Filtrado por verbos Remover filtro
  • Saiba mais sobre as palavras cognatas

    VOCÊ SABE...

    ...o que são palavras cognatas?

    Cognato vem do latim cognatu: prefixo “co” (=junto) + “nato” (=nascido). São palavras “nascidas juntas”, isto é, palavras que têm a mesma raiz. Natus, em latim, era o particípio passado do verbo nascor (=nascer). Natu nobilis, aquela marca antiga de uísque, significa “nascido de origem nobre”.

    E tudo isso me faz lembrar o Natal, festa cristã que comemora o nascimento de Jesus. É interessante lembrar que o adjetivo natal significa “relativo ao nascimento, lugar de nascimento”: terra natal, cidade natal. Também são cognatas: natalino (=relativo ao Natal), natalício (=relativo ao dia do nascimento), natalidade (=percentagem de nascimentos), natimorto (=que nasceu morto)... E um craque nato é aquele que já nasceu craque. O adjetivo nato é o mesmo que nado. Ambos significam “nascido, que é de nascença, congênito”.

    Observe outros exemplos de palavras cognatas:

    a)    lei, legal, ilegal, legalizar, legislar, legislação, legislativo;
    b)    cor, decorar, decoração, colorir, corar, corante, incolor, tricolor;
    c)    coração, decorar (=saber de cor), cordial, concordar, discordar;
    d)    roda, rodeio, rótula, rotina, rotativa;
    e)    mês, mensal, bimensal (=duas vezes no mês), menstruação, bimestral (=de dois em dois meses);
    f)    rei, Regina (=rainha), reger, regência, regente;
    g)    cabeça, decapitar, capuz, capitão, capital...

     

     

    A DICA

    Verbos – parte 11

    1ª) Eu MEÇO ou MESSO?
    O certo é MEÇO.
    MEDIR apresenta a mesma irregularidade do verbo PEDIR:
    Eu peço         - eu meço
    Ele pede        - ele mede
    Que ele peça - que ele meça

     

    2ª) Eu MOBÍLIO ou MOBILIO?
    O certo é MOBÍLIO (=com sílaba tônica no “bí”).
    O verbo MOBILIAR só é irregular quanto à sílaba tônica. Nas formas rizotônicas, “bí” é a sílaba tônica (=com acento agudo):
    PRESENTE DO INDICATIVO          PRESENTE DO SUBJUNTIVO (=que...)
    Eu mobílio                                             eu mobílie
    Tu mobílias                                            tu mobílies
    Ele mobília                                             ele mobílie
    Nós mobiliamos                                     nós mobiliemos
    Vós mobiliais                                          vós mobilieis
    Eles mobíliam                                        eles mobíliem

     

    3ª) Eu OPTO ou ÓPITO ou OPITO?
    O certo é OPTO.
    O verbo OPTAR não tem “i”:
    Eu opto, tu optas, ele opta, nós optamos, vós optais, eles optam.

     

    4ª) PERCA ou PERDA?
    PERDA é o substantivo: “Houve uma PERDA irreparável.”
    PERCA é verbo (=presente do subjuntivo): “É preciso que você PERCA três quilos.”

     

     

    O DESAFIO

    O que significa cognição?

    a)    que nasce junto;
    b)    aquisição de conhecimento;
    c)    ato de cozer, cozinhar.

    Resposta:
    Letra (b). Cognitivo vem do latim cognitus, particípio passado de cognoscere (=conhecer).
    Cognação é o parentesco consanguíneo pelo lado materno ou paterno, indiferentemente.
    O ato de cozer é cozimento ou cozedura.

     

     

    DÚVIDA DO LEITOR
    Deu num bom jornal: “Slobodan Milosevic começou, naquela semana, longo calvário no Tribunal da ONU...”
    Comentário do leitor: “Uma das primeiras obrigações do jornalista é saber usar adequadamente as palavras e o uso da metáfora “calvário” para Milosevic é de uma infelicidade pasmosa.”
    Está feito o registro.
    O uso de metáforas é sempre perigoso. Associar o “calvário de Cristo” a um possível “sofrimento de Milosevic” é realmente de muito mau gosto.
    E, por falar em mau gosto, lembrei-me daquela repórter abaladíssima diante das atrocidades da guerra. Depois de ver tanta desgraça, consolou-se: “Este aqui, por sorte, só perdeu uma perna”.
    Nunca vi alguém perder uma perna por sorte!


  • Entenda a origem da expressão 'ficar a ver navios'

    VOCÊ SABE...

    ...de onde vem a palavra anfitrião? E qual é a origem da expressão “ficar a ver navios”?

    1. Anfitrião é aquele que oferece e paga as despesas de um jantar, festa, banquete. Segundo o novíssimo dicionário Houaiss, a entrada da palavra anfitrião nas línguas neolatinas ocorreu no início do século XVII. Foi o escritor francês Molière quem transformou Amphitryon, o nome do rei de Tebas, em substantivo com a acepção que tem até hoje. Anfitrião, portanto, nasceu na mitologia grega e graças a um escritor francês chegou até nós.

    2. A expressão “ficar a ver navios” vem de Portugal. Dom Sebastião, rei de Portugal, morreu em batalha (1578) e seu corpo nunca foi encontrado. Sua morte causou uma grande crise sucessória. O trono ficou vago. Em consequência dessa crise, houve a anexação de Portugal à Espanha, de 1580 a 1640. O orgulho e a dignidade dos lusitanos precisavam ser resgatados. O povo português sonhava com a volta do monarca; por isso, com frequência, visitavam o Alto de Santa Catarina, em Lisboa, e ficavam observando o mar, à espera do retorno de Dom Sebastião. Como o rei não voltou, o povo “ficou a ver navios”.

     

     

    A DICA

    Verbos – parte 4

     

    Eu ARREIO ou ARRIO?

     

    Os dois estão certos:

    a)    Eu ARREIO é do verbo ARREAR (=pôr os arreios);

    b)    Eu ARRIO é do verbo ARRIAR (=abaixar, descer).

     

    1 - Todos os verbos terminados em “-EAR” (ARREAR, CEAR, FREAR, PASSEAR, PENTEAR, RECEAR, RECREAR, SABOREAR...)  são irregulares: fazem um ditongo “EI” nas formas rizotônicas (1ª, 2ª, 3ª do singular e 3ª do plural, nos tempos do presente):

    PRESENTE DO INDICATIVO         PRESENTE DO SUBJUNTIVO (=que...)

    Eu    arrEIo                                                arrEIe

    Tu    arrEIas                                               arrEIes

    Ele   arrEIa                                                 arrEIe

    Nós  arreamos                                            arreemos

    Vós  arreais                                                arreeis

    Eles arrEIam                                               arrEIem

     

    2 - Os verbos terminados em “-IAR” (ARRIAR, ANUNCIAR,COPIAR, MIAR, PREMIAR, VARIAR...) são regulares, exceto: ANSIAR, INCENDIAR, ODIAR, MEDIAR, INTERMEDIAR e REMEDIAR, que são irregulares (= ditongo “EI” nas formas rizotônicas):

    Observe a diferença:

    PRESENTE DO INDICATIVO

    ARRIAR (=verbo regular)               ANSIAR (=verbo irregular)

    Eu    arrio                                                ansEIo

    Tu    arrias                                               ansEIas

    Ele   arria                                                 ansEIa

    Nós  arriamos                                          ansiamos

    Vós  arriais                                               ansiais

    Eles arriam                                               ansEIam

    PRESENTE DO SUBJUNTIVO

    ...que...eu     arrie                                                 ansEIe

    tu      arries                                               ansEIes

    ele    arrie                                                 ansEIe

    nós   arriemos                                          ansiemos

    vós   arrieis                                               ansieis

    eles  arriem                                              ansEIem

    Portanto, o certo é: ele anseia, incendeia, odeia, medeia, intermedeia e remedeia (=irregulares); mas ele arria, anuncia, copia, mia, premia, varia...

    O verbo MAQUIAR (=maquilar) também é regular: maquio, maquias, maquia...

     

     

    O DESAFIO

    Que significa narcolepsia?

     

    a)    doença caracterizada por períodos de sono breves, repetidos e incontroláveis;

    b)    disritmia cerebral sintomática;

    c)    estado de rigidez dos músculos.

     

    Resposta:

    Letra (a) = narco (torpor, entorpecimento) + lepsia (paralisia). Daí o narcótico, que produz narcose, que faz dormir.

    Disritmia cerebral sintomática é epilepsia, e catalepsia é “estado de rigidez dos músculos”.

     

     

    DÚVIDA DO LEITOR

    Deu num bom jornal: “Para aonde vamos?”

    Nosso leitor tem razão. Se usamos a preposição “para”, não precisamos da forma “aonde”. Ou perguntamos “Aonde vamos?” ou “Para onde vamos?”

    Caso semelhante ocorreu na propaganda de uma revista: “Sentado na frente do computador dá para ver o que está por atrás da notícia”. Usamos a forma “trás” sempre que vier antecedida de preposição: “vá para trás”; “saiu de trás”; “...ver o que está por trás da notícia”.


  • Apazíguo ou apaziguo? Tire essa e outras dúvidas de português

    A DICA

    Flexões verbais – parte 3

    Eu APAZÍGUO ou APAZIGUO?

    As duas formas são aceitáveis:

    a)    No Brasil, usamos APAZÍGUO;

    b)    Em Portugal, preferem APAZIGUO (=sílaba tônica é a penúltima: “gu”).

    Em Portugal, os verbos APAZIGUAR, AVERIGUAR, OBLIQUAR, ARGUIR... apresentam a vogal “u” tônica, nas formas rizotônicas (=1a, 2ª, 3ª pessoa do singular e 3ª do plural dos tempos do presente):

     

    PRESENTE DO INDICATIVO

    Eu     apaziGUo                averiGUo                      arGUo

    Tu     apaziGUas              averiGUas                     arGUis

    Ele    apaziGUa                averiGUa                      arGUi

    Nós   apaziguamos          averiguamos                 arguimos

    Vós   apaziguais               averiguais                     arguis

    Eles  apaziGUam             averiGUam                    arGUem

     

    PRESENTE DO SUBJUNTIVO (=que...)

    Eu     apaziGUe                averiGUe                      arGUa

    Tu     apaziGUes              averiGUes                     arGUas

    Ele    apaziGUe                averiGUe                      arGUa

    Nós   apaziguemos          averiguemos                 arguamos

    Vós   apazigueis              averigueis                      arguais

    Eles  apaziGUem             averiGUem                    arGUam

     

    Observações:

    a)    Quando a vogal “u” é tônica e seguida de “e” ou “i”, antes do novo

    acordo ortográfico,usávamos o acento agudo: que eu apazigúe, tu apazigúes, ele averigúe, eles averigúem; tu argúis, ele argúi, eles argúem...

    Este acento agudo foi abolido: que eu apazigue, tu apazigues, ele averigue; tu arguis, ele argui, eles arguem.

    b)    Quando a vogal “u” não é tônica, é pronunciada e seguida de “e” ou “i”,

    antes do novo acordo ortográfico, usávamos o trema: nós argüimos, vós argüis, que nós apazigüemos, averigüemos, averigüeis...

    O trema foi definitivamente abolido: nós arguimos, vós arguis, que nós apaziguemos, averiguemos, averigueis...

    c)    Quando a vogal “u”, tônica ou átona, é seguida de “o” ou “a”, não

    devemos usar nem trema nem acento agudo: apaziguo, averiguo, arguo, apazigua, averigua, argua, apaziguamos, averiguamos, arguamos...

    d)    No Brasil, acentuamos graficamente as formas paroxítonas terminadas

    em ditongo: que eu apazígue, tu apazígues, ele averígue; apazíguo, averíguo, apazígua, averigua...

     
    VOCÊ SABE...

    ...que relação há entre o cavalo e o hipopótamo? Entre o hipopótamo e uma antiga região que ficava entre os rios Tigre e Eufrates? E o que a mesóclise tem a ver com tudo isso?

    Então, vamos lá.

    O elemento grego para cavalo é “hipo”, daí o hipódromo, que é a

    pista (dromo) para cavalos (hipo). Temos ainda o hipismo, o hipocampo (=cavalo marinho) e o hipopótamo, que é o “cavalo (hipo) do rio (potamo)”.

    O elemento grego “potamo” significa rio. Daí a Mesopotamia,

    região que ficava “entre (meso) rios”, entre os rios Tigre e Eufrates.

    E a mesóclise? Agora ficou fácil. É o elemento “meso”, que

    significa “entre, no meio de”. A Mesopotâmia ficava entre rios e a mesóclise é a colocação do pronome átono “no meio” do verbo: tornar-me-ei, arrepender-te-ás, far-se-á, realizar-se-ia, encontrar-nos-emos...

    E, para terminar, a afirmação de um jovem professor que considera a mesóclise uma coisa pedante e estranha à linguagem brasileira: “Mesóclises, evitá-las-ei”.
     

    O DESAFIO

    Pirofobia é aversão...

    a)    ao fogo;

    b)    aos homens;

    c)    à altura.

     

    Resposta:

    Letra (a). O elemento grego “piro” significa fogo. Daí o famoso espetáculo pirotécnico (=fogo+arte), que é feito como fogos de artifício.

    Aversão a homens é androfobia, e medo de altura é acrofobia.

     
    DÚVIDA DO LEITOR

    Deu num bom jornal: “O destino deles passará pelas mãos de uma colega de 25 anos: a chefe da Secretaria Administrativa, a engenheira Ana Paula da Silva de 46 anos.”

    O leitor quer saber se a engenheira tem 25 ou 46 anos de idade.

    É lógico que a engenheira Ana Paula tem 46 anos de idade e 25 anos de serviço. Mas, o nosso tem leitor razão. A frase está mal construída. Imagine se a frase terminasse no nome da engenheira. Certamente ficaria a dúvida: colega durante 25 anos de trabalho ou colega com 25 anos de idade? É a famosa ambiguidade que tanto prejudica a clareza em textos jornalísticos.


  • Conserto x concerto: entenda as diferenças entre palavras parecidas

    Esta coluna continua preocupada com o correto emprego das palavras. O assunto de hoje são as palavras homônimas homófonas (=iguais na pronúncia, diferentes na grafia e no significado) e as parônimas (=parecidas na forma e diferentes no significado).

    Aqui estão os 15 casos mais citados pelos nossos leitores. Todos querem saber qual é diferença entre...

     

    1)    CONSERTO = correção, reparo – “Consertam-se sapatos”;

    CONCERTO = sinfonia, harmonia – “O concerto será no Municipal”;

     

    2)    TAXAR = tributar, pôr uma taxa – “Estes serviços serão taxados”;

    TACHAR = rotular, considerar – “Foi tachado de corrupto”;

     

    3)    SESSÃO = reunião – “Começou a sessão do júri”;

    SEÇÃO = parte, divisão, departamento – “Está na seção de vendas”;

    CESSÃO = ato de ceder – “Fez a cessão dos seus bens”;

     

    4)    CASSAR = anular – “Querem cassar o mandato do prefeito”;

    CAÇAR = apanhar, pegar – “Querem caçar o animal”;

     

    5)    COZER = cozinhar – “Gosta de ovos cozidos”;

    COSER = costurar – “Precisa coser a camisa rasgada”;

     

    6)    SERRAR = cortar – “Os galhos foram serrados”;

    CERRAR = fechar – “Ficou com os olhos cerrados”;

     

    7)    INCIPIENTE = iniciante, o que está no início – “Era um projeto incipiente”;

    INSIPIENTE = não sapiente, ignorante, sem sabedoria – “Era um argumento insipiente”;

     

    8)    RATIFICAR = confirmar – “O presidente vai ratificar a nossa decisão”;

    RETIFICAR = corrigir – “É necessário retificar o seu erro”;

     

    9)    DESAPERCEBIDO = não apercebido, desprovido, desinformado – “Ficou desapercebido” ;

    DESPERCEBIDO = não percebido, não observado – “O juiz passou despercebido”;

    Alguns dicionários já consideram DESAPERCEBIDO sinônimo de DESPERCEBIDO (= não despercebido).

     

    10) MANDATO = representação, poder de mando – “Cassaram o seu mandato”;

    MANDADO = ordem judicial – “Impetrou um mandado de segurança”;

     

    11) TRÁFEGO = de trânsito, movimento – “O tráfego está muito intenso nesta rua”;

    TRÁFICO = comércio – “O tráfico de drogas está cada vez maior”;

     

    12) DESCRIÇÃO = ato de descrever – “Foi fazer a descrição do cenário”;

    DISCRIÇÃO = qualidade de quem é discreto – “Agiu com muita discrição”;

     

    13) DESTRATAR = tratar mal – “Foi destratada em público pelo marido”;

    DISTRATAR = romper um trato – “Não querem mais cumprir o contrato. Vão assinar um distrato”;

     

    14) INFRINGIR = transgredir, violar, desrespeitar – “Está infringindo a lei”;

    INFLIGIR = aplicar, impor – “Está infligindo um castigo”;

     

    15) PRESCREVER = receitar ou perder a validade – “O médico prescreveu este remédio”, “O prazo já prescreveu”;

    PROSCREVER = banir, expulsar – “Ele foi proscrito da cidade”.

     

    GOSTAVA  ou  GOSTARIA?

    Pergunta do leitor : “Eu gostava muito de conhecer o Brasil” e “Eu gostava muito de ir mas não posso”. A conjugação do verbo está correta?”

    O nosso problema é o de sempre: querer reduzir tudo a uma simples questão de certo ou errado.

    O uso do verbo no pretérito imperfeito do indicativo (=gostava) em vez do futuro do pretérito do indicativo (=gostaria) é muito comum em Portugal. É uma característica do português falado em Portugal. Não podemos considerar erro. Esse fato linguístico é abonado por muitos autores da nossa literatura.

    É, portanto, uma questão de adequação.

    No Brasil, o mais frequente é usarmos o verbo no futuro do pretérito do indicativo: “Eu gostaria muito de conhecer o Brasil”, “Eu gostaria muito de ir mas não posso”.

    Usamos o pretérito imperfeito do indicativo para indicar fatos habituais no passado: “Na minha infância, eu gostava de visitar meus avós”.

     

    OUTRA DÚVIDA

     

    Deu num bom jornal: “Se o governo deixar correr solto (...) assistir impávido a cada um dos partidos que o apoiam escolher um candidato...”

    O leitor tem razão: estamos confundindo impávido com impassível.

    IMPÁVIDO significa “que não tem pavor, destemido” e IMPASSÍVEL é “ausência de paixão, de sentimento, indiferente à dor, que não padece”.

    Portanto, o autor queria dizer “assistir impassível”, ou seja, “sem paixão, sem ação, sem sofrimento, indiferente”.


  • Conheça a lista de falsos sinônimos mais comuns do português

    Esta coluna não tem apenas leitores assíduos. O número de leitores eventuais é cada vez maior. A comprovação são as perguntas já respondidas que voltam com muita frequência. Por causa disso, começamos hoje o nosso “vale a pena ver de novo”.

    O primeiro assunto são os falsos sinônimos. São aquelas palavras que verdadeiramente não são sinônimas, mas que muita gente boa usa como se fossem. Em geral, a pergunta dos leitores é uma só: “Qual é a diferença?”

    1. MESMO  x  IGUAL?

    MESMO = um só; IGUAL = outro idêntico.

    “Estamos com o MESMO problema do ano passado.” (= É um problema só. Significa que o problema do ano passado não foi resolvido);

    “Estamos com um problema IGUAL ao do ano passado.” (= É outro problema, com as mesmas características do problema do ano passado).

     

    2. INÚMEROS  x  NUMEROSOS?

    INÚMEROS = incontáveis; NUMEROSOS = muitos.

    “Olho para o céu e vejo INÚMERAS estrelas.” (= São tantas que é impossível contá-las);

    “É uma família muito NUMEROSA.” (= É uma família compostas por muitas pessoas).

     

    3. EVENTUAL  x  POSSÍVEL  x  PROVÁVEL  x  POTENCIAL?

    EVENTUAL = ocasional, esporádico, ocorre de vez em quando, difícil de acontecer;

    POSSÍVEL = tudo o que pode acontecer;

    PROVÁVEL = o que deve acontecer;

    POTENCIAL = o que pode vir a ser.

    “É um problema EVENTUAL.” (= É aquele que acontece de vez em quando);

    “Um POSSÍVEL problema” ( = É o que pode tornar-se um problema);

    “Um PROVÁVEL problema” (= É o que tem de tudo para tornar-se um problema);

    “Um problema POTENCIAL” (= Ainda não é um problema, mas pode tornar-se um).

     

    4. ARRUINADO  x  DESTRUÍDO?

    ARRUINADO = quem perdeu tudo; DESTRUÍDO = destroçado.

    “Aquele rico empresário acabou ARRUINADO.”

    “O prédio foi todo DESTRUÍDO.”

     

    5. SUPLEMENTAÇÃO  x  COMPLEMENTAÇÃO?

    SUPLEMENTAÇÃO = extra, adicional;

    COMPLEMENTAÇÃO = segunda parte, o que completa.

    “Para dar o aumento salarial, foi necessário uma verba SUPLEMENTAR.”

    “A etapa COMPLEMENTAR foi melhor que o primeiro tempo.”

     

    6. REVERTER  x  INVERTER  x  MODIFICAR?

    REVERTER = voltar ao que era antes; INVERTER = mudar para o oposto; MODIFICAR = simplesmente mudar, alterar.

    “O paciente entra em coma. Os médicos tentam REVERTER o quadro.”

    “O Detran deve INVERTER a mão desta rua.”

    “É preciso MODIFICAR as regras do jogo.”

     

    7. QUESTIONAR  x  PERGUNTAR?

    QUESTIONAR = pôr em dúvida; PERGUNTAR = indagar.

    “O sócio QUESTIONOU a validade do contrato.”

    “Quem é a favor do projeto? PERGUNTOU o diretor.”

     

    8. COMERCIALIZAR  x  VENDER?

    COMERCIALIZAR = comprar, vender, alugar, emprestar...;

    VENDER = é uma das atividades da comercialização de um produto.

    “É uma empresa que COMERCIALIZA software em todo o país.”

    “O Vectra está sendo VENDIDO por R$30.000,00.”

     

    9. ACATAR  x  ACOLHER?

    ACATAR = obedecer; ACOLHER = aceitar, receber.

    “Os empregados ACATARAM a ordem do chefe.”

    “O juiz não ACOLHEU a nossa ação.”

     

    10. DESABRIGADO  x  DESALOJADO?

    DESABRIGADO = quem fica sem casa para morar;

    DESALOJADO = quem teve de sair de casa.

    “Os fortes temporais deixaram muitos desabrigados (as casas foram destruídas)”;

    “Os fortes temporais deixaram muitos desalojados (as casas não foram destruídas, mas tiveram de sair de casa e ir para um local seguro)”.

     

    HAVER  ou  A VER?

    Usamos o verbo HAVER com o sentido de “existir, ocorrer, acontecer, tempo transcorrido...”:

    “Deverá haver muitas pessoas na reunião de hoje” (=deverão existir);

    “Pode haver acidentes nesta esquina” (=podem ocorrer);

    A VER = preposição “a” + verbo “ver”:

    “Ele foi obrigado a ver o filme inteiro”;

    “Isso não tem nada a ver” (=para ver);

    “Tem tudo a ver” (=para ver).


  • Dúvidas dos leitores: uso do 'mesmo' e o duelo 'vir' X 'vier'

    Leitores desta coluna querem que eu comente algumas frases publicadas em vários jornais.

    1ª) “Solicito ao prezado professor informar se há erro no emprego da palavra MESMOS no seguinte trecho: “...trabalhos da CPI, fazendo com que não venham os mesmos a ser declarados nulos futuramente...”

    Para os gramáticos mais rigorosos, existe erro: não deveríamos usar o pronome MESMO para substituir termos expressos anteriormente (=trabalhos da CPI). Só poderíamos usar a palavra MESMO como pronome de reforço: “Eu mesmo fiz este trabalho” (=eu próprio); “Ela mesma resolveu o caso” (=ela própria); “Eles feriram a si mesmos” (=a si próprios)...

    Entretanto, devido ao uso consagrado, muitos estudiosos da língua portuguesa já aceitam o uso do MESMO como pronome substantivo (=substituindo um termo anterior).

    Eu não considero erro, mas sou contra. Sugiro que se evite o uso do pronome MESMO em lugar de algum termo já expresso. Ainda que não seja erro, caracteriza pobreza de estilo. Muitas vezes usamos a palavra mesmo porque falta vocabulário ou porque não sabemos usar outros pronomes.

    Na frase em questão, o pronome mesmos poderia simplesmente ser omitido: “...fazendo com que não venham a ser declarados nulos...”

    2ª) E a concordância na frase “...a grande maioria das empresas de educação superior foram fragorosamente chumbadas...” está correta?

    Erro não é, pois nossas gramáticas preveem a tal concordância atrativa: o verbo concorda com o adjunto (=empresas) devido à proximidade.

    Não é, entretanto, o nosso padrão. A nossa orientação é fazer o verbo concordar rigorosamente com o núcleo do sujeito (=maioria). Para nós, portanto, deveria ser: “...a grande MAIORIA das empresas de educação superior FOI fragorosamente CHUMBADA...”

    3ª) E a frase “Fechar as que têm mal desempenho...” está correta?

    Se não escrevemos BEM, é porque estamos escrevendo MAL. Se o desempenho das universidades não foi BOM, devemos “fechar as que têm MAU desempenho”.

    4ª) E a frase “Grande empresa também fica na mão” é boa?

    Concordo com o nosso leitor. Não é uma questão de certo ou errado. Trata-se de uma expressão inadequada ao nosso texto. “Ficar na mão” é uma expressão excessivamente coloquial e não é apropriada àlinguagem dos bons jornais. Deve ser evitada, principalmente em títulos. Termos e expressões coloquiais são adequados somente em textos informais.

    5ª) Leitor diz ter lido num jornal on-line: “O irmão do deputado cujo

    mandato foi cassado pela Câmara, teve sua prisão preventiva decretada em novembro e estava foragido há um mês.” A dúvida do leitor é a seguinte: CUJO refere-se ao irmão ou ao deputado?

    Nosso leitor tem razão. Trata-se de uma frase ambígua. O pronome

    relativo CUJO pode fazer referência tanto ao deputado quanto ao irmão dele. É lógico que o autor da frase usou o CUJO para referir-se ao ex-deputado, mas quem não acompanha as páginas policiais ou políticas poderia perfeitamente entender que a Câmara tinha cassado o mandato do irmão.

    É a mania de dar várias informações numa única frase. E a desculpa de que o leitor já sabe quem foi cassado é absurda. Se o leitor já sabia, para que repetir a informação?

     

    VIR ou VIER?

     

    1)    VIR pode ser:

    a)    INFINITIVO:

    “Eles precisam VIR ao nosso escritório para assinar o contrato.”

    Cuidado: “Ele vai vim” está totalmente errado. O certo é “ele vai VIR”. Melhor ainda: “ele VIRÁ”.

    b)    FUTURO DO SUBJUNTIVO do verbo VER:

    “Quando eu VIR o filme, poderei opinar.”

    “Se você VIR o projeto, vai adorar.”

    Cuidado: O uso do verbo nas frases “Quando eu ver o filme...” e “Se você ver o projeto...” está errado.

    2)    VIER é FUTURO DO SUBJUNTIVO do verbo VIR:

    “Quando eu VIER novamente, assinaremos o contrato.”

    “Se você VIER ao Rio de Janeiro, vai adorar.”

    Cuidado: O uso do verbo nas frases “Quando eu vir aqui novamente” e “Se você vir ao Rio de Janeiro” está errado.

     

    O DESAFIO

    Qual é a forma correta?

    1ª) Ver O jogo ou AO jogo?

    2ª) Assistir O jogo ou AO jogo?

    Segunda a regência clássica, exigida em nossos concursos, as respostas corretas são:

    1ª) Ver O jogo (VER é verbo transitivo direto);

    2ª) Assistir AO jogo (ASSISTIR, no sentido de “ver”, é transitivo indireto).

     


Autores

  • Sérgio Nogueira

    Sérgio Nogueira é professor de língua portuguesa formado em letras pela UFRGS, com mestrado pela PUC-Rio. É consultor de português do Grupo Globo.

Sobre a página

O professor Sérgio Nogueira esclarece dúvidas de português dos leitores com exemplos e dicas que facilitam o uso da língua. Mostra erros comuns e clichês que empobrecem o texto.