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  • Ser otimista ou pouco otimista com Brasil? Eis a questão!

    A Comissão Econômica para América Latina e Caribe, a Cepal, acaba de revisar para cima sua projeção de crescimento para a região em 2017 e 2018: 1,2% e 2,2%. O Brasil é a maior economia do continente e certamente a melhora no ritmo da retomada na parte de cá colaborou para a revisão. Ao mesmo tempo, olhar como vão se sair os vizinhos pode comprometer o alento que muita gente vem tendo com a recuperação da nossa economia.

     

    O PIB do México deve crescer 2,2%, da Argentina, 2,4%, da Colômbia, 1,8% e o Brasil, apenas 0,7%. Como tudo na vida depende do ponto de vista, se a gente ficar olhando para os lados, a frustração será inevitável. Não só pela força do crescimento, mas pela noção de que perdemos o bonde de retomada da economia internacional, que tem espalhado benefícios até os cantos – isso tudo porque erramos sozinhos.

     

    Deixando a melancolia de lado e mudando a perspectiva para as mudanças que vêm acontecendo no território nacional, as revisões para o PIB brasileiro estão acontecendo e é unanime a visão de que ele será maior do que se esperava há pouco tempo. A maior dose de otimismo com a economia doméstica vale também para 2018 com gente prevendo alta de até 4% no ano que vem.

     

    Na praça local, os maiores bancos privados refizeram as contas e mudaram suas expectativas para cima. O FMI (Fundo Monetário Internacional) também acaba de revisar as projeções indicando alta de 0,7%, ante 0,3% da estimativa anterior para 2017. A mesma coisa bancos e entidades fizeram para 2018 e o FMI ficou na ponta dos menos otimistas com a retomada. Na tabela em anexo, o primeiro dado sobre o resultado esperado para o PIB é do Focus, relatório preparado pelo Banco Central com pesquisa feita com 100 analistas no mercado brasileiro. Em seguida, bancos e instituições com peso para formar opinião sobre o país.

     

    Para 2017, as expectativas estão mais alinhadas do que para 2018. Muitos bancos fizeram uma sintonia mais radical para o ano depois de constatar a força que o consumo das famílias exerceu sobre comércio e serviços de abril para cá. Bradesco, por exemplo, saiu de uma previsão de 0% para uma alta de 0,7% para este ano. De todas as justificativas que surgiram para este movimento, a mais sensível diz respeito ao descolamento entre a sensação de horror com os escândalos de corrupção e as atitudes dos políticos em Brasília, e a vontade de retomara a vida, o negócio, o trabalho.

     

    Disto resultou a retomada da atividade, claro, viabilizada pela redução brusca e rápida da inflação e, como consequência, dos juros, que ainda estão em trajetória de queda. A cereja do bolo foi o apetite dos investidores pelos ativos brasileiros que têm bom preço e uma promessa de um país que pode dar certo se fizermos uma boa escolha em 2018. Com dólar mais barato, as importações também se viabilizaram e injetaram gasolina nesta engrenagem frágil e lenta da retomada que vem sendo puxada pelo consumo das famílias e que tem se revertido em contratações no mercado de trabalho.  

     

    Ao ler os comentários dos analistas que validam as projeções, dois pontos se destacam para explicar a moderação dos 'menos otimistas' para o ano que vem: a recuperação do investimento e os abalos que a crise política e as eleições podem provocar. Nem um, nem outro mostra sinais de calmaria ou melhora, pelo menos por enquanto. Talvez o programa de concessões e privatizações do governo, programado para o ano que vem, possa dar uma bela empurrada no investimento de forma mais sustentável. Mas se a crise politica esquentar, as dúvidas aumentam e o calendário cresce no planejamento dos investidores.

     

    É certo que novas revisões vão acontecer e, diante do cenário atual, elas devem ser positivas ao longo dos próximos meses. O Banco Central, e não apenas o parlamento, será um dos líderes condutores deste processo. Enquanto ele vir que há espaço para seguir cortando os juros, vai provocar reações mais otimistas nos analistas e formadores de opinião. Não tem problema o FMI ficar com pé atrás sobre 2018. Seria surpresa se fosse o contrário. Talvez, a ponderação colabore para calibrar alguma euforia desmedida que sempre surge em ciclos de retomada.

     

    PROJEÇÕES PARA PIB 2017 e 2018

      
    FOCUS do BC            0,7%         2,43%             
                
     
    ITAÚ UNIBANCO       0,8%         3%                                       
                  
     
    BRADESCO               0,9%        2,8%               
                  
     
    SANTANDER            0,8%           3,2%                     
                  
     
    SAFRA                      0,6%            2,5%                    
                 
     
    IBRE/FGV                 0,7%           2,2%                    
                
     
    IFI                              0,7%           2,3%          
    (Instituição Fiscal Independente)               
                
    FMI                            0,7%            1,5%                     
                 
     
    CEPAL                     0,7%              2,2%
                 

     

  • Endividamento das empresas pode atrapalhar a recuperação, mostra pesquisa da Fiesp

    A crise econômica que atravessamos já é a pior do século pelos dois anos seguidos de recessão profunda ‘nunca antes vividos na história desse país’. Mesmo que haja alguma recuperação em 2017, muito dos danos causados pelo colapso econômico não terá sido superado. É o caso do endividamento das empresas e das famílias brasileiras. Uma pesquisa feita pela Federação das Indústrias do Estado de S.Paulo (Fiesp) mostra que 42% das empresas paulistas podem levar até 10 anos para pagar as dívidas que acumularam.
     
    “Esta é a maior crise de todos os tempos, é também a crise que está durando mais. No passado, a gente tinha um ano de crise e, em seguida, um ano de crescimento forte do PIB. A maioria das empresas do Brasil todo, não só do estado de São Paulo, não tem caixa para pagar as despesas financeiras das dívidas. O que gera uma preocupação enorme porque a situação financeira delas é gravíssima”, disse ao Blog José Ricardo Roriz Coelho, Vice-Presidente da Fiesp, coordenador da pesquisa.
     
    A Fiesp entrevistou 1063 empresas em todo estado e os dados mostram alto comprometimento financeiro das empresas. O endividamento aumentou em 2016, em relação a 2015. Para os 20% das empresas que diminuíram as dívidas entre 2015 e 2016, metade delas conseguiu fazê-lo sacrificando o lucro para quitar parte do débito. Para 39% melhorou a expectativa para capacidade de pagar juros e amortizações das dívidas em 2017. Porém, 36% das empresas não esperam alteração nas condições do caixa e 20% esperam piora.
     
    “Depois de não conseguirem pagar o serviço da dívida, as empresas deixam de pagar os impostos. Há muito desemprego represado porque elas preferem não demitir porque não conseguem arcar com os custos da dispensa do funcionário. Quando tem uma empresa que precisa entre 3 e 5 anos de geração de caixa para pagar sua divida, ela começa a ter dificuldade para pegar crédito, renovar financiamentos. Como vai crescer assim?”, questiona o executivo da Fiesp.
     
    A Fiesp defende que o governo intervenha nesta situação com um plano de crédito e “juros adequados” para dar às empresas. Caso contrário, a expectativa de recuperação da economia pode se frustrar. Em 2016, quando os índices de confiança dispararam com a chegada do novo governo, a atividade não respondeu.  O alto endividamento das empresas foi a justificativa para explicar a falta reação do PIB.
     
    Com a crise fiscal e as medidas que o governo vem tomando, especialmente com corte de subsídios, é improvável que haja alguma política de incentivo por parte do setor público para ajudar a indústria. A queda da taxa de juros que está sendo promovida pelo Banco Central é o caminho apontado pelo governo para estimular os bancos a flexibilizarem o crédito e colaborarem com a recuperação das empresas.
     
    “O governo não está enxergando. Eles estão com preocupação fiscal, que é válida, mas não estão percebendo que, pelo lado da receita de impostos, se as empresas não tiverem lucro, não vão pagar os impostos. Estamos entrando num ciclo vicioso cada vez pior, com as empresas na lona como estão sem capacidade de voltar a crescer”, alerta José Ricardo Roriz.

  • De onde tirar respostas para o Brasil?

    Evento com executivos em São Paulo
    O que leva mil quase mil executivos a se reunirem durante toda manhã no subsolo de um hotel em São Paulo, em plena terça-feira, dia chave para a reforma da previdência em Brasília - condição fundamental para a volta dos investimentos e da confiança na economia?

    Faço esta enorme pergunta introdutória ao testemunhar o evento promovido pelo banco Itaú Unibanco. Estes encontros são comuns e recorrentes na capital paulista, mas a presença maciça de empresários, que são os maiores clientes do banco, chamou minha atenção.

    São tempos difíceis para construção de cenários sobre o futuro. E a tomada de decisões está pendurada fragilmente na expectativa da aprovação das reformas estruturais e na superação do caos político instalado na república - que foi anos comandada sob vergonhoso esquema de corrupção.

    Os convidados do Itaú vieram ouvir o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn e esperavam assistir à participação do presidente da Câmara dos Deputados, RodrigoMaia - que cancelou a presença na última hora. A discussão sobre o futuro da China e a visão do Brasil do presidente do banco, Roberto Setubal, também estavam no roteiro. O ministro Henrique Meirelles ficou encarregado do encerramento do encontro.

    Durante o painel do presidente do BC, os jornalistas em Brasília anunciaram que a leitura do parecer da reforma da previdência que era esperada para hoje havia sido cancelada, o que mexeu no humor no mercado, claro. Mas não deu tempo de repercutir com ele a surpresa negativa.

    Ilan Goldfajn repetiu as premissas expostas pela ata do Copom divulgada nesta manhã. A taxa de juros vai continuar caindo e, se a reforma da previdência for aprovada, as perspectivas para um juro civilizado se confirmam.

    Nada que Ilan e outros participaram disseram escapou do que tem sido repetido incansavelmente na mídia e em eventos parecidos, promovidos Brasil a fora. Então por que abrir mão de uma manhã inteira para presenciar pouca novidade?

    O que os atrai é o olho-no-olho, a temperatura entre seus pares, a conversa no cofffee-break, a expectativa de que uma pergunta inusitada da plateia arranque alguma novidade dos palestrantes.

    As respostas ao que todos querem saber não vão se apresentar na grande sala do hotel em São Paulo. O que será do Brasil?

    Hoje a resposta está em Brasília, na Câmara dos Deputados, na comissão da reforma da previdência. O adiamento da leitura do parecer, de apenas um dia, adiciona incertezas de curto prazo mas ainda não é suficiente para causar pânico entre os investidores. Enquanto o pêndulo estiver minimamente equilibrado, as expectativas de aprovação da reforma se manterão.

    Enquanto ela não acontece, os salões de eventos vão seguir sendo disputados por quem quer se sentir mais acolhido em suas dúvidas e premissas sem respostas.

  • Grau de investimento está longe de voltar, dizem especialistas

    Uma equipe de analistas da Moody’s, agencia de classificação de risco, acaba de desembarcar no Brasil, segundo informação exclusiva do Blog. Eles vão passar a semana percorrendo setores do governo e também em conversas com economistas e consultores políticos para desenhar o mapa econômico e institucional do país. A visita é de rotina, como confirmaram a agência e fontes do governo.

    Faz um ano que nos tiraram o grau de investimento. A Moody’s foi a última agência a retirar a nota de bom pagador do Brasil, em fevereiro de 2016. Além de devolverem o país para o clube dos mais arriscados, a entidade completou o quadro com uma perspectiva negativa sobre o futuro - o que indica que novas quedas na nota poderiam acontecer. Esta avaliação passará agora por uma revisão.

    Um ano depois muita água correu pelos rios brasileiros e a situação é bem melhor agora do que lá, mas ainda estamos longe de ganhar estrelas pelos avanços.

    Conversei com um economista com muito trânsito no governo e que tem acompanhado de perto a gestão de Henrique Meirelles e sua equipe. Ele pediu para não ter seu nome revelado mas contou ao blog que pelos corredores em Brasília alguém deveria sussurrar aos ouvidos dos analistas de risco: “Se quiserem fazer um grande favor ao Brasil, não afrouxem agora a classificação de risco para o governo não soltar as rédeas da condução da economia”, ele contou.

    Em janeiro passado o ministro Meirelles disse em entrevista à Bloomberg, em Davos, que o Brasil estava muito perto de recuperar o grau de investimento.

    “Espero que seja antes de 2018”, disse à agência de notícias. Nada é impossível nesse mundo, mas é absolutamente improvável que isto aconteça.


    “Antes das eleições de 2018 não há chance de o Brasil ganhar de volta o grau de investimento. E depois disso, com muita sorte na aprovação das reformas, principalmente da previdência, as agências podem mudar de ideia. O máximo que pode acontecer agora é uma mudança na perspectiva para uma visão de estabilidade da economia”, disse ao blog o economista Alexandre Pundek, ex-secretário executivo do Copom, agora aposentado do Banco Central, Alexandre Pundek. Ele foi também assessor especial da diretoria de assuntos internacionais e durante muitos anos ajudou a construir as pontes de diálogo entre o governo brasileiro e as agências de classificação de risco.


    Sem terem combinado nem o tema, nem o recado, a diretora da Standard & Poor’s, Lisa Schineller, falou lá dos Estados Unidos durante um debate na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, sobre o tempo que pode levar para o Brasil conquistar de volta o grau de investimento: “Vai demorar vários anos e o país terá múltiplas tarefas”, disse Lisa aos espectadores do evento.

     
    Por “múltiplas tarefas” entende-se basicamente coisas que não têm nada de básicas: aprovação das reformas, controle do endividamento público, reversão o caos fiscal de estados e municípios, estabilidade política e institucional e, por último mas o mais importante, o crescimento da economia de maneira sustentável. Fácil? Não! Impossível? Também não, mas muito complexo.


    “As agências levam tudo em consideração. Claro que eles percebem que as coisas melhoraram, mas a situação fiscal do país continua muito ruim, a dívida pública ainda vai crescer alguns anos. Sobre as reformas, eles sempre nos cobraram isso. E quando ganhamos o grau de investimento em 2008, ganhamos sem que uma reforma tenha sido aprovada”, explicou Alexandre Pundek.

    Como é que conseguimos este feito, então?

    “Com as reservas internacionais. A gestão do Henrique Meirelles no Banco Central e toda conjuntura internacional levaram a um acúmulo enorme de reservas. O mercado percebeu que o tamanho das reservas contrapôs-se à divida externa pública e privada. Não havia mais risco de calote externo. Agora é diferente e a coisa mais importante que precisa acontecer para que o Brasil recupere o grau de investimento é voltar a crescer. Não voos de galinha, crescer com bons fundamentos e de maneira sustentável”, Pundek ponderou.

    A fórmula do economista, que é também condição para a recuperação da nota de bom pagador, não é simples, mas faz todo sentido. Mesmo depois de ter adotado o limite de gastos públicos e ainda que faça a reforma da previdência sem dissoluções da proposta original, quem vai colaborar para o equilíbrio das contas públicas é o crescimento do PIB. Para as agências há um indicador importante que é a relação entre o tamanho da dívida pública e o PIB. Esta relação está muito ruim hoje e crescente, pode chegar a mais de 80% nos próximos anos.

    Se a economia voltar a crescer, o primeiro efeito que gera é matemático, já que o denominador da equação cresce. Há também o aumento na arrecadação de impostos que melhora as contas do governo e ajuda na recomposição do já esquecido superávit primário - aquela economia que ajuda a pagar os juros da dívida pública. Mas este é um processo que leva anos para gerar estabilidade.

    “Dessa vez as agências deverão esperar até quando tivermos as reformas aprovadas. Especialmente a previdenciária mas as outras também como a trabalhista, a tributária, o que der para fazer. Grau de investimento, se tudo der certo, quem sabe no próximo governo ele volte”, me disse o economista em anonimato.

    Quem sabe?

  • Finalmente, os bilhões para estimular a economia

    O “vai devagar que estou com pressa” de Henrique Meirelles foi substituído por um “corre senão te atropelo” de Michel Temer. Em uma semana o governo fez anúncio atrás de anúncio para tentar reativar a economia. Só nesta quinta-feira (22) que aparecerem os primeiros bilhões de reais que podem socorrer os trabalhadores. A liberação de saques de contas inativas do FGTS pode injetar até R$ 30 bilhões, numa operação que não passa pelos cofres do Tesouro Nacional – que está vazio, by the way.

     

    Desde que assumiu com seu “dream team” econômico, uma agenda árida e extensa para ser aprovada, o presidente Temer só tinha anunciado bilhões “a mais” quando aumentou a previsão do déficit fiscal de R$ 96 bi para R$ 170 bilhões. Nos sete meses de governo, o peemedebista foi bom no bilhões “a menos”, com os cortes de gastos e o limite para a despesa pública para as próximas duas décadas.

     

    A saída encontrada com os saques do FGTS é inédita e não tem um custo direto para o caixa do governo. A fórmula não demanda crédito subsidiado ou desoneração de impostos, o que impactaria as contas públicas em frangalhos. Os efeitos não são imediatos, mas podem aparecer mais rápido do que as medidas estruturais que foram anunciadas até agora.

     

    Se conseguirem alívio no orçamento, renegociando dívidas com custo menor ou quitando débitos com dinheiro sacado no Fundo, os brasileiros poderão, quem sabe, em algum momento voltar a consumir – o que gera arrecadação de impostos. O dinheiro que está lá já é do trabalhador e rende míseros 3% ao ano, sem descontar a inflação. Sacar e usar para pagar uma dívida que custa entre 140% e 480% ao ano é no mínimo sensato.

     

    A cadeia de benefícios dos bilhões a mais não desqualifica as preocupações com a solidez e o propósito do FGTS. Principal fonte de financiamento da casa própria, o fundo trabalha num equilíbrio frágil. O problema é que a crise ganhou uma dimensão tão profunda que talvez seja mais barato fragilizar um bocado o FGTS do que deixar “o mercado” resolver sozinho os impasses dramáticos entre os trabalhadores e o sistema financeiro.

     

    Além dos bilhões do FGTS, o governo anunciou as medidas que flexibilizam as relações trabalhistas. Foi uma decisão politicamente ousada num momento de baixíssima popularidade e desgaste com entidades sociais. Mas essa briga é fundamental para garantir um revés nas expectativas para 2017 - para melhor. Se a proposta do “acordado sobre legislado” for aprovada, a distensão no mercado de trabalho pode reduzir o ritmo das demissões esperadas para o ano que vem.

     

    Temer e Meirelles vêm repetindo que não há mágica para recuperar a economia. E não há mesmo. Mas eles conseguiram sacar uns coelhos da cartola neste finalzinho do ano. Ainda há mais dúvidas do que respostas sobre a execução das novidades, mas a guerra das expectativas tem pressa. E para ajudar no empurrão, o Banco Central revelou que a perspectiva para inflação oficial de 2017 alcançou a meta de 4,5% e para 2018 está em 3,8%. Com isso, abre-se uma avenida para o Copom atravessar baixando os juros no ano que vem. 

  • 'Crescimento não depende de vontade política', diz ex-ministro

    “Quem gosta de pacote é presente bom”, diz o ditado. Quando não é nem presente, nem é bom, o pacote gera mais apreensão do que alegrias. Foi assim com todos os pacotes econômicos que os governos brasileiros já apresentaram e não será diferente com os próximos. Em entrevista ao jornal O Globo neste domingo (04), o presidente da República, Michel Temer, anunciou que o governo vai lançar 10 medidas “microeconômicas” urgentes para combater a recessão. Foi a resposta encontrada pelo presidente ao bombardeio para cima do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.


    O próprio Meirelles não quis dar detalhes sobre o que seriam as ações possíveis que pudessem provocar alguma combustão na economia. A única novidade que o ministro adiantou foi sobre a reforma da previdência, que será apresentada nesta segunda-feira (05) ao Congresso Nacional. Faltam 25 dias pra o ano acabar e, não valendo milagre, é difícil encontrar opções críveis para tirar o país da crise no curto prazo.   

    “Eu sinceramente não vejo como descobrir 10 medidas microeconômicas que sejam, primeiro relevantes, e segundo, viáveis de aprovação nos próximos 12 meses. A classe empresarial e a classe política acreditam que crescimento é questão de vontade política. As pessoas não se dão conta de que crescimento é um empreendimento complexo, um conjunto amplo de circunstâncias que englobam a confiança, o investimento, o consumo. O momento atual é de forte limitação ao crescimento”, disse ao Blog o ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega.

     

    Eu perguntei ao ex-ministro para tentar entender, por quem já sentou lá na Fazenda, de onde poderiam vir medidas eficientes e suficientes para aliviar a crise no curto prazo. Até porque, sem poder baixar impostos ou aumentar subsídios como foi feito no passado – que resultam em aumento de gastos – é difícil pensar em algo consistente que preencha dez itens.

     

    “O governo tem muitas informações, muitas fontes de avaliação (para escolher as medidas). Mas também pode ser um mero recurso de marketing político. Se for isso, pode piorar porque vai mostrar um governo desesperado. As medidas mais evidentes hoje são a reforma tributária, com chance zero, e a trabalhista que é dificílima. Mas isto é tarefa de longo prazo e não de transição como este.

     

    No curto prazo dá para melhorar o registro de empresas, mexer na lei de falências...sei lá, sempre tem alguma coisa. O risco é sair atarantado como (Guido) Mantega e Dilma fazendo medida todo dia, piorando o ambiente”, avalia Maílson da Nóbrega.

     

    Entre economistas há um consenso que esfria qualquer expectativa sobre novos pacotes: não há um plano B para saída da crise. O governo federal está sem os velhos instrumentos de estímulo à economia porque gastou todos os disponíveis e também os não recomendados na gestão do PT, principalmente depois da crise financeira mundial em 2008. As especulações sobre o enfraquecimento de Henrique Meirelles só fazem piorar a situação e, para conter os estragos, Michel Temer tem aparecido ao lado do ministro reforçando seu papel na condução da economia.

     

    “O momento exige muita serenidade. O Temer não tem saída. Ele não tem como recuperar a popularidade. Tem que achar uma forma de desarmar esse tipo de pressão (contra Meirelles).  Eu não sei qual é a melhor estratégia. Há várias experiências, como reunir líderes, conversar.

     

    O papel dos líderes políticos agora não é fazer pressão para reverter tudo isso. É apoiar, entender, conversar. E não achar que amanhã a economia vai começar a crescer. Não vai, pelo contrário, ainda vamos ver o aumento do desemprego. O estrago foi grande”, lamenta o ex-ministro.

Autores

  • Thais Herédia

    Jornalista, especialista economia e política; é colunista da Globo News. Foi assessora de imprensa no BC e gerente de comunicação do Carrefour. Na TV Globo, foi repórter de economia do Bom Dia Brasil. Tem pós-graduação em finanças pela FIA.

Sobre a página

A jornalista Thais Herédia comenta os principais fatos econômicos do país e do mundo e explica como eles afetam a sua vida.