São milhares os diálogos em Cachoeira e o senador Demóstenes Torres grampeados pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo. Parece que falavam todos os dias, uma, duas ou mais vezes por dia. Então, tem de tudo nas conversas que revelam intimidade e até mesmo uma parceria.
De um lado, Cachoeira pedia a interferência de Demóstenes para muitas coisas. Ora para ter uma certa proteção a seu negócio mais rentável, os jogos de azar, ora para nomeações, seja no governo de Goiás, no governo federal e até no governo de Minas. Houve até um caso em que Demóstenes foi destacado para ir a Florianópolis estar com um representante do setor de jogos da Argentina!
Para tanto trabalho, que ocupava parte de seu tempo como senador por Goiás, Demóstenes também tinha sua contrapartida. Se não está muito claro pelas gravações se tinha alguma sociedade efetiva com Cachoeira (falam numa faculdade em Minas), Cachoeira era o fornecedor de luxos para o senador e sua mulher, Flávia. Pelos diálogos, Demóstenes nem precisava pedir. Era só falar:
- Meu iPad deu pau! -avisou Demóstenes.
- Vou mandar outro procê - prontificou Cachoeira.
O empresário também achoude resolver um problema de Demóstenes: comprar uma mesa em Buenos Aires que a mulher dele, Flávia, havia gostado. Coisa de US$ 18 mil. E o mais difícil: transportar a peça da Argentina para cá.
Mas o principal luxo de Demóstenes que Cachoeira bancava foi sendo, aos poucos, conhecido em Brasília: o gosto por vinhos caros. Muita gente chegou a participar da “confraria” do Senado, onde, dizem, os integrantes chegaram a servir o famosíssimo Petrus. Uns negam, outros não viram, mas, pelas gravações da Polícia Federal, ficou comprovado que Demóstenes gosta (ou gostava) de vinhos cargos.
Há um diálogo em que ele pede para fechar a compra de um lote de cinco garrafas de Blanc Chèval, safra 1947 por algo como US$ 14 mil. Diz-se até que havia vinhos de R$ 30 mil!
A adega de Demóstenes em Brasília foi se tornando conhecida pela sofisticação e requinte. Ele mantinha garragas raras, vinhos exclusivos e caros que chamava a atenção – não só de parlamentares, mas também de juízes com os quais alimentava uma relação próxima… Agora se sabe!
Quem conheceu Demóstenes desde o primeiro mandato de senador (2002 a 2010) fica tentando identificar quando foi o momento em que ele mudou os gostos, aprimorou o paladar e passou a servir vinhos caros aos amigos. Até então, ninguém sabia que eram bancados pelo amigo bicheiro.