O ministro Henrique Meirelles prometeu e cumpriu – até com folga. As contas públicas fecharam 2016 com um rombo de R$ 154 bilhões, abaixo do teto estabelecido pelo próprio chefe da Fazenda em maio passado. Quando anunciou a previsão de um déficit de R$ 170 bilhões para 2016 a então nova equipe econômica de Michel Temer provocou um rebuliço no país. “A meta foi feita com parâmetros realistas e estimada dentro de critérios rigorosos”, disse o ministro Meirelles à época.


 
“Sempre que se mostra um resultado melhor do que tinha sido prometido é motivo de satisfação.  Neste caso não deveria ser. A receita caiu 3,1% mesmo com os recursos da repatriação do dinheiro de brasileiros no exterior. E os gastos também caíram 1,2%. Isto tudo mostra que a meta de R$170 bilhões tinha uma larga margem de folga para o governo e ela acabou não sendo usada”, explicou ao Blog Raul Velloso, especialista em contas públicas.
 

A preocupação de Velloso é com 2017. A PEC do teto do gasto já está valendo e as despesas federais não poderão crescer acima da inflação. O rombo previsto para este ano ronda R$ 140 bilhões, mas a margem para acomodações será menor. Para o especialista, teria sido melhor se o governo tivesse usado todo o espaço estimado para o ano passado e limpado muito mais os esqueletos, pedaladas ainda devidas e os atrasados do governo federal.
 

“Tinham que ter gastado mais em 2016 e não precisar gastar mais em 2017. Eles vão ter uma alegria hoje porque cumpriram a meta com folga e o preço disso vai ser a dificuldade de cumprir a meta agora. Eu preferia respirar com mais tranquilidade em 2017”, ressalva Velloso.
 

Se o gasto não vai poder subir, o único jeito de reequilibrar a gestão das contas será com o crescimento da economia. Quando o PIB voltar a crescer a arrecadação acompanha. Até que o aumento das receitas cubra o buraco dos cofres, pode levar anos. Enquanto a virada não chega, o governo terá que se endividar para pagar as despesas, por isso a relação da dívida com o PIB – um parâmetro importante para medir solvência do país – deve continuar crescendo nos próximos anos.
 

“Tudo vai depender de quanto arrecadação vai crescer daqui para frente. Se ela subir 1% e o PIB também 1%, o governo vai fazendo abatimento do déficit, diminuindo a necessidade de emitir moeda para pagar a dívida. Uma hora vira, mas pode levar até 5, 6 anos. Até lá, vamos nos conformar com ele (o déficit)”, disse Raul Velloso ao blog.
 

A prioridade do governo agora é controlar os gastos e o ministro Meirelles tem aval de investidores e muitos analistas para acompanhar essa piora do endividamento sem abalos. Desde que a trajetória de reversão das contas não mude com a tensão política ou com a não aprovação de outras reformas, principalmente a previdenciária. O resultado melhor do que o esperado em 2016, porém, ainda não pode ser considerado a superação dos problemas que racharam a gestão pública federal.