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  • PIB – entre a impotência e a realidade

    O Brasil tem mais de 12 milhões de desempregados - 3,6 milhões a mais do que há um ano. Sozinho, este dado mostra o tamanho da perversidade da recessão que atinge o país. O PIB caiu 0,8% no terceiro trimestre, segundo IBGE, somando dez períodos consecutivos de queda. É o pior momento da economia brasileira em um século, uma realidade chocante.
     
    Não faz muito tempo chegou-se a acreditar que o país já caminhava pelos trilhos da recuperação. A melhora da confiança de consumidores e empresários liderava o país na crença de que o pior já havia ficado para trás. O descolamento entre as expectativas e a realidade faz o tombo de agora ser mais doído e cruel. A recessão tem garras mais compridas e será mais difícil se livrar delas.
     
    Todos os dados relevantes sobre a atividade econômica no terceiro trimestre do ano são negativos. Todos! Agropecuária, indústria e serviços tiveram queda. O consumo das famílias e até do governo recuou. O mais preocupante de todos é o investimento, que despencou 3,1% entre julho e setembro. Isto nos mostra que aquela confiança em alta não se transformou num centavo na vida real.
     
    O ponto da virada nas expectativas aconteceu em maio, quando Michel Temer assumiu a presidência da República interinamente. Com uma equipe econômica impecável, cheia de credibilidade, e uma agenda de reformas que poderia nos tirar da rota de colisão com a insolvência, o novo governo vendeu sonho, mas o país recebeu uma dura realidade.
     
    Realidade que é consequência dos anos de equívocos e de uma absoluta irresponsabilidade na condução dos cofres públicos e na escolha das políticas que regem o país. Anos comandados pela ex-presidente Dilma Rousseff e sua Nova Matriz Econômica que acreditava que dinheiro público é infinito. Como todo dinheiro existente no mundo, o público também tem fim.
     
    Realidade que foi agravada nos seis meses do governo de Michel Temer.  Os avanços esperados nas reformas foram atropelados pela crise política que não arrefeceu com o fim do impeachment, ao contrário. A Lava Jato ronda a cúpula do governo e os interesses privados se sobrepõem aos desafios mais relevantes do país.
     
    A aprovação sem obstáculos da PEC do Gasto perdeu espaço para o agravamento da crise nas contas dos estados. Michel Temer cedeu aos governadores, assim como fez com o reajuste salariais de categorias privilegiadas do serviço público. As propostas para reforma da previdência até agora não apareceram por receio de enfrentar a reação popular. O debate é inevitável e se não for encarado com firmeza, o país vai ser sugado pelo gigantesco e crescente Estado brasileiro.
     
    A sociedade brasileira foi levada a acreditar que o rombo nos cofres estaduais surgiu de um dia para o outro e não escapou de ser engolida pela irresponsabilidade dos governadores compartilhada com os desmandos do governo petista. A gestão pública está paralisada diante do abuso da corrupção e de seus governantes. A prisão de dois ex-governadores do Rio de Janeiro escancara o tamanho da ousadia perversa.
     
    Pior do que a constatação de que a recessão vai continuar nos castigando por mais tempo, é a sensação de impotência diante do quadro político que governa o país. A queda do PIB neste terceiro trimestre não será a última e tudo indica que a recuperação sonhada para 2017 pode se revelar uma ilusão. Os mais de 12 milhões de desempregados foram esquecidos. Quantos mais terão que se juntar a eles para que Brasília reaja ao caos instalado no país?

  • O PIB e suas previsões

    Em 2012, o então ministro da Fazenda do governo Dilma, Guido Mantega, de tanto inflar suas previsões para a economia ganhou apelido de “levantador de PIB”. O ex-ministro errava tanto que dava até dó – do Brasil, não dele. Afinal, cada vez que uma autoridade tão importante quanto o chefe da equipe econômica fala alguma coisa, o país leva a sério – ou deveria. Depois de ser o mais longevo ministro da Fazenda da democracia, Guido Mantega deixou o cargo de forma melancólica, praticamente demitido pela chefe através da imprensa. Ainda assim, até deixar o cargo em dezembro de 2014, o economista resistiu em rever suas posições e mais ainda em abraçar uma causa mais realista. 

     

    Para relembrar as previsões e os resultados: 

     

    2011 – O Brasil tinha alcançando o novo milagre com PIB “chinês” de 7,5% em 2010, mas estava claro que seria impossível manter o ritmo nos anos seguintes. No começo do ano, a previsão de Guido Mantega falava em um crescimento de 5,5% no primeiro ano de Dilma Rousseff. Acabou fechando em 2,7%. 

     

    2012 – Assustados com a brecada da economia os integrantes da equipe econômica resolveram largar as rédeas da inflação e dos gastos públicos. Foi naquele ano que o Banco Central baixou os juros até 7,25%, o governo desonerou carros, eletrodomésticos e usou bancos públicos para distribuir crédito subsidiado. No meio do ano o Banco Credit Suisse revisou de 2% para 1,5% a previsão de crescimento do PIB. “Uma piada”, disse Mantega, que esperava uma alta entre 4% e 5%. Deu 0,9%. Alguns meses depois o IBGE revisou o resultado de 2012, mas um pouco antes de divulgar o novo número Mantega fez sua chefe passar por um enorme constrangimento. Dilma disse em entrevista a um jornal britânico que o PIB de 2012 seria revisto para uma alta de 1,5%, ante o resultado preliminar de 0,9% já apresentado pelo IBGE. Deu 1%.

     

    2013 – Nem o fiasco do ano anterior abalou a teimosia de Guido Mantega. Aquele ano foi emblemático, marcado pelas manifestações de junho que levaram milhões de brasileiros às ruas contra aumento de preços, revelando insatisfação com a condução da economia. Em 2013 o governo abusou da contabilidade criativa, baixou a conta de luz na marra, aumentou ainda mais os gastos públicos e controlou outros preços monitorados na expectativa de conter a inflação crescente. No início do ano, Guido Mantega esperava um PIB de 3,5%. Deu 2,3%. 

     

    2014 – Em 2014 o ex-ministro da Fazenda dobrou a dose do anabolizante das suas estimativas para o que ele chamou de “novo ciclo da economia” que estaria começando. Para Mantega, o Brasil deveria crescer, em média, 4% ao ano entre 2014 e 2022. E ele não contava apenas com o consumo das famílias, que atingiu seu auge com os estímulos concedidos pelo governo. Mantega antevia investimentos subindo 7% ao ano e o PIB per capita, 33,2%. Para 2014, o ex-ministro queria um PIB de 3%, mas foi baixando a bola durante ano, contrariado. O PIB ficou em 0,1%. Os investimentos caíram 4,4% e a renda per capita teve queda de 0,7%.

     

    As premissas das estimativas de Mantega eram muito ruins e não tinham como dar certo. A recessão começou em abril de 2014 e o quadro se complicava mês a mês. À parte do comprometimento do futuro do país, os números inflados do ex-ministro também serviam para administrar as contas públicas e corroborar a desastrosa Nova Matriz Econômica de Dilma. Ao prever um crescimento mais robusto, Mantega inchava a expectativa de receitas para cobrir o orçamento federal e prometia uma meta fiscal de vento. Esta prática ficou suspensa no curto período em que Joaquim Levy teve poder e foi retomada com Nelson Barbosa em seu brevíssimo mandato na Fazenda. 

     

    Henrique Meirelles, quando assumiu a pasta prometendo realismo e transparência, queria, entre outras coisas, espetar um alfinete no balão de receitas que pairava sobre a esplanada dos ministérios e o Congresso Nacional – que aliás assoprou muito essa bexiga. Por isso levamos tanto susto com o tamanho do rombo estimado para 2016 e 2017 – R$ 170 bilhões e R$ 139 bilhões de déficit, respectivamente. Estes números são resultado das despesas conhecidas versus as receitas esperadas com a arrecadação, levando em conta o quadro recessivo da economia e os gastos obrigatórios crescentes da União. 

     

    Assumido o tamanho do buraco, o desafio agora é controlar o aumento das despesas e contar com mais receitas para não incorrer no constrangimento de não cumprir o acordado. A forma mais cruel de gerar caixa para o governo no curto prazo, principalmente com a economia em crise, é o aumento de impostos – solução que o governo ora nega, ora ameaça que vai adotar. O receio extrapola a meta de 2016 porque já há preocupações com o que pode acontecer no ano que vem. Para ficar naqueles R$ 139 de déficit, são esperados mais de R$ 55 bilhões em receitas extraordinárias que o governo espera acumular, em parte, com vendas de ativos e concessões públicas. 

     

    Se quiser evitar mais impostos o governo tem que torcer por uma melhora mais robusta da economia, ou seja, uma retomada mais forte do PIB, o que faria crescer a arrecadação com a base tributária já existente. As expectativas vêm melhorando e, na média, os analistas e economistas de mercado esperam uma alta de 1,1% em 2017 – segundo último relatório Focus. Notícias de bastidores de Brasília dão conta de que Henrique Meirelles que aumentar a estimativa para o PIB que consta na Lei de Diretrizes Orçamentárias de 1,2% para 1,6% – o que poderia engordar o caixa da Receita Federal. 

     

    Contei toda esta história para chegar à seguinte conclusão: se Meirelles realmente mudar a estimativa na LDO ele não estará, necessariamente, repetindo a estratégia de Guido Mantega. Assim como as premissas do ex-ministro eram absolutamente equivocadas, as premissas de Meirelles são mais realistas e bem prováveis. Já há economistas que esperam um PIB de 2% para 2017, o que seria ainda melhor para aumentar as receitas do governo. 

     

    Estamos distantes do final do ano que vem. Até aqui está quase certo que já passamos do fundo do poço da recessão e a atividade deve se estabilizar neste segundo semestre. A confiança segue como a condutora desta trajetória e ela está também em fase de recuperação, é inequívoco. A batalha mais difícil está acontecendo agora, que é a do encaminhamento do ajuste fiscal no Congresso Nacional. Sem a aprovação das medidas – especialmente a que estabelece teto para os gastos públicos – um PIB maior pode até ajudar, mas não vai conseguir resolver o desequilíbrio gigante que afeta a gestão do estado brasileiro.

  • O nó da retomada

    A surpresa com o ritmo mais lento da economia está ecoando nos indicadores de atividade revelados nesta semana. Nesta quinta-feira (14) foi a vez do IBC-Br, prévia do PIB calculado pelo Banco Central, que teve queda de 0,51% em maio – o esperado era uma retração bem mais leve, de 0,1%. Antes do índice do BC, a Pesquisa Mensal de Serviços e o desempenho do varejo, ambos relativos a maio e apurados pelo IBGE, também deram susto ao revelar quedas mais expressivas do que as previsões. Os serviços caíram 6,1%, contra 4% esperados; e o comércio amargou perdas de 1% quando a expectativa era de alta de 0,5%.  

     

    A mesma dúvida que coloquei aqui no último post se repete: por que estão errando tanto nas estimativas? O culpado são as pessoas: o que elas sentem, esperam e têm disposição para reagir. Uma coisa é acreditar que as coisas vão melhorar no futuro próximo, outra é viver um presente ainda muito duro e ameaçador. Os indicadores de confiança já captaram essa esperança renovada, o que influencia na montagem dos cenários feitos pelos analistas. Provavelmente superestimaram o efeito disso nas decisões que estão sendo tomadas agora, no dia a dia das famílias. 

     

    O desemprego e o custo altíssimo do crédito pesam mais do que qualquer sensação de recuperação à vista. O ajuste do mercado de trabalho continua espalhando insegurança, o que diminui a coragem de assumir um compromisso de consumo agora, mesmo que haja alguma folga no caixa. Aqui há um outro componente que é o grau de endividamento das famílias que segue alto – com consequente piora da inadimplência. Mesmo para quem já fez ajustes nas dívidas, assumir um novo financiamento ou crediário com os juros atuais... é insano. 

     

    A taxa de juros básica da economia está em 14,25% há um ano. Desde 1999, quando adotamos o regime de metas para inflação, o país não convive tanto tempo com uma taxa estagnada. Se ela estivesse bem mais baixa seria um ótimo sinal de estabilidade da moeda e da economia. Mas neste patamar, ela escancara o tamanho do desequilíbrio econômico que vivemos hoje: recessão com inflação alta. Por que manter o dinheiro tão caro se não há consumo? A resposta é tão dura quanto irritante. A inflação subiu por excesso de demanda num quadro de oferta insuficiente, isto é óbvio. O mais grave é que esta demanda foi alimentada por uma renda “nascida” dos cofres públicos, não da geração de riqueza do país. 

     

    Aqui chegamos ao grande nó que precisa ser desatado para fazer a economia voltar a caminhar para frente: o desequilíbrio das contas públicas. Primeiro o governo precisa enxugar a quantidade de recursos que injetou no mercado – até porque, para imprimir tanto dinheiro o endividamento público explodiu. Depois, é preciso adotar medidas que limitem a farra com os cofres públicos e estimule o setor privado a voltar a investir. Esta é a dinâmica esperada e a única que pode devolver a estabilidade da moeda e do emprego. 

     

    Com a chegada do deputado Rodrigo Maia à presidência da Câmara as chances de aprovação das medidas que limitam os gastos e começam a reorganizar a gestão dos cofres públicos ganham mais chances de serem aprovadas no curto prazo. A primeira sinalização dos efeitos deste avanço já chegou. A reação do mercado financeiro fazendo a bolsa de valores subir e o dólar cair. Se a confiança e a disposição de investimento deles melhoram e se mantém nesta trajetória, em algum momento a economia “real” começa a sentir a mesma coisa. 

     

    Enquanto isto não acontece, a batalha das famílias brasileiras segue árdua e sob a névoa da insegurança. É importante dizer que a surpresa com os últimos indicadores não muda as previsões de recuperação da economia em 2017 – num processo que deve começar no segundo semestre deste ano. O desempenho negativo registrado agora vai mexer sim com as expectativas sobre os próximos resultados, mas dificilmente vai nos tirar da trajetória de retomada – leve e cambaleante, mas retomada. E isto é apenas “meia” boa notícia.

  • O futuro refém do presente

    A recessão é profunda. Tem economista que já chama de depressão econômica o momento que atravessamos no Brasil. A diferença entre uma e outra é que, o que era para ser conjuntural (recessão), passa a ser estrutural (depressão). Até março acumulamos cinco trimestres seguidos de desempenho negativo do PIB, com queda de 0,3% nos primeiros três meses do ano e de 5,4% na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo dados do IBGE. A variável mais importante para reverter este quadro é só uma: a confiança. Enquanto ela não se restabelecer, nenhum personagem deste palco dramático em que estamos vai tomar alguma decisão que gere impacto positivo na economia. 

     

    Com a promessa de ser realista, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles soltou uma nota à imprensa em que o governo não só dá nome à gravidade da crise como a relaciona com o “pior dos seus castigos”, o desemprego.  "(o resultado do 1oTri) teve continuidade a mais intensa recessão de nossa história, a qual, dentre outros aspectos, gerou um contingente de 11 milhões de desempregados", diz a nota. O realismo de Meirelles até conforta porque implica em mais responsabilidade nas escolhas necessárias, mas não alivia o dia a dia das famílias brasileiras vítimas deste cenário.

     

    A leitura dos números que aparecem da decomposição do PIB calculado pelo IBGE é ainda mais árdua do que o próprio resultado que, aliás, veio menos pior do que era esperado pelo mercado (queda de 0,8). A geração de riqueza no Brasil está ruindo fortemente, impondo desde já um esforço bem maior para a recuperação. O consumo das famílias e os investimentos respondem por mais de 80% do resultado do PIB. No primeiro caso, a queda de 6,3% (tri2016/tri 2015) foi mais aguda do que o produto geral. Na rubrica do investimento, já são 10 trimestres seguidos de resultado negativo, ou seja, já faz dois anos e meio que o país não se prepara para crescer mais e com mais eficiência no futuro. 

     

    Olhar para frente é desalentador mas as probabilidades para acertar o caminho são grandes, mesmo que leve mais tempo e que a recuperação não seja seguida de uma disparada da economia – isso é improvável. Tudo depende das decisões que forem tomadas agora, inclusive as que que têm pouco impacto no curto prazo mas podem fortalecer os fundamentos e as instituições do país. Não haverá trajetória saudável e duradoura sem bons fundamentos e fortes instituições. 

     

    Olhar para o presente é mais penoso porque ainda não é possível imaginar como vamos terminar este ano corrente. Aqui, apesar da aceleração do desemprego, da falência de negócios, do fechamento de empresas e outros tantos efeitos nefastos da recessão, o risco está na governabilidade do país. Uma coisa é reconhecer a competência e a validade dos planos apresentados até agora pela nova equipe econômica. A outra é acompanhar o desmoronamento moral da política brasileira e com ela das lideranças que têm poder de decisões, como os congressistas. O fundo do poço, pela lente da macroeconomia, pode estar no segundo semestre deste ano. Mas ele desaparece da frente quando olhamos para o buraco escuro da falência política e o que ainda está por vir com as forças que combatem os esquemas de corrupção. 

     

    A gravidade da crise econômica não vai estancar ou ser resolvida se o país desistir de caças corruptos, ao contrário. Este enfrentamento precisa continuar incansavelmente. A questão é o custo que este momento, somado aos erros irresponsáveis do governo de Dilma Rousseff, vai impor ao país. E desta conta não poderemos fugir se quisermos construir uma nova via para o Brasil.

  • O que não está no balanço da Caixa

    O resultado da Caixa Econômica Federal no primeiro trimestre deste ano, sozinho, já causa muita apreensão. O lucro líquido caiu 45,9% no primeiro trimestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2015. Quando comparamos este desempenho com o dos três maiores bancos privados do país, é o medo que cresce. Bradesco, Itaú Unibanco e Santander - também registraram perdas entre janeiro e março, mas elas foram de até 6%. 

     

    As discrepâncias continuam. A Caixa anunciou uma leve queda na inadimplência das operações de crédito, que passou de 3,55% para 3,51% entre dezembro de 2015 e março de 2016. Em todo sistema bancário do país aconteceu o contrário: uma leve alta de 3,4% para 3,5%, segundo dados do BC, com tendência de alta. Para fazer frente aos riscos de não pagamento dos financiamentos o banco público fez um reforço de caixa de R$ 700 milhões. O provisionamento serve como um seguro contra calote dos clientes – pessoas físicas e empresas. Há uma semana o Itaú Unibanco apresentou seu balanço com aumento da inadimplência – de 3% em março de 2015 para 3,9% deste ano. E a provisão anunciada pelo banco privado foi de R$ 2 bilhões. 

     

    O estoque de crédito no Brasil já passa de R$ 3 trilhões, segundo Banco Central. Com a política de incentivo ao consumo adotada pelo governo, os bancos públicos avançaram sobre o sistema e passaram a responder por mais da metade do mercado há cerca de dois anos. Cobrando juros mais baixos as instituições públicas aumentaram a concessão de financiamentos com critérios de risco mais relaxados do que os do setor privado – que não contam com um Tesouro Nacional para bancar seus problemas. Em fevereiro passado, o peso dos bancos públicos no mercado chegou a 56,5%, o que aumenta sua responsabilidade, ou pelo menos deveria. 

     

    Enquanto as concessões de novos empréstimos nos bancos privados caíram 2,6% nos últimos doze meses terminados em março, nas instituições públicas elas subiram 6,9%. A diferença entre os dois setores está exatamente no rigor das análises para aprovar novos financiamentos. As instituições privadas passaram a ser mais rigorosas quando os juros subiram, a inflação não cedeu, a recessão se aprofundou e o endividamento das famílias cresceu. 

     

    Na Caixa, que é 100% da União, esta realidade dramática da economia brasileira parece não se impor – a gestão se dá com a visão de um outro Brasil, só pode. Mesmo diante da gravidade da crise o governo continua esticando a corda e aumentando a exposição do banco que é o maior instrumento de financiamento imobiliário do país. O que separa o “mundo” da Caixa é o patrão. Se alguma coisa der errada, o Tesouro Nacional aparece para cobrir os desequilíbrios – como já aconteceu em outras passagens da história. Mas quem paga a conta mesmo é “patrão do patrão” da Caixa: nós todos.

  • 10 razões para ficar otimista com o Brasil

    Neste período de transição de governo e muita fervura em Brasília, a discussão sobre as medidas que podem (ou devem) ser adotadas pela equipe econômica que se forma em torno de Michel Temer podem ser resumidas assim: as possíveis, as prováveis, as inevitáveis, as obrigatórias, as improváveis e as “nem pensar”. Olhando de longe este cenário inusitado, os analistas estrangeiros do Citi conseguiram elaborar um relatório elencando 10 motivos para ficar otimista com o Brasil. 

     

    ‘Ficar otimista’ em linguagem de mercado financeiro quer dizer: comprem ativos brasileiros. Para ser mais específica, o Citi avisou que está cada vez mais “bulish” com o Brasil, ou seja, com espírito de “touro”, o que quer dizer, alguém disposto a tomar risco, ser mais ousado e destemido. Isso não significa que não haja ameaças no caminho. O relatório enviado a clientes e obtido pelo Blog pondera que elas estão aí e podem haver também “serias consequências” se o novo governo não alcançar vitórias logo no início da gestão. 

     

    As reformas estruturais devem ser o centro das atenções - não porque o Brasil teria escolhido fazê-las agora, mas porque não há mais como evita-las (as inevitáveis). Se tudo correr bem, ou seja, se Michel Temer navegar rápido com força nos primeiros meses de seu governo, o Citi espera que a Bolsa de Valores de São Paulo alcance novamente os 60 mil pontos – o que não acontece desde as eleições de 2014. Aqui no Brasil, muitos economistas evitam tamanha euforia. Até porque, olhando para a realidade das empresas, a intensidade do desequilíbrio das contas públicas, mesmo que Temer acerte na saída, não há fundamentos econômicos que sustentem uma melhora tão forte do mercado. Mas essa turma tem uma dinâmica própria e vai sempre cobrar um preço para entrar e para sair. 

     

    A seguir, um resumo das 10 razões para entrar no mercado brasileiro:
     
    1) A chance de troca de governo só cresce, e a possibilidade de Dilma Rousseff encontrar algum respaldo para voltar ao poder encolhe.
     
    2) O forte movimento de abandono do PT e de proximidade com a presidente para, não só evitar uma derrocada, como tentar uma chance em 2018.
     
    3)  Michel Temer se comprometeu a não concorrer à eleição em 2018, o que aumenta chances de apoio maciço na Câmara dos Deputados.
     
    4) O PSDB se juntou ao novo governo, não apenas como apoio no Congresso, como integrante de ministérios.

    5) Henrique Meirelles como Ministro da Fazenda. Os analistas do banco veem o ex-presidente do BC com força política e executiva para comandar os ajustes necessários.
     
    6) As reformas estruturais consideradas um tabu político, agora estão sendo vistas como prioridades do "novo governo".
     
    7) A privatização do setor de infraestrutura surgindo como potencial vetor da retomada do crescimento.
     
    8) Aumento dos preços de commodities no mercado internacional (relevantes para o Brasil, como minério de ferro, petróleo e soja).
     
    9) As taxas de juros nos contratos de longo prazo negociados no mercado estão em queda e as expectativas de inflação estão caindo para 2016 e 2017.
     
    10) As contas externas estão se fortalecendo. Os analistas esperam um resultado positivo da balança comercial de U$ 54 bilhões, ante o negativo de US$ 7 bilhões do ano passado. O documento também cita o desmonte das intervenções do BC no mercado de câmbio como fator positivo.

Autores

  • Thais Herédia

    Jornalista, especialista economia e política; é colunista da Globo News. Foi assessora de imprensa no BC e gerente de comunicação do Carrefour. Na TV Globo, foi repórter de economia do Bom Dia Brasil. Tem pós-graduação em finanças pela FIA.

Sobre a página

A jornalista Thais Herédia comenta os principais fatos econômicos do país e do mundo e explica como eles afetam a sua vida.