O “vai devagar que estou com pressa” de Henrique Meirelles foi substituído por um “corre senão te atropelo” de Michel Temer. Em uma semana o governo fez anúncio atrás de anúncio para tentar reativar a economia. Só nesta quinta-feira (22) que aparecerem os primeiros bilhões de reais que podem socorrer os trabalhadores. A liberação de saques de contas inativas do FGTS pode injetar até R$ 30 bilhões, numa operação que não passa pelos cofres do Tesouro Nacional – que está vazio, by the way.

 

Desde que assumiu com seu “dream team” econômico, uma agenda árida e extensa para ser aprovada, o presidente Temer só tinha anunciado bilhões “a mais” quando aumentou a previsão do déficit fiscal de R$ 96 bi para R$ 170 bilhões. Nos sete meses de governo, o peemedebista foi bom no bilhões “a menos”, com os cortes de gastos e o limite para a despesa pública para as próximas duas décadas.

 

A saída encontrada com os saques do FGTS é inédita e não tem um custo direto para o caixa do governo. A fórmula não demanda crédito subsidiado ou desoneração de impostos, o que impactaria as contas públicas em frangalhos. Os efeitos não são imediatos, mas podem aparecer mais rápido do que as medidas estruturais que foram anunciadas até agora.

 

Se conseguirem alívio no orçamento, renegociando dívidas com custo menor ou quitando débitos com dinheiro sacado no Fundo, os brasileiros poderão, quem sabe, em algum momento voltar a consumir – o que gera arrecadação de impostos. O dinheiro que está lá já é do trabalhador e rende míseros 3% ao ano, sem descontar a inflação. Sacar e usar para pagar uma dívida que custa entre 140% e 480% ao ano é no mínimo sensato.

 

A cadeia de benefícios dos bilhões a mais não desqualifica as preocupações com a solidez e o propósito do FGTS. Principal fonte de financiamento da casa própria, o fundo trabalha num equilíbrio frágil. O problema é que a crise ganhou uma dimensão tão profunda que talvez seja mais barato fragilizar um bocado o FGTS do que deixar “o mercado” resolver sozinho os impasses dramáticos entre os trabalhadores e o sistema financeiro.

 

Além dos bilhões do FGTS, o governo anunciou as medidas que flexibilizam as relações trabalhistas. Foi uma decisão politicamente ousada num momento de baixíssima popularidade e desgaste com entidades sociais. Mas essa briga é fundamental para garantir um revés nas expectativas para 2017 - para melhor. Se a proposta do “acordado sobre legislado” for aprovada, a distensão no mercado de trabalho pode reduzir o ritmo das demissões esperadas para o ano que vem.

 

Temer e Meirelles vêm repetindo que não há mágica para recuperar a economia. E não há mesmo. Mas eles conseguiram sacar uns coelhos da cartola neste finalzinho do ano. Ainda há mais dúvidas do que respostas sobre a execução das novidades, mas a guerra das expectativas tem pressa. E para ajudar no empurrão, o Banco Central revelou que a perspectiva para inflação oficial de 2017 alcançou a meta de 4,5% e para 2018 está em 3,8%. Com isso, abre-se uma avenida para o Copom atravessar baixando os juros no ano que vem.