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  • Petrobras – de como quebrar, para como recuperar uma empresa

    A maior companhia estatal do Brasil, uma das maiores petroleiras do mundo, a Petrobras vai contribuir para história com cases antagônicos: como quebrar e como recuperar uma empresa gigante. Há quase um ano na presidência da estatal, Pedro Parente já conseguiu reverter a mentalidade que prevaleceu por mais de uma década na Petrobras.

     

    Antes voltada para enriquecer pessoas e partidos pela corrupção e sem compromisso com resultados, agora a empresa busca eficiência e lucro. Sim, lucro! E quem ganha com isso? A União, que detém pouco mais de 50% da empresa, as 288.002 pessoas físicas, as 4.455 pessoas jurídicas e os 2.116 investidores institucionais (dados de maio/17).

     

    Depois que o governo liberou a petrolífera da obrigação de explorar 100% dos campos de petróleo do país, a Petrobras tomou uma decisão estratégica e exercerá o direito de preferência em 3 dos 8 prospectos que serão ofertados nos dois leilões do pré-sal, sob regime de partilha, em outubro. O fato de estar desobrigada abriu espaço para que a estatal escolha investir tempo e dinheiro naquilo que faça sentido operacional e financeiro.

     

     Além desta, outras boas notícias vêm comprovando a virada na gestão da empresa. O primeiro trimestre registrou lucro de R$ 4,45 bilhões com aumento da produção e da produtividade, cortes de despesas, venda de ativos e, claro, a alta do preço do barril no mercado internacional que ajudou bastante. Há mais um fator fundamental para isso: a adoção de um novo modelo de reajuste de preços de combustíveis no mercado nacional.

     

    Desde outubro a Petrobras pratica novo sistema de reajustes, com reuniões mensais, para equilibrar os preços internos com o que acontece lá fora. Desde então já foram 5 cortes e dois aumentos. E é bom a gente se acostumar com a oscilação e encarar os movimentos sem sustos – ao contrário, com alivio, pelo menos do ponto de vista da saúde financeira da estatal.

     

    Durante o mandato de Dilma Rousseff, o governo forçou a Petrobras a segurar os preços para evitar contaminação da inflação – que subia reagindo aos destemperos da política econômica. A estratégia obscura e irresponsável, mais a corrupção, os péssimos investimentos, entre outros, drenaram o caixa da empresa e levaram sua dívida para o patamar de maior endividamento privado do mundo!

     

    Faço uma última citação, esclarecendo que o arsenal de mudanças sob a gestão de Pedro Parente é muito grande e pode, não só tirar a Petrobras da gravíssima crise que enfrentou, como minar o terreno fértil para a corrupção que corroeu a estatal. Ao adotar o ‘orçamento zero’, a companhia cortou os dutos por onde passaram os bilhões que abasteceram o Petrolão e o Propinoduto.

     

    “Agora, a cada ano, cada uma das diretorias precisa apresentar seus projetos e brigar pela parcela do orçamento que pagará por eles. Se não fizer sentido, não se mostrar viável e quanto vai gerar resultados, não leva. Antes, os diretores chegavam lá e simplesmente diziam: quero 20% para fazer o que eu bem entender, quero 30% para construir o que eu bem entender! Sem se importarem com o propósito dos projetos ou mesmo a capacidade de financiamento deles”, me explicou André Praces, analista da Eleven Financial.

     

    Em conversas com André e outros analistas do mercado que acompanham a Petrobras, percebi que o mérito da virada não é apenas de Pedro Parente. Todos fazem questão de reconhecer a importância de Ivan Monteiro, o diretor financeiro da companhia, na travessia para esta nova fase. Uma fase com foco no aumento da produção, da eficiência e, claro, dos lucros. Todos nós devemos agrader, mesmo quem não tem ações da Petrobras. 

  • A gente vai ter que se acostumar com o movimento nos preços pela Petrobras



  • ‘Petrobras culpa o governo pelo prejuízo’, diz analista

    Para quem não entende de balanço de empresas – principalmente de empresas do tamanho da Petrobras – olha para o resultado de 2015, apresentado pela diretoria da estatal, e estaciona logo no tamanho do prejuízo. Afinal, fechar o ano no vermelho em quase R$ 35 bilhões é uma notícia ruim suficiente. Mas a novidade mais intrigante que surge das contas da petrolífera é a responsabilização pelo feito. Usando uma linguagem que pouca gente reconhece, o recado dos gestores da companhia não podia ter sido mais claro quando traduzido para o português.

     

    “O Aldemir Bendine deixou muito claro que a culpa pelo prejuízo foi do governo. Quando ele disse que a Petrobras teve que reduzir o valor dos seus ativos em cerca de R$ 50 bilhões, ele apontou que boa parte disto está ligada a outra perda amargada pelo Brasil: a do grau de investimento. Quando um país perde esta nota, os ativos das companhias estatais sofrem também. Além disso, o serviço da dívida da Petrobras fica mais cara porque o risco de solvência aumentou. Isto expõe abertamente a fragilidade da estrutura patrimonial da Petrobras”, disse ao Blog Adeodato Netto, sócio da Eleven Financial.

     

    O Brasil começou a perder o grau de investimento no ano passado. Primeiro foi pela Standard & Poors e logo em seguida pela Fitch – a Moody’s veio só este ano. Isto afetou diretamente a Petrobras que está já está há dois anos se deteriorando por causa da operação Lava Jato e o desmantelamento do esquema de corrupção que corroeu a credibilidade e percepção de fortaleza que a companhia sempre impôs.

     

    “O que a Petrobras fez foi colocar a culpa no ajuste do valor patrimonial da empresa que eles foram obrigados a fazer (de R$ 50 bi) – a ênfase do comunicado do resultado estava aí. Além desta estratégia remeter imediatamente ao governo como já falei, esta comunicação parece querer diminuir a relevância de uma dívida de US$ 100 bilhões de dólares da companhia. Esta dívida custou em 2015 R$ 33 bilhões de reais – em juros e correção cambial – o dobro do fluxo de caixa positivo da empresa no ano passado, que foi de R$ 15 bilhões. Uma empresa com essa estrutura de dívida, depende da estrutura de ativos para honrá-la”, aponta Netto.  

     

    Uma das soluções já apontada pela própria Petrobras é exatamente a venda de ativos da empresa. Até aqui, tudo bem, ninguém discorda da necessidade de fazer isso. Porém, há alguns empecilhos pela frente: (1) estes ativos estão derretendo de valor, como o balanço de 2015 acaba de mostrar; (2) está difícil achar quem compre qualquer coisa de uma empresa com altíssimo nível de risco, dívida estratosférica, envolvida num mega esquema de corrupção, num país em crise politica e econômica sem precedentes e, para completar, com preço do petróleo em queda histórica.

     

    “O que a Petrobras não diz abertamente, e nem poderia, mas o mercado sabe muito bem, é que a solução mais provável para salvar as contas é fazer uma capitalização da companhia, ou seja, injetar dinheiro lá. Como acionista controladora, a União deve liderar este processo, mas com que dinheiro? Nem o Nelson Barbosa saberia responder. Se a capitalização for feita através dos acionistas privados, o governo corre o risco de assistir a uma diluição na distribuição das ações da empresa. Na teoria, isto seria apenas uma diluição do capital, na prática, é privatizar a Petrobras, já que a União perderia a propriedade da maioria das ações”, ressalta o analista de Eleven Financial.

     

    O destino da Petrobras é tão incerto quanto o da crise política que assola o país. O quadro de hoje está irrefutavelmente negativo e arriscado. Durante o ano de 2016, provavelmente a companhia terá que rever seus planos e desencorajar ainda mais os investidores. Aliás, quem está ganhando com este momento é o capital especulativo que circula pelo mundo. 

    “As ações da Petrobras têm uma liquidez colossal, ou seja, são muito negociadas no mercado. As oscilações que têm acontecido no valor das ações - ora para cima, ora para baixo - não têm nada a ver com a realidade da empresa. A fragilidade da estatal abre espaço para o capital especulativo entrar apostando nas duas pontas, ficando pouco tempo e sem se comprometer com o futuro”, avalia Adeodato Netto. 

    E como o mercado deverá reagir a este prejuízo amanhã (22)?

    “Amanhã? Já está acontecendo hoje. As ações negociadas na bolsa de Nova Iorque estavam caindo 10% logo depois do anuncio. Aqui no Brasil não será diferente”, aponta o analista. 

  • BNDES vira caso de polícia

    A operação Lava Jato não para e não para de surpreender. Na 21ª fase, a Polícia Federal prendeu o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo pessoal do ex-presidente Lula e suspeito de se beneficiar do esquema de corrupção da Petrobras. A novidade desta etapa não está somente na aproximação das investigações com Lula e sim pelo envolvimento direto do Banco Nacional de Desenvolvimento, o BNDES.

    Em entrevista coletiva para explicar e justificar a nova etapa, os responsáveis pela Lava Jato esclareceram que o BNDES, institucionalmente, não foi alvo de mandados de busca e apreensão. A Justiça quer “apenas” acesso aos contratos de empréstimos “vultuosos” concedidos pelo banco público ao empresário Bumlai. Mesmo tentando isentar o principal financiador da política de investimentos de longo prazo do país (teoricamente), os condutores da Lava Jato acabaram de confirmar que o BNDES virou caso de polícia.

    Até agora, outras tentativas de entrar nos corredores do banco já vinham sendo adotadas, mas com menos poder de impacto. Uma CPI foi criada na Câmara dos Deputados para investigar as operações de empréstimo da instituição, numa das estratégias de Eduardo Cunha, presidente da Casa, de cutucar o governo com vara curta. Há mais tempo, uma decisão do Supremo Tribunal Federal negou ao BNDES o direito de sigilo dos contratos com a JBS, que se tornou a maior empresa de carnes do país e do mundo graças à parceria com o banco.

    Em pouco mais de seis anos, o BNDES recebeu cerca de R$ 500 bilhões do Tesouro Nacional para financiar investimentos de longo prazo no país, principalmente em infraestrutura, visando atrair interessados em contribuir com o crescimento da economia pagando juros mais baixos. A regra lá é diferente, ou melhor, os juros são diferentes. No BNDES a taxa para os empréstimos é a TJLP – Taxa de Juros de Longo Prazo, que está hoje em 7% ao ano, enquanto a taxa básica, a Selic, está em 14,25%. Nos últimos anos, essa diferença variou entre 2 e 7,25 pontos percentuais, sempre paga pelos cofres públicos. Ou seja, só foi mais barato para quem teve acesso aos recursos, mas não para os contribuintes brasileiros que pagam impostos para bancar o endividamento público.

    A existência de uma entidade como o BNDES num país como o Brasil é mais do que justificável. Enquanto precisarmos de um juro nas alturas como temos há anos, sem um incentivo como a TJLP, o investidor se intimida. O problema está no critério de escolha dos beneficiados e o retorno que as operações trazem para o país. O que todos nós já sabemos é que, desses R$ 500 bilhões distribuídos pelo BNDES, não dá para apontar nada de benéfico para a economia.

    Ao abrir os armários do banco para fuçar os contratos com as empresas de Bumlai, a Lava Jato implica, em alto e bom som, que pode não ter sido apenas da Petrobras que saíram recursos para alimentar a rede de corrupção descoberta pela Justiça. Os esclarecimentos são essenciais e podem transformar muita coisa na política de gestão do BNDES. Mas, por enquanto, a 21ª etapa da Lava Jato vai provocar mais temor sobre a ousadia e falta de limites dos envolvidos.  

  • Petrobras: R$ 6,2 bilhões é muito ou é pouco?

    Como se especulou há dias, as perdas da Petrobras por causa da corrupção chegam a R$ 6,2 bilhões. Como tudo que se trata da gestão da estatal, essa conta não convenceu, pelo menos não até agora. Além do que foi “capitalizado indevidamente” por causa  da Lava Jato, a desvalorização dos ativos da empresa somou outros R$ 44,6 bilhões no período.

    Numa conta grosseira, a diretoria da Petrobras estaria destinando às fraudes, apenas 12% de todas as perdas contábeis presentes no balanço publicado. E os outros 88% seriam decorrentes de má gestão? Não seria muita incompetência causar um prejuízo de mais de R$ 40 bilhões?

    Parece que foi grosseira também a conta feita por Ademir Bendine e sua equipe para chegar aos R$ 6,2 bilhões das propinas pelos negócios. Seria simples assim: se a diretoria passada cobrava 3% de cada obra/negócio e, levando em consideração o tamanho do esquema investigado pela Operação Lava Jato, então o montante apresentado parece razoável.

    Mesmo com balanço publicado, ainda há muito nevoeiro nessa pista. Nesta quinta-feira a diretoria da Petrobras vai passar horas em teleconferências com investidores e analistas daqui e do exterior – Londres e Nova York. A participação no chamado “call” com a estatal está concorridíssima. Talvez seja possível chegar a uma conclusão mais aceitável depois de ouvir mais um pouco o que a Petrobras tem a explicar.

    Por enquanto, é possível apenas reconhecer a coragem, se não a ousadia, dos executivos da maior estatal brasileira, admitirem tamanha incompetência na gestão da companhia nos últimos anos. Porque, segundo eles, a corrupção levou pouco do caixa da Petrobras em comparação com as perdas apresentadas no tão esperado balanço do terceiro trimestre de 2014.

  • Petrobras – as três perguntas que não querem calar

    Agora não tem mais volta. Não há engarrafamento, dor de barriga ou barranco caído que possa impedir a publicação do balanço da Petrobras nesta quarta-feira, dia 22 de abril. Com mais de 150 dias de atraso, as contas do terceiro trimestre de 2014 da maior estatal brasileira serão finalmente conhecidas.

    Essa já é a divulgação mais esperada do ano (pelo menos até agora), mas é bom ter paciência porque ela só vai acontecer no final do dia, início da noite. O ritual começa às 11 da manhã, com a reunião do Conselho Fiscal da empresa. A diretoria da Petrobras vai apresentar os números, os cálculos e conclusões aos executivos que representam a União, os acionistas preferenciais, os acionistas minoritários e os funcionários da companhia.

    Boa parte dos conselheiros já deve chegar bem informado sobre o tamanho do buraco causado pela corrupção na Petrobras desde 2004 porque eles tiveram acesso ao balanço com um dia de antecedência. Mesmo assim, isso não deve alterar a agenda do Dia do B – Dia do Balanço. Até porque, como a crise também chegou ao conselho, com a troca do presidente do comitê (Guido Mantega por Luciano Coutinho) e a renúncia do representante dos acionistas minoritários, o clima dos encontros já começa azedo.

    Quando a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) liberar o documento, jornalistas, analistas de empresas, investidores...vai todo mundo correr para encontrar a resposta a três perguntas que não querem calar: de quanto foi o buraco provocado pela corrupção? De onde foi tirado o dinheiro das propinas pagas pelos antigos diretores da Petrobras? Quais as ressalvas que foram feitas pelos auditores externos para aprovarem o balanço?

    Se a diretoria conseguir convencer sobre esses três pontos – a metodologia do cálculo, a conta do roubo, os ativos envolvidos, as dúvidas que ainda precisam de resposta - já dá para começar a mudar o ânimo com o futuro da estatal. O rombo aconteceu, o estrago foi feito e a Petrobras precisa urgentemente voltar a operar como uma petrolífera gigante que é. A gestão de fornecedores e parceiros da empresa está comprometida. O endividamento é altíssimo, mais de R$ 300 bilhões. A necessidade de caixa é grande para cumprir com um plano mínimo de investimentos.

    E o Brasil? O Brasil segue na árdua tarefa de arrumar a casa. Lá dos Estados Unidos, onde passou a semana, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, contou que o humor do mercado com o país já melhorou, apesar de não saber se o pior já passou. Talvez a fase da chegada, do anúncio das medidas amargas já tenha deixado o pior para trás. Certamente o pior ainda não passou para a inflação, para a alta nos juros, para o PIB negativo e muito menos para a Petrobras. Mas a gente precisa começar algum dia, dando o primeiro passo. 

Autores

  • Thais Herédia

    Jornalista, especialista economia e política; é colunista da Globo News. Foi assessora de imprensa no BC e gerente de comunicação do Carrefour. Na TV Globo, foi repórter de economia do Bom Dia Brasil. Tem pós-graduação em finanças pela FIA.

Sobre a página

A jornalista Thais Herédia comenta os principais fatos econômicos do país e do mundo e explica como eles afetam a sua vida.