07/03/2013 20h39 - Atualizado em 07/03/2013 21h37

Promotor pede a pena máxima para Bruno: 'foram festejar morte de Eliza'

Henry de Castro disse que 'tem que ter falta de inteligência para absolver'.
Ele falou, somadas os 2 pronunciamentos, por quatro horas e meia no júri.

Rosanne D'AgostinoDo G1, em Contagem (MG)

O promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro pediu na noite desta quinta-feira (7) que o goleiro Bruno Fernandes de Souza receba a pena máxima pela morte de Eliza Samudio e disse que o jogador e os demais envolvidos no assassinato "foram festejar a morte" da modelo após o crime. Somadas as duas vezes em que se pronunciou, Henry falou durante quatro horas e meia aos jurados. Ele rebateu a defesa de Bruno que disse que era preciso "ter coragem para absolver" e afirmou que "tem que ter falta de inteligência para absolver esse cara", em referência ao atleta.

Conversa à bancada da juíza e Bruno durante o julgamento (Foto: Léo Aragão/G1)À esquerda, conversa na bancada da juíza; ao lado,
Bruno durante o julgamento (Foto: Léo Aragão/G1)
Eliza não veio passear não, minha gente. Ela veio [para Minas] com a cabeça estourada"
Henry Wagner Vasconcelos de Castro, promotor

(Acompanhe no G1 a cobertura completa do julgamento do caso Eliza Samudio, com equipe de jornalistas trazendo as últimas informações, em tempo real, de dentro e de fora do Fórum de Contagem, em Minas Gerais. Conheça os réus, entenda o júri popular, relembre os momentos marcantes e acesse reportagens, fotos e infográfico sobre o crime envolvendo o goleiro Bruno.)

Na quarta (6), durante o seu interrogatório, o jogador disse que foi a três festas e participou de uma partida de futebol com o time 100% depois da morte, da qual sabia a partir de conversa com Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, e com o seu primo Jorge Luiz Rosa, menor de idade à época.

O promotor mostrou aos jurados ligações entre Luiz Henrique Romão, o Macarrão, Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, e demais envolvidos na morte de Eliza, com a localização deles em diversos momentos ao longo da noite do crime.

Com base no depoimento Jorge Luiz Rosa, primo do goleiro adolescente à época do crime, o promotor descreveu como a modelo foi morta. "Saiu espuma branca da boca dela. Ela agonizou, espereceu e por fim, morreu", disse conforme a testemunha. A mãe de Eliza Samudio, Sônia Moura, saiu do plenário chorando com o relato.

"Ninguém está em dúvida se Bola matou a Eliza não", disse Henry Wagner de Castro. "O Bola matou a Eliza", disse em seguida.

O promotor disse que Bruno não respeitou nem um álbum de fotografia do Bruninho, o filho que teve com a modelo. "Olha as fotinhas queimadas do nenê. Nem isso o Bruno respeitou", afirmou aos jurados.

 Ele rebateu as críticas que Lúcio Adolfo, advogado de Bruno, fez a ele, dizendo que Henry era "só" um promotor e colocando em dúvida a sua competência. Adolfo afirmou que já foi advogado, mas nunca defendeu "bandido, traficante".

"Na tréplica, espero que ele saia do ataque pessoal, e venha para a prova", disse ele. "Neste processo, o que mais se tem é compromisso, por parte do Ministério Público, por parte da Justiça", completou.

Bruno e a ex-mulher Dayanne Rodrigues enfrentam júri popular por crimes relacionados ao desaparecimento e à morte de Eliza Samudio, com quem o goleiro teve um filho. O atleta responde pela morte e ocultação de cadáver da modelo e pelo sequestro e cárcere privado da criança. A ex-mulher responde pelo crime de sequestro e cárcere privado de Bruninho.

O goleiro, que na época do crime era titular do Flamengo, é acusado pelo Ministério Público de planejar a morte para não precisar reconhecer o filho nem pagar pensão alimentícia. Eliza foi levada à força do Rio de Janeiro para o sítio do goleiro em Esmeraldas (MG), segundo a denúncia, onde foi mantida em cárcere privado. Depois, foi entregue para Bola, que a asfixiou e desapareceu com o corpo, nunca encontrado.

Para a Justiça, a ex-amante do jogador foi morta em 10 junho de 2010, em Vespasiano (MG). A certidão de óbito foi emitida por determinação judicial. O bebê, que foi encontrado com desconhecidos em Ribeirão das Neves (MG), hoje vive com a avó em Mato Grosso do Sul. Um exame de DNA comprovou a paternidade.

07/03/2013 - Advogados de Bruno conversam antes do quarto dia de julgamento (Foto: Renata Caldeira / TJMG)Lúcio Adolfo, à esquerda, conversam com colegas
da defesa no júri (Foto: Renata Caldeira / TJMG)
O promotor tem mais dúvida que os senhores. Eles não têm prova contra Bruno, tanto que precisou fazer um acordo com Macarrão"
Lúcio Adolfo, advogado do goleiro Bruno

'Negociata com Macarrão'
Lúcio Adolfo, advogado do goleiro Bruno Fernandes de Souza, afirmou que a única prova do Ministério Público contra o jogador é uma "negociata com Macarrão", em referência ao interrogatório em que Luiz Henrique Romão ligou o atleta à morte de Eliza Samudio, em novembro de 2010, antes de ser condenado a 15 anos de prisão.

"O promotor tem mais dúvida que os senhores. Eles não têm prova contra Bruno, tanto que precisou fazer um acordo com Macarrão", disse aos jurados, classificando o suposto acerto de "excuso, indecente e imoral".

Macarrão pegou 15 anos de prisão – pena mínima por homicídio qualificado em razão de sua confissão. Conforme a sentença da juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, ele foi condenado a 12 anos em regime fechado por homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, asfixia e uso de recurso que dificultou a defesa da vítima) e mais três anos em regime aberto por sequestro e cárcere privado. O amigo de Bruno foi absolvido da acusação de ocultação de cadáver.

Durante o debate, o advogado do jogador classificou de "incompletas" as provas e afirmou que não cabe a ele provar a morte de Eliza Samudio nem se "o corpo estava aqui ou acolá". Ele disse ainda que o promotor fez um "cineminha" no júri popular com imagens de reportagens sobre o caso. "Essa é a prova do Ministério Público", ironizou. Ele disse também que o atestado de óbito de Eliza, expedido às vésperas do julgamento, "alimenta a imprensa" e criticou o promotor do caso. "O doutor promotor só conseguiu ficar bonito na tela de TV. Provar, nada".

O defensor apresentou três opções para os jurados: na primeira, pediu absolvição por falta de provas; na segunda, defendeu uma participação "menor" de Bruno no crime; e na terceira, disse que os jurados podem entender que Bruno participou de outro crime, mas não da morte de Eliza (saiba quais são as estratégias da defesa).

Ré Dayanne Rodrigues durante o quarto dia de julgamento do caso Eliza Samúdio. (Foto: Maurício Vieira/G1)Ré Dayanne teve a absolvição pedida no 4º dia de
julgamento do caso Eliza (Foto: Maurício Vieira/G1)
Eu senti medo naquele momento, tanto quanto estou sentindo agora, ainda mais depois que o Bruno falou ontem"
Dayanne Rodrigues

Promotor livra Dayanne
O promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro pediu a absolvição de Dayanne Rodrigues, ex-mulher de Bruno. Ele apresentou seus argumentos na fase de debates entre acusação e defesa no júri popular da morte da ex-amante do goleiro Eliza Samudio. Dayanne chorou ao ouvir as palavras do promotor. O veredicto, culpado ou inocente, deve sair ainda nesta quinta.

Segundo Henry, Dayanne deve ser inocentada porque foi "coagida" pelo policial aposentado Zezé, José Lauriano, que hoje é investigado por participação no crime. Segundo o promotor, ele "é a pessoa que chega na noite da morte de Eliza com Bola". O promotor diz também que Bruno deixou a "mãe de suas filhas à mercê" de Zezé. "E Bruno conhecia o Zezé."

Antes disso, a ex-mulher do goleiro pediu para ser ouvida novamente no júri popular para dizer que tem medo de José Lauriano, policial aposentado chamado de Zezé, investigado como suspeito de participação na morte.

Na nova fala, Dayanne afirmou que recebeu uma ligação do policial Zezé, em que ele dizia que Macarrão já o tinha avisado de que ela estava com o bebê e que a orientou a não comparecer com a criança na delegacia de polícia. "Eu senti medo naquele momento, tanto quanto estou sentindo agora, ainda mais depois que o Bruno falou ontem", disse.

'Sabia e imaginava'
Bruno, em um novo interrogatório nesta quinta sobre a morte de Eliza, disse que "sabia e imaginava" que Eliza seria morta. A juíza Marixa Rodrigues determinou que ele retornasse ao plenário para ser ouvido novamente, a pedido de sua defesa. "Pelas brigas constantes, pelo fato de eu ter entregado ao Macarrão o dinheiro", disse o jogador.

O promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro afirmou que agora é possível saber que o goleiro Bruno"mentiu", mesmo sabendo de toda a verdade sobre a morte de Eliza Samudio, sua ex-amante.

ATUALIZADO Arte estática Caso Eliza Samúdio (Foto: arte)

"O futebol perdeu um goleiro razoável, mas um grande ator", disse o promotor. Ele começou sua fala afirmando que a "canalha quadrilha" levou Eliza do Rio de Janeiro para Minas Gerais e que ela nunca fez o exame de DNA porque Bruno não quis. Ainda, segundo o acusador, Bruno agrediu Eliza, ameaçou de morte e tentou forçá-la a tomar abortivos. Segundo ele, o jogador se negava a atender seu único pedido: o pagamento dos exames pré-natais.

"Bruno é o articulador, ele está no comando, ele está no controle, ele está na apuração", disse o promotor, que afirmou que Luiz Henrique Romão, o Macarrão, era "jagunço e faz-tudo" de Bruno. Por isso, o goleiro enviou, depois do crime, uma carta pedindo que o "irmão" assumisse a culpa em seu lugar.

Bruno sorri com leitura de carta
O goleiro Bruno Fernandes de Souza sorriu quando o promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro leu uma carta que o jogador escreveu da prisão à Fernanda Gomes de Castro, sua ex-namorada, chamando a jovem de "amor", dizendo que estava com saudade e prometendo casamento "quando tudo terminar". Ela foi condenada em novembro pelo sequestro e cárcere privado de Eliza Samudio e do filho que a modelo teve com o atleta.

Ingrid Calheiros, que tem se apresentado como mulher do goleiro Bruno, estava presente no plenário do Fórum de Contagem, em Minas Gerais, durante a leitura do documento. A carta foi escrita por Bruno quando ele já estava preso pela morte de Eliza.

'Dominava toda a situação'
A delegada Alessandra Wilke acompanha o quarto dia do júri do caso Eliza Samúdio, que vai definir o futuro do goleiro Bruno, acusado de envolvimento na morte da ex-amante. "Ele é o mandante, ele dominava toda a situação, ninguém faria nada deste tamanho sem o aval dele", afirmou na manhã desta quinta. Alessandra participou da investigação do crime na época do desaparecimento da jovem.

"O depoimento do Bruno foi um teatro, ele tentou melhorar a situação dele, mas não conseguiu. As provas do inquérito mostram que ele é o responsável pelo mando de toda essa trama criminosa", disse. Para ela, no interrogatório, ele perdeu a chance de dizer a verdade. "É o último momento. O laço da corda está no pescoço dele. É o momento de ele tentar dizer que está arrependido por não ter ajudado a polícia".

Acusados e condenados
A Promotoria afirma que, além de Bruno e Dayanne, mais sete pessoas tiveram participação nos crimes. Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, amigo de Bruno, e Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada do atleta, foram condenados em júri popular realizado em novembro de 2012.

No dia 22 de abril, Bola será julgado. Em 15 de maio, enfrentarão júri Elenílson Vitor da Silva, caseiro do sítio, e Wemerson Marques de Souza, amigo de Bruno. Sérgio Rosa Sales, primo de Bruno, foi morto a tiros em agosto de 2012. Outro suspeito, Flávio Caetano Araújo, que chegou a ser indiciado, foi absolvido (saiba quem são os réus).

Jorge Luiz Rosa, outro primo do goleiro, era adolescente à época do crime. Cumpriu medida socioeducativa por crimes similares a homicídio e sequestro. Atualmente tem 19 anos e é considerado testemunha-chave do caso.

Bruno_selo_6demarço (Foto: Editoria de Arte / G1)

O goleiro Bruno Fernandes de Souza disse nesta quarta-feira (6) que aceitou o fato de que Eliza Samudio havia sido assassinada a mando do amigo Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, sem tomar qualquer atitude e sem denunciar os envolvidos no crime. "Como mandante, dos fatos, não, eu nego. Mas de certa forma, me sinto culpado", afirmou o atleta. "Eu não sabia, eu não mandei, excelência, mas eu aceitei", disse à juíza Marixa Rodrigues.

O goleiro disse que Macarrão contou a ele que contratou Bola para matar Eliza. Foi a primeira vez que Bruno implicou Bola na morte da modelo, com quem o atleta teve um filho. O atleta reconheceu pela primeira vez que Eliza foi morta, culpou Macarrão pelo assassinato, negou ser o mandante do crime e disse acreditar que poderia ter evitado esse desfecho.

Bruno disse que não denunciou Macarrão pelo crime por "medo de acontecer alguma coisa" com as sua filhas e com ele próprio e também "pelo fato de conhecer ele há muito tempo".

Bruno_selo_5demarço (Foto: Editoria de Arte / G1)

Dayanne Rodrigues, ex-mulher do goleiro Bruno, disse na terça-feira (5), em depoimento no seu júri popular, que "não são verdadeiras" as acusações contra ela e que o jogador e Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, pediram para ela mentir sobre o paradeiro do filho de Eliza Samudio com o atleta.

No segundo dia do julgamento, a fase de testemunhas foi encerrada. Durante a exibição de vídeos sobre o caso, o jogador chorou e a mãe da vítima, Sônia Moura, passou mal ao ver uma reportagem em que a filha denunciava ter sido ameaçada pelo goleiro.

Ela detalhou os dias em que esteve no sítio e para onde levou o bebê Bruninho, filho de Eliza, dizendo que cuidou da criança a pedido de Bruno e que não sabia o que havia acontecido com a modelo.

Bruno_selo_4demarço (Foto: Editoria de Arte / G1)

No primeiro dia do júri popular, o goleiro Bruno Fernandes de Souza chorou durante a sessão. Ele leu a Bíblia e, de cabeça baixa durante as quase oito horas de julgamento, viu sua defesa dispensar todas as testemunhas que havia arrolado.

Considerado testemunha-chave no júri, o primo de Bruno, Jorge Luiz Rosa, não compareceu e também foi dispensado.

Com as dispensas e as ausências, o goleiro ficou sem nenhuma testemunha de defesa. Para especialistas, tratou-se de uma estratégia.

O corpo de jurados, composto por cinco mulheres e dois homens, também foi escolhido na segunda-feira, quando o julgamento começou às 11h45 e foi encerrado às 19h20.

Todos os pedidos, que visavam adiar o júri, foram negados pela juíza Marixa Fabiane, entre eles, o da defesa de Bruno sobre o atestado de óbito de Eliza Samudio, expedido pela Justiça criminal (entenda o caso).

 

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