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  • Saiu a francesa OU saiu à francesa?

    Todos certamente já ouviram a expressão SAIR À FRANCESA. Essa expressão é usada para indicar que a pessoa saiu discretamente, de fininho, sem se despedir de ninguém.

    O problema surge na hora de escrever essa expressão. Você escreveria esse À FRANCESA com o acento indicativo da crase ou sem o acento?

    E cuidado! Esse acento não é um detalhe sem importância. A presença ou ausência desse sinalzinho muda a mensagem transmitida.

    Sem o acento indicativo da crase a frase: SAIU A FRANCESA passa a mensagem de que uma moça que nasceu na França saiu. A francesa foi embora. A francesa seria o sujeito da oração.

    Já com o acento indicativo da crase, a expressão apresenta o modo como alguém saiu, ele saiu discretamente.

    Os adjuntos adverbiais de modo, desde que femininos, recebem obrigatoriamente o acento grave: vender à vista; falar às claras, sair às pressas, servir à francesa, andar à toa, ficar à míngua...

    Concerto OU conserto?

    Vamos recordar uma duplinha famosa: as palavras CONCERTO com C e CONSERTO com S. As duas formas existem e estão corretas? Pois é, e é aí que está o problema, porque, embora existam e estejam corretas, há significados diferentes.

    Como podem apresentar significados diferentes, devem ser usadas em situações diferentes. CONSERTO com S quer dizer restauração, reparação, remendo. Devemos, então, fazer um CONSERTO com S na roupa que está rasgada, no celular que está quebrado, no carro que bateu.

    Já a palavra CONCERTO com C refere-se a uma peça musical, com orquestra, coro, banda de rock... Devemos, então, escrever com C o CONCERTO da orquestra sinfônica, o CONCERTO da Madona, o CONCERTO de música indiana...

    Uma curiosidade: em Portugal, CONCERTO, que significa “harmonia”, é também usado como sinônimo de CONSERTO. Concertar pode ser “harmonizar”.

    Os Estados Unidos aceitou OU aceitaram?

    É comum pessoas ficarem em dúvida na hora de concordar o verbo com o nome de lugar no plural. Você diria que:

    “Os Estados Unidos aceitou a proposta da ONU” OU “Os Estados Unidos aceitaram a proposta da ONU”?

    Segundo a tradição, o correto, nesse caso, é: Os Estados Unidos aceitaram a proposta da ONU. A regra diz que quando o nome próprio vier antecedido de artigo no plural, como no caso doe OS ESTADOS UNIDOS, devemos concordar o verbo também no plural.

    Diga, então:

    Os Alpes estão sempre cobertos de neve.

    Os Andes fazem a fronteira do Chile com a Argentina.

    Se não houver artigo no plural, deixe o verbo no singular.

    Diga, por exemplo, “O Amazonas é o maior rio do Brasil”; “Memórias Póstumas de Brás Cubas foi escrito por Machado de Assis”.

    Ele quis ou quiz?

    Vamos falar de um erro muito frequente, principalmente, nas mensagens das redes sociais. É o péssimo hábito que algumas pessoas têm de escrever as formas conjugadas do verbo QUERER com Z.

    Na língua portuguesa, só podemos escrever com Z as formas conjugadas dos verbos que têm Z na raiz do verbo. Isso aparece na forma infinitiva. Por exemplo, como os verbos DIZER, FAZER e TRAZER se escrevem com Z, as formas ele DIZ, ele FAZ, eu FIZ, ele FEZ e ele TRAZ devem ser escritas com Z.

    O verbo QUERER não tem Z. Então, todas as suas formas conjugadas que têm o som de Z devem ser escritas com S. Assim, escreva com S:

    Ele quis, eles quiseram, se ele quisesse...

    Essa regra cabe também para o verbo PÔR e seus derivados, como dispor, propor... Como eles não têm a letra Z na sua forma infinitiva, todas as formas conjugadas deverão ser escritas com S.

    Escreva, então, com S:

    Eu pus, nós pusemos, se ele puser, se ele pusesse, eu dispus, ele propôs e eles propuseram.

  • Vendeu 'a vista' ou 'à vista'? Veja se a crase está correta nesse caso

    Vendeu ou à vista?

    Se alguém “vendeu a vista”, deve ter vendido “o olho” (a vista = objeto direto). O desespero era tanto, que um vendeu o carro, o outro vendeu o rim e esse vendeu a vista.

    Se não era nada disso que você queria dizer, então a resposta é outra: “vendeu à vista”, e não a prazo (à vista = adjunto adverbial de modo).

    Observe que nesse caso não se aplica o “macete” da substituição do feminino pelo masculino (à vista > a prazo).

    Por causa disso, há muita polêmica e algumas divergências entre escritores, jornalistas, gramáticos e professores.

    Acentuamos o “a” que inicia locuções (adverbiais, prepositivas, conjuntivas) com palavra FEMININA: à beça; à beira de; à cata de; à custa de; à deriva; à direita; à distância; à espreita; à esquerda; à exceção de; à feição de; à força; à francesa; à frente (de); à luz (“dar à luz um filho”); à mão; à maneira de; à medida que; à mercê de; à míngua; à minuta; à moda (de); à noite; à paisana; à parte; à pressa; à primeira vista; à procura de; à proporção que; à queima-roupa; à revelia; à risca; à semelhança de; à tarde; à toa; à toda; à última hora; à uma (=conjuntamente); à unha; à vista; à vontade; às avessas; às cegas; às claras; às escondidas; às moscas; às ocultas; às ordens; às vezes (=algumas vezes, de vez em quando)...

    As locuções adverbiais indicam lugar, tempo, modo...

    “Entrou à direita.

    “Está à distância de um metro.” (=adjuntos adverbiais de lugar);

    “Só voltará à tarde.”

    À última hora, desistiu.” (=adjuntos adverbiais de tempo);

    “Saiu andando à toa.”

    “Falou tudo às claras.” (=adjuntos adverbiais de modo).

    Nas locuções prepositivas, só haverá o acento grave com palavras femininas: à custa de, à procura de, à mercê de, à moda de...

    Não há acento grave em locuções com palavras masculinas:

    “Falávamos a respeito do jogo de ontem.”

    As duas locuções conjuntivas (=ligam orações) dão ideia de “proporção”:

    “A sala fica cheia à proporção que os convidados vão chegando.”

    À medida que o tempo passa, ele fica mais irresponsável.”

     

    VOCÊ SABE...

     

    ...qual é a origem da gravata? E de onde vem a expressão “conto do vigário”?

    Os reis da França, principalmente os Luíses, entraram para a História com a fama, entre outras coisas, de vaidosos. Foi um Luís da França, mais precisamente Luís XIV, quem lançou a moda da gravata. Em 1660, um grupo de guerreiros do Royal Cravate, da Croácia, foi apresentado ao rei. Eles usaram para a ocasião uma tira de tecido amarrada no pescoço. Luís XIV gostou da novidade e adotou. Como tudo que o rei fazia era imitado pelos súditos, todos passaram a usar a tira de pano dos “cravates”, ou croácios, de onde surgiu o nome “gravata”.

    Quando alguém é vítima de uma malandragem, de um engodo, diz que lhe passaram um conto dovigário.

    A expressão é bem brasileira. Dizem que é mineira de Ouro Preto.

    Segundo a primeira versão, tudo começou quando os espanhóis doaram uma imagem de Nosso Senhor dos Passos para a cidade. Dois padres, um da igreja de Nossa Senhora do Pilar, outro da de Nossa Senhora da Conceição, queriam a imagem em suas respectivas igrejas. Como não havia como julgar o merecimento, o padre do Pilar sugeriu uma maneira de resolver o conflito: colocar a imagem em cima de um burro, no meio do caminho entre as duas igrejas. A Nossa Senhora ficaria na igreja para onde o burro se dirigisse.

    A sugestão foi aceita, e o burro levou a imagem para a igreja do Pilar. Se você está lembrado, essa era a igreja do padre que fez a sugestão. Mais tarde, descobriu-se que o tal padre também era dono do burro. Quer dizer que ele passou um conto do vigário no concorrente.

    Essa versão pode ser a mais curiosa, mas provavelmente não é verdadeira.

    Existiria outra lenda a respeito da imagem. Consta que ela foi trazida da Corte do Rio de Janeiro a Vila Rica em lombo de burro. Quando a caravana passou ao lado da igreja-matriz de Nossa Senhora do Pilar (inaugurada em 1733), o burro “empacou” e não houve jeito de fazer o animal prosseguir. Impressionados com a teimosia do bicho, os doadores concluíram que a bela imagem deveria ficar na matriz do Pilar, o que realmente aconteceu.

    Há uma outra versão que me foi enviada por um leitor: “Conta-se que, com a chegada da família imperial portuguesa ao Brasil, diversos nobres a acompanharam. Ficou famosa a história de um nobre que se dizia herdeiro de um rico vigário português que havia falecido em Portugal. Apesar de sua condição de rico herdeiro, toda sua fortuna estaria ainda em Portugal. Enquanto aguardava sua chegada, frequentava festas, morava e comia de graça, tudo por conta da chegada da herança. Meses se passaram e as desculpas se sucediam, até o seu desaparecimento, deixando inúmeras dívidas e empréstimos não pagos. Todos os que acreditaram em sua história, caíram no “conto do vigário” e aquele que aplica golpes similares passou a ser chamado de vigarista.”

    Vejamos o que observa um outro leitor: “Desde muito cedo, tive a curiosidade aguçada, perguntando-me o que teria a expressão conto do vigário a ver com o vigário ou o padre, propriamente. A pesquisa me levou a vicariu, do latim, que em português deu vicário e vigário. A primeira significa “o que faz as vezes de outrem ou de outra coisa”. A segunda, para o mestre Aurélio, é “o padre que faz as vezes do prelado”. Continua, portanto, presente a ideia de substituição. Consigna ainda o Prof. Aurélio por inteiro a expressão conto do vigário, no qual o termo vigário entra com todo o seu conteúdo de substituição.”

    Espero que não seja eu quem tenha caído no conto do vigário. Será que existem mais versões ainda? É lógico que seria importante conhecer a verdadeira origem do conto do vigário, mas confesso que, quando o assunto é etimologia, não sei se o mais delicioso é encontrar a verdade ou ouvir tão curiosas versões.


  • Crase não é acento! Conheça os macetes para não errar

    Você sabia que CRASE não é acento? Crase é a fusão de duas vogais iguais, é a contração de dois “aa”. Acento grave (`) é o sinal que indica a crase (a + a = à).

    Para haver crase, é necessário que existam dois “aa”. O primeiro a é preposição; o segundo pode ser:

     

    1)    artigo definido (a/as):

    “Ele se referiu a (preposição) + a (artigo) carta.” = “Ele se referiu à carta.”

    “Ele entregou o documento a (preposição) + as (artigo) professoras.” = “Ele entregou o documento às professoras.”

     

    2)    pronome demonstrativo (a/as):

    “Sua camisa é igual a (preposição) + a (pronome = a camisa) do meu pai.” = “Sua camisa é igual à do meu pai.”

    “Ele fez referência a (preposição) + as (pronome = aquelas) que saíram.” = “Ele fez referência às que saíram.”

     

    3)    vogal a inicial dos pronomes aquele, aqueles, aquela, aquelas e aquilo:

    “Ele se referiu a (preposição) + aquele livro.” = “Ele se referiu àquele livro.”

    “Ele fez alusão a (preposição) + aquelas obras.” = “Ele fez alusão àquelas obras.”

    “Prefiro isso a (preposição) + aquilo.” = “Prefiro isso àquilo.”

     

    Observação 1: Se o verbo for transitivo direto, não há preposição, por isso não ocorre crase:

    “A secretária escreveu (TD) a carta (OD).” (a = artigo definido)

    “Ele não encontrou (TD) as professoras (OD).” (as = artigo definido)

    “A testemunha acusou (TD) a da direita.” (a = pronome = aquela da direita)

    “Não reconheci (TD) as que saíram.” (as = pronome = aquelas que saíram)

    “Nós já lemos (TD) aquele livro (OD).”

    “Ainda não vi (TD) aquilo (OD).”

     

    Observação 2: Para comprovarmos a crase, o melhor “macete” é substituir o substantivo feminino por um masculino. Comprovamos a crase se o “à” se transformar em “AO”:

    “Ele se referiu à carta.” (=ao documento)

    “Ele entregou o documento às professoras.” (=aos professores)

    “Sua camisa é igual à do meu pai.” (=seu casaco é igual ao do meu pai)

    “Ele fez referência às que saíram.” (=aos que saíram)

    Observe a diferença:

    “A secretária escreveu a carta.” (=o documento)

    “Ele não encontrou as professoras.” (=os professores)

    “A testemunha acusou a da direita.” (=o da direita)

    “Não reconheci as que saíram.” (=os que saíram)

    “Ele se referiu a esta carta.” (=a este documento)

    “Tráfego proibido a motocicletas.” (=a caminhões)

    Este “macete” não se aplica no caso dos pronomes aquele(s), aquela(s) e aquilo.

     

    VOCÊ SABIA...

     

    ...que secretária, originalmente, é o nome de uma escrivaninha com muitas gavetas e escaninhos para guardar documentos e dinheiro. É provável que quem tomava conta desse móvel, lidando com seu conteúdo,  acabou  sendo conhecido como secretário ou secretária.

    A profissão de secretário, no entanto, existe desde antes de Cristo. Era um misto de escriba e soldado, que lutava de dia e fazia o relatório da batalha à noite. Que se sabe, o primeiro homem a escolher uma mulher para a tarefa de registrar suas batalhas foi Napoleão Bonaparte.

    A secretária executiva de empresas, como conhecemos hoje, surgiu em 1877, em Nova Iorque. No Brasil, a profissão se firmou na década de 50, quando chegaram aqui as primeiras multinacionais.

    Assim sendo, uma secretária, na sua origem, era para guardar segredos...

     

     

    Dúvida do leitor: “...não respeitará quem se OPOR ou OPUSER...”?

    Nesse tipo de construção frasal, devemos usar o verbo no futuro do subjuntivo: “...respeitará quem fizer, quem quiser, quem vier, quem souber...

    Portanto, “...não respeitará quem se opuser...”

     

    O DESAFIO

     

    Qual é significado de anemômetro?

    O anemômetro mede...

    (a)  a velocidade do vento;

    (b)  a pressão atmosférica;

    (c)  o nível de glóbulos brancos.

     

    Resposta de O DESAFIO:

    Letra (a) = Anemômetro é o instrumento que mede a velocidade ou a intensidade do vento e, em alguns casos, a sua direção.

     


  • 'Se eu ver' ou 'se eu vir'? Veja como conjugar o futuro do subjuntivo

    Formação do FUTURO do SUBJUNTIVO
    O futuro do subjuntivo indica um futuro hipotético.
    É usado principalmente em orações condicionais (se...) e temporais (quando...).
    Deriva-se da 3ª pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo (trocar a terminação “ram” por “r”): eles fizeram (– “ram”) > fize (+ r) = se eu fizer ou quando eu fizer; eles trouxe(ram) = quando eu trouxer; eles quise(ram) = se eu quiser...
    Veja mais exemplos:

    Infinitivo  - Pret. Perf. Ind. (3ª plural) = Fut. do Subj. (se ou quando...)
    DIZER     - Eles disse(ram)               = disser
    PÔR        - Eles puse(ram)                = puser
    SER e IR - Eles fo(ram)                     = for
    VIR          - Eles vie(ram)                   = vier
    VER         - Eles vi(ram)                     = vir
    É por isso que o futuro do subjuntivo do verbo VER fica: “se eu vir o filme”; “quando você vir o resultado do teste”; “quando nos virmos novamente”; “se vocês virem a verdade”...


    CRASE?

    Observação do leitor: “Lendo sua coluna, estranhei a crase na frase ‘Isso não está adequado à nossa empresa’. Favor corrigir-me se eu estiver errado, pois entendo que antes de pronome demonstrativo não se usa crase.”
    Temos aqui uma pequena confusão. É correto afirmarmos que jamais ocorre a crase antes dos pronomes demonstrativos. O problema é que pronomes demonstrativos são este, esta, estes, estas, isto, isso, esse, essa...
    Assim sendo, não haverá crase em:
    “O diretor referiu-se a esta proposta.”
    “Fazia referência a essa situação...”
    Com pronomes demonstrativos, só é possível haver crase com os pronomes aquele, aquela, aqueles, aquelas e aquilo:
    “O diretor referiu-se àquela proposta.”
    “Fazia referência àquele fato.”
    Na frase a que se refere o leitor, o que temos é um pronome possessivo: nossa. Nesse caso, quando o pronome possessivo está no feminino e no singular (minha, tua, sua, nossa e vossa), o uso do acento da crase é facultativo, porque pode haver o artigo definido ou não:
    “Estamos a ou à sua disposição.”
    “Isso não está adequado a ou à nossa empresa.”

     

    LITERALMENTE existe?
    Leitor afirma: “A palavra literalmente não existe. O Aurélio e o dicionário Michaelis não a registram.”
    Existe sim.
    Os advérbios de modo terminados em “mente” são derivados de adjetivos: rápido – rapidamente; leve – levemente; claro – claramente; suave – suavemente; literal – literalmente...
    Os dicionários, em geral, só registram os adjetivos. Isso não significa que os advérbios derivados “não existam”.
    Dizer que “a frase foi traduzida literalmente” significa que a frase foi traduzida “ao pé da letra”, ou seja, “sem nenhuma alteração”, “exatamente como foi escrita no texto original”.
    Inadmissível é usar o advérbio “literalmente” com o sentido de “completamente ou totalmente”: “O atacante estava literalmente impedido”; “A janela está literalmente fechada”.
    Pior ainda é usar “literalmente” em frases metafóricas:
    “O estádio tornou-se literalmente um caldeirão”. Se fosse verdade, todos morreriam cozidos.
    “Neste domingo, Neymar parou literalmente o Brasil”. Impossível, absurdo.
    “Na entrevista coletiva, o técnico estava literalmente sem saco”. Sem comentários.


    Brilhava OU brilhavam?

    Leitora critica: “Na frase ‘era um pisca-pisca musical no qual brilhava cerca de 100 luzinhas’, o verbo brilhar pode ser usado no singular? Por quê? Porque ‘cerca de’ permite (ou exige?) que o verbo seja empregado no singular?”
    Não exige nem permite. Minha querida e atenta leitora, pode ter sido apenas um erro de digitação. O verbo deveria estar no plural para concordar com o núcleo do sujeito (= luzinhas).
    Quando usamos as expressões “cerca de”, “perto de”, “por volta de”, “em torno de”, o verbo deve concordar com o núcleo do sujeito (=substantivo):
    “Cerca de dez alunos compareceram à aula.”
    “Perto de 200 candidatos já foram reprovados.”
    “Por volta de 50 inscritos desistiram.”
    “Em torno de 2 mil torcedores viajaram.”
    Assim sendo, o certo é “...na qual brilhavam cerca de 100 luzinhas”.


    DESAFIO

    Qual é a forma correta:

    “A sociedade ONDE ou EM QUE vivemos...”?

    As duas formas são possíveis. Eu prefiro dizer “...a sociedade em que vivemos...”

    Se nós vivemos “em algum lugar”, nós podemos usar o pronome “onde”. O problema é que “sociedade” não caracteriza bem um “lugar”, por isso prefiro usar a forma “em que”. Se fosse mundo, país ou cidade, não haveria dúvida alguma de que as duas formas estariam perfeitas: “...o mundo onde ou em que vivemos”.

    Erro mesmo seria dizer “...a sociedade que vivemos...”


  • Conheça os sete pecados da crase

    Os sete pecados mortais da crase

    Do meu eterno mestre Édison de Oliveira, em Todo mundo tem dúvida, inclusive você.

    É impossível haver crase:

    1º) antes de palavra masculina: “Ele está no Rio a serviço”;

    2º) antes de artigo indefinido: “Chegamos a uma boa conclusão”;

    3º) antes de verbo: “Fomos obrigados a trabalhar”;

    4º) antes de expressão de tratamento: “Trouxe uma mensagem a Vossa Majestade”;

    5º) antes de pronomes pessoais, indefinidos e demonstrativos: “Nada revelarei a ela, a qualquer pessoa ou a esta pessoa”;

    6º) quando o “a” está no singular, e a palavra seguinte está no plural: “Referimo-nos a moças bonitas”;

    7º) quando, antes do “a”, existir preposição: “Compareceram perante a Justiça”.

     

    Estamos “a sua disposição”  ou  “à sua disposição”?

    É um caso facultativo. Antes dos pronomes possessivos (minha, tua, sua nossa...), o uso dos artigos definidos é facultativo: “Este é o meu carro” ou “Este é meu carro”; “Aquela é a minha sala” ou “Aquela é minha sala”.

    Assim sendo, quando houver a preposição “a” antes de um pronome possessivo feminino singular, restará a dúvida cruel: existe ou não o artigo feminino singular “a” e, consequentemente, a crase? Como o uso do artigo antes do pronome possessivo é facultativo, o uso do acento da crase também o será: “Estamos à sua disposição” ou “Estamos a sua disposição”.

    Podemos comprovar tudo isso comparando com a forma masculina: “Estamos ao (= preposição “a” + artigo masculino “o”) seu dispor” ou “Estamos a (= só preposição) seu dispor”.

     

    Mesmo os doentes PARECE ou PARECEM que estão felizes?

                        O certo é: “Mesmo os doentes PARECE que estão felizes.” O sujeito do verbo PARECER é a segunda oração (=que mesmo os doentes estão felizes).

    Em ordem direta, temos: “PARECE que mesmo os doentes estão felizes”. É interessante observar que o termo “os doentes” é o sujeito da segunda oração, do verbo ESTAR (=os doentes estão felizes).

     

    Ele DISSE ou TINHA DITO que chegaria cedo, mas chegou às 5h?

    A diferença entre DISSE e TINHA DITO é o tempo verbal: DISSE está no pretérito perfeito e TINHA DITO, no pretérito mais-que-perfeito do indicativo.

    O pretérito perfeito indica uma ação concluída no passado: “Ele disse, saiu, fez...”; o pretérito mais-que-perfeito indica uma ação anterior a outra ação que já está no passado: “Quando eu cheguei (pretérito perfeito = ação já passada), ele já tinha dito ou dissera ou havia dito, tinha saído ou saíra ou havia saído, tinha feito ou fizera ou havia feito (pretérito mais-que-perfeito = ação anterior à ação já passada)”.

    Assim sendo, quanto à pergunta do nosso leitor, o mais adequado é: “Ele tinha dito que chegaria cedo, mas chegou às 5h”. A ação de “dizer” é anterior a ação de “chegar”. O pretérito mais-que-perfeito é o passado do passado.

     

    VIETNÃ ou VIETNAM?

    “Por que alguns jornais insistem em grafar o nome do Vietnã na forma usada em inglês Vietnam? Os dicionários que consultei registram até uma variante Vietname, com “e” no final, mas nunca na versão inglesa?”

    Meu caro leitor, a grafia de nomes próprios é sempre um assunto polêmico. É briga sem fim. No meio jornalístico, não há tempo a perder. É por isso que cada jornal cria seus padrões. Não estamos, portanto, querendo dizer esta forma seja a correta e que aquela outra esteja errada. É apenas a nossa preferência.

    No caso do Vietnam, a nossa preferência se deve ao adjetivo pátrio. Se falamos vietnamita com “m”, e não “vietnanita”, considero o mais lógico é escrever Vietnam com “m”. Só isso.

     

    OS TUPI ou OS TUPIS?

    Reclamação do leitor: “Outro dia escrevi um e-mail questionando o não uso de concordância nominal nos nomes de grupos indígenas no livro de Eduardo Bueno. Infelizmente não obtive resposta.”

    É outro assunto polêmico. Os estudiosos das coisas indígenas afirmam que os nomes das nações indígenas não apresentam plural na sua forma original. Deveríamos dizer os tupi, os goitacá, os pataxó, os caeté...

    Há, entretanto, aqueles que defendem o aportuguesamento e consequente respeito às nossas regras gramaticais.

    Como as línguas indígenas são ágrafas (= sem escrita), a forma escrita só pode ser aportuguesada. Em razão disso, minha preferência é os tupis, os goitacás, os pataxós, os caetés...


  • Saiba quando podemos usar crase antes de palavras masculinas

    Publicamos outro dia nesta coluna: “Não há crase antes de palavra masculina”. Entre os comentários recebidos estava uma crítica de um leitor. Veja: “Acredito que há exceção a esta regra, tanto no que se refere a expressões que denotam modo/moda (Filé à Osvaldo Aranha) quanto no uso do pronome demonstrativo “aquele” com verbo que peçam a preposição “a” (Dedicou-se àquele amor por toda a vida).”

    Os exemplos analisados pelo leitor estão corretíssimos. Devemos usar o acento da crase nos dois casos.

    Quando dizemos que não há crase antes de palavras masculinas, estamos fazendo referência ao caso mais frequente da crase (preposição “a” + artigo definido feminino “a”). Antes de palavra masculina, é impossível haver o artigo definido feminino: “Andar a pé”; “Vender a prazo”; “Falar a respeito disso”.

    Não devemos confundir uma “dica” com regras. Os dois exemplos citados pelo leitor não são exceções. São apenas casos diferentes.

     

    PERCENTAGEM  ou  PONTO PERCENTUAL?

    Leitor quer saber: “Qual é o significado de 2 pontos percentuais? Não seria simplesmente 2%?”

    Percentagem e ponto percentual não são sinônimos. Não tenho culpa. É a “matemática” da vida.

    Vou responder com um exemplo bem simples. Vamos imaginar que a inflação subiu de 2% para 4%. Isso significa que a inflação subiu 100% ou 2 pontos percentuais.

    Vejamos outro caso. A inflação subiu de 2% para 3%. Agora o aumento foi de 50% ou de 1 ponto percentual.

     

    0,5 PONTO  ou  PONTOS?

    Leitor quer saber se a concordância se faz no singular ou no plural.

    Vou responder com uma pergunta: como você diria se fosse 1,5? A maioria diria “um ponto vírgula cinco” ou “um ponto e meio”. Para 2,5, diríamos “dois pontos vírgula cinco” ou “dois pontos e meio”. Parece claro que o ponto se refere ao número que vem antes da vírgula. Assim sendo, eu diria “zero ponto vírgula cinco” ou simplesmente “meio ponto”. Prefiro, portanto, 0,5 ponto.

     

    E AGORA, DICAS DE... INGLÊS!

    Na última coluna, falamos a respeito de erros gramaticais em mensagens publicitárias.

    Quero voltar ao assunto, mas com outro enfoque. Vamos analisar alguns textos usados em algumas propagandas antigas de cursos de língua estrangeira:

    1a) Um pirata, para aprender inglês, repete o famoso “the book is on the table”, obedecendo às ordens do papagaio que insiste com o seu chatíssimo “repeat”. Meia hora depois, o timoneiro conclui: “É preciso mudar o curso”.

    Nesse exemplo, o interessante é observar a ambiguidade intencionalmente criada pelo uso da palavra “curso”, que apresenta duas claras interpretações: “mudar o curso a ser seguido pelo barco pirata” e “mudar o curso de inglês”, ou seja, buscar um outro curso que ofereça novos métodos de ensino de língua estrangeira. Sem as repetições impostas pelo papagaio pirata.

    2a) Um personagem, que teria sido devorado por canibais numa propaganda do mesmo curso de inglês no ano anterior, reaparece num deserto e encontra uma lâmpada. Dentro está uma “gênia” do tipo Feiticeira que só fala inglês. O nosso personagem, que já morrera no ano anterior por não saber falar inglês, fica novamente em apuros. Louco para libertar a sua Joana Prado, pergunta como “open” a garrafinha. E ela ensina: “push, push”. O nosso herói não hesita, e puxa. Os dois terminam juntos dentro da garrafa. Não entendi a cara de desespero do herói. Afinal, juntos dentro da garrafa, ele terá a eternidade para aprender a falar inglês.

    Não sei se é verdade, mas ouvi história semelhante numa grande empresa onde há muito tempo dou meus cursos de “redação, atualização e reciclagem”. Dizem que um “grandão” de três metros de altura por dois de “largura”, candidato a uma vaga de segurança, foi até a empresa para a entrevista de seleção. Lá as portas são de vidro, e está escrito com letras garrafais para ninguém se enganar: “PUSH”. O grandalhão puxou uma, puxou duas e na terceira vez usou o que tem de melhor: a sua força. Ficou com a maçaneta na mão. Você pode imaginar como ficou o vidro da porta. Triste mesmo foi ver aquele homenzarrão chorando porque fatalmente perderia o emprego.

    Tanto essa historinha quanto a propaganda mostram a necessidade de se conhecer a língua inglesa. E como é perigoso usar palavras cujos sons são semelhantes, mas com sentidos bem diferentes: “push” parece “puxe”, mas significa “empurre”.

    Quanto à propaganda, tudo bem. Afinal, o curso de inglês tem de convencer os seus clientes de que precisam conhecer bem a língua inglesa.

    Por outro lado, a empresa brasileira que escreve “push” nas suas portas de vidro merece mesmo é vê-las quebradas. Demitido deveria ser quem mandou escrever tamanha besteira. Digo e repito: usar termos ingleses desnecessários é macaquice.

    3a) Outro curso de inglês, para valorizar o seu produto, afirma: “No atual mercado de trabalho, para quem não souber inglês, só vai sobrar o de mímico”.

    Eu só quero saber o que vai sobrar para quem não souber nem o português.

    Um aviso aos estudantes. Todos sabem que inglês e informática se tornaram exigências básicas para qualquer profissão. Devido às minhas andanças por este vasto país, por ter dado cursos e palestras em mais de 100 empresas, por ter ouvido muitos dirigentes e responsáveis pelo setor de Recursos Humanos, hoje eu tenho mais uma certeza. Anotem outras duas exigências: português e matemática financeira.

     


Autores

  • Sérgio Nogueira

    Sérgio Nogueira é professor de língua portuguesa formado em letras pela UFRGS, com mestrado pela PUC-Rio. É consultor de português do Grupo Globo.

Sobre a página

O professor Sérgio Nogueira esclarece dúvidas de português dos leitores com exemplos e dicas que facilitam o uso da língua. Mostra erros comuns e clichês que empobrecem o texto.