23/11/2012 17h07 - Atualizado em 23/11/2012 20h38

Defesa diz que não há provas e pede absolvição de ex-namorada de Bruno

Advogada questiona falta de provas e pede que júri absolva sua cliente.
Fernanda é acusada do sequestro e cárcere privado de Eliza e Bruninho.

Rosanne D'AgostinoDo G1, em Contagem (MG)

Carla Silene, advogada de Fernanda, conversa com Macarrão no início da sessão desta sexta-feira (Foto: Leo Aragão/G1)Carla Silene, advogada de Fernanda, conversa com o réu Macarrão no início da sessão (Foto: Leo Aragão/G1)

A advogada Carla Silene, responsável pela defesa de Fernanda Gomes de Castro, namorada de Bruno na época do desaparecimento de Eliza Samudio, em 2010, disse nesta sexta-feira (23), durante o júri popular no Fórum de Contagem, em Minas Gerais, que não é possível condenar sua cliente sem provas de sua participação no crime. "Cadê as provas? [...] Contra Fernanda Castro, pelo cárcere privado de Eliza e Bruninho, essas provas não vieram", afirmou a defensora. "Eu só posso condenar quando eu tenho prova", completou Carla Silene durante a fase de debates.

Ela também questionou a investigação policial do crime. "Minas Gerais possui a pior polícia investigativa de homicídios do Brasil", afirmou, citando um relatório do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). "O sítio sequer foi preservado [para a colheita de provas]". A advogada ainda criticou o promotor do caso por ressaltar atributos físicos da ré. "Parece até que ser feminina hoje é um pecado. Ressaltar atributos físicos", disse sobre a fala do promotor em que a ré foi descrita como "bunduda, coxuda".

A argumentação da advogada faz parte da fase de debates do júri popular, quando a acusação e as defesas apresentam suas convicções sobre o caso para convencer os jurados de que os réus são culpados ou inocentes. O primeiro a falar foi o promotor, seguido pelo advogado de Macarrão e pela defensora de Fernanda.

Por isso fico invocado, por vocês não terem nada a ver com essa situação. Não foram vocês que se relacionaram com essa vagabunda dessa mulher aí"
Trecho de carta do goleiro
Bruno para a ré Fernanda

A advogada mostrou trechos de cartas enviadas por Bruno para Fernanda. "Poxa, toda hora problema Bruno. E ainda colocam foto de todos e foto sua. Por isso fico invocado, por vocês não terem nada a ver com essa situação. Não foram vocês que se relacionaram com essa vagabunda dessa mulher aí", disse Bruno na correspondência, de acordo com a defesa.

Em sua argumentação, a defensora destacou o sofrimento de Sônia de Fátima Moura, mãe de Eliza Samudio, mas ressaltou que a mãe de Fernanda também sofre. "O que nós não podemos admitir, neste instante, é que outra mãe, a senhora Solange, que está sentada lá no fundo, sofra com a condenação da filha, Fernanda. Uma moça que namorou o goleiro Bruno por menos de quatro meses. E que por cada mês de namoro recebeu um mês de prisão".

Carla Silene disse que Fernanda não participou de nenhum sequestro e cárcere privado e pediu a absolvição da ré. "Eliza estava encarcerada? Não. Essa moça apresentava um ferimento na cabeça? Não. Havia gente fiscalizando o andar? Não", argumentou ao júri.

Fernanda é acusada do sequestro e cárcere privado de Eliza e do filho dela, Bruninho. Ela e outro réu, Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, enfrentam júri popular por participação no crime.

O goleiro Bruno Fernandes de Souza, que era titular do Flamengo, é acusado de ter arquitetado a morte da ex-amante para não ter de reconhecer o filho que teve com Eliza nem pagar pensão alimentícia. O júri, que teve início com cinco acusados, segue com apenas dois no banco dos réus. Bruno, sua ex-mulher Dayanne Rodrigues e o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, tiveram o júri desmembrado pela juíza Marixa e serão julgados em 2013.

Macarrão olha para seus advogados durante apresentação do promotor, às 13h10 (Foto: Leo Aragão/G1)Macarrão olha para seus advogados durante a fala
do promotor no júri popular (Foto: Leo Aragão/G1)

Defesa de Macarrão
Antes da defesa de Fernanda, o advogado Leonardo Diniz, que representa Macarrão, pediu que os jurados ofereçam uma "reprimenda justa" para o réu. O defensor pede que Macarrão seja absolvido dos crimes de sequestro, do qual não teria participado, e também de ocultação de cadáver, já que ele não sabe o que foi feito do corpo de Eliza. O apelo foi feito durante a argumentação da defesa nos debates do julgamento, na tarde desta sexta.

Quero que vossas excelências analisem a relação entre um serviçal e um ídolo de futebol"
Leonardo Diniz, advogado de Macarrão

"Seja aplicada uma condenação, uma reprimenda, segundo o que entenderem da participação dele nesses fatos, mas que essa reprimenda seja justa, que seja proporcional", disse Diniz. O advogado de defesa ainda disse que Macarrão era apenas um "serviçal" do goleiro, e que cumpria ordens de Bruno.

"Quero que vossas excelências analisem a relação entre um serviçal e um ídolo de futebol", disse, referindo-se ao atleta. Diniz ainda lembrou que, durante seu depoimento, Macarrão afirmou ter tentado argumentar sobre o desaparecimento Eliza: "Vai acabar com a sua carreira", disse ao goleiro.

Diniz recorda-se do que foi dito pelo goleiro, segundo o depoimento de Macarrão: "É para fazer eu estou mandando. Aí ele [Macarrão] se submete, adere a essa vontade. Sai, pega Eliza e leva até o lugar, com a imaginação dela de que ela iria ao apartamento".

Diniz questionou as provas trazidas pela Promotoria e tentou desqualificar os depoimentos dos primos do goleiro Bruno Fernandes, Jorge Luiz Rosa e Sérgio Rosa Sales. A estratégia de mostrar os primos como desafetos de Macarrão teve como objetivo contrapor Promotoria nos debates entre defesa e acusação.

No seu tempo reservado à acusação, o promotor Henry Wagner de Castro apresentou uma série de provas que indicam que Macarrão e o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, foram os executores de Eliza em 10 de junho de 2010. Segundo o Ministério Público, o goleiro seria o mandante da morte de sua ex-amante. Diniz discordou desta versão.

Promotor Henry castro, em foto no plenário e em ilustração conversando com jurados (Foto: Maurício Vieira e Leo Aragão/G1)Promotor Henry Castro, acima, em foto no plenário;
abaixo, em ilustração conversando com jurados do
caso Eliza (Foto: Maurício Vieira e Leo Aragão/G1)

Provas da acusação
O promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro apresentou uma série de provas como argumentos da acusação durante o julgamento. Entre elas estão registros de telefonemas realizados pelos réus Macarrão e Fernanda; um laudo do sangue de Eliza achado no carro do atleta; e os depoimentos de Jorge Luiz Rosa e de Sérgio Rosa Sales, primos de Bruno, dados à polícia e que dão detalhes sobre a morte da ex-amante do goleiro.

De acordo com Henry Castro, as provas mostram os passos de Eliza até a morte, em junho de 2010, desde o Rio de Janeiro até Minas Gerais, para onde ela foi levada.

O laudo do sangue de Eliza encontrado no carro do goleiro Bruno mostra que ela "foi violentada, agredida, subjugada, foi levada ao interior da casa do goleiro no Recreio dos Bandeirantes", no Rio de Janeiro, de acordo com o promotor.

Ela ficou com olhos de sangue, segundo o relato do Jorge. A língua foi para fora, ela estremeceu um pouco mais e não se movimentou"
Promotor Henry Castro

Do Rio, Eliza foi trazida para Minas Gerais, "onde Bruno e sua turma poderiam dar cabo da vida dela com mais facilidade", disse o promotor. Castro afirmou que Eliza foi atraída por uma proposta "hipócrita" do goleiro para a viagem que terminou com  sua morte.

A ex-amante dizia a amigos que o goleiro a "estava enrolando", relatou o promotor. "Ela passou a realizar insistentemente ligações para o réu", disse.

Ligações
A Promotoria apresentou aos jurados os registros de telefonemas do celular de Macarrão, amigo de Bruno e também réu no processo. Uma ligação é feita em 4 de junho de 2010, às 20h40, do celular de Macarrão para Eliza. "Era a proposta para que ela fosse ao encontro do goleiro, que estava concentrado [no Flamengo]", disse Castro.

A última ligação feita do celular de Eliza é para Belo Horizonte, cidade para a qual ela foi levada. Depois ela não teve mais acesso o telefone, segundo o promotor. "A partir daí são cinco dias sem uso do celular" até que a ex-amante seja morta, disse Castro.

Macarrão ligou seis vezes para o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, em 10 de junho de 2010, dia em que Eliza foi morta, segundo o Ministério Público. Um dos telefonemas para Bola, que também é réu no processo, apontado como executor da ex-amante de Bruno, ocorreu às 20h22, hora em que Eliza foi levada para a morte, segundo a Promotoria.

Três pessoas estavam no carro que levava a ex-amante naquela hora: Macarrão, Jorge e outro primo do goleiro, Sérgio Rosa Sales, segundo o promotor. Eles passaram a seguir um homem que estava em uma moto rumo à casa do ex-policial na cidade de Vespasiano, também em Minas.

Ao chegar lá, na versão do promotor Bola deu uma gravata em Eliza e Macarrão chutou as pernas dela, para que ela perdesse o equilíbrio. "Ela ficou com olhos de sangue, segundo o relato do Jorge. A língua foi para fora, ela estremeceu um pouco mais e não se movimentou", disse Castro.

Eliza não teria sido sequestrada nem morta se não fosse o poder exercido nos bastidores por este facínora. Não podia abalar a imagem de Bruno. Precisava do cara que mantinha a discrição"
Promotor Henry Castro sobre Macarrão

Papel decisivo
Macarrão teve um papel decisivo na morte da ex-amante do goleiro, na opinião do promotor. "Eliza não teria sido sequestrada nem morta se não fosse o poder exercido nos bastidores por este facínora. Não podia abalar a imagem de Bruno. Precisava do cara que mantinha a discrição", afirmou Castro.

Antes do cárcere e da morte, Bruno chegou a advertir sua ex-amante a não procurar a polícia ou ele a mataria, de acordo com o promotor, que relembrou o relato de Eliza após ela ter sido levada para Minas Gerais, em 2010.

"Nós vimos aqui o relato de Eliza, depois que ela foi levada a cativeiro (...) O goleiro Bruno, na época ainda goleiro, a advertiu expressamente a não procurar a polícia, pois se ela o fizesse, ele mataria a ela e providenciaria a morte de seus amigos e de seus familiares", disse o promotor.

Castro ressaltou ainda a convicção do Ministério Público de que o goleiro foi o mandante do crime de cárcere privado e morte da Eliza. "A Promotoria não precisava de uma confissão de Macarrão, existem provas". "Mas essa confissão é relevante, porque aponta que quem mandou, Bruno", disse.

Assistentes de acusação
Assistente de acusação, o advogado José Arteiro de Lima disse durante os debates querer que os réus "paguem por seus crimes". O ex-policial Bola "é um monstro", afirmou rele, referindo-se à mãe da Eliza Samudio: "Dona Sônia [Moura] chora até hoje".

"O Macarrão e a Fernanda não têm como sair desta, a condenação vai ser fatal", disse Arteiro pouco após o intervalo de almoço, em entrevista. Ele disse acreditar que a ex-namorada do goleiro Bruno vai ser condenada a seis anos de prisão.

Já a mãe de Eliza se disse emocionada com os debates: "O que mais me emocionou foi a forma como ele [promotor] que minha filha foi morta. As provas que existem nos autos não têm caminho de fuga".

Quinto dia de júri
O quinto dia de julgamento começou por volta das 11h30 desta sexta, após os depoimentos da ex-namorada do goleiro Bruno e de Macarrão, réus no processo de cárcere privado e desaparecimento de Eliza Samudio, que era amante do goleiro. A sentença dos réus pode ser proferida pela juíza Marixa Fabiane ainda nesta sexta-feira.

A sessão começou com mais de duas horas de atraso. O motivo foi a instalação de equipamento de áudio em uma sala de apoio à imprensa em um andar acima do plenário, de acordo com a juíza.

Após o almoço, os advogados dos réus terão duas horas e meia de tempo para tentar convencer os jurados da inocência de seus clientes. Se o promotor pedir réplica, terá mais duas horas de exposição, e a defesa, também mais duas horas.

A fase dos debates pode durar até nove horas. Encerrada esta etapa, os jurados se reúnem em uma sala secreta para responder a quesitos formulados pela juíza, com resposta de "sim" e "não". Eles decidirão se os réus cometeram o crime, se podem ser considerados culpados e se há agravantes ou atenuantes, como ser réu primário. Os jurados podem permanecer na sala secreta o tempo que acharem necessário.

A juíza Marixa deve explicar os quesitos aos jurados e tirar todas as dúvidas. No novo procedimento do júri, os votos dos jurados não são todos contados para a própria proteção deles. Assim, se quatro dos sete jurados votarem pela absolvição, é encerrada a contagem, e não se sabe o que os demais votaram, e vice-versa.

De posse do veredicto (a decisão final dos jurados), a juíza dosa a pena com base no Código Penal, se houver condenação. Se houver absolvição, o réu deixa o tribunal livre. A sentença é lida a todos os presentes no Tribunal do Júri. A sessão deve ser encerrada à noite ou até na madrugada deste sábado (24).

Para o assistente de acusação José Arteiro Lima, Macarrão "merece uma pena bem menor que a do Bruno", após ter apontado o atleta em seu depoimento. "Bruno premeditou, planejou e mandou matar Eliza", disse. Já o amigo do goleiro, na opinião do advogado, "era o jagunço do Bruno".

Lima disse que a acusação possui provas de que Macarrão esteve no local onde Eliza foi morta. "Os depoimentos do menor [Jorge] e do Sérgio [primos de Bruno] provam que ele esteve na cena do crime”, afirmou o assistente de acusação. "De inocente nesta historia, só tem a Eliza e o Bruninho."

Para ler mais sobre o Caso Eliza Samudio, clique em g1.globo.com/minas-gerais/julgamento-do-caso-eliza-samudio/. Siga também o julgamento no Twitter e por RSS.

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