Mulher que viveu experiência “aterrorizante” com Dr.Mengele no campo de concentração não quer ouvir falar em perdão para carrascos
A Globonews leva ao ar, neste sábado, às 21:05, com reprise no domingo, às 12:30, no DOSSIÊ GLOBONEWS, a entrevista completa com uma mulher que viveu e testemunhou horrores indescritíveis: quando tinha apenas quinze anos de idade, Eva Schloss foi capturada pela Gestapo, a temidíssima polícia secreta do nazista. Logo foi levada para o campo de concentração de Auschwitz, onde conheceria um personagem sinistro : o Doutor Joseph Mengele, médico que fazia experiências com prisioneiros. Hoje, aos 81 anos de idade, ela encontra disposição para correr mundo fazendo uma pregação contra a intolerância. Um trecho da entrevista:
Uma pergunta bem direta : a senhora perdoa ?
“Vou lhe dar uma resposta muito simples: não. Nunca vou perdoar os nazistas. Eu estive em Atlanta, há pouco tempo.Depois de minha palestra, alguém me perguntou: “A senhora os perdoou ?”. Eu respondi que não, não queria perdoá-los. Ele disse que rezaria por mim,para eu conseguir perdoá-los. Respondi que que ele não deveria perder tempo porque eu nunca perdoarei aquelas pessoas. Cometeram atos cruéis não apenas obedecendo ordens, mas também movidos por sua própria maldade,para inventar mais formas de sofrimentos para nós.Eu nunca esperaria que um ser humano agisse daquela forma”.
A senhora esteve frente a frente com um criminoso nazista que terminou se refugiando no Brasil: Joseph Mengele.Que lembrança a senhora guarda desse carrasco ?
“Dr. Mengele era uma figura infame no campo de concentração.Decidir quem ia morrer e quem ia sobreviver.Ele estava lá. A cada comboio que chegava, com as botas bem engraxadas e com luvas brancas,com uma pequena vareta na mão,como se fosse um maestro,conduzia os prisioneiros para a vida ou para a morte. A primeira impressão que tive foi esta. Um homem impecável, alto,bonito,sem qualquer expressão no rosto.Olhava para as pessoas e decidia.Não sabíamos disso a princípio, é claro. Depois, tive um encontro muito mais aterrorizante com ele.Ao sairmos do chuveiro, lá estava ele, para fazer uma triagem.Ficávamos nua diante de Mengele – que nos inspecionava e decidia: “Você vai viver, você vai morrer”. E decidiu que minha mãe não era forte o bastante para continuar viva.Deixou-a no lado dos quem iam morrer. Nunca me esqueci da forma como ele a condenou à morte. Mas,por um milagre, ela foi salva. Nós nos reencontramos”. ( Depois de fugir para a América do Sul, Joseph Mengele terminou morrendo afogado, numa praia em São Paulo, em 1979. Viveu anos, aqui, com nome falso).
Em algum momento, a senhora tentou não ir para o banheiro, onde havia câmaras de gás ?
“Durante a semana, não havia qualquer possibilidade de nos lavarmos. Ficávamos cheios de piolhos. Estávamos imundos. Todos estávamos com disenteria. Não havia papel higiênico. Uma vez por semana, tomávamos um banho, o que era maravilhoso.Mas, por outro lado, não tínhamos certeza se realmente tomaríamos um banho ou se iríamos para a câmara de gás. Por isso, relutávamos muito antes de entrar ali. Uma vez, haviam espalhado o boato de que, daquela vez, não seria um banho. Relutamos em ir para o chuveiro. Mas os guardas bateram em nós. E nos obrigaram a entrar. Felizmente, era um banho”
(O pai e o irmão de Eva Schloss morreram no campo de concentração. Depois de passar décadas sem tratar do horror que enfrentou no campo de concentração, Eva Schloss terminou escrevendo um livro de memórias – “A História de Eva”, recém-lançado no Brasil).