Ler os dados sobre o desemprego no Brasil requer um esforço além da taxa absoluta calculada pelo IBGE. Há muita informação relevante “dentro” dos números e, em algumas situações, o comportamento do mercado de trabalho não fica tão bem representado pelo índice fechado. Dito isto, no caso dos dados de agosto, divulgado nesta sexta-feira (29) pelo IBGE, o resultado final do período entre junho e agosto foi positivo, com queda da taxa de desemprego para 12,6% frente ao trimestre anterior.

 

Pelas contas do Itaú, é o quinto mês seguido que isto acontece, numa dinâmica que ninguém esperava no início de 2017. Este mesmo banco estimava, em março passado, que a PNAD do IBGE fecharia o ano em 13,2%. Na análise feita com os números de agosto, o Itaú revisou a sua previsão para 12,2%. É um ajuste considerável e que incorpora a mudança consistente na leitura sobre a recuperação da atividade econômica que será mais forte neste segundo semestre de 2017.

 

Olhando para dentro do indicador do governo, encontramos uma informação relevante e que corrobora a melhora nas expectativas daqui para frente. No período entre junho e agosto a chamada participação da força de trabalho, que mostra a quantidade de pessoas em idade de trabalhar que estão empregadas ou procurando emprego, subiu consideravelmente. Isto significa que muitas pessoas que estavam fora das estatísticas porque já tinham desistido de encontrar uma vaga, voltaram a ser captadas pela pesquisa do IBGE.

 

Quando este movimento acontece, normalmente a taxa de desemprego sobe num efeito estatístico. Isso porque, vale lembrar, a taxa calculada pelo IBGE considera desempregados somente as pessoas que não têm trabalho mas estão em busca de um. Quando este contingente sobe, o indicador vai junto, teoricamente. No trimestre terminado em agosto, a força de geração de empregos foi maior e impediu o aumento da taxa.

 

“A força de trabalho está crescendo, ou seja, tem mais gente procurando emprego e, ao mesmo tempo, tem mais gente conseguindo se ocupar, o que é bom. De um período para outro, 600 mil pessoas ficaram mais felizes ou porque conseguiram se ocupar, ou deixaram de estar desocupadas, encorajadas a procurar uma vaga”, disse José Francisco de Lima Gonçalves, economista do banco Fator.

 

O que a taxa de desemprego do IBGE está indicando é que há uma nova onda de confiança nas pessoas que fez muita gente “se encorajar” como disse José Francisco. Os índices de confiança corroboram isto, já que voltaram a subir nos últimos dois meses. Pode ser também que a confiança voltou a subir porque mais pessoas voltaram a trabalhar.

 

É quase como a lógica do ovo e da galinha, o que, em economia, não parece tão complexo porque a engrenagem da atividade de um país tem vários mecanismos de estímulo – para o bem e para o mal – na virada dos ciclos econômicos, como o que estamos vivendo agora. Como disse o economista do banco Fator, centenas de milhares de famílias ficaram mais felizes nos últimos três meses. Aqueles que não veem a recuperação do emprego tão positiva assim, argumentam que a maior parte das novas vagas está surgindo no mercado informal.

 

“É o que acontece intuitivamente quando a economia começa a melhorar. Há ainda dúvidas sobre contratar ou não alguém, mas há segurança suficiente para dar um jeito, criar uma oportunidade para as pessoas se virarem. Isso não quer dizer que seja permanente. A expectativa seguinte é que o lado formal do mercado de trabalho melhore e a dinâmica para a formação de vagas é positiva. Pode até perder um pouco o ímpeto até o final do ano, mas qualquer coisa já será melhor do que foi o ano passado”, diz José Francisco.