Filtrado por desafio aos leitores Remover filtro
  • Entenda as várias maneiras do uso do pronome relativo 'onde'

    Li num bom jornal: “A energia elétrica é o setor da economia onde...”

    Leitor quer saber a minha opinião a respeito do uso do pronome relativo “onde”.

    Embora alguns estudiosos do nosso idioma já aceitem, não me agrada o uso do pronome “onde” em situações em que o termo substituído não expresse claramente a ideia de lugar.

    Frases do tipo “...é a ideia onde o autor se baseou...” e “...ocorreu em maio onde o ministro declarou...” são, na minha opinião, inaceitáveis. No primeiro exemplo, o pronome “onde” está substituindo a palavra “ideia”, que não expressa ideia de lugar. Sugiro usar “...é a ideia em que (ou na qual) o autor se baseou”. No segundo caso, “onde” substitui “maio”, que expressa “tempo”, e não lugar. O correto seria dizer que “ocorreu em maio quando o ministro declarou...”

    Se houver a ideia clara de lugar, o pronome “onde” é bem-vindo. No correto verso de Djavan “não sei as esquinas por que passei”, também seria possível dizer “as esquinas por onde (ou pelas quais) passei”.

     

    VOCÊ SABE...

    ...qual é a origem da palavra manjedoura?

    Segundo o mestre Deonísio da Silva, manjedoura deve vir do italiano mangiatoia, cocho onde se põe comida para os animais. Pode ter derivado de manjar (=comer), que tem formas semelhantes no francês manger e no italiano mangiare.

    No latim, que deu origem ao português, ao francês e ao italiano, há o verbo manducare, que significa mastigar.

    A manjedoura, por ter servido de berço ao Menino Jesus, tornou-se um símbolo cristão.

    Manjedoura, portanto, é o lugar (=douro) onde os animais comem (=manjar).

    É importante também observarmos o sufixo “-douro”, que aparece em palavras como ancoradouro (=lugar onde o navio ancora, põe a âncora para atracar), babadouro (=tipo de protetor onde a criança baba) e bebedouro (=onde se bebe água).

    Com muita frequência ouvimos “bebedor”, em vez de bebedouro. Ora, bebedor é aquele que bebe, e não o lugar.

    Por fim, é interessante lembrar que o sufixo “-douro” é variante de “-doiro”. Isso significa que as formas ancoradoiro e bebedoiro também existem.  E para o babadouro, o dicionário Aurélio também registra as formas babadoiro e babador. Se você não gostou de nenhuma, pode ainda usar o sinônimo babeiro.

     

    DESAFIO

    Que significa circadiano?

    a)    o que circunda o dia;

    b)    o contrário de meridiano;

    c)    o mesmo que cosmopolita.

     

    Resposta:

    Letra (a) = circa (= circo, circular, em torno de, em volta de) + diano (=relativo ao dia). Vem do latim circa diem (=em torno do dia).

     

    DÚVIDAS DO LEITOR

    1ª) “Seria correto dizer ‘raios solar’, uma vez que o sol é apenas um? A dúvida foi levantada durante um exame.”

    A palavra sol vive criando dúvidas quanto à formação do plural. O fato de haver um único sol não impede o seu plural. Quando falamos do sol do amanhecer e do sol do meio-dia, estamos falando de dois o quê? É lógico que são dois sóis diferentes. Ninguém diria “dois sol” diferentes. Outro exemplo é o uso metonímico de sol por dia: “Estão faltando apenas dois sóis para chegarmos”.

    Portanto, estão corretíssimos os plurais de girassol e guarda-sol: girassóis e guarda-sóis.

    Quanto ao pôr do sol, o caso é diferente. Nesse caso, quando há preposição entre os dois elementos da palavra composta, a regra manda pôr apenas o primeiro elemento no plural: pores do sol.

    Com respeito aos “raios solares”, não há o que discutir. Solar, como todo adjetivo, deve concordar com o substantivo a que se junta para qualificá-lo. Como bem argumentou o nosso leitor, se a justificativa do “único sol” valesse, teríamos que dizer “bandeiras brasileira”, pois só há um Brasil.

    2ª) “Ele é um dos que VIAJOU ou VIAJARAM ?”

    Embora alguns gramáticos considerem a concordância facultativa, nós preferimos usar o verbo no PLURAL, para concordar com a palavra que antecede o pronome relativo QUE: “Ele é um DOS que VIAJARAM.”

    O raciocínio é o seguinte: “dentre aqueles que viajaram, ele é um”.

    Outro motivo que nos leva a preferir o verbo no PLURAL é a concordância nominal. Todos diriam que “ele é um dos artistas mais BRILHANTES” (=”que mais BRILHAM”). Ninguém usaria o adjetivo BRILHANTE no singular.

    Portanto, depois de UM DOS...QUE, fazemos a concordância com o verbo no PLURAL: “Ela foi uma DAS MULHERES que SOCORRERAM as vítimas da enchente.” “É aniversário de um DOS MAIORES HOSPITAIS do país que TRATAM o câncer infantil.” “Uma DAS LINHAS que TRAZEM energia de Itaipu foi desligada ontem.”


  • "É proibida a entrada": veja como usar a concordância de gênero

    1ª) A concordância na frase ”Foi necessário a colocação de placas de aço para a passagem de veículos” está correta?

    A leitora tem razão. O certo é “Foi NECESSÁRIA a colocação de placas...”

    A presença do elemento determinativo (artigo definido = “a” colocação) obriga a concordância no feminino.

    É o mesmo caso de: “É PROBIDA a entrada de estranhos”; “Não foi PERMITIDA a remessa dos dólares”; “A cerveja é muito BOA”.

     

    2ª) Na frase: “Seu carisma aumentou ao ser preso e ter sua medalha olímpica caçada por se recusar a lutar na guerra do Vietnam”, o verbo é CAÇAR ou CASSAR?

    Alguns “animais” realmente merecem ser caçados. Entretanto, a medalha olímpica do grande campeão foi CASSADA. Isso significa que o seu título foi “anulado, perdeu a validade”.

    É o mesmo que CASSAR (=anular) o mandato de um deputado ou a licença para funcionamento de uma empresa.

     

    3ª) DA ou DE A, DO ou DE O?

    Carta de uma leitora: “Até hoje não consegui compreender a diferença entre “de a/o” e “da/do”. Por que em alguns casos escreve-se e fala-se a preposição sem fazer a combinação com o artigo?”

    A preposição “de” não faz a combinação com o artigo quando o termo a seguir exerce a função de sujeito. Compare:

    “Eu saí antes do aluno” (“do aluno” não é sujeito);

    “Eu saí antes de o aluno terminar a prova” (“o aluno” é o sujeito do verbo “terminar”).

    A dica é o verbo. Para que o termo seja sujeito, é necessária a presença de um verbo (=sempre no infinitivo):

    “Os ladrões chegaram antes de a agência abrir.”

    “Isso se deve ao fato de o atacante não ter assinado o contrato.”

    “Na hipótese de os parlamentares aceitarem as emendas...”

    “Apesar de as ideias serem boas ...”

     

    4ª) Leitor quer saber se DIFERENÇAR e DIFERENCIAR são sinônimos. Segundo ele, nos seus bons tempos de escola, aprendeu que “fazer diferença” é DIFERENÇAR, e não DIFERENCIAR como ouvimos hoje com muita frequência.

    A verdade é que DIFERENÇAR e DIFERENCIAR são sinônimos. Segundo os nossos dicionários, DIFERENÇAR significa “fazer diferença” e DIFERENCIAR, entre outras acepções, também pode ser usado no sentido de “fazer diferença”.

     

    5ª) Sobre a frase: “Estamos habituados a falar muito para dizer pouco, a escrever mais que o necessário, a discursar mais para impressionar do que comunicar.”

    Leitor pergunta: “Não seria este um caso típico para se usar o ponto e vírgula no lugar das duas vírgulas empregadas?”

    Não é preciso substituir as vírgulas pelo ponto e vírgula. O uso do ponto e vírgula é para indicar uma pausa maior. Se não houver vírgula (=pausa menor), para que o ponto e vírgula?

     

    6ª) A respeito da frase: “Usaram-se e abusaram-se de palavras e expressões que nada dizem.”

    Foram tantas cartas que perdi a conta. Os leitores estão atentíssimos.

    Misturaram as duas possibilidades de indeterminar o sujeito da frase: ou “Usaram e abusaram de palavras e expressões que nada dizem” ou “Usou-se e abusou-se de palavras e expressões que nada dizem.”

     

    7ª) Leitor quer saber se está correta a pontuação da frase “Se dirigir; não beba, se beber; não dirija”.

    Já escrevi a respeito dessa frase. Bêbado estava quem a escreveu.

    O correto é “Se dirigir, não beba; se beber, não dirija”. As vírgulas indicam o deslocamento das orações subordinadas (= “se dirigir” e “se beber” são orações subordinadas adverbiais condicionais). O ponto e vírgula indica a pausa maior que separa as duas ideias coordenadas: “não beba se dirigir ou não dirija se beber”.

     

    DESAFIO 1

    Onde está o erro da frase abaixo:

    “Aqui estão as cláusulas que faltavam incluir no contrato”?

    O certo é: “Aqui estão as cláusulas que faltava incluir no contrato”.

    O verbo (=faltava) deve ficar no singular para concordar com o seu sujeito (=incluir no contrato). O que faltava era “incluir as cláusulas no contrato”, e não “as cláusulas”.

     

    DESAFIO 2

    As dúvidas são:

    1ª) Passou muito mal, PORISSO ou POR ISSO deve ser perdoado?

    2ª) Foi demitido HAJA VISTA ou HAJA VISTO o problema surgido?

    3ª) Falava A ou À respeito da festa?

    As respostas são:

    1ª) POR ISSO (Não existe a forma porisso);

    2ª) HAJA VISTA (Não existe, como conectivo, a forma haja visto);

    3ª) A RESPEITO DE (Não há crase antes de palavra masculina).


Autores

  • Sérgio Nogueira

    Sérgio Nogueira é professor de língua portuguesa formado em letras pela UFRGS, com mestrado pela PUC-Rio. É consultor de português do Grupo Globo.

Sobre a página

O professor Sérgio Nogueira esclarece dúvidas de português dos leitores com exemplos e dicas que facilitam o uso da língua. Mostra erros comuns e clichês que empobrecem o texto.