Leitores pedem a palavra. Como este espaço é bem democrático, aqui estão alguns comentários interessantes.

1º) “Alguém já disse que uma mentira repetida à exaustão acaba virando verdade. Isto está acontecendo com algumas palavras da língua portuguesa que, de tanto serem repetidas de maneira errada ou inadequada, acabam por serem aceitas como corretas e vem daí a minha indignação. ECOLOGIA, por exemplo, é a parte da biologia que estuda as relações entre os seres vivos e o meio ou o ambiente em que vivem.

Pois bem, as pessoas andam usando e abusando da palavra para designar os danos causados ao meio ambiente. Tanto a imprensa escrita como a falada cometem o mesmo erro. Leio e ouço a toda hora expressões como: ‘O vazamento de óleo causou danos à ecologia’; ‘Os prejuízos causados à ecologia pelo desmatamento...’ O vazamento de óleo e o desmatamento causam danos ao meio ambiente, aos animais, às plantas e não à ecologia que, de acordo com a sua definição, é uma ciência que estuda as relações entre os seres vivos e o meio ambiente e não o próprio meio ambiente. O senhor concorda comigo?”

Concordo. A exemplificação da leitora é claríssima.

Outro caso que me incomoda é chamar qualquer defensor da natureza de ecologista. Um simples amante e defensor da natureza pode ser chamado de ambientalista. Ecologista é o estudioso, é quem estuda a ciência (=ecologia).

2º) “Eu gostaria de saber se está correto o modo como

muitas empresas estão usando atualmente o gerúndio no trato com o cliente. Coisas do tipo: ‘Amanhã estaremos enviando para o senhor...’ e ‘Quando o senhor estiver recebendo, queira por favor estar nos confirmando o recebimento’. Isso pode até ser (ou poderá estar?) gramaticalmente correto, mas não é uma forma antipática de se expressar?”

É antipática e inaceitável.

Já falamos sobre o assunto aqui nesta coluna, mas é sempre bom repetir.

Nós já vimos que o gerúndio, fundamentalmente, indica tempo simultâneo ou ação durativa. Fica totalmente ilógico o uso do gerúndio como se fosse futuro. Em vez de “estaremos enviando”, devemos simplesmente dizer “enviaremos ou vamos enviar”; em vez de “quando o senhor estiver recebendo”, diga “quando o senhor receber” (=futuro do subjuntivo); em vez de “queira por favor estar nos confirmando”, basta “queira nos confirmar” (=infinitivo).

3º) “Esta frase eu ouvi de Totonho, um capataz de Rondonópolis – MT. Totonho relatava um caso de picada de cobra em um peão: ‘Aí, eu falei pro caboclo: - Pelo amor de Deus, não vai me morrer agora. E não é que o caboclo me morre!’ Por favor, dê sua opinião sobre ela.”

É óbvio que uso do pronome “me” é totalmente desnecessário. Sua presença na frase caracteriza uma linguagem tipicamente regional. Pior é o gaúcho que tem a mania de dizer “eu me acordei lá pelas 11h”. Fico imaginando o gauchão, ainda dormindo, “catucando” a si mesmo para “se” acordar.

4º) “Eu não tenho muita fé nos letrados. Pois como podem eles (portugueses, brasileiros e outros de países de língua portuguesa) tomar decisões que só podem resultar em confusão? Os tais letrados resolveram abolir o acento agudo que diferencia o presente do passado! Caso concreto: a sua coluna começa com um ‘lançamos’ que me fez voltar atrás para reler o início da frase. Isso é mudar a escrita sem adquirir nenhum benefício, antes pelo contrário: é mudar por mudar.”

É bem provável que a maioria dos leitores brasileiros não tenha entendido a crítica do nosso leitor português. Em Portugal, a primeira pessoa do plural do presente do indicativo é pronunciada diferentemente da primeira pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo: nós lançamos (vogal “a” com timbre fechado = presente) e nós lançámos (vogal “a” com timbre aberto = passado).

Aqui no Brasil, nós não fazemos distinção alguma: pronunciamos “nós lançamos”, com timbre fechado, tanto no presente quanto no passado.

A reclamação do nosso leitor se deve ao fato de o acento agudo ter sido abolido. Hoje devemos escrever “lançamos” sem acento em qualquer situação, daí a confusão. No Brasil, não sentimos o problema mais concretamente porque nunca usamos o tal acento, afinal nunca fizemos distinção de pronúncia entre o presente e o pretérito perfeito.

5º) “Não haveria crase em anterior a ação de chegar?”

Tudo que é anterior é anterior “a” alguma coisa. Isso significa que temos a preposição “a”;

“A ação de chegar” é uma ação determinada. Isso significa que temos o artigo definido feminino “a”.

Assim sendo, ocorre a crase. O correto é colocarmos o acento grave para indicar a crase: “...anterior à ação de chegar”.

6º) “Qual é a expressão correta: Amanhã irei ao vernissagem ? ou Amanhã irei à vernissagem ?”

Segundo os dicionários Aurélio e Michaelis, a grafia correta é vernissage e é um substantivo masculino. Portanto, “...irei ao vernissage”.

O Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira Letras registra as duas formas: vernissage (substantivo masculino) e vernissagem (substantivo feminino).

Assim sendo, nós podemos ir “ao vernissage” ou “à vernissagem”.

7º) PRESCREVER ou PROSCREVER?

PRESCREVER = “receitar” = “Para o tratamento das minhas alergias, o médico

prescreveu banho frio”; “perder a validade” = “O prazo de validade dos remédios já prescreveu”;

PROSCREVER = “banir, abolir, expulsar” = “No meu tratamento, o banho frio foi proscrito.”

Observem o cuidado que os médicos devem tomar ao usar os verbos PRESCREVER e PROSCREVER. No caso do tratamento de alergias, se o médico prescreve, o paciente vai tomar banho frio; se o médico proscreve, o paciente só vai tomar banho quente. Isso significa que, por causa de uma letrinha, o paciente pode passar muito mal, não ficar curado das suas alergias ou coisa pior.