• Como escrever? 'As milhões', 'Nova Iorque', 'Antártica' e 'Independente'

    AS MILHÕES DE PESSOAS ou OS MILHÕES DE PESSOAS?

    De vez em quando, no noticiário de rádio e televisão, alguém se refere a multidões, a populações, a "milhões de pessoas". E muitos jornalistas tarimbados acabam errando.

    Mas afinal, qual é a forma correta: "OS milhões de pessoas" ou "AS milhões de pessoas"?

    Nós já vimos que o numeral deve concordar com o substantivo a que se refere. Ora, se "milhão" é numeral, então ele deve concordar, na frase acima, com PESSOAS, certo?

    Não é bem assim.

    No caso, MILHÃO é invariável para gênero, isto é, fica sempre no masculino. Dizemos:
    “UM MILHÃO DE PESSOAS visitou o Brasil durante o Mundial”;
    “DOIS MILHÕES DE ESPÉCIES já foram extintas desde aquela época”.

    NOVA IORQUE ou NOVA YORK?

    No meio jornalístico, há uma discussão quanto à grafia de York, em inglês ou na sua forma aportuguesada? É uma briga sem fim.

    A maioria dos jornais brasileiros hoje prefere NOVA YORK, em inglês (com Y e K).

    O antigo "Jornal do Brasil" preferia a forma NOVA IORQUE, aportuguesada, começando com I e terminando com QUE. Até para ser coerente com o adjetivo gentílico, afinal, quem nasce naquela cidade é NOVA-IORQUINO, com I e QUE, como está nos dicionários.

    Nesse caso, fica à vontade do freguês.

    A forma NOVA IORQUE, com I e QUE, vem caindo cada vez mais em desuso na imprensa brasileira, embora seja ainda forte em Portugal. Tanto é que aquele famoso filme com Leonardo de Caprio "Gangues de Nova YORK" (com Y e K) chamou-se "Gangues de Nova IORQUE", com I e QU, nas terras d'além-mar.

    ANTÁRTICA ou ANTÁRTIDA?

    Você sabe a diferença entre ANTÁRTICA e ANTÁRTIDA?

    Antártida é o nome do continente gelado do Polo Sul do nosso planeta.

    Antártica é toda a região, incluindo os mares e o próprio continente.

    A ANTÁRTIDA também pode ser chamada de ANTÁRTICA, mas a região é sempre ANTÁRTICA. 

    A palavra Antártico é formada pelo prefixo ANTI-, que significa "contra", mais o substantivo Ártico, que é a região dos ursos no polo contrário.     

    Antártico, portanto, é a região que se opõe ao Ártico, que é o extremo do Polo Norte.

    Por essa razão, muitos defendem que a forma ANTÁRTIDA seria errada, que só a forma ANTÁRTICA é correta, pois não existe "Ártida".    

    Esqueça. Para denominar o continente gelado do Polo Sul, o uso consagrou as duas formas.


    INDEPENDENTE ou INDEPENDENTEMENTE?

    Vocês sabem a diferença ente INDEPENDENTE ou INDEPENDENTEMENTE?

    Essa dúvida é muito comum entre as pessoas que escrevem textos com frequência.

    É a diferença entre um adjetivo e um advérbio. INDEPENDENTE é um adjetivo. Deve ser usado para qualificar um substantivo: nação independente, liga independente.

    Como advérbio, isto é, se o falante quer dizer “de um modo independente”, segundo a tradição, deveríamos usar INDEPENDENTEMENTE.

    Muitos estudiosos, porém, aceitam o uso de INDEPENDENTE na função de advérbio. Observe os exemplos:
    “Ele agiu INDEPENDENTEMENTE (ou INDEPENDENTE) do conselho dos pais”;
    “INDEPENDENTE (ou INDEPENDENTEMENTE) da decisão da diretoria, o presidente assinou o contrato”.

    Que se pode deduzir disso tudo?

    Que você pode usar INDEPENDENTE no lugar de INDEPENDENTEMENTE, mas não o contrário.

    O mesmo ocorre com outros advérbios:
    “Eles falavam CLARO ou CLARAMENTE”;
    “Elas retornarão BREVE ou BREVEMENTE”;
    “Ela deve voltar RÁPIDO ou RAPIDAMENTE”.


    A FORA ou AFORA?

    Vamos observar uma duplinha que causa confusão: a fora (separado) e afora (tudo junto).

    AFORA, tudo junto, tem vários significados. Veja os exemplos:
    “Saiu porta AFORA” (quer dizer saiu "para o lado de fora da porta");
    “Serviu-lhe pela vida AFORA” (tem sentido de "ao longo da vida").
    “AFORA este caso, o restante está correto” (quer dizer "com exceção deste caso");
    “AFORA ser muito bonita, é também muito inteligente” (quer dizer "além de bonita")

    Já a forma A FORA, separadamente, só se usa na expressão "de fora a fora" (ou seja, em toda a extensão), como na frase: "Atravessou a casa de fora a fora".

  • É possível usar "parabenizarmos", "informamo-lhe", "consigo mesmo" e "qüestão"?

    Queremos parabenizar ou queremos parabenizarmos?

    Novamente nos deparamos com dúvidas na flexão do infinitivo....

    Essa é uma questão que trata do infinito pessoal e do impessoal.               

    Você diria: QUEREMOS PARABENIZAR OU QUEREMOS PARABENIZARMOS?

    O certo é "queremos PARABENIZAR", sem flexionar o verbo. E por quê?

    Em locuções verbais, usamos o infinitivo IMPESSOAL, ou seja, aquela forma que não varia. Veja os exemplos:
    “Eles podem SAIR”, e não "Eles podem saírem";
    “Tu deves VIAJAR”, e não "Tu deves viajares".

    O que varia, nas locuções, é o verbo auxiliar.

    Na frase QUEREMOS PARABENIZAR, note que o verbo QUERER já foi flexionado na primeira pessoa do plural, virou QUEREMOS.

    Em "Eles PODEM sair", o verbo auxiliar (PODER) foi para a terceira pessoa do plural ("podem").

    Em "Tu DEVES viajar", o verbo auxiliar DEVER foi para a segunda pessoa do singular ("deves").

    Devemos tomar um cuidado especial com frases longas e invertidas:
    “Devem todos os interessados observarem melhor os fatos”. O correto é “DEVEM todos os interessados OBSERVAR melhor os fatos”, ou seja, “Todos os interessados devem observar melhor os fatos”.

    Informamo-lhe ou informamos-lhe?

    Nossa dúvida envolve verbos e pronomes...

    Na língua portuguesa, é mais ou menos comum que o verbo sofra alguma alteração por causa do pronome enclítico.

    Enclítico, você lembra, é o pronome colocado após o verbo.

    Veja este exemplo:
    “Assim que viu o novo modelo de sapatos, foi correndo COMPRÁ-LO”.

    Essa forma, COMPRÁ-LO, equivale a "comprar isso" ou, no caso, "comprar o novo modelo de sapatos". O verbo COMPRAR, no infinitivo, foi alterado  e o pronome “O” vira "LO". Em vez de "COMPRAR-LO", ficou "COMPRÁ-LO", sem o R final e com acento agudo no "A".

    E agora, a questão crucial. O correto é INFORMAMO-LHE ou INFORMAMOS-LHE?

    Não importa o que vai ser informado, o correto é INFORMAMOS-LHE, mantendo o S final.

    Isso porque o pronome LHE, em qualquer posição, não causa alteração gráfica no verbo.


    Questão ou qüestão?

    Algumas palavras da língua portuguesa admitem pronúncias diferentes.

    Por exemplo: "LÍQÜIDO" (pronunciando o U após o Q) e LÍQUIDO (com U mudo), a forma mais comum.

    Até a reforma ortográfica que entrou em vigor em 2009, não era errado grafar LÍQÜIDO, com trema, aqueles dois pontinhos que se punham sobre o U e que agora estão extintos.

    Outro exemplo é a palavra ANTIGUIDADE (com GUI como em ENGUIÇO, PREGUIÇA), o período histórico que muitos chamam de ANTIGÜIDADE, com GUI de LINGUIÇA, PINGUIM.

    Será que a palavra QUESTÃO também pode ser pronunciada como "QÜESTÃO", com Q-U-E de SEQUESTRO, EQUESTRE?

    Oficialmente a palavra QUESTÃO nunca teve trema. Isso significa que a pronúncia oficial sempre foi QUESTÃO (com U mudo).

    Assim também se pronunciam as palavras derivadas: QUESTIONAR, QUESTIONÁRIO, QUESTIONAMENTO, etc.

    "Consigo mesmo", isso pode?

    Estamos de volta aos pronomes... E vejam só: o pronome consigo, em Portugal, é usado no sentido de "com você", "com o senhor".

    No Brasil, é usado mais no sentido de "com si próprio", ou seja, é uma forma reflexiva. Rigorosamente, consigo só poderia ser "com si mesmo".

    Assim sendo, falar "consigo mesmo" seria redundante, uma espécie de pleonasmo, mas não pode ser considerado um erro. O uso dos pronomes "mesmo" e "próprio" caracteriza, portanto, um reforço.

    Em alguns casos pode evitar ambiguidades:
    "Assumir um compromisso consigo" poderia ser interpretado como um compromisso com você ou um compromisso consigo mesmo. Nesse caso, melhor seria usar “consigo mesmo”, "com si próprio".

    Quando não houver perigo de ambiguidade, o uso do pronome de reforço é desnecessário:

    Veja exemplos:
    “Ele sempre carrega o passaporte consigo” (= com ele mesmo, junto dele);
    “Ele tem um compromisso consigo mesmo” (=compromisso com si mesmo, com sua própria pessoa).

  • Extender ou estender?

    EXTENDER OU ESTENDER?

    Vamos observar uma palavrinha que pega muita gente boa no seu dia a dia e em concursos públicos também: "ESTENDER", com S, ou "EXTENDER", com X?

    Muito discutem esse caso comigo.

    "Mas, professor, por que essa complicação? Afinal, 'extender' vem de EXTENSÃO, e se EXTENSÃO é com X, claro que 'extender' é com X, não é isso?"

    Não é não! Esse é um dos mistérios da nossa língua.

    Palavras derivadas devem seguir a grafia da palavra primitiva: mesa > mesinha, mesário; casa > casinha, casarão; cruz > cruzinha, cruzada, encruzilhada; exame > examinar, reexame...

    Por isso escrevemos com “X”: EXTENSO, EXTENSÃO, EXTENSIVO...

    A grafia oficial do VERBO ESTENDER, entretanto, é com S, assim como ESTENDIDO

    O jeito, então, é decorar: EXTENSO, EXTENSÃO, EXTENSIVO,  com X, mas ESTENDER e ESTENDIDO, com S.

    "Extender", com X, não tem registro em nossos dicionários nem no Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras.


    SETECENTAS E DUAS ou SETECENTOS E DUAS MULHERES?

    Sabemos que numeral sempre concorda com o substantivo a que se refere. É como se fosse um adjetivo. Ninguém erraria ao dizer "No recinto havia setecentAs mulheres", "Compareceram novecentAs pessoas", etc.

    A dúvida que muita gente tem é quando o número não é redondo. Afinal, o feminino na unidade permanece na centena, como em SETECENTAS E DUAS? Ou só o último elemento do numeral é que deve concordar em gênero, ficando então "SETECENTOS E DUAS mulheres?"

    Nada disso. Sempre que possível, e necessário, os dois elementos devem ser flexionados no feminino.

    Observe melhor:

    SetecenTAS e DUAS mulheres

    QuinhenTAS e UMA pessoas.

    Veja que, quando o numeral não tiver feminino, não há flexão:

    “Foram aprovadas no concurso DuzenTAS e DEZ mulheres” ("dez" não tem feminino, mas "duzentos" tem.)

    Outro exemplo: “Para o novo escritório, foram compradas CENTO e OITO cadeiras” (nem "cento" nem "oito" têm feminino).


    A CERCA ou ACERCA de 20 anos?

    Você sabe dizer quando se emprega A CERCA (separado) ou ACERCA (junto)?

    Devemos escrever A CERCA DE (separado) quando nos referimos a distância ou a tempo futuro, significando "a aproximadamente". Por exemplo:

    “Estamos A CERCA DE dez quilômetros do vilarejo” (refere-se a uma distância aproximada);

    “A próxima aparição do meteoro será daqui A CERCA DE 20 anos” (falamos de tempo futuro).

    Só escrevemos ACERCA DE (junto), quando significa “a respeito de”, "sobre". Veja um exemplo:

    “Falávamos ACERCA DAS eleições deste ano” (ou seja, falamos sobre as eleições, a respeito das eleições).

    Temos ainda a forma “há cerca de”, que devemos usar quando nos referimos a tempo passado: “Isso aconteceu há cerca de 90 dias”. Devemos usar ainda com o sentido de “existir”: “Há cerca de dez mil manifestantes na Praça Central”


    O time INVERTEU ou REVERTEU o resultado?

    Locutores esportivos adoram florear a linguagem, usar termos inusitados... Alguns, porém, na ânsia de parecer especialistas, acabam pisando na bola.

    É comum a gente ouvir frases como: "O time da casa fez dois gols no primeiro tempo e ficou difícil para o rival REVERTER o resultado".

    A verdade é que "ficou difícil INVERTER o resultado", e não "reverter". Se o time está perdendo e precisa ganhar o jogo, só vai conseguir isso INVERTENDO o resultado, ou seja, "mudando para o oposto".

    REVERTER, rigorosamente,  significa voltar à situação anterior, ao ponto de partida, à estaca zero. Desse verbo veio o adjetivo IRREVERSÍVEL, que significa "que não tem volta".

    Se reverter uma situação significa "voltar à situação anterior", o que se quer, na verdade, é INVERTER a situação. Ou seja, se está ruim, queremos mais é que fique boa.

    Resumindo:
    INVETER = mudar para o oposto: “Inverteram a mão da rua onde ele mora”;

    REVERTER = voltar à situação anterior: “O médico conseguiu reverter o quadro clínico do paciente que havia entrado em coma”.

    Do verbo REVERTER derivam os adjetivos REVERSÍVEL (o que volta a ser como antes) e IRREVERSÍVEL (o que não tem volta).

  • Ele tirou férias para não ESTRESSAR ou não SE ESTRESSAR?

    É a nossa velha conhecida regência verbal. Vamos analisar a seguinte frase: "Ele tirou férias para não ESTRESSAR" ou não será "Ele tirou férias para não SE ESTRESSAR?"

    Falando em termos gramaticais, trata-se de saber se o verbo ESTRESSAR pode ou não ser intransitivo. Se o verbo é ESTRESSAR ou ESTRESSAR-SE.

    Os dicionários registram que só é possível estressar alguém ou alguma coisa, ou seja, o verbo pede um complemento, que pode ser até a própria pessoa.

    Se eu digo "tirou férias para não estressar", alguém poderia perguntar "não estressar o quê?" ou "não estressar quem?"

    O correto, portanto, é que "Ele tirou férias para não SE ESTRESSAR", ou seja, para não estressar a si mesmo.

    Prendi os documentos com CLIPS ou com CLIPES?
    Vocês dizem e escrevem clipes ou clips (sem E ) de papel?

    Antes de responder vamos a uma curiosidade. Esse pequeno objeto de arame foi inventado pelo norueguês Johan Vaaler em 1899 e em inglês se diz clip, que é a redução da expressão paper ("papel") clip ("juntar").

    Até então, quem queria manter juntas duas ou mais folhas de papel, usava um alfinete. E assim, como tudo que vem para simplificar a vida, essa presilha ganhou mundo e veio parar no Brasil, onde ficou tão familiar que teve seu nome aportuguesado para CLIPE.

    Seu plural é normal: CLIPES, e não como alguns pronunciam, querendo esnobar, "clips", em inglês.

    Portanto, pode dizer, sem medo de errar: “Eu prendi os documentos com CLIPES”, com ES no final.

    CO-SENO, COSSENO ou COSENO?
    Esta dúvida persegue muitos estudantes e professores de matemática. Como escrever o nome da função trigonométrica - CO-SENO (com hífen), COSSENO (tudo junto e com 2 esses) ou COSENO (tudo junto e com um esse só)?

    O Novo Acordo Ortográfico diz que, nas formações de palavras com o prefixo CO-, este sempre se aglutina sem hífen ao segundo elemento.

    Sendo assim, a forma "CO-SENO" (com hífen), que era usada até 2009, quando entrou em vigor o Novo Acordo, agora está desatualizada.

    Mas ficamos ainda com a dúvida: COSENO (com um S só) ou COSSENO (com dois SS).

    Veja que, se mantivermos um S só, mudaremos a pronúncia da palavra, pois o S entre duas vogais tem som de Z. Quando isso acontece, devemos DOBRAR essa consoante, para manter o som original, o som pretendido.

    Então, para não dizer /cozeno/, devemos escrever COSSENO, com SS.

    A forma "coseno", com um só S, não existe e nunca existiu.

    EXISTE TIME "BIMUNDIAL"?
    Voltamos ao tema do futebol, que tanto encanta os brasileiros.

    Vamos falar de um clube que ostenta em sua camisa a palavra BIMUNDIAL, escrita sem hífen.

    Mas será que esse time é "bimundial" mesmo?

    Sem entrar nos méritos futebolísticos da questão (que esse clube deve ter), vamos pensar na formação dessa palavra.

    Em toda palavra formada por prefixo, este último se une ao segundo elemento para modificá-lo. Veja estes exemplos:

    "O São Paulo sagrou-se TRICAMPEÃO". Isso significa que ele foi CAMPEÃO TRÊS VEZES, porque o "TRI" significa "três".

    "A usina de Itaipu é BINACIONAL". Isso significa que ela pertence a dois países. No caso, Brasil e Paraguai.

    Ao escrever "bimundial" sem nenhuma separação, o clube está dizendo que pertence a dois mundos. Terra e Marte, talvez? É lógico que não é nada disso.

    Ele quis dizer que seu clube é BICAMPEÃO MUNDIAL. O "BI" é uma forma abreviada de BICAMPEÃO.

    A forma BIMUNDIAL (sem hífen) é típica do chamado “futebolês”: não tem lógica, mas todos entendem. É mesmo que dizer que o seu time conseguiu o “vice-campeonato”. A verdade é que ele é o vice-campeão.

    Duas dicas valiosas sobre o uso do hífen:

    1ª) Com prefixos monossílabos, o normal é escrevermos “tudo junto” (sem hífen: bicampeão, tricampeão, bissexual, bisavô, binóculo, bisneto, bicolor, tricolor, trilegal, triângulo, triatleta, triatlo, trifásico...

    2ª) Com prefixos com mais de uma sílaba (dissílabos, trissílabos), só devemos usar hífen, se a palavra seguinte começar por H ou VOGAL IGUAL: infra-hepático, anti-hemorrágico, auto-hipnose, contra-ataque, sobre-erguer, anti-inflamatório, anti-inflacionário, micro-ondas, micro-ônibus...

    Com as demais letras, devemos escrever “sempre junto” (sem hífen): infraestrutura, sobrecoxa, antivírus, microcomputador...

    Assim sendo, se o seu time ganhar campeonatos mais de três vezes, será TETRA, PENTA, HEXA, HEPTA, OCTO ou OCTA, ENEA, DECA...

    E isso significa não haverá hífen. O correto, portanto, é: tetracampeão, pentacampeão, hexacampeão, heptacampeão, octacampeão, eneacampeão, decacampeão...

  • Como se escreve? Não vou mais "àquele lugar" ou "a aquele lugar"?

    NÃO VOU MAIS "ÀQUELE LUGAR" OU "A AQUELE LUGAR"?
    Imagine que você vai a um restaurante e recebe um péssimo atendimento. Sai de lá e, para sermos modernos, escreve na sua página da rede social: NÃO VOU MAIS "ÀQUELE LUGAR" OU "A AQUELE LUGAR":

    E agora, como você escreveria essa, digamos, reclamação? Usaria o acento grave indicativo de crase sobre o “a” de "aquele", ou deixaria a preposição separada?

    As regras da crase indicam o uso do acento grave nesses casos.   

    Veja os exemplos:
    "Eu me refiro ÀQUELE filme que ganhou o Oscar."
    "Entregue esta carta ÀQUELA moça da recepção."

    Portanto, sempre que houver a preposição A junto aos pronomes demonstrativos AQUELE(S), AQUELA(S) e AQUILO, haverá crase. Devemos, então, usar o acento da crase no primeiro “a”.

    Observe mais exemplos:
    “Ele sempre comparece àqueles encontros.”
    “Fez referência àquilo que ficou decidido na última reunião.”
    “Era muito semelhante àquelas camisetas.”

    COMPANIA OU COMPANHIA?
    Vocês sabem qual a diferença entre a palavra que serve para designar uma empresa e aquela que significa a presença de alguém a nosso lado? Qual delas é com H e qual delas é sem H?

    Se alguém aí respondeu que COMPANIA (sem H) se refere à empresa, errou. Já quem respondeu que COMPANIA (sem H) é a presença de alguém ao lado, errou também!

    Não existe diferença alguma, simplesmente porque COMPANHIA deve ser escrita sempre com “h”.

    "Esta é uma das maiores COMPANHIAS (com H) do mundo."
    "Tenho que ficar aqui esperando, você quer me fazer COMPANHIA? (com H)

    Portanto não faça companhia àqueles que erram: risque "compania" do seu vocabulário!

    GRATUITO OU GRATUÍTO?
    Quem costuma viajar bastante sabe que algumas agências de turismo, para conquistar seus clientes, oferecem transporte até o aeroporto sem nenhum custo adicional. Em outras palavras, eles oferecem transporte... e agora? É "gra-TUi-to" ou "gra-tu-Í-to"?

    A pronúncia dessa palavra gera muitas dúvidas, e erros também. Muitos anúncios, pela TV ou pelo rádio, abusam do direito de pronunciar GRATUITO da forma não oficial.

    Vamos resolver isso de uma vez por todas. Primeiro, como se escreve a palavra? Com acento no I, "gratuÍto"? Ou sem acento algum?

    Não tem acento nenhum. E, se não tem acento, então a vogal mais forte é o "u". Portanto, diga sempre: estacionamento gra-TUi-to, sobremesa gra-TUi-ta, entrada gra-TUi-ta.

    E esqueça para sempre a forma "gratuíta". Dizer isso é pagar um mico de graça!

    Que fique bem claro: sem acento agudo, devemos pronunciar GRATUITO da mesma forma que intuito, fortuito, muito.

    Isso significa que as vogais “ui” formam um ditongo.

    É importante observar também que oficialmente é CIRCUITO, não “circuíto” como alguns falam.

    Se a vogal tônica for o “i”, haverá um hiato e acento agudo: je-su-í-ta, ge-nu-í-no, suíno, possuído, influído...

    PODER ou PODEREM?
    Vamos falar de futebol? Ou de gramática? Veja só:
    "Os torcedores compraram passagens para PODER ver os jogos no Brasil"? OU “...para PODEREM ver os jogos no Brasil"?

    Essa é uma velha polêmica: a flexão do infinitivo. Basicamente, pode-se dizer que o infinitivo não foi feito para ser flexionado. Aliás, o português deve ser a única língua do mundo que faz isso. A maioria dos estudiosos prefere, no caso dessa questão, o verbo no singular. Sempre que o sujeito do infinitivo for o mesmo da primeira oração e estiver oculto, não devemos flexionar o infinitivo:

    "Os torcedores (sujeito da primeira oração) compraram passagens para PODER ver os jogos no Brasil."

    Perceba que o sujeito do verbo PODER é "os torcedores", que está oculto. Então, deixe no singular!

    Alguns estudiosos aceitam a flexão do infinitivo. Assim, a discussão não se reduz a “certo ou errado”.

    É clara, porém, a preferência pela forma não flexionada:
    “Os advogados foram chamados para assinar o contrato.”
    “Os funcionários foram proibidos de fumar.”
    “As meninas foram obrigadas a sair mais cedo.”
    “Nós saímos para almoçar”.

  • Você sabia? 'Apreçar' é um verbo tão correto quanto 'apressar'

    APRESSAR OU APREÇAR?

                        Você conhece a palavra APRESSAR com “dois esses”? E APREÇAR com “cê-cedilha”?

                       Qual delas está certa?

                       Aposto que muitos diriam: "Eu sei! O certo é com dois SS, porque é derivado de PRESSA."

                       É verdade. Acertou mesmo, mas só a metade.

                       Acertou somente a metade da pergunta. Realmente, APRESSAR, com dois SS, realmente deriva de PRESSA, e por isso se escreve assim.

                       Mas não significa que o outro verbo não exista. APREÇAR (com Ç) é um verbo que muita gente erra, pensando que deveria escrever com dois SS. 

                       APREÇAR (com Ç) significa perguntar ou avaliar o PREÇO de alguma coisa.

                       Está vendo? Por causa de afobação, muita gente se APRESSA (com SS) e não APREÇA (com Ç) corretamente o produto que está à venda..


    GASOLINA ADTIVADA OU ADITIVADA?

                        Você tem carro? Se tem, certamente já foi abastecê-lo no posto de combustível. Chegando lá, o que pediu? Gasolina ADTIVADA (com o chamado “D mudo”) ou ADITIVADA (com D-I)?

                       Antes de mais nada, vamos tentar lembrar o que significa esse adjetivo. Esse tipo de gasolina difere da comum por alguns componentes que, garantem as distribuidoras, melhoram o desempenho do carro com mais economia. Esses componentes são ACRESCENTADOS, são ADICIONADOS à gasolina comum.

                       Por acaso você diria que esses componentes foram "adcionados" à gasolina? Claro que não. Você diria que eles são aDIcionados. E como se chamam esses componentes? Muito bem: ADITIVOS.

                       É por causa deles, dos A-DI-TI-VOS, que a gasolina se chama A-DI-TI-VADA. "Adtivada", com D mudo, não existe.

                       Devemos tomar cuidado com palavras em que a vogal “i” está presente: adição – aditivo, aditivado; divino = adivinhar, adivinhação.

                       E existem palavras com a chamada “consoante muda” (sem a vogal a seguir): adjetivo, apto, adaptar, advogado, pneu...

     

    No calor, a gente SUA ou a gente SOA?

                        Suar ou soar, eis uma questão!

                       SUAR é um daqueles verbos que deixam muita gente no sufoco. Na hora de conjugar, a pessoa fica vermelha, começa a transpirar...

                       Afinal, como se conjuga?

                       SUAR é um verbo regular. Conjuga-se da mesma forma que aqueles terminados em "-uar", como "jejuar", "atenuar", “atuar”, “pontuar”, “compactuar”, “flutuar” etc.

    Eu jejuo, tu jejuas, ele JEJUA.

    Eu atenuo, tu atenuas, ele ATENUA.

                       Portanto, como não podia deixar de ser, o correto é dizer que, no calor, a gente SUA.

    Eu suo, tu suas, ele SUA.

                       Então "a gente soa" não existe? Bem, existir, existe, porém o sentido é bem diferente. Ao dizer "a gente SOA", estamos dizendo que nós produzimos som, pois SOAR significa exatamente isso: produzir som.

                      Combinados?

                      Quem produz suor SUA; o que produz som SOA.

     

    MAISENA ou MAIZENA?

                        Você já deve ter visto no supermercado, ou até comprado, para fazer seu mingau, seu pudim ou bolo, aquela caixinha amarela de farináceo, com o rótulo escrito MAIZENA, com "z".

                       Mas será que o rótulo está correto?

                       Essa palavra provém do grão com que é fabricado: o milho, também chamado, em algumas regiões do Brasil, de "maís" (com “s” e acento no “i”).

                       Mas o produto vendido nos supermercados existe há muito tempo, e por isso sua marca usa a ortografia da época em que foi criado. Respeita-se o que está no rótulo, pois se trata de uma marca registrada, mas, para se referir genericamente àquela farinha, deveríamos escrever MAISENA com S.

                       Como já foi explicado aqui, é prática comum no Brasil o desrespeito às regras ortográficas quando grafamos nomes próprios.

                       Outro exemplo é a marca da farinha “Granfino”. É importante saber, entretanto, que o adjetivo referente à pessoa muito fina é GRÃ-FINO: “Trata-se de uma pessoa grã-fina”.

Autores

  • Sérgio Nogueira

    Sérgio Nogueira é professor de língua portuguesa formado em letras pela UFRGS, com mestrado pela PUC-Rio. É consultor de português do Grupo Globo.

Sobre a página

O professor Sérgio Nogueira esclarece dúvidas de português dos leitores com exemplos e dicas que facilitam o uso da língua. Mostra erros comuns e clichês que empobrecem o texto.