do animal. “É essa tinta aqui que a lula usa pra se defender, para camuflar o ambiente para escapar do predador”

“A lula é um molusco, molusco igual ao mexilhão. É um molusco cefalópode. E como molusco, ela tem concha também, só que a concha da lula é interna, a gente chama de pena”, explica o professor Marcelo.

Assim, a pescaria avança noite adentro. De repente, nosso barco passa por cima de uma rede, uma rede de pesca de cerco que agarra na hélice.  Um dos pescadores do nosso barco caiu na água e soltou a rede da hélice.

Existe um jeito diferente de pescar a lula: com a rede. “A lula fica no escuro, aí a gente manda bastante luz para ela subir. A gente faz, em três horas, duas toneladas”, conta o pescador.

Eles soltam a rede na vertical, rente ao barco, até alcançar o fundo do mar. Quando um cardume aparece, eles puxam as cordas até a rede chegar à superfície. Em seguida, recolhem. Mudar a cor da luz é mais uma estratégia pra chamar a atenção da lula.

Nos meses de março e abril, quando o Globo Mar esteve em Arraial do Cabo, os pescadores artesanais pegaram 200 toneladas de lula e 80 toneladas de peixe. Eles continuam batalhando para reforçar a fiscalização dos barcos industriais e para criar um plano de manejo para a reserva extrativista Marinha.

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40 Respostas para “Acompanhe a pesca de cerco e pesca da lula em Arraial do Cabo”

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  1. 21
    Guilherme:

    Sou fã da Poliana, sempre acompanhei sua carreira como jornalista no DF, agora veio abrilhantar o Globo Mar. Parabéns pelo excepcional trabalho. Desejo a vc, Poliana, cada dia mais sucesso.

  2. 22
    Guilherme:

    Sou fã da Poliana, sempre acompanhei sua carreira como jornalista no DF, agora veio abrilhantar o Globo Mar. Parabéns pelo excepcional trabalho. Desejo a vc, Poliana, cada dia mais sucesso. Parabéns a toda equipe.

  3. 23
    Marcio gomes fortes:

    sem comentário….pra ser bom tem que ser tv GLOBO

  4. 24
    Chico Pescador:

    Parabens Globomar por terem apresentado a cultura da pesca artesanal a arte da sobrevivencia.

  5. 25
    beto castelo branco:

    obrigado globo mar, por este espétaculo que a natureza nos dar com pura beleza.

  6. 26
    Catia Valéria Gomes Teixeira:

    Parabéns Globo Mar por terem escolhido a linda cidade de Arraial do Cabo!! Excelente matéria, ficamos muito contentes em poder acompanhar pela TV tamanha beleza.

  7. 27
    Pedro Paulo da Silva:

    A descrição acima da pesca de cerco e da lula é um elenco de crueldades praticadas por este animal que tanto “evolui” tecnologicamente mas ética e moralmente é o pior de todos os animais. Mas acho ótimo que tudo isto seja mostrado, o programa é ótimo, mostra a realidade, o que choca é a insensibilidade dos repórteres, a mesma da maioria das pessoas. Mas eu me pergunto, será que lá no fundo do coração, não surge a pergunta: Temos este direito, que estamos fazendo, meu Deus?

  8. 28
    Fernando Macedo:

    Paraíso !! conheci a 8 anos atrás e me apaixonei, aprendi a mergulhar e sempre que posso estou lá , fugindo do estres da cidade

  9. 29
    Fernando Dummer:

    Perfeita esta reportagem, mostrando em detalhes como os pescadores fazem seu trabalho. Parabens.

  10. 30
    Paulo Henrique Menezes:

    Perfeição , esta é a palavra para definir Arraial ,porem as autoridades competentes infelizmente não estão cumprindo seu dever , me refiro as construções desordenadas ao crescimento da criminalidade e outros problemas vividos nas grandes cidades e que já estão migrando para o interior.
    Mesmo assim nada vai tirar o brilho e o encanto que tem Arraial do Cabo.
    Parabéns !!!

  11. 31
    Adilson Ribeiro:

    Muito lindo Arraial do Cabo e essa reportagem foi maravilhosa, esse programa precisa entrar em melhor horario, pois é muito tarde, ainda bém que posso assisti-lo pela Internet. parabéns a produção.

  12. 32
    vandeir fernandes goltara:

    este programa deveria ser como o FANTASTICO e o JN nunca sairem do ar. parabéns

  13. 33
    PAULO:

    LINDO PROGRAMA MAS, PASSE MAIS CEDO…….TEMOS QUE TRABALHAR…..KKKKKKKKK

  14. 34
    Cesar:

    Ernesto, capitaneando uma fantástica aventura, trazendo para nos todas as maravilhas do mundo náutico, sempre contou brilhantes parceiras, mas Poliana, especialmente por esse episódio, deveria se efetivar no programa. Competência, simpatia e leveza é o que espera de uma profissional de um programa com essa linha (sem contar a beleza dela, que é a jornalista mais bela da TV brasileira). Parabéns, Globomar! Parabéns, Poliana!

  15. 35
    sergio murilo:

    Não sei como esse programa não passa em horário nobre mais cedo!

  16. 36
    manolo:

    Ótima matéria mostrando um pouco desse lugar tão lindo . sejam bem vindos, turistas. mas por favor , não sujem nossas praias . elas sempre estarão aqui . belas assim,só depende de nós.

  17. 37
    Cabo Marco Antonio:

    Parabéns a equipe globo mar, tive o prazer de recebe-los quando servia na fragata, hoje estou em salvador e não perco um programa. Para os amantes do mar, este é como se fosse o Auto Esporte dos amantes do carro.

  18. 38
    Sergio Figueiroa:

    Com certeza é o melhor programa da tv brasileira mas deveria passar mais cedo ou outro dia mais adequado pois o cansaço as vezes impede a nos afixicionados imagine o que não são tão ligados .
    Ou ao menos respeitar os horários.

  19. 39
    Renaldo Carvalho:

    Parabéns a vocês da Globo mar pela excelente matéria, só esqueceram de dizer que melhor que o Arraial, só o Céu.

  20. 40
    sergio:

    sera que esse Pedro Paulo da Silva se alimenta ?

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