28/08/2013 18h38 - Atualizado em 28/08/2013 20h11

Réu do caso Eliza se contradiz em depoimento no júri em Contagem

Elenilson disse que viu Eliza andando no sítio, e depois voltou atrás.
Ele e Wemerson Marques prestaram depoimento nesta quarta.

Raquel Freitas e Pedro TriginelliDo G1 MG, em Contagem

O réu Elenilson Vitor da Silva, acusado de sequestro e cárcere privado do filho de Eliza Samudio com o goleiro Bruno Fernandes, se contradisse nesta quarta-feira (28), durante o depoimento no júri popular. Ele e Wemerson Marques são julgados em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Os dois réus foram ouvidos durante a tarde.

Elenilson declarou que trabalhava como caseiro do sítio, cuidando de tudo, inclusive das contas. E que, no dia do sequestro do Bruninho, ele seguia ordens de Dayanne, ex-mulher do goleiro. Em junho de 2010, a polícia encontrou a criança, de três meses, em uma casa em Vespasiano, após denúncia do desaparecimento da ex-amante do goleiro.

Wemerson Marques e Elenilson da Silva durante julgamento em Contagem (Foto: Pedro Triginelli/G1)Wemerson Marques e Elenilson da Silva durante julgamento
em Contagem (Foto: Pedro Triginelli/G1)

Quando perguntado pelo promotor Henry Wagner Vasconcelos sobre a presença de Eliza no sítio em Esmeraldas, também na Região Metropolitana de Belo Horizonte, dos dias do sequestro da jovem e de seu filho, ele se contradisse. Na primeira resposta, ele afirmou que Eliza circulou um pouco em uma festa, na propriedade. O promotor, então, leu um outro depoimento dele, em que declarava que a jovem havia ficado em cárcere no sítio. Depois disso, ele confirmou ser verdadeira esta versão, de que Eliza ficou trancada. E que ele serviu lanche para ela.

O promotor Henry Wagner perguntou também sobre ligações do réu para o ex-policial José Lauriano, conhecido como Zezé, que é investigado atualmente em um processo paralelo. Elenilson disse que todos usavam celulares que estavam em nome de Luiz Henrique Romão, o Macarrão, braço direito do goleiro e administrador dos bens do atleta. Elenilson ainda contou que fez contato com o ex-policial a pedido de Macarrão, para tentar liberar a Land Rover do goleiro, que havia sido apreendida em uma blitz.

O réu voltou a afirmar que seguiu ordens dos patrões, Dayanne e Macarrão, ao tirar o filho de Eliza do sítio e entregar em uma casa em Vespasiano. E também foi por ondem de Dayanne que ele mentiu na primeira vez em que falou com a polícia, ocasião em que negou saber da presença da criança no sítio.

A mesma versão foi contada por Wemerson Marques, outro réu no julgamento. Coxinha disse que também era empregado de Dayanne e de Bruno, e que cumpria ordens quando levou a criança para a casa em Vespasiano.  Ele relatou que, primeiro, contou a polícia que não sabia nada de Eliza e do filho. Já, quando delegada Alessandra Wilke disse que a criança corria risco, apontou o endereço onde ela estava.

Coxinha disse ainda que Eliza ficou dentro da casa do sítio durante uma festa. Ele contou que não achou estranho Dayanne mandar levar a criança para outro lugar sem a mãe porque era "ingênuo". Não era costume dele questionar as ordens dos patrões. Perguntando pela juíza se se considera uma pessoa inteligente, o réu respondeu que “na época, não”.

No fim da tarde, começou a fase dos debates entre a promotoria e as defesas. A expectativa do Tribunal de Justiça é que o julgamento termine ainda nesta quarta-feira (28).

Testemunha
A única testemunha ouvida no júri popular de Elenilson Vitor da Silva e Wemerson Marques, o Coxinha, disse, durante depoimento nesta quarta-feira (28), que os dois réus julgados hoje sabiam que o filho de Eliza Samudio estava sendo mantido em cárcere no sítio do goleiro Bruno Fernandes  , em Esmeraldas, durante os primeiros dias de junho de 2010. Os dois réus são acusados de sequestro e cárcere privado do filho da jovem com o atleta.

Nesta manhã, o policial Sirlan Versiani, que foi o primeiro agente a chegar no sítio, após denúncia do desaparecimento de Eliza, contou sua versão do caso. Segundo ele, apesar de terem, a princípio, negado os fatos, Elenilson e Coxinha admitiram, em um depoimento prestado à polícia no início de junho de 2010, que o filho da jovem estaria dentro da propriedade do goleiro. 

A outra testemunha, que chegou a ser procurada pela Justiça, foi dispensada pela defesa.

O julgamento
A juíza Marixa Fabiane Lopes iniciou, nesta quarta-feira (28), o júri popular dos dois últimos réus do caso Eliza Samudio, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.  O Ministério Público (MP) será representado pelo promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro. Cinco mulheres e dois homens compõem o júri.

"A expectativa, desde o início, é a mesma. Nós esperamos a absolvição", disse o advogado de Coxinha, Paulo Sávio Guimarães. Ainda segundo o defensor, Coxinha apenas acatou uma ordem de Dayanne Rodrigues, ex-mulher do goleiro Bruno, que à época era patroa dele. "Obedecendo a uma ordem de Dayanne, sua patroa, ele [Wemerson Marques] pegou a criança e a entregou aos cuidados de uma babá".

O reú também disse estar confiante. "Confio em Deus e na Justiça", disse Coxinha, ao chegar ao fórum.

O advogado de Elenilson, Frederico Franco, negou a participação do cliente no sequestro e cárcere privado da criança. "O Elenilson era um caseiro. Nâo participou de nada. Ele desconhecia o sequestro. Ele não desconfiou de nada", falou.

Condenados
O réu Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, foi condenado a 22 anos de prisão pela morte de Eliza Samudio e pela ocultação do cadáver da ex-amante do goleiro Bruno. A pena, lida pela juíza Marixa Fabiane Rodrigues Lopes na noite do dia 27 de abril, determina 19 anos de prisão em regime fechado pelo homicídio e mais três anos de prisão em regime aberto pela ocultação do cadáver.

Condenação tira goleiro Bruno do Boa Esporte. (Foto: Renata Caldeira / TJMG)Bruno de cabeça baixa durante o julgamento
(Foto: Renata Caldeira / TJMG)

Bruno Fernandes foi condenado a 22 anos e 3 meses pelo assassinato e ocultação de cadáver de Eliza Samudio e também pelo sequestro e cárcere privado do filho, Bruninho. A pena é de 17 anos e 6 meses em regime fechado por homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, asfixia e uso de recurso que dificultou a defesa da vítima), a outros 3 anos e 3 meses em regime aberto por sequestro e cárcere privado e ainda a mais 1 ano e 6 meses por ocultação de cadáver. A pena foi aumentada porque o goleiro foi considerado o mandante do crime, e reduzida pela confissão do jogador.

Dayanne Rodrigues, ex-mulher do jogador, foi absolvida da acusação de sequestro e cárcere privado do bebê.

Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, foi condenado a 15 anos de prisão - pena mínima por homicídio qualificado em razão de sua confissão. Conforme a sentença da juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, Macarrão foi condenado a 12 anos em regime fechado por homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, asfixia e uso de recurso que dificultou a defesa da vítima) e mais três anos em regime aberto por sequestro e cárcere privado. Ele foi absolvido da acusação de ocultação de cadáver.

Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada do goleiro, foi condenada a 5 anos de prisão dois crimes de sequestro e cárcere privado, de Eliza Samudio e de seu filho, Bruninho, condenada à pena de 2 anos e 3 anos respectivamente, ambas em regime aberto.

Eliza Samúdio - Globo News (Foto: Globo News)Eliza Samudio (Foto: Reprodução/Globo News)

O caso
Eliza desapareceu em 2010 e seu corpo nunca foi achado. Ela tinha 25 anos e era mãe do filho recém-nascido do goleiro Bruno, de quem foi amante. Na época, o jogador era titular do Flamengo e não reconhecia a paternidade.

Em março deste ano, Bruno foi considerado culpado pelo homicídio triplamente qualificado, sequestro e cárcere privado da jovem. A ex-mulher do atleta, Dayanne Rodrigues, foi julgada na mesma ocasião, mas foi inocentada pelo conselho de sentença. Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, amigo de Bruno, e Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada do atleta, já haviam sido condenados em novembro de 2012.

O ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, foi condenado a 22 anos de prisão.

Enfrentam o júri nesta semana o Elenílson Vitor da Silva, caseiro do sítio, e Wemerson Marques de Souza, amigo do goleiro. O julgamento, que havia sido marcado inicialmente para 15 de maio, foi remarcado para ter início nesta quarta-feira (28). Sérgio Rosa Sales, primo de Bruno, foi morto a tiros em agosto de 2012. Outro suspeito, Flávio Caetano Araújo, que chegou a ser indiciado, foi absolvido (saiba quem são os réus).

Jorge Luiz Rosa, outro primo do goleiro, que era menor de idade na época da morte, cumpriu medida socioeducativa por crimes similares a homicídio e sequestro. Atualmente tem 19 anos e é considerado testemunha-chave do caso.

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