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Por Jornal Nacional


Quem é Julian Assange, hacker e ativista que expôs documentos confidenciais dos EUA

Quem é Julian Assange, hacker e ativista que expôs documentos confidenciais dos EUA

Julian Assange ajudou a revelar evidências de possíveis crimes de guerra dos Estados Unidos. Os críticos dizem que é um inimigo do país. Para os admiradores, um símbolo da luta por acesso à informação.

O pai biológico é hoje um dos seus maiores defensores. Mas John Shipton só entrou na vida do filho quando Julian já tinha 25 anos. Julian Assange foi fruto de um namoro fugaz durante os protestos contra a Guerra do Vietnã. Os amigos dizem que ele herdou do pai o gene que o tornou um gênio rebelde e indomável. Frequentou 37 escolas, foi para a universidade, mas nunca se formou em nada.

Ainda jovem, conseguiu acessar o sistema que deveria ser o mais seguro do mundo: o arquivo secreto da Defesa americana. Foi processado e se declarou culpado. Mas o juiz não mandou prendê-lo porque julgou que nada foi feito para vantagem pessoal: Assange era, em seu juízo, alimentado apenas pelo desafio intelectual.

Dez anos depois, em 2006, ele fundou o site que o tornaria conhecido como o hacker mais famoso do mundo. No WikiLeaks, uma rede de ratos dos porões da internet poderia tornar público o que alguém não quisesse ver publicado. Em 2010, veio a primeira grande revelação: uma militar, analista da inteligência americana, começou a baixar documentos secretos e postá-los no WikiLeaks. Revelou, por exemplo, que dois jornalistas e vários civis foram assassinados a tiros por soldados americanos no Iraque. O governo descobriu que a agente que vazava os documentos era Chelsea Manning. Foi presa por traição à pátria.

Mas o governo de Barack Obama ficou sem saber o que fazer com Assange. Prendê-lo seria um ataque à liberdade de imprensa? Ao mesmo tempo, a procuradoria da Suécia acusou Assange de estupro. Ele fugiu; chamou o processo de perseguição política, foi para a Inglaterra, pediu asilo na embaixada do Equador em Londres.

Lá dentro, não deixou de trabalhar e de dar trabalho para os funcionários - com quem era desrespeitoso, segundo autoridades equatorianas. Mas também jogava bola na sala e recebia visitas, como da atriz americana Pamela Anderson. Da sacada, atraía multidões.

Julian Assange: inimigo dos EUA para os críticos e símbolo da luta por acesso à informação para admiradores — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução

Lá dentro, em 2015, Assange confirmou a veracidade dos vazamentos de outro delator da inteligência dos Estados Unidos, Edward Snowden, que revelou que o alto escalão do governo brasileiro era grampeado pelo governo americano. Até o avião da então presidente Dilma Roussef era espionado.

Em 2016, no auge da disputa presidencial entre Hillary Clinton e Donald Trump, uma bomba: o WikiLeaks publicou e-mails do Partido Democrata que revelaram, entre outras coisas, que Hillary Clinton forçou uma intervenção americana na Líbia. Depois disso, Assange foi chamado de marionete da Rússia e alguns o responsabilizaram pela vitória de Donald Trump.

Em 2019, o presidente do Equador disse que depois de sete anos de asilo na embaixada, a situação estava insustentável; que os funcionários se sentiam ameaçados. Mas, mais do que isso, Assange punha em xeque a relação do Equador com o mundo. O hacker foi expulso, preso pela polícia britânica. Virou alvo de um pedido de extradição dos Estados Unidos, que o queriam preso por publicar os documentos secretos. Na prisão em Londres, casou com a advogada, que saiu de braços dados com o pai de Assange.

Ele tentava recorrer uma última vez contra a extradição. Mas a libertação desta terça-feira (25) mudou tudo. Amado e odiado, Assange se tornou o hacker mais famoso da história. Mas como hacker, deveria estar oculto, como foi para ele a figura do pai. Para justificar a importância do anonimato nas redes, citou, ainda muito jovem, o escritor irlandês Oscar Wilde:

“Dê ao homem uma máscara e ele lhe contará toda a verdade”.

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