A presidente Dilma Rousseff disse a mulheres cineastas que tem sentido por onde passa “a presença mais próxima” das mulheres que, na campanha eleitoral, eram mais reticentes à sua candidatura. Ao final de cinco horas de encontro, no qual foi exibido “É proibido fumar”, de Ana Muylaert, seguido de jantar, ela pôde sentir que esse ambiente favorável também contagiou a área cultural. Atrizes, diretoras e roteiristas sacaram de suas bolsas máquinas fotográficas ou aparelhos celulares para fazerem registros pessoais do encontro com a presidente. Dilma prometeu “canal sempre aberto” às cineastas, o que agradou ainda mais a plateia.
- A eleição de uma mulher para a Presidência não é uma coisa trivial num país; é uma mudança importante – disse ela a 29 cineastas e seis jornalistas, todas mulheres.
A impressão de Dilma está confirmada em pesquisa DataFolha publicada no último domingo, indicando que Dilma tem a aprovação de 51% das mulheres e de 43% dos homens.
O encontro inédito – de uma presidente com mulheres cineastas –foi elogiado pelas convidadas. Ana Muylaert disse que ficava emocionada e citou como emblema do encontro o “cinema de batom” e poderia gerar pedido dos cineastas homens de se fazer o “cinema da cueca”. Outras convidadas aproveitaram para entregar cópia de suas produções à presidente, como Mariana Caltabiano, que fez “Brasil animado”. Dilma se interessou pelo filme que fala sobre o Brasil em desenho animado, e perguntou se poderia liberar a produção para o MEC. “Eu adoraria”, respondeu Mariana.
Mas nem só de cinema se falou. Eliane Caffé levou à Dilma demanda sobre a ocupação da região de Alcântara (onde está uma base de lançamento de foguetes), o que, pela demora, incomodou algumas colegas. Ana Carolina disse à presidente que um amigo comum pediu que ela dissesse à presidente sobre o transporte de gás no estado do Mato Grosso. Dilma respondeu: “Já anotei”.
Para as convidadas, o ponto alto do encontro foi quando Dilma prometeu que o cinema do Palácio do Alvorada, como um espaço público, estará aberto às produções nacionais. “Não vai dar para fazer toda semana, mas pelo menos uma vez por mês”, disse Dilma, estendendo o espaço também a produções no teatro, e completou: “O Brasil tem fome de cultura”.
- Quando se tem um surto de transposição como o que estamos vivendo (mobilidade social) há um momento cultural forte no país – lembrando o crescente papel da mulher na área cultural, em particular, na produção de cinema.
Tizuka Yamasaki falou a Dilma da transferência da Ancine do âmbito da Casa Civil para o Ministério da Cultura – o que, segundo avaliação dela, tira força do setor.
- Cinema não é só cultura, é também indústria – disse.
Todos os diálogos se deram em ambiente de descontração sem “saias justas”. Após o jantar, Dilma fez questão de passar em todas as mesas para ter conversas com todas as convidadas. Em seguida, começou a sessão de fotos e também de autógrafos.
Em todas as conversas, ficou claro o empenho da presidente na valorização da mulher – segundo ela, é quem tem de ser chamada para enfrentar os problemas do país “a pobreza é infantil, a pobreza é negra…” disse, acrescentando que a sensibilidade feminina ajuda a superar as deficiências.
Ao final, depois de posar ao lado de Glória Pires, de Patricia Pillar e tantas outras diretoras, Dilma disse que a área cultural será valorizada em seu governo. Neste momento, depois da exposição de telas de artistas mulheres, seu desafio é o de reunir todas as obras de Portinari e de Di Cavalcanti que pertencem a órgãos públicos para uma exposição especial – que poderá ser itinerante, para que brasileiros de todos os Estados possam vê-la.
- Nosso país tem fome de cultura; as pessoas querem se divertir, ver o mundo – disse.
Sem demonstrar impaciência ou pressa para encerrar o encontro, Dilma contou que o governador do Distrito Federal ofereceu o Museu da República, na Esplanada dos Ministérios, para a exposição de obras de arte.
- Se o governo do Distrito Federal nos der aquele museu, a gente manda reformar, equipar com os meios necessários para ali termos exposições de obras que já temos – disse.
A noite de Dilma foi de descontração e de assuntos relativos à cultura. Em nenhum momento, deu prosseguimento a abordagens sobre assuntos de governo. O nome do substituto de Roger Agnelli na presidência da Vale foi tema proibido. “Não sei quem vai ser”, desconversou. E seguiu a noite em conversas animadas com cineastas e jornalistas.