Policial militar é baleado na Baixada Fluminense; carro do agente ficou crivado de balas
Um dia após o capitão da PM Thiago Cardoso dos Santos, de 36 anos, ser alvo de um ataque na porta de casa, em Mesquita, na Baixada Fluminense, agentes do 24º BPM (Queimados) e do Comando de Operações Especiais (COE) iniciaram nesta quarta-feira (7) uma megaoperação em vários pontos de Seropédica. O objetivo é prender traficantes e milicianos.
Santos serve no batalhão de Queimados e estaria investigando paramilitares de Seropédica. Uma das linhas de investigação do atentado é uma represália contra sua atuação.
De acordo com a Polícia Militar, os agentes foram para as comunidades Campo Lindo, Canto do Rio e Mutirão. Entretanto, até a última atualização desta reportagem, não havia informações sobre prisões ou apreensões.
O atentado
O ataque ao oficial da PM aconteceu a menos de 100 metros da 53ª DP (Mesquita). No momento do atentado, Thiago seguia para a academia. Imagens de câmeras de segurança registraram o momento que criminosos atiraram mais de 50 vezes contra o policial.
Thiago conseguiu fugir. No entanto, ele foi baleado na mão e teve um ferimento no punho. Imagens mostram o carro do capitão com marcas de disparos na lataria, na traseira e no lado do passageiro. Janelas e o vidro traseiro ficaram trincados.
O capitão foi levado para o Hospital Geral de Nova Iguaçu, foi atendido e liberado. Em seguida, ele prestou depoimento da 53ª DP.
Bigode preso
Na noite de segunda (5), a Polícia Civil do RJ prendeu um dos chefes da milícia de Seropédica. Anderson de Amorim Araújo Júnior, o Bigode, foi preso ao sair do Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro.
O paramilitar tinha escapado da operação do último domingo (4) em Seropédica, em que 2 suspeitos morreram, e chegou a trocar tiros com as equipes policiais na ocasião. Nesta segunda, nenhum disparo foi feito.
Contra Bigode havia 2 mandados de prisão temporária relacionados a homicídios praticados na região de Seropédica, incluindo o confronto que resultou na morte do universitário Bernardo Paraíso em abril.
Seropédica vive disputa de milicianos
Há pelo menos 4 anos milicianos e traficantes disputam a região. Ao longo desse período, os moradores do município da Baixada Fluminense viram a pacata cidade de interior, sede da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), se transformar em uma área disputada por 3 gangues fortemente armadas.
Os criminosos rivais atuam ao longo da BR-465, antiga Rodovia Rio-São Paulo, que liga a Av. Brasil, corta a cidade de Nova Iguaçu e chega a Seropédica. O município é considerado uma área estratégica pelos milicianos, principalmente, por causa da proximidade com a Rodovia Rio-Santos e com o Porto de Itaguaí.
A guerra em Seropédica envolve as milícias comandadas por Juninho Varão, Zinho e Chica, que recentemente se aliou aos traficantes do Terceiro Comando Puro (TCP). Chica e Juninho eram aliados, mas se dividiram. Já o bando liderado por Zinho, percebendo a falta de comando, passou a tentar invadir a região de Seropédica.
No meio do fogo cruzado, os moradores seguem apavorados e sem saber se a cidade voltará aos tempos de paz. Em abril, um tiroteio entre milicianos rivais culminou na morte do estudante universitário Bernardo Paraiso. No mesmo confronto, duas crianças ficaram feridas. Tudo aconteceu no Centro do município.
Início da guerra
Os confrontos em Seropédica tiveram início em outubro de 2020. Na época, um comboio com 12 milicianos foi abordado por agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e da Polícia Civil na Rio-Santos, na altura de Itaguaí. Houve confronto e todos os bandidos morreram.
As investigações apontavam que o grupo era ligado ao miliciano Danilo Dias Lima, o Tandera.
Em 2020, Tandera e Wellington da Silva Braga, o Ecko, comandavam as duas principais milicias do Rio. Os dois agiam em parceria. Contudo, depois do episódio na Rio-Santos, eles começaram a desconfiar um do outro e romperam a relação.
Oito meses depois, Ecko foi morto pela polícia. Seu irmão, Luiz Antônio da Silva Braga, o Zinho, assumiu o comando do grupo. Nesse momento, os territórios na Zona Oeste e na Baixada que, antes, estavam sem confrontos, passaram a ser disputados à bala, com uma sucessão de mortes e atentados.
Donos em conflito
Atualmente, o grupo ligado ao miliciano Zinho, que se entregou à polícia em dezembro do ano passado, controla a região que fica na altura do quilômetro 40 da antiga Rio-São Paulo. Essa região corresponde ao bairro de Chaperó, em Itaguaí.
O sucessor imediato de Zinho seria seu sobrinho, Mateus da Silva Resende, conhecido como Teteu ou Faustão. Mas ele foi morto durante uma operação da polícia, dois meses antes do tio se entregar.
A morte do miliciano provocou um verdadeiro dia de terror à Zona Oeste do Rio, quando 35 ônibus e 1 trem foram queimados como represália.
As disputas por território continuaram. Outro possível chefe do grupo também foi assassinado pouco depois da prisão de Zinho. Antônio Carlos dos Santos Pinto, o Pit, foi morto depois de um confronto entre os próprios bandidos. O filho dele de 9 anos estava no carro e não resistiu.
Com a morte de Pit, o comando do grupo passou para o miliciano Rui Paulo Gonçalves Estevão, o Pipito.
A nove quilômetros de distância de Chaperó, no chamado km 49, já em Seropédica, outro grupo de milicianos exerce sua influência. Tauã de Oliveira, conhecido como Tubarão, morreu em fevereiro deste ano. Desde então, a guerra ficou ainda mais intensa.
Poucas semanas depois, um dos possíveis substitutos de Tubarão, Ricardo Coelho da Silva, conhecido como Cientista, também foi morto.
A partir daí, mais um personagem assume a quadrilha. Juninho Varão passa a tomar conta do local e expande seu território.
Contudo, a guerra ficou ainda mais sangrenta depois que um antigo braço direito de Tubarão deu um golpe. O miliciano Jefferson Araújo dos Santos, conhecido como Chica, roubou fuzis e se aliou a facção de traficantes, TCP.
Em março deste ano, agentes da PRF e da Polícia Civil tentaram prender Chica. Houve tiroteio e dois policiais foram baleados. O bandido fugiu.
Atualmente, a guerra em Seropédica acontece entre as milícias de Juninho, seu antigo aliado Chica e o grupo de Zinho.