O ministro Gilmar Mendes reafirma que esteve com Lula e que, na conversa, o ex-presidente falou que considera inconveniente o julgamento do caso do mensalão neste ano, antes das eleições municipais de outubro. Lula, por meio de nota de sua assessoria, confirma o encontro, mas que o teor da reportagem da revista Veja “é inverídica” e que “jamais interferiu ou tentou interferir” nas decisões do Supremo Tribunal Federal ou da Procuradoria-Geral da República nos oito anos em que foi presidente da República. Gilmar não fala em pressão ou tentativa de chantagem.
Dois dias depois de a revista Veja ir para as bancadas, os dois – tanto Gilmar Mendes quanto Lula – admitem o encontro no escritório de Nelson Jobim. Lula diz que foi ao escritório de Jobim no dia 26 “onde também se encontrava o ministro Gilmar Mendes”. Gilmar também fala que foi ao escritório de Jobim onde Lula estava – , segundo ele, a convite do anfitrião. “Lula quer falar com você”, teria dito Jobim, segundo Gilmar.
A esta altura, o caso ganhou grandes proporções políticas e se transformou em assunto negativo para Lula. Uma entrevista do ministro Celso de Melo, decano no Supremo Tribunal Federal, chamou a atenção de autoridades do governo e de gente importante do PT. Celso de Melo disse ao site Consultor Jurídico que se Lula fosse presidente da República essa movimentação dele junto a ministros do STF poderia embasar um pedido de impeachment por indicar a tentativa de interferência do Executivo num outro poder, o Judiciário.
A partir daí, Lula que estava em silêncio sem querer entrar na polêmica, divulgou nota por meio de sua assessoria para confirmar o encontro, mas dizer que “a independência e a autonomia” do Judiciário e do Ministério Público sempre foram rigorosamente respeitadas em seu governo. Em dado momento, ele disse também que o procurador-geral Antonio Fernando de Souza que apresentou a denúncia do mensalão foi por ele reconduzido para mais um mandato na Procuradoria-Geral da República. Com a nota, na qual não desmente enfáticamente Gilmar Mendes, mas sim o teor da reportagem de Veja que fala em pressão, Lula tenta encerrar a polêmica.
– Ele não quer falar mais no assunto nem bater boca sobre isso – diz um assessor.
No mundo político, a movimentação de Lula para que o julgamento do caso do mensalão fosse adiado para depois da eleição é de conhecimento geral há algum tempo . Lula nunca escondeu de ninguém que acha inconveniente o julgamento do caso este ano. Ele chegou a expor essa opinão em conversas com políticos, governadores e parlamentares aliados. Até aí, nada demais. A surpresa aconteceu quando ele chegou a visitar em São Bernardo do Campo o ministro Ricardo Lewandowiski, ministro revisor do caso no STF, em São Bernardo do Campo para ouvir dele sobre o prazo do julgamento do caso. Depois, Lula relatou essas conversas a aliados, manifestando preocupação com a pressão de opinião pública sobre Lewandowiski para julgar o caso em junho. A alguns chegou a falar que achou muito bonita a casa de Lewandowiski, num condomínio em São Bernardo.
Mas, quando foi ter o mesmo tipo de conversa com Gilmar Mendes, o caso se tornou público. Isso porque Gilmar reagiu ao fato de Lula, depois de falar sobre o momento de julgamento do mensalão, citou várias vezes a CPI do Cachoeira. E, diante da resposta de que não temia uma investigação, Lula teria perguntado sobre uma viagem de Gilmar a Berlim, onde esteve acompanhado do senador Demóstenes Torres.
A irritação de Gilmar cresceu porque ele tem sido informado de comentários de petistas de que nesta viagem à Europa também estaria o contraventor Carlos Cachoeira – agora preso na Operação Monte Carlo. Para ele, petistas tentam atingí-lo com insinuações nessa natureza.
- Eles nem trabalham… Se tivessem lido o processo veriam que lá está escrito que Cachoeira cita uma viagem de Demóstenes a Berlim e acrescenta: ele está com o Gilmar. Portanto, o tal Cachoeira não estava lá também…
A orientação da presidente Dilma Rousseff a assessores foi a de “monitorar” o caso, mas não se envolver para que o assunto não se volte para o Palácio do Planalto. E cada Poder fique na sua agenda.