Não é de espírito olímpico que os investidores estão se imbuindo na hora de se posicionar com ativos financeiros no Brasil. A bolsa de valores de São Paulo está se aproximando dos 60 mil pontos, uma marca psicológica que separa os tempos de pessimismo dos de otimismo com a economia brasileira. Nesta segunda-feira, o Ibovespa subiu 1,45%, a 59.145 pontos, maior patamar desde 5 de setembro de 2014 –  antes das eleições que reconduziram Dilma Rousseff ao seu segundo mandato. E agora, à espera pela confirmação do fim do governo do PT, os investidores retomam fôlego no mercado – não é por acaso.

 

2014 foi o ano das pedaladas fiscais, do controle forçado de preços da energia e dos combustíveis, das intervenções do Banco Central no câmbio, da contabilidade criativa, da explosão dos gastos públicos. Naquele período, há quase dois anos, o país estava no limite das barbeiragens na condução da economia. Se tivéssemos tomado a direção certa desde então, poderíamos ter evitado o agravamento da crise econômica – que não só vai durar mais tempo como será mais severa, mesmo com os primeiros sinais de estabilidade da atividade. 

 

Como sempre acontece, os mercados antecipam os ciclos para o bem ou para o mal. Foi assim em janeiro deste ano quando o Ibovespa, que agora ascende aos céus, afundou para os 37.500 pontos. Ou quando o dólar ultrapassou os R$ 4, também no primeiro mês deste ano. O país estava desgovernado com a saída do ex-ministro da Fazenda, Joaquim Levy, depois dele ter passado um ano se debatendo com o Congresso Nacional e apanhando dentro de casa dos colegas de esplanada de ministérios que não queriam nem saber de ajuste fiscal. Eduardo Cunha mandava e desmandava no Brasil e as previsões para economia eram as piores possíveis. 

 

Agora a recuperação do mercado de ações é uma das sinalizações de que o ciclo está mudando e os investidores estão buscando definir os preços dos ativos financeiros para esta nova etapa. Será que eles veem o que ninguém mais vê? Porque ainda assistimos a um aumento de preços, a piora nas expectativas para inflação deste ano, o desemprego segue em trajetória de alta e o país não vai escapar da recessão severa por dois anos seguidos, mesmo que haja estabilização até dezembro. Não, eles veem o mesmo que nós, mas eles saem na frente mudando os preços de tudo. Quem acertar mais, ganha mais. 

 

O que as operações financeiras indicam é que estamos saindo do ciclo negativo para o neutro – qualquer esperança acima disto é euforia e brincadeira para gente grande dos mercados. As altas seguidas da bolsa e as quedas consecutivas do dólar não são capazes de mudar o rumo da economia, longe disso. Este comportamento de manada dos investidores pode alimentar os canais de confiança, isto é fato. Mas se as expectativas não se concretizarem, as frustrações vão corrigir os exageros.  Há pouco mais de seis meses, tinha analista achando que o dólar poderia chegar até R$ 6 se a crise de governabilidade não se resolvesse. E agora dizem que a moeda americana pode cair da barreira dos R$ 3. O exagero está nas duas pontas e depende de muitas variáveis imponderáveis. 

 

Ao passar dos 60 mil pontos o Ibovespa não está garantindo que as empresas representadas no índice estejam salvas da crise ou em plena recuperação, ao contrário. A realidade dos fundamentos da economia é bem mais dura e os desafios ainda estão em fase de crescimento. A tolerância dos investidores com a lerdeza do governo com ajuste fiscal e o realismo da política que se faz em Brasília está em debate porque ela pode não ter tanto lastro assim. Como o bolso fala sempre mais alto, a paciência deles está sendo paga com os juros dos títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional. Estes sim campeões, mas não olímpicos.