A crise econômica que atravessamos já é a pior do século pelos dois anos seguidos de recessão profunda ‘nunca antes vividos na história desse país’. Mesmo que haja alguma recuperação em 2017, muito dos danos causados pelo colapso econômico não terá sido superado. É o caso do endividamento das empresas e das famílias brasileiras. Uma pesquisa feita pela Federação das Indústrias do Estado de S.Paulo (Fiesp) mostra que 42% das empresas paulistas podem levar até 10 anos para pagar as dívidas que acumularam.
 
“Esta é a maior crise de todos os tempos, é também a crise que está durando mais. No passado, a gente tinha um ano de crise e, em seguida, um ano de crescimento forte do PIB. A maioria das empresas do Brasil todo, não só do estado de São Paulo, não tem caixa para pagar as despesas financeiras das dívidas. O que gera uma preocupação enorme porque a situação financeira delas é gravíssima”, disse ao Blog José Ricardo Roriz Coelho, Vice-Presidente da Fiesp, coordenador da pesquisa.
 
A Fiesp entrevistou 1063 empresas em todo estado e os dados mostram alto comprometimento financeiro das empresas. O endividamento aumentou em 2016, em relação a 2015. Para os 20% das empresas que diminuíram as dívidas entre 2015 e 2016, metade delas conseguiu fazê-lo sacrificando o lucro para quitar parte do débito. Para 39% melhorou a expectativa para capacidade de pagar juros e amortizações das dívidas em 2017. Porém, 36% das empresas não esperam alteração nas condições do caixa e 20% esperam piora.
 
“Depois de não conseguirem pagar o serviço da dívida, as empresas deixam de pagar os impostos. Há muito desemprego represado porque elas preferem não demitir porque não conseguem arcar com os custos da dispensa do funcionário. Quando tem uma empresa que precisa entre 3 e 5 anos de geração de caixa para pagar sua divida, ela começa a ter dificuldade para pegar crédito, renovar financiamentos. Como vai crescer assim?”, questiona o executivo da Fiesp.
 
A Fiesp defende que o governo intervenha nesta situação com um plano de crédito e “juros adequados” para dar às empresas. Caso contrário, a expectativa de recuperação da economia pode se frustrar. Em 2016, quando os índices de confiança dispararam com a chegada do novo governo, a atividade não respondeu.  O alto endividamento das empresas foi a justificativa para explicar a falta reação do PIB.
 
Com a crise fiscal e as medidas que o governo vem tomando, especialmente com corte de subsídios, é improvável que haja alguma política de incentivo por parte do setor público para ajudar a indústria. A queda da taxa de juros que está sendo promovida pelo Banco Central é o caminho apontado pelo governo para estimular os bancos a flexibilizarem o crédito e colaborarem com a recuperação das empresas.
 
“O governo não está enxergando. Eles estão com preocupação fiscal, que é válida, mas não estão percebendo que, pelo lado da receita de impostos, se as empresas não tiverem lucro, não vão pagar os impostos. Estamos entrando num ciclo vicioso cada vez pior, com as empresas na lona como estão sem capacidade de voltar a crescer”, alerta José Ricardo Roriz.