Não foi a primeira vez e não será a última que as redes sociais serão usadas por autoridades para dar recados ou chamar atenção para algum debate. O secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, Mansueto Almeida, foi para Twitter nesta quarta-feira para falar sobre a reforma da previdência. Também não é inédita a aparição dele para debater o tema, mas os posts de hoje chamaram atenção porque ele sinalizou como certo o que ainda era uma ideia sem confirmação: o fim da DRU, a Desvinculação das Receitas da União.
 
Quem argumenta que não há déficit na previdência aponta a DRU como uma das vilãs das contas, já que ao liberar parte da arrecadação dos impostos para usar como quiser, o governo estaria “tirando dinheiro” destinado à seguridade social para fazer o que quiser e com isso provoca o rombo nas contas.
 
Mansueto está em Frankfurt, na Alemanha, onde está para participar de um encontro com 100 investidores. Ele foi de última hora no lugar do chefe, ministro Henrique Meirelles, que foi convocado pelo chefe dele, presidente Michel Temer, a ficar no Brasil enquanto a votação da reforma da previdência não acontecer, ou chegar ao final da batalha deste ano. O secretário falou com o Blog pelo telefone.
 
“Eu quis chamar atenção para esse ponto da proposta.  Eu escrevi o óbvio, não tem nenhuma novidade, não. Estou reforçando o debate sobre a previdência. Nós estamos num momento em que as pessoas querem acreditar que existe solução fácil para tudo, infelizmente não há.  Temos que ser adultos e tomar decisões. Para quem nega o déficit da seguridade social e da previdência, fala que a DRU retira dinheiro da seguridade. O governo vai acabar com a DRU, vai acabar a transferência dos recursos e o déficit vai continuar”, disse Mansueto.
 
Fazendo as contas, a manutenção não faz mais sentido. Se toda liberdade que o governo ganha para usar os recursos dos impostos arrecadados está sendo consumida pelas despesas com a previdência, para quê ter o instrumento? A DRU deu ao governo este ano cerca de R$ 100 bilhões e o rombo com as aposentadorias está projetado para ser de R$ 189 este ano.
 
“Muita gente acha que o problema é só o déficit. Não é. O problema é o crescimento do gasto ao longo dos anos.  Mesmo que a conta fosse zerada hoje, ou seja, que a arrecadação desse conta das despesas da seguridade, o problema seguiria ficando pior. O Brasil é país jovem, mas será velho em 30, 40 anos. Em 40 anos nós seremos como o Japão é hoje, o país do mundo com maior proporção de velhos sobre os mais novos. Nós gastamos o dobro que eles. Se a gente já fosse velho não seria anormal, mas nós vamos nos tornar velhos logo logo. É uma bomba relógio”, alerta o secretário. 
 
O secretário não quis dar seu prognóstico sobre a votação da reforma no Congresso. Disse que o governo está mobilizado, tanto que ele teve que ir para Alemanha, no lugar de Meirelles, porque o ministro não pode largar a briga de jeito nenhum.
 
“O governo está negociando. É um tema que desperta paixão no mundo todo. A sociedade brasileira espera por grande proteção do estado, isso passa pela previdência, por saúde, educação, segurança e todos os benefícios concedidos pelo governo como abono salarial e seguro desemprego. Se juntar toda esta despesa, o Brasil gasta como a Inglaterra, mas lá, só 6% do PIB vai para a previdência. Aqui, é o dobro”, aponta Mansueto Almeida.
 
O debate sobre a votação da reforma voltou algumas casas nos últimos dois dias. O mercado financeiro sente e reage. A bolsa de valores voltou ao patamar de 72 mil pontos, fechando em baixa, e o dólar subiu. No final das contas ninguém sabe dizer se vai passar ou não alguma coisa pela Câmara do Deputados até o final do ano. Nos próximos quinze dias o caldo deve esquentar e olhe lá se vai adiantar tanta postagem nas redes sociais para convencer deputados a aprovarem a mudança.
 
PS: Perguntei ao secretário Mansueto Almeida o que ele vai falar aos investidores em Frankfurt.
 
“Vou contar a verdade! O Brasil de um ano atrás tinha risco país acima de 300 pontos, uma inflação de 9% , juros de 14,5%, mergulhado na pior recessão da história. Hoje temos inflação de 3%, juro de 7%, risco país em 170 pontos e um ajuste fiscal gradual sendo feito pelo lado da despesa e para isto tudo se manter dar certo a reforma da previdência é essencial. Mesmo depois disso, temos muitos desafios pela frente, mas o Brasil já mudou”, disse ao Blog.