• Setor de serviços levará mais tempo para se recuperar da crise

    A economia brasileira é, majoritariamente, baseada na prestação de serviços. O setor, que responde por quase 65% do PIB, foi o último a sentir o a recessão chegar e está na lanterinha da recuperação ora em curso. Segundo IBGE, o volume de serviços prestados em setembro passado caiu 0,3% na comparação com agosto, registrando segundo mês consecutivo de queda. Quem está mais pessimista com a economia, olha o dado e pensa: está vendo? A coisa está longe de ficar boa neste terreno.
     
    Quando se olha para ‘dentro’ dos números descobre-se que foram as famílias que mais consumiram serviços no período analisado pelo IBGE, com alta de 5,9% e no item alimentação, o aumento foi ainda maior, de 8,9%. Na outra ponta estão os serviços prestados às empresas, que sofreram queda disseminada entre informação e comunicação (-1,8%), telecomunicações (-0,7%) e tecnologia da informação (-3,9%).
     
    “Os setores que cresceram estão totalmente ligados à atividade econômica, ou seja, ao consumo das famílias. O que, em termos econômicos, significa geração de renda. Então, mesmo que o dado geral seja negativo, os números não são tão ruins e continuam apontando para recuperação”, disse ao Blog o economista Luiz Gustavo Pereira, da Guide Investimentos.
     
    Apesar de ter apresentado melhor resultado, os serviços prestados às famílias têm peso pequeno na conta, algo perto de 10%. Enquanto aqueles prestados às empresas representam mais de 30% do índice. O desempenho mais positivo e consistente do setor vai depender, então, da recuperação das empresas. E isto vai levar mais tempo, como disse Armando Castelar, do IBRE/FGV, em entrevista ao Blog.
     
    A crise causou sérios problemas financeiros ao setor privado, com elevado grau de endividamento e muitas dificuldades para manter o negócio de pé. Neste primeiro movimento de retomada da atividade, o consumo das famílias que tem carregado todo resto, graças à queda da inflação, num primeiro momento, passando pela liberação do FGTS, e mais recentemente à reação do mercado de trabalho.
     
    A queda da taxa de juros, que veio a reboque da queda da inflação, está acontecendo com mais consistência e deve permanecer um bom tempo em patamares historicamente baixos para o Brasil, aquém de 7%, tudo indica. Como também explicou Armando Castelar ao Blog, a manutenção deste cenário de juros menores vai beneficiar rapidamente as empresas, que têm financiamento com custo mais próximo à taxa básica. Diferentemente do crédito às famílias que demora a refletir a redução da Selic.
     
    O resultado do setor de serviços de setembro corrobora a análise do economista da FGV e sinaliza que o ajuste nesta área levará mais tempo do que no comércio e na indústria, que parece terem deixado o terreno negativo para trás, definitivamente.

  • "2018 será ano em que brasileiro vai se sentir bem”, diz economista

    Entre os otimistas e pessimistas com o futuro próximo do Brasil há os “positivos” com a dinâmica atual da economia e de como ela deve se comportar no ano que vem. É o caso do economista Armando Castellar, do IBRE/FGV. Para ele não cabe muito falar em otimismo porque o “cenário é mediano”, mas também não dá para negar a melhora da atividade e, especialmente, a força crescente do consumo das famílias – que irá puxar o resto da economia para cima.
     
    “É positivo se for comparado ao que vivemos nos últimos anos. O PIB agora responde mais rápido, a inflação está baixa, as contas externas equilibradas, o desemprego está caindo, os juros também. Então, é  bastante positivo e o consumo das famílias que vai puxar o resto. Vamos viver um cenário de ‘feel good’, com as pessoas mais felizes porque estão comprando, reconquistando o que perderam com a crise”, disse o economista do IBRE em entrevista exclusiva ao Blog.
     
    O consumo das famílias depende, fundamentalmente, de três coisas: emprego, renda e grau de endividamento/inadimplência que vai determinar apetite para crédito. O primeiro e o segundo estão subindo, e o terceiro está em queda. Os últimos dados mostram que a inadimplência caiu 4,5% até outubro, no acumulado em 12 meses. Este fator tende a melhorar com a redução da taxa de juros básica, mesmo que o repasse para o crédito ao consumo seja mais demorado.
     
    “Essa recuperação vai acontecer com mais força para as famílias do que para as empresas que sofreram mais com a inadimplência durante a crise. Em compensação, a queda dos juros vai ajudar primeiro as empresas porque os financiamentos são indexados ao CDI, que é próximo da Selic. Elas também têm capacidade ociosa, ou seja, não precisam investir tão cedo”, aponta Castelar. 
     
    Ressalvas
     
    O cenário positivo de Castelar tem limite, ou melhor, limites. Para falar da atividade econômica, o primeiro deles é o investimento. Este cai há anos, começou a recuar antes de a recessão chegar com força, como acontece nos ciclos econômicos. Já começou uma retomada no setor de máquinas e equipamentos, tanto na fabricação quanto na importação deles, o que é relevante. Mas a capacidade de produção da economia, ou seja, o chamado PIB Potencial, responde com mais intensidade ao investimento em construção civil e em infraestrutura. Este vai levar mais tempo.
     
    “No setor Imobiliário ainda há grandes estoques e ainda precisa conseguir se livrar do disso para começar a produzir em um ritmo mais forte. Já temos investimento em máquinas e equipamentos, mas a construção civil ainda está baixo. No caso da infraestrutura, o investimento publico está baixíssimo e temos muitas incertezas na política com as eleições do ano que vem e o candidato que pode sair na frente. Nós só teremos uma visão melhor depois disso e a tendência para o investimento em infraestrutura é aguardar estas definições”, pondera Armando Castelar.
     
    Não pode faltar na lista das ressalvas o quadro fiscal, das contas públicas. O país continua pendurado na reforma da previdência e dos outros ajustes pendentes no Congresso Nacional. Hoje não dá para dizer o que será ou não aprovado e, mais do que isto, o que vai fazer quem ganhar as eleições, que projetos terá para o país e para o ajuste fiscal.
     
    “A recuperação da economia será boa no que vem e pode acelerar 2019. Depende do presidente que será eleito e o que ele vai fazer, por exemplo, com a receita tributária. Se ela estiver crescendo (em resposta à retomada do PIB), ele pode pensar: ‘quem sabe consigo me virar sem grandes mudanças’. E aí? Como a coisa vai ser equacionada?”, pergunta o economista do IBRE.
     
    Boa pergunta, sem resposta. Assim como para muitas questões relacionadas à política, ao quadro das eleições e, principalmente, à agenda de reformas que será encampada e assumida pelos candidatos. Até lá, o Brasil dará uma folga a quem sofreu demais com a recessão de quase três anos. Com emprego voltando, renda protegida pela baixa inflação e crédito mais barato pela queda dos juros, os brasileiros devem sair às compras.
     
    “As pessoas vão voltar a comprar coisas que pararam de comprar desde 2014. E isto traz uma sensação de felicidade, de reconquista. Se a retomada do PIB estivesse acontecendo pelas exportações, ninguém sentiria satisfação, porque vender lá para fora não gera bem estar aqui. O que dá satisfação é comprar carro novo, trocar a geladeira, fazer viagens. O problema é que depois da curva, a coisa vai complicar bem. Mas até lá, o brasileiro vai se sentir bem”, avalia Armando Castelar.

  • 'Ano que vem a economia vai andar de lado, como agora', diz economista

    O consumidor brasileiro voltou aos supermercados. As vendas ganharam força em setembro e reforçaram o desempenho do varejo naquele mês. O setor cresceu 0,5% no mês e 6,4% na comparação com mesmo período de 2016. Em 2016, quando o movimento nos mercados despencou, marcou o pior momento da crise, quando os brasileiros começam a cortar produtos básicos da vida. 

     

    “Recuperação dos supermercados é claramente um sinal de bom porque é produto básico. Há uma forte melhora geral de todos os indicadores de atividade, uma mudança de patamar entre 2016 e 2017. Mas acho que no ano que vem vai ficar andando de lado, como tem andado mais recentemente. Eu estou com a turma que acredita num PIB de 2% (2018) porque não vejo melhora a partir deste novo patamar, não sem investimento e sem aumento do emprego”, disse em entrevista exclusiva ao Blog o economista chefe do banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves. 

     

    A incerteza com 2018 não está apenas nas eleições e na crise política, na visão do economista. Há outros fatores que podem afetar a atividade econômica, mesmo que não tire o país do caminho de um crescimento moderado e da retomada leve do emprego. 

     

    “Tudo vai depender, antes de mais nada, de baixar a poeira em relação à perspectiva política. Tem muita incerteza, esta eleição vai ser muito complicada, muito disputada, estamos numa situação de enorme polarização, não só na política, na sociedade, nos costumes, daqui a pouco música vai estar polarizada também. De modo que temos uma perspectiva complicada para resolver isto. Estas eleições provavelmente não vão virar a página”, disse. 

     

    Veja os principais trechos da entrevista nos vídeos abaixo:

     

    'Este fim de ano é bem melhor que o fim do ano passado'


     

    'Investimento ainda está com perspectiva fraca'


    'As eleições provavelmente não vão virar a página'

     



  • Nova lei trabalhista aproxima Brasil dos países desenvolvidos

    A reforma trabalhista já não é mais uma reforma, é lei. A partir deste sábado, 11 de novembro, as novas regras passam a valer dando início a uma modernização necessária e desejável do mercado de trabalho. O Brasil passa a se inserir, agora com novos instrumentos e fundamentos, no grande debate internacional sobre o dilema entre emprego e trabalho.

     

    SAIBA MAIS SOBRE AS MUDANÇAS NAS RELAÇÕES TRABALHISTAS

     

    O emprego como o conhecemos até hoje está em extinção. Aquele que representa a segurança financeira, pacotes de benefícios, o “vestir a camisa” da empresa, um vínculo longevo com as corporações, está perdendo espaço para outras noções de sucesso e estabilidade na vida profissional – por bons e maus motivos. O movimento de desmantelamento de empregos partiu da automação e das novas tecnologias que têm destituído as pessoas de sua participação nos processos produtivos.

     

    As crises econômicas também provocaram destruição de fontes geradoras de riquezas, ou seja, o fim de muitas empresas e sua força para empregar e/ou garantir a mesma rede de proteção que ofereciam antes. No caso da nossa recessão, mais de 14 milhões de brasileiros ficaram desempregados. Agora que a atividade começa a reagir, a maioria das pessoas que saiu das estatísticas do desemprego encontrou no trabalho por conta própria ou no empreendendorismo a saída para recuperar a renda.  

     

    Paralelo às questões econômicas, as novas gerações querem outras formas de se relacionar com o mundo. Os mais jovens estão pensando na carreira num universo de liberdade, independência, criatividade, flexibilidade e baixo comprometimento com as corporações. Achamos graça quando a Google quebrou o padrão dos escritórios criando espaços coloridos, novos códigos de vestimenta para o trabalho, permitindo animais e cobrando tarefas com critérios completamente diferentes da metodogolia engessada das “old companies”.

     

    O modelo Google se espalhou e virou referência de bem estar no trabalho e condição essencial para incentivar a produção e a criatividade. Para fora dos escritórios da gigante americana, surgiu o novo modelo de relação de trabalho, baseada na flexibilidade e na independência, especialmente no setor de serviços – que responde por mais de 60% nas maiores economias do mundo e também no Brasil.

     

    Para acomodar esta transformação, mudaram até os nomes dos personagens. Hoje convivem dentro da mesma empresa funcionários, prestadores de serviço e colaboradores – empregados e trabalhadores misturados. A terceirização é apenas uma forma de oficializar estes vínculos, mas não é nem será a única. O que dá garantia e segurança a cada um daqueles personagens são, essencialmente, o marco legal e a segurança jurídica.

     

    Há outro aspecto compartilhado neste ambiente. Qualquer que seja a solução encontrada, tudo precisa acontecer sem perder o foco no negócio e seu sucesso, para que todos usufruam do resultado. Aqui chegamos no cerne da questão da relação entre trabalhadores e empregadores. Independentemente da cor da sala, do horário dedicado a uma tarefa, ou ainda do tipo de formalidade entre as partes, todos terão os mesmos objetivos: ganho financeiro, renda, lucro, crescimento.

     

    A legislação trabalhista é peça fundamental nesta engrenagem porque ela deve equalizar riscos, custos e atuar como rede protetora para abusos e excessos. Quanto mais rígida e arcaica, mais riscos ela provoca. No caso da CLT brasileira, vivemos 70 anos sob uma norma que deixou o ‘trabalho’ vulnerável e transformou o ‘emprego’ em atividade arriscada e caríssima.. Não só pelos impostos cobrados pelo governo, mas também pela sanha da justiça trabalhista que virou um dos negócios mais rentáveis do país.

     

    A nova lei vai aproximar o Brasil do que acontece nos países desenvolvidos e eficientes. Ao contrário do que apregoaram aqueles que foram contrários à reforma trabalhista, a modernização da CLT não vai precarizar o ‘emprego’, que mantém suas garantias constitucionais. Ela vai regularizar e valorizar o ‘trabalho’, que vivia à margem da lei.

     

    Vai levar tempo para aprendermos os novos preceitos, seus limites e flexibilidades. Daqui alguns meses, ou até um ano, será possível reconhecer benefícios e também equívocos que surgirão da aplicação da nova legislação. Sempre haverá conflitos e interesses privados querendo prevalecer sobre os coletivos. Assim como continuarão havendo abusos e excessos. Talvez eles mudem de natureza e teremos que aprender como combatê-los, mas certamente não será mais com uma letra velha e ultrapassada.

     

    O Brasil é um país que tem a maior fatia de sua economia baseada nos serviços, quase o mesmo que os Estados Unidos e a Alemanha. A automação vai cuidar da indústria e do agronegócio. Temos que avançar nas áreas onde estão as pessoas. Até agora nosso potencial de crescimento foi muito mais baixo porque a produtividade do setor de serviços é baixíssima e seus custos ainda muito altos. Sob novos fundamentos legais e incentivos corretos, o país poderá obter ganhos e registrar avanços importantes, coisa que não vimos há muito tempo. 

  • Agências de risco serão implacáveis com Brasil se reforma da previdência não for aprovada

    As agências de classificação de risco que avaliam a trajetória da economia brasileira têm feito alertas mais frequentes sobre a fragilidade das nossas contas públicas e o risco que ainda corremos de sofrer novos rebaixamentos nas notas. Os analistas das três maiores entidades, S&P Global, Fitch e Moody’s, estão preocupados com a votação da reforma da previdência e os efeitos que a não aprovação da mudança pode causar no quadro fiscal, já extremamente fragilizado.

     

    Nesta sexta-feira a Fitch Ratings reafirmou a nota brasileira, dois níveis abaixo do grau de investimento, e manteve a perspectiva negativa para uma próxima avaliação, ou seja, é maior a chance de redução da nota do que o contrário. É como se tivessem dado ao país o benefício da dúvida para a força que o governo terá para conseguir passar alguma reforma, mesmo que com uma proposta mais enxuta.

     

    As outras agências, S&P Global e Moody’s nos mantêm no mesmo castigo, com perspectiva negativa, e com os mesmos recados. Numa entrevista concedida em Lima, no Peru, Jaime Reusche, diretor de crédito sênior da Moody’s, disse que há uma boa chance de as notas do Brasil, do México e do Chile serem rebaixadas nos próximos 12 meses e citou a reforma da previdência como maior entrave para a classificação brasileira.

     

    Há pouco mais de duas semanas, Joydeep Mukherji, analista da S&P Global, ameaçou abertamente com rebaixamento caso o governo brasileiro não consiga mexer na previdência agora. Deixar toda a missão para o próximo presidente da República e um novo Congresso Nacional seria arriscado demais.

     

    "O que nós procuramos agora não é uma estabilização milagrosa do endividamento, porque ele vai continuar crescendo nos próximos três ou quatro anos facilmente, sob qualquer cenário. O que estamos olhando é se o governo pode dar alguns passos agora, antes das eleições de 2018, para dar mais espaço para o próximo governo lidar com essa questão", disse o analista da S&P em 13 de outubro.

     

    Não valerá mesmo milagre para lidar com ajuste fiscal no Brasil. A dívida pública pode ultrapassar 80% do PIB nos próximos dois anos, mesmo que o governo consiga aprovar a idade mínima e mais algum ponto da reforma da previdência. Esta trajetória já está dada e, ainda que haja crescimento do PIB e uma melhora na arrecadação, não será suficiente para reverter o aumento do endividamento. O que está no radar dos analistas de risco é o que o governo será capaz de fazer para estancar este processo num prazo minimamente seguro.  

     

    O ministro Henrique Meirelles sabe deste risco, que é bastante real, e dos efeitos que novos rebaixamentos na classificação de risco do país podem causar na economia, especialmente nesta fase de retomada da atividade e maior atratividade para investidores. Por isso ele não deixou o governo desistir de encaminhar e aprovar qualquer coisa da reforma da previdência no Congresso.

     

    Parece que o governo está conseguindo avançar num acordo para aprovar pelo menos 50% da proposta original. Há dois pontos que Meirelles e a equipe econômica não querem abrir mão: a idade mínima para aposentadoria e as regras de transição para quem está na ativa. Para manter estes pontos, o governo pode ceder no tempo mínimo de contribuição previdenciária, o que reduziria bastante a economia esperada para os gastos públicos no médio prazo, mas tira o país da rota de colisão.

     

    Adiar o ajuste fiscal sem ficar parado no mesmo lugar é menos arriscado e será muito menos custoso para o país. Como tudo que tem acontecido em Brasília, é difícil apontar uma saída possível para os debates entre o governo e as lideranças parlamentares. As agências de risco vivem longe desta “emoção” e serão implacáveis com Brasil, como sempre. Será melhor que exerçam esta determinação no reconhecimento dos avanços do que na punição pelo retrocesso. 

  • 'Inflação pode ser a menor em 60 anos', diz economista

    Acabou a trajetória de queda da inflação. O resultado do IPCA de outubro, com alta de 0,42%, sinaliza que o período de recuo dos preços, liderado pelos alimentos, chegou ao fim. Isto não é uma má notícia, apesar do paradoxo. O índice oficial deve voltar para casa dos 3% no acumulado do ano e pode até voltar a passar de 4% a partir de 2018, o que é condizente com o quadro da economia brasileira. 

     

    A boa notícia é que o processo inflacionário no Brasil está encontrando um equilíbrio mais estrutural, consistente e que pode durar alguns anos. Um estudo feito pelos economistas do Santander, que o G1 dá com exclusividade, mostra que podemos viver um triênio com a menor inflação dos últimos 60 anos. A análise foi feita com base no chamado núcleo da inflação, uma medida que exclui os preços mais voláteis, como dos alimentos e os administrados, como contas de luz e combustíveis. 

     

    O núcleo do IPCA, pelos cálculos do Santander, deve ficar em 1,9% este ano e depois registrar 2,4% e 2,8% em 2018 e 2019, respectivamente. Portanto, bem abaixo da meta de inflação a ser alcançada pelo Banco Central para estes anos, de 4,5% e 4,25%. 

    Veja vídeo da 



    “O que é importante para efeito de política monetária é analisar os núcleos. Nossa análise começou olhando o chamado hiato na economia, ou seja, quanto há de folga para economia crescer, porque isso que vai determinar a inflação de demanda. A gente vê ausência de pressão nos próximos dois anos, pelo menos. Apesar da inflação cheia subir, o núcleo deve ficar perto de 3%”, disse o economista-chefe do Santander, Maurício Molan. 

     

    Inflação de demanda é a que responde à força do consumo frente à capacidade de oferta da economia. Como temos uma ociosidade muito alta no parque produtivo, os economistas avaliam que pode levar pelo menos dois anos para que haja uma pressão por ajuste de preços. É neste período que o Banco Central poderá manter a taxa de juros baixa, abrindo espaço para uma recuperação mais forte do PIB. 

     

    “É porque a inflação está baixa que o juro está baixo. Estamos chegando num pouco que a inflação brasileira será o mais baixa da história. O número pode não ser, mas provavelmente vamos ter um intervalo de três anos com a inflação mais baixa dos últimos 60 anos, um período razoavelmente longo. Esta é a perspectiva, que podemos ter IPCA abaixo de 5%, até 4%, em 2017, 18 e 19. A última vez que isto aconteceu foi no segundo governo de Getúlio Vargas, 60 anos atrás”, aponta Molan. 

     

    Este quadro que sinaliza que a queda da inflação deste período tem tudo para ser estrutural, o que faz com que a redução dos juros, também seja. Esta combinação pode quebrar uma dinâmica bem conhecida no Brasil, da relação entre a sociedade e a alta dos preços: a indexação da economia. Durante muitos anos vivemos sob este gatilho que sempre foi acionado para compensar perda do poder de compra nos períodos de alta da inflação mesmo depois do Plano Real. 

     

    A inflação mais disseminada na economia durante tantos anos também intensificou outro efeito maléfico na economia, a inércia inflacionária. A contaminação da alta dos preços foi tema relevante nas avaliações sobre o comportamento do processo inflacionário no país e sempre foi apontada como um obstáculo difícil a ser superado no combate à carestia. 

     

    “Inflação alta que gera inércia e indexação e não o contrário. O comportamento defensivo de empresários e consumidores que alimentavam esta dinâmica. Agora é a prova do pudim. Nós vamos ver estes mecanismos de inércia e de indexação começarem a se desmontar. O que vai sustentar isto é a credibilidade do Banco Central e menor incerteza sobre o futuro da inflação. Se eu tenho crença de que a inflação vai ser baixa, ela vai ser menos volátil”, avalia Molan. 

     

    O aprendizado será grande. Acabamos de passar por um com episódio sobre o reajuste menor do salário mínimo para 2018. A lei determina que o ajuste seja feito com base na inflação do ano anterior e o índice a ser aplicado, o INPC, deve fechar o ano abaixo do IPCA, indicador oficial, perto de 2,5%. O debate causou insegurança, como se houvesse injustiça num reajuste mais baixo dos salários. O mesmo vai acontecer com todas as categorias de trabalhadores, certamente. 

     

    “Vamos ter que nos acostumar a viver sem a ilusão monetária. Uma grande parte dos nossos reajustes salariais, boa parte do aumento da renda que tivemos no passado, se dava por inflação, por aumento de preços (através da indexação). Daqui para frente, vamos ter aumentos mais baixos e em termos reais e vamos saber, ao longo do tempo como isto vai impactar na economia. Provavelmente vamos ter um ganho porque a inflação erode o poder de compra e (a queda do IPCA ao longo do tempo) vai gerar mais renda e mais capacidade de consumir”, avalia o economista do Santander. 

Autores

  • Thais Herédia

    Jornalista, especialista economia e política; é colunista da Globo News. Foi assessora de imprensa no BC e gerente de comunicação do Carrefour. Na TV Globo, foi repórter de economia do Bom Dia Brasil. Tem pós-graduação em finanças pela FIA.

Sobre a página

A jornalista Thais Herédia comenta os principais fatos econômicos do país e do mundo e explica como eles afetam a sua vida.