Conheça os segredos da Baía de Guanabara

sex, 11/05/12 por juliana briggs | categoria Episódio da temporada 2012, Temporada 2012

Musa inspiradora de tantos poetas e famosa por sua beleza, mas conhecida também pela sujeira e poluição, a Baía de Guanabara esconde mistérios. O Globo Mar desta quinta-feira mostra como é feita a pesca na região e revela a existência de pantanal fluminense.

O movimento na Baía de Guanabara começa cedo, com as embarcações e na praia com o pessoal do esporte. A canoa havaiana começa treinar bem cedo, antes de sair para o trabalho. E é com eles que o Globo Mar pega uma carona para chegar até a lancha que vai nos guiar pelas águas da baía. Apesar da falta de experiência, dentro da canoa, a repórter Poliana Abritta foi pegando o jeito e aprendendo aos poucos. Mesmo com ventos fortes, a equipe da canoa segue até a Praia Vermelha. Mas o mar estava muito mexido e a terceira canoa que remava virou, e o resgate durou quase uma hora. Com todo mundo salvo e o pessoal conseguindo chegar até a praia, continuamos o roteiro.

Vamos até o barco onde pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro fazem um monitoramento constante da Baía de Guanabara para medir a qualidade da água. O trabalho é feito toda semana, há 25 anos. E os resultados não são bons. “Tem esgoto, lixo, metal pesado, óleo de barcos. O grande vilão é o esgoto que não é tratado, mas ainda tem muita chance de recuperação”, explica Rodolfo.

Nossa viagem mal começa e surge um grande imprevisto: uma das lanchas para de funcionar e somos obrigados a trocar por outra. E seguimos para Paquetá, onde vai ser a nossa base, há 15 quilômetros do centro do Rio, no fundo da baía. Desembarcamos à noite, junto com quem vem de barca depois do trabalho.

A Ilha de Paquetá é um bairro do Rio de Janeiro, mas nela não transitam carros. E em uma área rasa, de uns dois metros de profundidade, só podemos seguir com voadeiras.

E chegamos a uma área em que o mar está tão calmo que parece uma lagoa. Lá vamos encontrar pescadores que fazem a pesca de curral. Como próprio nome já diz, com essa técnica, o peixe fica encurralado. “Ele entra na correnteza da maré, fica mariscando, fica preso. É um labirinto”, declara João Português.

Pescador a vida inteira, Samuel tem três currais. E a repórter Poliana Abritta o acompanha nessa aventura. Ele passa a rede de uma ponta à outra do curral e começa com a tainha. “O peixe que gente tira diariamente é tainha. Os outros peixes de época são o robalo, curvina. O que não tem interesse a gente joga de volta no mar. E sempre vem lixo com a rede: escorredor de arroz, mato, sandália”, informa o pescador.

Peixe mesmo que é bom não tinha muito. “O curral principalmente na época de verão chega a tirar até 100 kg de peixe em cada curral”, comenta Samuel. “Aqui essa pescaria já dura mais de 200 anos, desde a época dos índios que já tinha esses currais aqui”.

Encontramos um grupo de pescadores fazendo uma reforma de curral. Josivaldo é o mergulhador. Debaixo d’água, arranca os bambus que já estão velhos.  “A Baía de Guanabara tem no fundo dela um manguezal, que é um berçário natural. Ela é um estuário que também é um berçário natural. O que o curral faz é dinamizar esse ambiente de berçário, porque ele oferece abrigo, ele oferece alimento e, com isso, propicia o crescimento de peixe, de camarão, de outros crustáceos”, explica o professor Marcelo Vianna.

A pescaria de curral salva uns e outros e é o ganha-pão de muita gente. João Português revela que é de lá que tira o sustento para três famílias. “Eu pesco a vida inteira, tudo que eu tenho é da pescaria, as economias. Não tem outra vida. A gente nasceu para a natureza”.

No próximo bloco, a baía mantém áreas que estão intocadas desde a época da colonização do Brasil. E tem moradores que muita gente nem imagina.

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BLOCO 2

Saímos de Paquetá e seguimos baía adentro para desvendar outros segredos escondidos na Guanabara. Entramos na Estação Ecológica da Guanabara que é a área de maior proteção ambiental da região. Ela entrou nessa categoria tão restrita porque, no mangue, existem partes que estão preservadas exatamente como eram desde a época da colonização do Brasil.

O manguezal divide a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, fica bem no meio e evita a junção dos centros urbanos. Tem influência dos rios e do mar. “Aqui a gente não vê resquícios de civilização. É como uma viagem no tempo, é como voltar 500 anos na história do Brasil. É um patrimônio ambiental e também histórico. Isso aqui preserva a memória do nosso país”, explica Breno.

O caminho vai ficando estreito e cheio de surpresas.  E nós trouxemos uma convidada para ajudar a traduzir essa beleza. “Nós já vimos garças, socós, uma garça azul típica da área de manguezal. Vimos também os colhereiros, citando a característica do bico em forma de colher, por isso a origem do nome, porque ele se alimenta em águas mais rasas, balançando em zigue-zague e capturando os crustáceos que dá a coloração da plumagem dele”, aponta Ana.

Muitas espécies encontradas na região estão em extinção e o mangue é um refúgio para elas. “É uma área importante que serve como abrigo, para alimentação e reprodução, tanto das espécies visitantes como as migrantes”, explica Ana.

Nessa área, é permitida a pesca amadora. Então, é possível encontrar barco com gente pescando por lazer, por esporte. E encontramos também gente que trabalha nessas águas.

Uma parte deteriorada do mangue está sendo recuperada por um projeto de reflorestamento. “São várias mudas todas juntas, que iriam competir, algumas iriam acabar morrendo e acaba ser espalhando em um espaçamento adequado, de um jeito que elas não vão competir, vão jogar semente, vão recuperar o terreno”, explica Rafael.

As mãos que já tiraram o sustento do mangue, agora ajudam a recuperá-lo. Depois de 20 anos catando caranguejo, hoje Carlinhos trabalha no plantio das mudas. “É importante, porque essa área aqui tem muitos anos que ela está assim. Com a gente plantando assim, com os anos o caranguejo vai entrando aqui’, comenta. “O certo é a gente plantar com a luva, mas espanta a energia para poder sentir a terra, para poder plantar mais bem plantado. Tem que ser com a mão para pegar energia”.

O manguezal já foi visto como área suja, mas hoje sua função é reconhecida. “Funciona como se fosse uma estação de tratamento de esgoto natural, o mangue presta esse serviço ambiental, ele melhora a qualidade da água que atravessa seu bosque”, declara Breno.

Uma visita inesperada surpreendeu toda a equipe.

“quem se lembra da história do joão e maria, daquelas crianças que pra não se pederem na mata vão jogando migalhas de pão…aqui os pescadores fazem isso, quando eles entram pra catar caranguejo….demorou…olha o ponto de encontro aí.

“A imagem da Baía de Guanabara é de degradação ambiental, poluição lixo, aterro. Mas aqui a gente tem esse contraste. Aqui a gente tem áreas preservadas da baía”, comenta Breno.

De volta a Paquetá, nossa equipe se prepara para uma nova aventura. Saímos à procura de antigos moradores da baía, uma espécie que virou símbolo do Rio de Janeiro: os golfinhos. Mas não demorou muito e eles apareceram. “No final da década de 90, a população estava em torno de 72 animais. Hoje, ela está em 42 animais. É um declínio populacional de 38 % nesse período curto de tempo. O problema é que a qualidade do ambiente vem sendo diminuída sempre”,

“Esses poluentes entram na Baía de Guanabara e vão chegar aos botos a partir dos peixes, das lulas, dos animais que eles comem. Então, o boto está no topo da cadeia alimentar. Ele serve para a gente como sentinela ambiental, o animal que a gente utiliza como referência para o que está acontecendo na baia”, explica Jose Lailson.

“Eu acho que o boto é um bom símbolo de que a Baía de Guanabara tem esperança, mas essa nossa esperança está diminuindo ao longo dos anos”, revela Alexandre.

Nós saímos de um paraíso ecológico e voltamos para a Baía de Guanabara que todo mundo conhece, onde a beleza natural se mistura à movimentação de uma grande cidade. Será que quem conhece esse cenário tão agitado tem ideia do existe do outro lado? “O que a gente vê é que a gente conhece muito pouco da Baía de Guanabara. A gente usa diariamente, mas a gente não a conhece. Quanto mais a gente conhece, mais a gente percebe o quanto ela é interessante, o quanto ela é heterogênea e o quanto que ela é diversa”, afirma o professor Marcelo Vianna.

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29 Respostas para “Conheça os segredos da Baía de Guanabara”

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  1. 10
    zeni pinheiro:

    estou vendo pela web,porque passa na tv muito tarde o que muita gente não concorda ,priorizando as novelas …e tanta gente interessada no assunto.
    sugiro um giro pelo mundo mostrando os canais construidos pelo homem e são centenas deles, e sei que muitos telespectadores vão se encantar com o assunto ligado às aguas são tantos que poderia ser em dois programas…gratos zeni rj

  2. 11
    Elaine:

    Adorei a matéria! A baía de Guanabara deveria ser linda antes de toda essa poluição. É uma pena ver ela assim. Espero que algum dia posso ser recuperada! Parabéns Globo Mar, ótima matéria!

  3. 12
    Felipe Fernandes:

    Belísssima reportagem, a Baia de guanabara precisa de apoio para melhorar. lastimo o não aprofundamento da reportagem com a ilha de Paquetá, um local preservado cultural, historicamente e ambientalmente que esta abandonado pelo poder publico e que tem tudo para voltar a ser amenina dos olhos da Baia de guanabara.

  4. 13
    tom:

    que erro primário também me espantei como apenas 55 campos de futebol ?

    não seriam 55.000 campos de futebol?

  5. 14
    lucio postai:

    concordo com a roberta ,o comentario numero 4,é uma falta de interesse com a cultura brasileira

  6. 15
    Andre Artur e Bernardo:

    Adoramos esse programa, e agora com essa brilhante abordagem da Guanabara nos sentimos premiados.

    Estivemos em Paqueta nao faz muito tempo e as saudades dos botos (para mim que sou mais velho) ficou latente,

    Bom saber que ainda existem, mas uma vergonha para os nossos governantes esse legado que estamos deixando para as futuras gerações.

    Esse programa deveria passar mais cedo ou aos sábados para fazer mais diferença e motivar as pessoas a respeitarem mais o mar.

    Assistimos pelo computador, mas como a definição ainda nao eh das melhores perdemos muito.

  7. 16
    Nelson N.Leitão:

    Realmente dizer que a Baia da Guanabara é do tamanho de 55 campos de futebol, foi demais! E outra, porque não mencionaram o nome do rio, ou dos rios que fazem parte da APA, que são eles: O principal é o Guapiaçú (Rio da reportagem), o Macacú e o Guaraí (O menor).

  8. 17
    Raquel:

    Parabéns pelo ótimo programa ! Eu tinha conhecimento sobre essa área toda da B.G. por ser formada em Geografia e morar em Niterói, mas é sempre bom ver e ouvir mais a respeito. Realmente é uma região muito vista, porém pouco conhecida. tantas pessoas atravessam a ponte Rio-Niterói todos os dias mas só olham, não vêem…
    Fico feliz por ter o IBAMA cuidando do enorme manguezal do fundo da Baía, que sabemos não ser o mesmo do ínicio do seculo XX, mas ainda ta la, salvando ! (digo IBAMA pq ao passar pelo Rio-Magé é a placa que vejo).

  9. 18
    vera lucia dos santos mota barreiro:

    boa tarde so hoje pode ver o globo mar, ao inves de termo programas inuteis como as novelas e outro porque não se cologa globo mar no horario igual do globo reporte pois a maior parte da população estuda e trabalha e precissamos de programas que agregam valor a nossa cultura ao inves de ver simulaçães inuteis de sexo ja esta na hora de da valor ao conhecimento e oque sera das crianças do amanha um forte abraço a todos, e ficaremos na torcida por mudanças na programação.

  10. 19
    marcio jose nobre cruz:

    Boa noite, ontem dia 12/05/2012 estive pescando na baia de Guanabara e tive a grata surpresa e ao mesmo tempo uma grande tristeza a grata surpresa foi de ter a oportunidade de ver um grupo de golfinhos e a tristeza foi de observar como a nossa baia esta poluída apesar de tantos programas de despoluição da baia da Guanabara, como é possível o descaso com um lugar de tamanha beleza natural sera que a nossa baia vai sucumbir ao descaso de nossos governantes. ontem quando vi o grupo de golfinhos me lembrei de quando era criança com meus quinze anos e meu pai me levava ao seu trabalho e íamos de barca de Niterói para o Rio de janeiro e durante a travessia eramos acompanhados pelos golfinhos. sera que teremos a oportunidade de termos novamente esta bela companhia.

  11. 20
    Luiz miranda:

    Uma bela matéria,valeu.

  12. 21
    Elcio Alves deAraujo:

    Gostei dareportagem, mas não entendi porque o pescador não retirou o material encontrado e que não pertence a água de volta para a terra.e que isto seija sempre mostrado a todos que queira ver o que é para ser conservado no planeta . Globo PARABENS.

  13. 22
    felipe andre:

    parabens pela reportagem,tenho barco e trabalhei na area de curral com a gdk, e na epoca entramos en varios rios a sujeira e muito grande pois a populaçao que vive nas margens do rio por, ex rio estrela jogan todo tipo de lixo no rio.

  14. 23
    Marcos:

    Gostaria de sugerir a equipe do Globo Mar uma visita a Baía de Sepetiba que caminha a passos largos rumo a degradação ambiental , haja visto a construção de vários empreendimentos portuários e industriais no seu entorno . Os botos da Baía de Sepetiba também merecem viver e não somente as toninhas de águas abertas . No mais , lamento a agonia lenta dessas duas Baías Cariocas que , ao invés de serem preservadas , estão sendo brutalmente violentadas diariamente , sem a menor piedade dos que , por obrigação , deveriam coibir os abusos praticados . O final dos tempos aproxima-se , quem será a próxima vítima ? Será a Baía de Angra dos Reis ?

  15. 24
    Robson França:

    Achei ótima a reportagem, mas acho que tinha que ter mostrado a parte mais crítica da Baía de Guanabara , que começa próximo ao canal do Cunha , segue as margens da Avenida Brasil e vai até o Município de Duque de Caxias.Essa área parece ser a parte mais esquecida da Baía de Guanabara, onde foi perdida grande parte através de aterros..Enfim,como o programa tem a finalidade de turismo,ficou maravilhosa a reportagem, parabéns.

  16. 25
    Bianca Ferreira de Toledo:

    Somente tive oportunidade de assistir esse episódio duas semanas depois de sua apresentação no canal aberto. Condordo com os outros telespectadores no que diz respeito a finalização de detalhes que, embora pareçam insignificantes, gritam aos nossos olhos como os erros de cálculo do tamanho da baía e não nomearem os rios e outros acidentes geograficos existentes e outras distancias como as serras de Petropolis e Teresópolis (só foi citada a distancia de Paquetá ao centro do Rio), para que as pessoas consigam visualizar que aquilo que está sendo mostrado, está muito proximo da metrópole tão famosa. Sugiro ainda que haja duas apresentações em dias e horários diferentes para que mais pessoas possam assistir esse programa tão enriquecedor. Um abraço a toda equipe do Globo Mar. Bianca Ferreira de Toledo, Rio de Janeiro, Capital.

  17. 26
    Leonardo Fialho di Iulio:

    Gostei muito das duas reportagens sôbre a baía de Guanabar pulicadas no Globo Mar, apesar da edição do programa ter comido uma môsca com a informação sôbre o numero de campos de futebol que cabem na superficie da baía.
    Seria muito bom aproveitar a atualidade do RIO +20 para explorar o tema “DESPOLUIÇÃO DA BAIA DA GUANABARA” tão evocado por ocasião da nomeação do Rio de Janeiro como sede dos jogos olimpicos de 2016.
    Me recordo que foi divulgado e comentado inumeras vêzes por politicos, autoridades e tôda a midia que durante od preparativos dos jogos olimpicos seria dada prioridade à resolução do problema dos aeroportos, do problema da insufucuência dos hoteis, do problema da segurança urbana, do problema dos transportes e sobretudo à resolução do problema da poluição da baía da Guanabara.
    Pelo visto,baseado no que foi mostrado nas reportagens do Globo Mar, muito pouco ou quase nada tem sido feito com relação a despoluição da nossa baía.
    Porque não se aproveitar do momento para insistir batendo nesta tecla, procurando se saber do secretario de meio ambiente, do prefeito da cidade e do governador do estado qual a verba destinada à despoluição da baía, o que já foi gasto, o que já foi feito, o que está sendo feito, aonde se pretende chegar e quando…
    Resumindo, procurar se obter uma prestação de contas sôbre uma atividade tão comentada no inicio mas muito pouco acompanhada depois.
    Fica aqui de nossa parte a sugestão para um acompanhamento mais sistemático, digamos a cada quinze dias, e divulgação das informações colhidas daqui em diante por parte do Globo Mar para êsse tema tão caro e importante aos habitantes e visitantes da cidade do Rio de Janeiro.

  18. 27
    Marcos Ramos:

    Parabéns a toda equipe do Globo Mar pela reportagem!

  19. 28
    Robson França:

    Parabéns à toda equipe do Globo Mar,ficou muito linda a matéria,fico muito feliz em saber que temos um patrimônio ecológico nativamente preservado .
    Espero que toda Baía de Guanabara seja tratada, inclusive as áreas mais degradadas que começa nas imediações do Canal do Cunha em Manguinhos e vai até o município de Duque de Caxias. Abraços!

  20. 29
    afonso jurujuba:

    vamos lutar por eessa baia

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