Inflação e “restos a pagar” – despesas assumidas em anos anteriores e que não foram pagas – são os temas que estão no centro das preocupações do governo. A inflação, que pode chegar ao topo da meta (6,5%) ainda neste primeiro semestre é a maior preocupação do governo e razão de uma conversa fora de agenda, hoje, entre a presidente Dilma Rousseff e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. A área política está igualmente preocupada com o pagamento de “emendas parlamentares” de anos anteriores, por temer uma reação forte dos aliados no Congresso.
O grau de preocupação com a inflação vai subindo à medida em que as avaliações vão sendo atualizadas. No começo do março, havia a avaliação de que a inflação pudesse chegar ao topo da meta em agosto, quando os preços já estariam em queda – neutralizando, assim, a situação. Depois, uma atualização apontou como julho o mes em que a inflação chegaria à meta; e, agora, a área econômica do governo já admite que isso poderá acontecer em junho – dois meses antes de algum sinal de redução de atividade econômica e de preços. Se assim for, a freada teria de ser mais forte para que a inflação voltasse ao patamar nos meses de setembro, outubro, novembro e dezembro.
– Julho e agosto não são meses de redução de preços e sim de aumentos pois é a entressafra de leite, carne… comentou um assessor do governo, demonstrando a preocupação com o tema, observando, ainda, que se for assim, “o corte de despesas terá de ser maior”.
Aí é que o assunto esbarra em outro: restos a pagar – despesas autorizadas em orçamentos anteriores e que não foram feitas. Por isso, a cobrança da base aliada. A coordenação política de governo vai sugerir à presidente Dilma que sejam honrados os repasses dos orçamentos de 2007 e 2008 referentes a obras já iniciadas e que a presidente assine outro decreto prorrogando a possibilidade de gastos do orçamento de 2009. Tudo isso junto soma quase R$ 17 bilhões, mas o governo trata da parte relativa a obras contratadas pela Caixa Econômica Federal que somam R$ 3,5 bilhões.
Enquanto a área econômica sugere o corte de todas essas despesas, a área política pondera que o mes de maio não deve ser de facilidades para o governo:
– Este mes tem marcha de prefeitos a Brasília (nos dias 10 a 12) e eles cobram a liberação de recursos de obras já iniciadas; 12 Medidas Provisórias vencem e precisam ser votadas, aumentando o poder de barganha dos aliados; e há uma insatisfação com o corte de repasses para emendas de “eventos” para festas de São João nos Estados – disse um ministro.
Por tudo isso é que o ministro de articulação política, Luis Sérgio, vai defender que o governo prorrogue o prazo para a apresentação dos projetos para obras de 2009 para, assim, liberar parte dos recursos no final deste ano.
– A relação com a base pode esquentar junto com a fogueira de São João – admitiu o ministro.