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  • A verdadeira MUÇARELA

    Já faz um bom tempo que me fizeram uma curiosa consulta: “Professor, é verdade que muçarela se escreve com cê-cedilha?”

    Diante da minha resposta afirmativa, a pergunta seguinte foi: “Então, eu devo escrever muçarela com cê-cedilha”?

    É claro que sim. Se tive a oportunidade de aprender que é assim que se escreve muçarela, não entendo por que continuar escrevendo “errado”.

    Sei muito bem que a maioria escreve “mussarela”, com dois esses. É assim que vemos a palavra escrita em pizzarias, supermercados, cardápios...

    Importante, porém, é que você saiba que a grafia oficial é MUÇARELA, pois essa é a forma registrada no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), publicado pela Academia Brasileira de Letras.

    Importante também é você saber por quê.

    O Português é uma língua neolatina. Tem sua origem no Latim, assim como o Espanhol, o Francês, o Italiano, o Romeno...

    O Português é “a última flor do Lácio”, como escreveu um dia o poeta Olavo Bilac. O Latim era a língua oficial da Roma antiga. Os romanos impuseram sua língua a todos os povos dominados. E isso demorou séculos.

    Com a queda e consequente fragmentação do Império Romano, o Latim também se dividiu nas várias línguas neolatinas.

    Como bem sabemos, a língua portuguesa chegou ao Brasil em 1.500 com as naus de Pedro Álvares Cabral.

    Para nossa surpresa, entretanto, o sistema gráfico só foi oficialmente criado em 1943. Antes disso, várias palavras admitiam dupla grafia: farmácia e pharmacia; Brasil e Brazil, aderir e adherir...

    Esse acordo é válido até hoje. Sofreu apenas duas pequenas reformas: uma em 1971 e essa última mais recente. Bem ou mal, é esse o sistema ortográfico vigente, hoje, para a nossa língua portuguesa.


    E a muçarela? Que tem a ver com tudo isso?

    Simples. O nosso sistema ortográfico estabeleceu que, nas palavras estrangeiras aportuguesadas, o fonema /ce/, diante das vogais “a”, “o” e “u”, deveria ser grafado com cê-cedilha: “ça”, “ço” e “çu”. Em razão disso, é que escrevemos: açaí, miçanga, paçoca (palavras vindas de línguas indígenas e africanas), açúcar (do árabe), praça (do espanhol), palhaço (do italiano)...


    Muçarela vem do italiano mozzarella. Os dicionários, num primeiro momento, só registraram mozarela, mas essa forma gráfica nunca se consagrou, provavelmente porque a pronúncia no Brasil não é /mozarela/.

    A forma “mussarela”, sem dúvida, é a mais usada e já aparece registrada em alguns dicionários, mas contraria o nosso sistema ortográfico vigente e não está registrada no Vocabulário Ortográfico da ABL.

    Assim sendo, oficialmente, gostando ou não, devemos escrever MUÇARELA.

    Certa vez, fiz uma pesquisa na internet para ver quantas vezes as palavras muçarela e “mussarela” foram utilizadas. “Mussarela” ganhou de goleada. Isso é representativo e justificaria a dupla grafia.

    Num concurso, porém, o que vale mesmo é a MUÇARELA.

    Cuidado para não cair em armadilhas!

    1ª) Não estrupe a nossa língua.
             O verbo é ESTUPRAR. ESTUPRADOR é quem comete ESTUPRO.

    2ª) Não depedre a sala de aula.
             O verbo é DEPREDAR. Quem destrói comete DEPREDAÇÃO. Nada tem a ver com pedras. Jogar pedras é APEDREJAR.

    3ª) Não seje infeliz.
             Não seje, nem esteje, muito menos teje. Os verbos SER, ESTAR e TER, no presente do subjuntivo, são: SEJA, ESTEJA e TENHA.

    4º) Houveram muitos problemas.
             Pelo visto, mais problemas que se imaginava. O verbo HAVER, com o sentido de “existir ou acontecer”, é impessoal (sem sujeito), por isso só pode ser usado no singular. O certo é “HOUVE muitos problemas”.

    5º) Já fazem dez anos que eles viajaram.
             O verbo FAZER, quando se refere a “tempo decorrido”, é impessoal (sem sujeito), por isso só pode ser usado no singular. O certo é “Já FAZ dez anos que...”

    6º) Tivemos menas chances.
             Pelo visto, MENOS chances do que se imaginava. A forma menas simplesmente não existe.

    7º) Cuidado com os degrais.
             Assim todos caem. O plural de degrau é DEGRAUS, assim como graus, saraus, bacalhaus... A terminação “-ais” é para as palavras terminadas em “-al”: canais, iguais, animais, anuais...

    8º) Ele não recebeu os troféis.
             Troféis ninguém merece. O correto é TROFÉUS, assim como chapéus, réus, céus... A terminação “-éis” é para as palavras terminadas em “-el”: papéis, pastéis, quartéis, coronéis, tonéis...

    9º) Deixou tudo para mim fazer.
             MIM não faz nada. Antes de verbo, na função de sujeito, devemos o pronome pessoal do caso reto: “...para EU fazer”.

    10º) Terá de dividir entre eu e você.
             Assim eu fico sem nada. Não verbo após os pronomes, portanto não exercem a função de sujeito. Em razão disso, devemos usar o pronome pessoal oblíquo: “...entre MIM e você”.

  • Particípio e verbos abundantes

    Você já ouviu falar de VERBOS ABUNDANTES?

    São os que têm mais de uma forma no particípio: o REGULAR (com desinências -ADO e -IDO) e o IRREGULAR.

    Por exemplo: o PARTICÍPIO REGULAR dos verbos LIMPAR e IMPRIMIR é, respectivamente, LIMPADO e IMPRIMIDO. Já o PARTICÍPIO IRREGULAR é LIMPO e IMPRESSO.

    Mas quando usar um ou outro?

    Isso vai depender do VERBO AUXILIAR:

    1ª) Com TER e HAVER, usamos o PARTICÍPIO REGULAR. Então, dizemos:
    “Ana já TINHA (ou HAVIA) LIMPADO a sala”;
    “Eu TINHA (ou HAVIA) IMPRIMIDO o texto todo”.

    2ª) Com os verbos SER e ESTAR, usamos o PARTICÍPIO IRREGULAR:
    “A sala FOI LIMPA por Ana”;
    “O texto ESTAVA IMPRESSO na casa dele”.


    Verbos primitivos e derivados
    Se você souber conjugar os verbos primitivos (ter, ver, vir, pôr...), você saberá conjugar seus derivados: deter, rever, provir e repor, entre outros.                    

    Observe:
    - Eu PONHO / Eu REPONHO os alimentos na prateleira.
    - Eu TENHO poder / Eu DETENHO o poder.
    - Eu VEJO e REVEJO os documentos. 
    - Eu VENHO de longe /Eu PROVENHO do Bahia.

    Eles OBTERAM ou OBTIVERAM?
    Já sabemos as vantagens de saber conjugar os verbos primitivos ver, vir, ter e pôr quando temos de conjugar seus derivados.

    Observemos o verbo TER e seus derivados.

    Muitas vezes, li e ouvi reportagens em que o entrevistado dizia: “Eles obteram”.

    Essa forma verbal não existe, pois OBTER se conjuga como TER.

    Como dizemos "Eles TIVERAM", devemos dizer: "Eles OBTIVERAM".

    Confira a conjugação do verbo TER e OBTER no pretérito perfeito, do modo indicativo:
    Eu tive.  Eu obtive.
    Tu tiveste.  Tu obtiveste.
    Ele teve.   Ele obteve.
    Nós tivemos.  Nós obtivemos.
    Vós tivestes.  Vós obtivestes.
    Eles tiveram.  Eles obtiveram.

    Verbos como manter, conter, reter e outros derivados de TER também seguem esse modelo de conjugação: eles mantiveram, contiveram, retiveram...

    Na dúvida, sempre volte ao verbo primitivo.


    VIR e VER                  
    Quem nunca teve dificuldades com os verbos VER e VIR?

    Isso acontece porque esses verbos têm flexões muito parecidas em duas situações.

    A primeira é no modo indicativo, na primeira pessoa do plural.   

    Confira as frases:
    “VIMOS os meninos no parque” e
    “VIMOS informar-lhe que a reunião foi adiada.”

    As duas formas verbais são VIMOS. Mas qual é a do verbo VER e qual é a do verbo VIR?

    Só dá para saber pelo contexto. Vamos analisar:

    Em “VIMOS os meninos no parque”, refere-se ao ato de enxergar - verbo VER.

    Já em “VIMOS informar-lhe...”, o sentido é de movimento, de locomoção, de dirigir-se até alguém. Logo, verbo VIR.

    A outra situação é a flexão no futuro do subjuntivo:
    - Verbo VIR: “Quando eu VIER ao Rio novamente, passarei em sua casa”;
    - Verbo VER: “Quando eu VIR o Paulo, falarei que você mandou lembranças”.

    Muitos estranham a forma QUANDO EU VIR, mas ela é corretíssima, é a única maneira correta de flexionar a primeira pessoa do singular do verbo VER no futuro do subjuntivo. 

    Nada de falar “quando eu ver” - isso está errado e não existe.

    E atenção, os verbos derivados de VIR e VER também seguem a mesma conjugação:
    - quando ele PREVIR, REVIR, ANTEVIR...
    - quando ele INTERVIER, PROVIER, CONVIER...

  • Devo usar 'mais bem' ou 'mais mal'?

    MAIS BEM e MAIS MAL?

    Quando usar MAIS BEM ou MELHOR?

    Você sabe qual a MELHOR opção?

    Observe o seguinte exemplo:

    “A renda deveria ser MAIS BEM distribuída no país.”

    Ou deveríamos ter dito “MELHOR distribuída”?

    Vamos para a explicação:

    Claramente aqui temos um comparativo, certo? Então, se diante do comparativo tivermos um particípio, ou seja, aquela forma verbal terminada em  -ado ou -ido, podemos substituir os comparativos “melhor” e “pior” pelas formas “mais bem” e “mais mal”.

    Por exemplo:
    “Aquele aluno foi MAIS BEM orientado do que os outros alunos da sala.”
    “Aquele cão foi MAIS MAL alimentado que os irmãos, por isso ficou menor que os outros.”


    É importante saber que não está errado dizer “MELHOR orientado” e “PIOR alimentado”.

    Caso o particípio seja irregular (feito, escrito, pago...), devemos usar  MAIS BEM e MAIS MAL:

    “Trata-se da proposta MAIS BEM feita”;
    “Foi o texto MAIS BEM escrito”;
    “É o profissional MAIS MAL pago da empresa”.                  

    Se não houver um particípio na frase, MELHOR e PIOR devem ser usados. Exemplo:
    “Aquele aluno é MELHOR do que os outros.”
    “Aquele aluno é o PIOR da turma.”

     Assim sendo, devemos usar:
    “Isso é para MELHOR atender os nossos clientes”;
    “Nossos clientes são MELHOR ou MAIS BEM atendidos”;
    “Eles se prepararam MELHOR neste ano”;
    “Eles estão MELHOR ou MAIS BEM preparados”;


     DEGRAUS ou DEGRAIS?

     Primeiro vamos lembrar a regra para formar o plural de palavras terminadas em -AL, -EL, -OL, -UL.

    Repare bem como é fácil: basta tirar o "L" final e acrescentar IS.

    Por exemplo, para o plural da palavra semanal, tiramos o L e o substituímos por IS. Aí temos semanAIS. O mesmo ocorre com a palavra anuAL: tiramos o L, substituímos por IS e temos o plural anuAIS.

    Outros exemplos, agora de palavras terminadas em -EL, - OL e -UL:
    DuplicávEL: no plural, duplicáveIS.
    SOL: sóIS.
    AzUL:azuIS.

    Mas atenção: são poucas as palavras em português terminadas em -UL. E a palavra cônsUL, uma dessas raras, não se forma tirando o L e colocando IS. Seu plural é cônsules!

                       Então, qual é o plural de DEGRAU?

                       É DEGRAUS.

    Não confunda as palavras terminadas -AL (plural em -AIS) com as terminadas em -AU (plural em -AUS):
    Canal – canais; igual – iguais; animal – animais, atual – atuais...
    Grau – graus; degrau – degraus, sarau – saraus; bacalhau – bacalhaus...

    O mesmo acontece com as palavras terminadas em –EL (plural em –ÉIS) e em –ÉU (plural em –ÉUS):
    Papel – papéis; anel – anéis; pastel – pastéis, hotel – hotéis;
    Chapéu – chapéus; troféu – troféus; fogaréu – fogaréus, réu – réus...


    Súteis OU sutis?

    Vamos tratar da formação do plural das palavras terminadas em -IL.

    Mas, para isso, é preciso prestar atenção na sílaba tônica - aquela pronunciada com mais intensidade, com mais “força” que as demais. Às vezes, a sílaba tônica é acentuada graficamente, outras vezes não.

    Preste atenção nestes dois exemplos:
                      Na palavra ÚTIL, a sílaba tônica é Ú - que, nesse caso, leva acento gráfico, pois é paroxítona terminada em “L”.
                       Na palavra GENTIL, a sílaba tônica é -TIL. É uma palavra oxítona, pois tem a sílaba tônica na última.

     Agora,vamos ao plural dessas palavras:

    Primeiro caso: quando a sílaba tônica é a última, isto é, a palavra é oxítona, forma-se o plural retirando-se apenas a letra L final e acrescentando-se S.

    Assim sendo, o plural de GENTIL é GENTIS.

    Outras palavras que se enquadram nesse caso:HOSTIL - HOSTIS;CANTIL - CANTIS; ARDIL – ARDIS; FUNIL – FUNIS; BARRIL – BARRIS; BRASIL – BRASIS...

    Segundo caso: quando a sílaba tônica não é a última, isto é, quando a palavra não é oxítona, forma-se o plural retirando-se a terminação -IL e acrescentando-se -EIS.

    Assim, o plural de ÚTIL é ÚTEIS.e de HÁBIL é HÁBEIS,  de DIFÍCIL é DIFÍCEIS, de PROJÉTIL é PROJÉTEIS....

  • Como devo escrever? Florescente ou fluorescente, sínico ou cínico?

    Qual é o plural de júnior e sênior?
    As palavras JÚNIOR, com acento agudo, e SÊNIOR, com acento circunflexo, assim se escrevem porque são paroxítonas terminadas em “R”, como éter, mártir, repórter, caráter...

    Mas e o plural dessas palavras, como fica? O que devemos fazer com o acento? Deixamos ou tiramos?
                       
    Anote aí: tanto JÚNIOR quanto SÊNIOR perdem o acento no plural: JÚNIOR, com acento agudo no U, se torna JUNIORES, sem acento gráfuco. E SÊNIOR, com acento circunflexo no E, se torna SENIORES, sem acento também.
                      
    É importante lembrar que na formação do plural de palavras terminadas em “R”, acrescentamos a desinência “ES”: flor fica flores, açúcar se torna açúcares, repórteres, revólveres...

    Então, por analogia, júnior e sênior vão para o plural, apenas acrescentando ES ao final da palavra.

    A novidade é que tiramos o acento gráfico porque a posição da sílaba tônica muda.

    A pronúncia oficial é seniores e juniores. Tornam-se palavras paroxítonas: a sílaba mais forte está na vogal “o”.

    Florescente ou fluorescente?
    Você sabe me dizer se uma lâmpada é FLORESCENTE, sem U, ou FLUORESCENTE, com U?

    Acertou, se disse FLUORESCENTE, com U!

    Lâmpada FLUORESCENTE, com U, são aquelas lâmpadas econômicas que usamos em casa. O nome vem de fluorescência, que é a capacidade de uma substância de emitir luz ao ser exposta a algum tipo de radiação.

    Mas não pense que a palavra FLORESCENTE, sem U, não existe, porque existe sim e está no dicionário.

    FLORESCENTE vem do verbo FLORESCER e pode ser usada para dizer que alguma coisa ou alguém está FLORESCENDO, ou seja, está em desenvolvimento.

    Entendeu? Então, peça uma lâmpada fluorescente na hora da compra. E diga que a florescente indústria de tecnologias está mudando o mundo.


    Sínico ou cínico?
    Vamos para mais uma dúvida de ortografia.

    Você sabe qual a forma certa: CÍNICO, com C, ou SÍNICO, com S?

    Pois saiba que as duas palavras existem, mas têm significados diferentes.

    Então preste atenção e aprenda quando usar uma e outra:

    1ª) CÍNICO, com C, tem vários significados, entre eles alguém sem escrúpulos, desavergonhado, sarcástico ou que age com sarcasmo:

    “Além de mau-caráter, ele é muito cínico.”

    2ª) SÍNICO com S refere-se a coisas ou pessoas provenientes da China, veja o exemplo:

    “Os produtos sínicos são muito bonitos e baratos”.

    Isso significa, portanto, que “produtos sínicos” é o mesmo que “produtos chineses”.

    Entendeu a diferença? Então tome cuidado, e quando quiser ofender alguém, devemos escrever CÍNICO, com C. Não se confunda.


    Cheque ou xeque?
    Você sabe quando usar a palavra CHEQUE com CH e XEQUE com X?

    Elas têm a mesma pronúncia, mas significados diferentes.

    CHEQUE com CH refere-se a uma ordem de pagamento, é equivalente a dinheiro. Você talvez tenha um talão de CHEQUES por aí, não?  
    Também é a flexão do verbo checar, quando você confere alguma coisa: “É preciso que você CHEQUE se todas as lâmpadas foram desligadas.”

    A palavra XEQUE com X também tem mais de um significado.     

    Pode ser o mesmo que xeique, um chefe muçulmano.

    E pode ser o ataque sofrido pelo rei no jogo de xadrez, como em xeque-mate. E significa uma situação perigosa; uma contrariedade, um risco.

    Então não coloque em xeque (com X) seu conhecimento, busque sempre checar (com CH) como se escrevem as palavras.

    Ao encontro de OU de encontro a?
    AO ENCONTRO DE e DE ENCONTRO A são duas expressões que ouvimos muito todos os dias, mas muita gente se confunde ao usá-las.     

    Então, anote aí:
    1ª) AO ENCONTRO DE passa a ideia de estar de acordo com alguma coisa, de ser favorável a alguma coisa, estar junto a alguma coisa ou alguém. Por exemplo: “Hoje, vou AO ENCONTRO DE Fernanda.”

    2ª) DE ENCONTRO A tem outro significado, quer dizer ir contra alguma coisa ou alguém. Veja este exemplo: “Sua proposta vai DE ENCONTRO Aos interesses da nossa empresa.”

    Tome cuidado para não se confundir e trocar as duas expressões, pois os significados são opostos.

  • Podemos escrever "simplismente" e "reinvindicar"? Veja dúvidas

    SIMPLESMENTE ou SIMPLISMENTE?
    Logo que as redes sociais tomaram conta da comunicação, alguns errinhos mais localizados passaram a se reproduzir sem controle algum.               

    Alguém escreve uma frase na sua rede social, e ela é vista e compartilhada por dezenas, talvez centenas de pessoas.

    Um dos erros mais frequentes que tenho visto é a confusão entre SIMPLESMENTE (com ES) e SIMPLISMENTE (com IS). Não se sabe por quais forças estranhas da natureza, o adjetivo SIMPLES (que termina em ES), ao virar advérbio, tem o E trocado por I na escrita de algumas pessoas.

    A palavra é SIMPLESMENTE, com ES. "Simplismente" (com IS) simplesmente não existe.

    O advérbio SIMPLESMENTE é formado do adjetivo SIMPLES mais o sufixo MENTE. Significa "de modo simples, descomplicado".

    Quando alguém age de forma cortês, age CORTESMENTE.

    Quando alguém age de forma apressada, age APRESSADAMENTE.

    E quando alguém age de modo simples, age SIMPLESMENTE.

    Não precisa mudar letra nenhuma. Não é simples?

    A confusão se deve, talvez, ao substantivo SIMPLICIDADE, que, assim como FELICIDADE, ESPONTANEIDADE, ATIVIDADE, OCIOSIDADE..., deve ser escrito com “i”, em razão do sufixo “idade”.

    Então, não esqueça: o advérbio é SIMPLESMENTE e o substantivo é SIMPLICIDADE.

    REINVINDICAR ou REIVINDICAR?
    Ah, os discursos políticos, as manifestações de rua... Vira e mexe, alguém solta um REINVINDICAR, esticando esse primeiro IN logo após o RE: REIINNNVINDICAR.

    Não tem nada disso. Esse N não existe, o correto (na pronúncia e na escrita) é REIVINDICAR.

    Assim se escrevem e se pronunciam todas as palavras dessa família: REIVINDICAÇÃO, REIVINDICADO, REIVINDICANTE, etc.

    De agora em diante, se ouvir alguém proferindo errado essa palavra, reivindique a atenção e corrija.
     
    ME TORNAREI, TORNAREI-ME ou TORNAR-ME-EI?
    Vamos observar um pouco de colocação dos pronomes. Você saberia apontar qual destas três opções é a correta?
    1ª) “ME TORNAREI o líder do grupo.” (pronome ME antes do verbo = próclise)
    2ª) “TORNAR-ME-EI o líder do grupo.” (pronome ME no meio do verbo = mesóclise)
    3ª) “TORNAREI-ME o líder do grupo.” (pronome ME depois do verbo = ênclise)

    Segundo a gramática tradicional lusitana, que é normativa, a opção correta seria “TORNAR-ME-EI o líder do grupo.”

    A próclise no início da frase “ME TORNAREI” deveria ser evitada em textos formais, porque a gramática tradicional diz que não se pode iniciar frases com pronome oblíquo.

    No Português do Brasil, principalmente na fala do dia a dia, porém, esse uso é bem comum.

    A opção "TORNAREI-ME" é inaceitável. Não se usa ênclise (pronome após o verbo) com verbos no FUTURO DO INDICATIVO. Sempre que isso ocorrer, estará errado.

    Quando o verbo está no FUTURO do presente ou do pretérito do indicativo, podemos usar o pronome átono em MESÓCLISE, isto é, inserido no meio do verbo:
    “Realizar-SE-á o evento na semana que vem.”
    “Encontrar-NOS-emos em nova confraternização por ocasião da Páscoa.”

    Se você achar pedante, mude a frase: inverta as palavras (O evento se realizará na semana que vem) ou usando um verbo auxiliar (Vamos nos encontrar em nova confraternização...)

    COCO ou CÔCO?
    O nosso problema agora é acentuação gráfica, mais especificamente um acento que incomoda muita gente. Só não sei ainda se o que incomoda é a presença ou a ausência dele.

    Você certamente já foi à praia e tomou uma água de coco. Já reparou no que está escrito na placa ou cartaz dos quiosques ou dos carrinhos? Muito provavelmente, a palavra COCO aparece com acento no primeiro O: “Água de côco”..

    É tanto medo de que a palavra seja lida como oxítona (o que seria um sinônimo de "fezes"), que, por via das dúvidas, o dono do carrinho achou melhor acentuar a primeira sílaba: “CÔCO”.

    Não existe esse acento circunflexo no primeiro “o”, pois não se acentuam as palavras paroxítonas (que têm sílaba tônica na penúltima sílaba) que terminam em A, E e O. O correto, portanto, é COCO, sem acento algum.

    Pior é quando, na ânsia de não parecer outra coisa, o vendedor de água de coco manda acentuar, mas alguém erra e o acento é colocado justamente na última sílaba, o que resulta exatamente no nome dessa outra coisa: o cocô.

    Aí o erro é tão malcheiroso que nem precisa comentar.

  • Adivinha ou advinha? Toda-poderosa ou todo-poderosa? Trezentas ou trezentos gramas?

    ADIVINHA ou ADVINHA?
    Qual é a forma correta: "ADVINHA [com “D mudo”] quem me ligou!" ou "ADIVINHA [com DI] quem me ligou"?

    A língua portuguesa tem muitas palavras iniciadas com o prefixo “AD”, com o “D mudo”: ADMITIR, ADMOESTAR, ADMIRAR, ADVOGADO, ADVERSÁRIO, etc. Por essa razão, muita gente acaba pondo “D mudo” onde não tem.

    É o caso do verbo A-DI-VI-NHAR, que muita gente escreve e fala  “advinhar” (com “D mudo”).

    A verdade é que o verbo ADIVINHAR tem a sílaba DI em todas as suas formas: eu ADIVINHO, nós ADVINHAREMOS, ela ADIVINHOU, vós ADIVINHARÍEIS, etc.

    Portanto a frase correta é "ADIVINHA (ênfase no DI) quem me ligou!".

    Quer dizer que a forma ADVINHA não existe, professor?

    Existe, sim, mas é do verbo ADVIR, que significa "vir depois", "suceder a", e se conjuga como o verbo VIR.

    Por exemplo:
    “Quando estive em Belém, sempre ADVINHA uma chuva refrescante após o calor da manhã”.

    Essa confusão já tirou muita gente de concurso público. ADIVINHA o que acontecia com quem errava? ADVINHA a reprovação!

    Ela é TODA-PODEROSA ou TODO-PODEROSA?
    Estamos num mundo em transformação. Quem diria, 50 anos atrás, que veríamos tantos países governados por mulheres?

    Nosso país, governado por Dilma Rousseff, a Argentina, por Cristina Kirchner; a Alemanha, por Angela Merkel. E vários outros.

    Essas mulheres têm um grande poder nos países que governam. Podemos, então, nos referir a cada uma delas como... TODO-PODEROSA?

    Opa, é mulher, será que não é... TODA-PODEROSA?

    Nesse caso, a palavra TODO é um advérbio, portanto invariável. Devemos dizer que Merkel é TODO-PODEROSA, que Dilma é TODO-PODEROSA.

    É diferente do pronome TODO, que tem plural (TODOS) e feminino (TODA, TODAS). É o caso, por exemplo, da frase "TODAS as mulheres merecem respeito."

    Podemos dizer, então, que TODAS aquelas líderes são TODO-PODEROSAS.

    TREZENTAS gramas ou TREZENTOS gramas?
    Você precisa de umas fatias de mortadela para seu sanduíche. Então vai à padaria e pede como? TREZENTAS ou TREZENTOS gramas de mortadela?

    Muita gente se atrapalha na hora de pedir, e acaba indo pela forma mais popular, que é o feminino. Esse uso tem uma explicação: existe a grama, que é aquela cobertura vegetal dos campos de futebol.

    Pois é, mas, embora cause estranheza, segundo nossos dicionários, devemos pedir TREZENTOS gramas. A unidade de massa GRAMA é palavra masculina, assim como suas derivadas: centigrama, quilograma, miligrama, etc.

    Portanto, é bom tomar cuidado. Já pensou se o atendente é um gaiato que ao ouvir seu pedido de "trezentas gramas”, resolve levar ao pé da letra e lhe oferecer trezentas folhas da gramínea?

    Diga sempre DUZENTOS gramas, TREZENTOS gramas, DOIS gramas, UM grama, quando se referir ao "peso" de alguma coisa.

    O preço está caro?
    Não faz muito tempo, um site de esportes publicou na manchete: "Torcedor acha caro o preço dos ingressos".

    Qual o problema com essa frase? Aparentemente, nenhum, não é? Mas o redator escorregou num falso sinônimo.

    É comum a confusão entre o uso de CARO e ALTO, e muita gente pensa que são sinônimos, mas não são.

    O preço ou o valor pode ser ALTO ou BAIXO, nunca "caro" ou "barato". Já os produtos ou os serviços, esses sim, é que são CAROS ou BARATOS.

    Veja os exemplos:
    “O tomate está CARÍSSIMO na feira hoje”;
    “O preço do tomate está muito ALTO”;
    “Aproveite para viajar agora, as passagens estão mais BARATAS”;
    “O preço das passagens ABAIXOU, ficou mais fácil ir à Europa”.

    O redator daquele jornal acertaria se dissesse:
    “Torcedor acha ALTO o preço dos ingressos”

    Ou então:
    “Torcedor acha CARO o ingresso”.

Autores

  • Sérgio Nogueira

    Sérgio Nogueira é professor de língua portuguesa formado em letras pela UFRGS, com mestrado pela PUC-Rio. É consultor de português do Grupo Globo.

Sobre a página

O professor Sérgio Nogueira esclarece dúvidas de português dos leitores com exemplos e dicas que facilitam o uso da língua. Mostra erros comuns e clichês que empobrecem o texto.