Em agosto deste ano a força tarefa da Lava Jato em Curitiba expôs em praça pública uma pilha de R$ 4 bilhões, em notas de R$ 100. As notas eram falsas, o valor de recursos recuperado até agora não é exatamente este, foi menos, mas pode ser muito mais. Ainda assim, a escultura não poderia ser mais realista e chocante.
 
Durante anos, um pequeno grupo de governantes e empresários assaltou o país em plena luz do dia, bradando ética e desenvolvimento, orgulho nacional e o salvamento dos pobres do Brasil. Por incrível que pareça os R$ 4 bilhões da escultura da Lava Jato, que podem chegar a R$ 10 bilhões em indenizações, multas e repatriação, são pouco perto dos estragos causados pela política econômica desastrosa da ex-presidente Dilma Rousseff.
 
A conta da gestão petista é ainda mais escandalosa, pelo menos a que é possível contabilizar com clareza. O rombo nas contas públicas será de quase R$ 160 bi neste e no próximo ano. Some os R$ 155 bi de 2016 e os R$ 111 bi de 2015. Falta explicar onde foram parar os R$ 500 bi que passaram pelo BNDES para financiar empresas de amigos “do rei” e não produziram nem meio ponto de alta do PIB, ao contrário, só fizeram aumentar a dívida pública. Haja pilha de notas de R$ 100...
 
Agora imagine se isto tudo não tivesse acontecido, ou que pelo menos o apetite criminoso dos corruptos tivesse sido menor. Certamente não teríamos que nos deparar com a conta mais cara dos escândalos expostos aqui: o crescimento da pobreza extrema no Brasil.
 
O IBGE acaba de revelar que aumentou em 53% a quantidade de brasileiros que viviam com 1/4 de um salário mínimo por mês, entre 2014 e 2016. Há três anos foi quando a recessão econômica começou, mas os assaltos e os erros crassos na condução do país já estavam sendo cometidos anos antes. O saldo ao final do ano passado é de quase 25 milhões de pessoas vivendo na miséria.
 
Ao final de 2016 havia outros 36,6 milhões de brasileiros com rendimento per capita entre ¼ e ½ salário mínimo, ou seja, em situação de pobreza, 6% a mais do que em 2014. O Nordeste concentra a maior quantidade daqueles em situação de extrema pobreza, 13,1 milhões de pessoas. Na ponta oposta está o centro-oeste, com 900 mil brasileiros.
 
A estatística mais recente, liderada pelo economista francês Thomas Piketty, escancarou outra fotografia da nossa triste realidade. A população 1% mais rica detinha, em 2015, 28% de toda a riqueza do Brasil, acima dos 25% em 2001. A diferença entre os mais ricos e mais pobres é de cerca de 70 milhões de pessoas – 1,4 milhão de ricos, 71 milhões de mais pobres.
 
Olhando para a quantidade de mais ricos e mais pobres do país, cabe aqui uma proporção muito parecida com o que acontece no sistema de previdência nacional. O déficit do regime dos servidores públicos cresce a cada ano para manter cerca de 1 milhão de aposentados e pensionistas. O buraco no INSS aumenta para sustentar os benefícios de quase 30 milhões de aposentados do setor privado. O estudo recente do Banco Mundial mostrou que o déficit da previdência nacional contribui para a desigualdade. Não que muita gente já não soubesse...
 
Infelizmente há muitos dados sobre o Brasil que revelam a extrema desigualdade no país. A conta de luz tem embutida para todos nós quase 40% de imposto – não importa se você está no topo ou na base da pirâmide (mesmo considerando programa de isenção para famílias de baixa renda). O mesmo vale para o caderno da escola, a roupa, os alimentos ou a máquina de lavar roupa.
 
Como nosso sistema tributário está ancorado no consumo e não na renda, quanto mais rico, menos se paga, numa lógica perversa que acelera a condição de pobreza da maioria, especialmente em momentos de crise e de elevação da inflação como o que vivemos entre 2014 e meados deste ano.
 
A inflação é outro mal a ser combatido porque, assim como a corrupção e a irresponsabilidade com o dinheiro público, ela ataca os mais pobres que não tem como se defender da alta de preços. Em 2015, o IPCA ficou em 10,67%, o maior em mais de 10 anos. Só a conta de luz, insumo básico para as famílias brasileiras, subiu 70% em média, em todo país.
 
O retrato que o IBGE revela é mais um capítulo a ser adicionado nesta triste e trágica história da pior crise econômica vivida em tempos de moeda relativamente estável no Brasil. Contar os pobres ainda vai nos assustar durante muito tempo, mesmo que a economia esteja voltando aos trilhos e a retomada seja consistente, ainda que fraca.