Por Cristiana Lôbo

Jornalista, acompanha de perto os bastidores do governo e a ... ver mais

O duelo de Lira e Maia


Tal como a conhecida terceira lei de Newton, aquela que diz que toda ação gera uma reação na mesma intensidade mas em sentido contrário, assim tem sido o duelo entre o líder do PP, deputado Arthur Lira (AL), conhecido também como "líder informal" do governo Bolsonaro, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Até o começo deste ano, os dois andaram juntos — Maia, liderando todo o "Centrão", do qual o maior expoente é Lira. Mas antes mesmo da pandemia os dois passaram a se estranhar.

"Um arma uma arapuca para o outro, que responde da mesma maneira", diverte-se um deputado que não faz parte do grupo.

O primeiro lance foi dado por Arthur Lira, que aceitou convite para participar de reunião com o articulador político do governo, general Luís Eduardo Ramos, junto com líderes de outros partidos.

Ali, depois de algumas votações dando vitória ao Planalto, eles aceitaram participar do governo. Lira se aproximou do presidente Jair Bolsonaro.

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Pediu a ele um vídeo que seria dirigido à sua família, à mulher e filhos. Sorridente, Bolsonaro mandou um abraço para a família Lira.

O vídeo selou a aproximação. E os cargos pedidos foram saindo, um a um. A força de Lira foi crescendo dentro do grupo de partidos que antes dava sustentação a Rodrigo Maia.

Ninguém duvidou que a intensa movimentação de Lira tinha como meta chegar à presidência da Câmara.

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Àquela altura, Maia ainda nutria esperança de poder disputar mais um mandato (o que hoje, parece, não crer mais).

E, se não fosse ele próprio, tinha e ainda tem, a pretensão de "fazer o sucessor". As possibilidades são Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) e Baleia Rossi (MDB-SP) ou o novato Marcelo Ramos (PL-AM).

Nesta quarta-feira (5), o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) explicitou o pensamento da família presidencial: apoio à reeleição de Davi Alcolumbre (DEM-AP) no Senado, mas não o mesmo benefício para Rodrigo Maia.

O duelo entre os dois esquentou na discussão e votação do Fundeb, o fundo da educação básica, há quase um mês. Lira quis negociar a proposta do governo que chegou na última hora e cheia de novidades e polêmicas.

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Sem conseguir negociar o mérito da proposta, Arthur Lira tentou adiar a votação. Perdeu a disputa para Rodrigo Maia.

Lira mostrou sua força na mesma semana: conseguiu em um único dia aprovar cinco medidas provisórias de interesse do governo. E ganhou cartaz no Planalto e na área econômica.

A reação veio em seguida: Rodrigo Maia comandou a saída do DEM e do MDB do chamado "blocão", formado por mais de dez partidos, entre os quais o PP de Artur Lira.

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Assim, ele quis reduzir a força do alagoano. Antes propagandeando ter 221 votos, o "Centrão" passou a ter 158. Minguou, mas não perdeu a vontade de brigar.

Neste momento, Arthur Lira tenta derrubar o líder da maioria, deputado Aguinaldo Ribeiro — seu colega de partido e pré-candidato à presidência da Câmara.

Tentou emplacar no cargo o tucano Celso Sabino (PA). Isso iria demonstrar uma aproximação do PSDB com o governo. O partido reagiu. Mas Arthur Lira não desistiu.

Nesta quarta-feira, em sessão da Câmara, deputados dizem que Arthur Lira circula pelo plenário como "líder informal do governo".

Ele continua articulando para impor mais uma derrota a Rodrigo Maia que, até aqui, diz que não quer tratar da sua sucessão.

"Precipitar a discussão sobre nomes antecipa o fim do mandato", diz um deputado aliado de Maia, para justificar o silêncio dele sobre o próximo presidente da Câmara.

Mas esta não é uma leitura geral. "O Maia pode até não falar da sucessão dele, mas aqui no plenário só se fala disso", completou um deputado cujo partido faz parte do bloco com Arthur Lira.

Para ele, está chegando o momento daquela conhecida discussão: "o duelo entre o que tem o poder e aquele que pode representar a expectativa de poder".