• Previdência vai definir próximos passos do BC

    Chegamos ao nível de juros mais baixos dos últimos 31 anos, com 7% ao ano. E agora? Até onde pode ir a taxa básica da economia, a Selic? O Banco Central avisou, sem delongas ou jargões, que pode reduzir novamente os juros no próximo encontro, no início de 2018. O próximo movimento será “moderado”, levando em conta todos os riscos associados ao ambiente econômico e, claro, ao que vai ser da reforma da previdência até lá. Para não ser tão previsível assim, os diretores do BC alertaram que o momento pede “cautela na condução da política monetária”. 

     

    A estratégia do BC está pendurada em outras coisas além da reforma da previdência, como o que vai acontecer no exterior e também com a evolução dos preços – esta última com dose maior de previsibilidade e menor risco. No final das contas, o que importa é saber que, com a aprovação da previdência, o caminho é um. Sem aprovação, o caminho é outro, sem atalhos. 

     

    Aprovada a mini-reforma, o Copom poderá continuar fazendo política monetária avaliando riscos “normais” para o processo inflacionário de uma economia estável, mesmo que ainda tenhamos graves problemas e desafios fiscais. Não aprovada a reforma, o comitê terá que decidir sobre os juros deixando de lado o equilíbrio entre oferta e demanda na economia para cuidar dos prêmios de risco que o Brasil terá que pagar para manter investidores aqui, diante de um cenário gravíssimo para as contas públicas. 

     

    Se o país passar por mais esta, ou seja, se mesmo diante do caos político que vivemos o Congresso Nacional conseguir aprovar a previdência, a leitura sobre a evolução da economia nesta trajetória de recuperação será mais clara. O ritmo de retomada ainda é lento, mas pode surpreender. As famílias estão consumindo e já aparece alguma luzinha no túnel onde ainda estão as empresas brasileiras – endividadas e sem fôlego para renovar financiamentos e investir. 

     

    Com equilíbrio maior entre o papel dos consumidores e a participação do parque produtivo na composição do PIB, o Banco Central poderá transitar num terreno mais seguro para levar os juros para a casa dos 6% durante algum tempo. Este tempo, que seja de meses, será capaz de aliviar as condições para o crédito e facilitar o retorno das pessoas jurídicas aos bancos. Este estímulo pode ser importantíssimo para sedimentar a recuperação da atividade para um quadro de menor volatilidade e insegurança. 

     

    No comunicado sobre a decisão, os membros do Copom voltaram a indicar que os juros deverão terminar 2018 em 7% e 2019 em 8%. Esta sinalização é relevante para que o grau de previsibilidade da economia aumente e contribua para tomada de decisão dos agentes econômicos. Bom seria se esta previsibilidade não estivesse limitada à guerra política e a uma única decisão que pode nos tirar do rumo.  

     

  • Se a reforma da Previdência for aprovada, agência de risco pode rever perspectiva negativa do Brasil, diz executivo da S&P Global

    No clima de vai-não-vai da reforma da Previdência, o mercado financeiro está dançando conforme o ritmo da música cantada, ora pelo governo, ora pelas lideranças no Congresso Nacional. Quem está quieta, observando de longe o que está acontecendo em Brasília, é a agência de classificação de risco S&P Global, a mais importante entidade no mundo. Mesmo quietos, os analistas da S&P sabem o poder que têm para mexer nas fundações da economia brasileira com as suas decisões.
     
    De visita ao Brasil para discutir a nossa classificação de risco atual, o executivo responsável pela análise de risco dos países no mundo todo avisou, em entrevista exclusiva ao Blog, que se passar o mínimo de reforma no Congresso, a S&P pode reverter a perspectiva negativa sobre o país. Mas não alivia e alerta que, sem uma reforma, as aposentadorias não serão pagas no futuro.
     
    “Se houver, neste momento crítico, um sinal de que as lideranças políticas, tanto no governo como no Congresso, são capazes de trabalhar juntos para começar neste processo, isto seria um passo positivo e poderia ser a estabilidade da nossa expectativa para as notas futuras do Brasil. Nós temos que ser claros, se não houver reforma, as promessas de agora não serão sustentáveis, não serão pagáveis. ”, disse Moritz Kraemer, Chefe da área de Ratings Soberanos Globais da S&P.
     
    A S&P foi a primeira a nos tirar o grau de investimento, em setembro de 2015, quando o tamanho do rombo nas contas públicas começou a aparecer para valer. Desde então já nos rebaixou duas outras vezes e está pronta para nos levar para o terceiro grau abaixo da nota de bom pagador. Isto porque, além da nota, o chamado “outlook”, ou seja, a perspectiva sobre o país, está negativo. Isto indica que, se der errada a tramitação da proposta do governo, mesmo a mais enxuta, pode vir mais um rebaixamento de classificação.
     
    O executivo da S&P avisou ainda que o tempo está passando muito rápido e que a última janela de oportunidade para avançar alguma coisa na Previdência brasileira está se fechando e que há mais riscos do que soluções. 
     
    “O tempo está passando muito rápido e se você tem uma longa jornada, você precisa partir mais cedo para ter tempo de chegar na hora certa. Cedo é agora. Os riscos para um rebaixamento (da nota) permanecem, apesar de haver alguma recuperação da economia, depois de uma longa e profunda recessão. Resolver o problema da Previdência no Brasil será uma tarefa de longo prazo e de várias administrações”, reforça.
     
    Veja a seguir os principais trechos da entrevista
     
    Como Sr. vê o Brasil agora com processo atual para aprovação da Reforma da Previdência? 
     
    Nossa perspectiva (outlook) para a nota do Brasil está negativa, o que reflete nossa visão de que os riscos para rebaixamento permanecem, apesar de haver alguma recuperação da economia depois de uma longa e profunda recessão. O desafio principal é totalmente doméstico, não tem nada a ver com o que o banco central dos Estados Unidos vai fazer, ou outros bancos centrais, ou o quê Trump pode fazer, ou qualquer coisa parecida. O principal problema está em casa, isto é, a situação fiscal, o déficit das contas. E não apenas hoje, que já é muito grande, mas também no futuro, que nós esperamos que seja muito grande também em função do fardo pesado que o orçamento brasileiro carrega por causa do peso da Previdência. O que não é nem um pouco comum para economias deste tamanho.
     
    O Sr. vê algum progresso? Vê chances de a reforma será aprovada até o final do ano?
     
    Resolver o problema da Previdência no Brasil será uma tarefa de longo prazo e de várias administrações. Para lhe dar uma noção de tamanho do desafio, nós estamos olhando para 58 países pelo mundo, economias avançadas e emergentes, e simulando qual o aumento de gastos relacionados ao envelhecimento da população. O número um 1 foi o Brasil!
     
    Mais do que Japão, Itália e Alemanha, que são sociedades que estão envelhecendo mais rapidamente do que o Brasil. Maior parte do aumento de gastos no Brasil é com aposentadorias. Isto dá o contorno do tamanho do problema que precisa ser endereçado. Eu acredito que esta será uma longa jornada, além do atual esforço para uma reforma, para tentar fazer isto ser sustentável. Nós temos que ser claros, se não houver reforma, as promessas de agora não serão sustentáveis, não serão pagáveis.
     
    A política de Teto para os Gastos também pode ser comprometida? 
     
    O teto para os gastos é uma tentativa de controlar o maior gasto do orçamento do país. O Brasil tem um orçamento muito grande para o tamanho de sua economia e é muito grande para o padrão internacional. E os impostos e as receitas do governo são relativamente altos para o padrão de países emergentes. Então, o que o que governo está tentando fazer é limitar a pressão por gastos e trazê-los gradualmente para baixo.
     
    Mas para fazer isto,  é preciso tocar o gasto principal, que é o da seguridade social. O que é realmente discricionário (gastos), que pode ser reduzido, já foi feito . Para viver nestes limites que foram estipulados pelo Congresso Nacional, a reforma da Previdência precisa acontecer. Caso contrário haverá um não cumprimento do teto de gastos. E se você tem uma regra fiscal e você quebra esta regra na primeira vez em que a situação fica critica, então a regra não é realmente válida, de forma alguma.
     
    Quanto tempo mais nós temos? O mercado financeiro tem dado mais tempo ao governo para aprovação da reforma.
     
    O tempo está acabando, a janela de oportunidade está se fechando, e isto tem a ver com o ciclo das eleições de outubro do ano que vem. No início do no ano que vem, toda atenção estará no posicionamento para as eleições e será mais difícil passar qualquer coisa no Congresso, ainda mais uma coisa tão controversa como a reforma da Previdência.
     
    O tempo está passando muito rápido e como há este grande desafio, será uma longa jornada. E se você tem uma longa jornada, você precisa partir mais cedo para ter tempo de chegar na hora certa. Cedo é agora. Se não houver nada nas próximas semanas, o país vai cair na próxima administração que toma posse só em 2019. Eles primeiro terão que formar sua maioria (no Congresso) e o país terá perdido outro ano e meio de avanços.
     
    O novo governo terá que revisitar este tema de qualquer jeito. Então, este só pode ser o primeiro passo de uma reforma que terá que ser feita várias vezes. Nós acreditamos que este projeto de agora, que pode ser digerido pelo Congresso, não será suficiente para mudar e realmente resolver este grande problema que está se formando para as próximas décadas. O próximo governo terá que encaminhar isto, e o governo que virá depois, e o governo que virá depois também.
     
    Se este projeto mais enxuto da reforma for aprovado agora, mesmo que a gente tenha que voltar neste tema depois, vocês podem reverter a perspectiva negativa para o Brasil? Pelo menos a perspectiva?


    Certamente. Há um significativo pacote para a reforma no Congresso agora para se tornar lei. O que nós veremos é um sinal de que, apesar de todas as disputas no sistema político e das instituições que governam o país, eles ainda serão capazes de se unir, de tomar decisões para o futuro do Brasil. Isto será um bom passo. Até porque nós sabemos que, na história recente do país, tem sido muito difícil ver isto.
     
    O fato de o Brasil estar gastando muito do orçamento público é resultado de como o processo politico tem tido dificuldade para formar maioria, pela necessidade de ser fazer concessões para atender interesses de grupos especiais e isto só faz (o gasto) crescer, crescer, crescer. Se houver, neste momento crítico, um sinal de que as lideranças políticas, tanto no governo como no Congresso, são capazes de trabalhar juntos para iniciar este processo, isto seria um passo positivo e poderia dar estabilidade à nossa expectativa para as notas futuras do Brasil.
     
    Nós perdemos grau de investimento há pouco mais de dois anos, mas o risco no Brasil está baixo, o mercado financeiro está de bem com país. Se nós perdemos mais uma nota, com este rebaixamento possível, seria muito grave?
     
    Isto é impossível de saber. A perda do grau de investimento é um negócio muito mais sério do que ir para notas abaixo disso. Mas não será necessariamente a nota e sim a sinalização que virá da liderança política no Brasil, Congresso e governo.
     
    Eu converso muito com investidores, eles acreditam que alguma coisa vai acontecer com a reforma da Previdência. Qual seria a reação se o projeto não for aprovado pelo Congresso, não posso dizer. Mas é esperado que haja uma retração dos investidores e nós vimos uma reação parecida com esta quando o presidente (Temer) foi acusado de corrupção. O mercado reagiu fortemente porque eles veem esta administração como a que poderia tocar as reformas. E se ela não puder, o mercado pode “reprecificar” tudo. Isto aconteceria independentemente da mudança na nota de classificação de risco.
     
    O Governo brasileiro tem usado esta ameaça de um novo rebaixamento para pressionar os políticos pela aprovação da reforma. Isto é uma ameaça ou é uma realidade?
     
    Nossa classificação de risco é decidida para informar aos investidores sobre o risco de crédito, a possibilidade de um governo não pagar suas dívidas. Isto é o que fazemos. Eu faço isto há muito tempo para saber que muitas pessoas usam isto para outros propósitos, não é incomum ver o governo usando isto como argumento para mudar atitudes dos parlamentares, por exemplo. Não será a primeira e nem a última vez que isto acontece.


    Nós não comentamos sobre isto, não é nosso papel. Nosso papel é diferente, nosso negócio não é promover certas politicas, não falamos que a reforma da Previdência tem que acontecer. Nós dizemos que se ela não acontecer, então a probabilidade de um rebaixamento da classificação vai aumentar consideravelmente. É isto que nós estamos dizendo. Se o governo está usando este discurso, é muito próximo do que nós estamos dizendo. Nós temos esta perspectiva negativa pendurada na expectativa de que alguma coisa vai passar, uma mudança suficiente que sinalize uma reversão na direção da formulação de políticas, sabendo muito bem que será preciso fazer muito mais no futuro.
     
    O Sr. vê alguma linha de tempo para o Brasil recuperar o grau de investimento?
     
    É muito prematuro falar sobre a volta do grau de investimento porque o Brasil está duas notas abaixo disto e há a perspectiva negativa, o que significa que há uma chance de um novo rebaixamento. Se ele voltará ou não, isto dependerá totalmente do desenvolvimento da situação fiscal do Brasil.  A direção agora não é para o grau de investimento.
     Historicamente o que nós vemos, e vale para o Brasil, é que leva mais tempo para voltar (ao grau de investimento) do que ir para baixo. E isto é simplesmente porque é mais rápido quebrar coisas do que concertá-las.
     
    O Brasil está em recuperação da economia e isto pode ajudar na arrecadação do governo e melhorar um pouco as contas públicas. Isto não colabora para o quadro fiscal?

    Nós estamos vendo uma recuperação cíclica agora. O Brasil está se recuperando de uma recessão muito profunda e longa. Desde 2010, de todos os países emergentes no mundo, o Brasil teve quase o pior desempenho. Talvez a Venezuela tenha sido pior. O crescimento per capita não aconteceu desde 2010. O que vemos agora é uma leve recuperação desta profunda recessão. Isto vai ajudar o orçamento do governo, mas não será nem um pouco suficiente para mudar os desafios de longo prazo, relacionados ao envelhecimento da população, totalmente sobreposto num sistema extremamente generoso de aposentadorias.


    Na maioria dos países há saúde, cuidados de longo prazo, tudo isto cria pressão para os gastos do estado. Mas no Brasil (o gasto) é predominantemente com as aposentadorias. E quanto mais pessoas se aposentarem, mais isto será impagável e nenhuma recuperação econômica pode resolver isso sozinha. Pode ajudar para criar momentos, um ambiente politico para fazer as reformas com mais facilidade, mas não vai resolver o problema. O problema será apenas resolvido por ação de novas politicas.

  • Por que é difícil acreditar na queda da inflação?

    Pela segunda semana consecutiva, os analistas baixaram sua previsão para o IPCA 2017. O número agora está em 3,03%. Para 2018, as perspectivas dos analistas apontam um IPCA de 4,02%, portanto, abaixo da meta de 4,5% e com uma trajetória bastante favorável para os preços ao longo do ano que vem. Outras pesquisas feitas pelo BC indicam que o IPCA deve se manter neste mesmo patamar, perto de 4%, até 2020 – com quadro político minimamente equilibrado e aprovação da reforma da Previdência. 
     

    Pesquisa Datafolha divulgada neste domingo (3) mostrou que 60% dos brasileiros acreditam que a inflação vai subir no ano que vem. Isso é mais gente do que em setembro passado (57%) e um pouco abaixo de dezembro de 2016, quando 66% esperavam alta dos preços – naquele mês do ano passado, a previsão dos analistas para o IPCA estava em quase 5% para 2017.
     

    Por que será que está tão difícil acreditar que a inflação vai ficar baixa no Brasil? A expectativa dos chamados agentes econômicos é peça-chave do trabalho do Banco Central. Quando as pessoas não acreditam que a inflação está sob controle, a chance de ela subir é muito maior porque as decisões sobre preços – como dos salários, por exemplo – passam a ser defensivas, aumentando a indexação na economia e também a força da inércia da inflação.
     

    Foi o que aconteceu entre 2011 e 2015, quando o Copom derrubou os juros à força para 7,25% e as previsões continuaram aumentando – tanto que a taxa Selic voltou a subir rapidamente e não parou até 2016. E o IPCA confirmou a conexão com as expectativas negativas, já que ficou perto dos 6% entre 2012 e 2014 e chegou aos 10,67% em 2015.
     

    Será que a pesquisa Datafolha mostra que os ‘agentes econômicos’ que ‘contam’ para o BC estão limitados ao grupo de economistas e analistas de mercado financeiro? Não exatamente. Mas começa por eles, já que eles formam os preços dos ativos que podem influenciar na inflação, mesmo que indiretamente, como acontece com o dólar. De qualquer forma, o quadro atual tem uma explicação mais fácil para o que pode parecer um descolamento entre os economistas e os consumidores. 
     

    Os preços dos alimentos foram os que mais puxaram o IPCA para baixo em 2017, já que acumularam, até novembro, queda de quase 5%. Em 2016, neste mesmo período, a alta dos alimentos rondava os 9%. A supersafra de grãos derrubou muitos preços e o regime de chuvas evitou perdas de muitas culturas consumidas aqui durante o ano. Este deveria ser um dado a ser considerado pelas pessoas sobre sua percepção, não é mesmo? E ele é, mas pode ser também que haja uma desconfiança de que esta não é uma situação permanente e que o ciclo de queda já estaria chegando ao fim – elas têm razão sobre isso também.
     

    Só essa informação não seria suficiente para piorar a expectativa dos brasileiros sobre a inflação. O que pode ter pesado na avaliação geral foi a alta seguida e mais acentuada das tarifas de energia elétrica e dos combustíveis. Houve mesmo um aumento salgado desses dois componentes – cerca de 10% para ambos entre janeiro e novembro, segundo cálculos do Itaú Unibanco.  Estes são itens de peso no orçamento das famílias e assustam quando sobem seguidamente. Quando adicionamos a percepção correta de que acabou o ciclo de deflação dos alimentos, encontramos uma explicação para o pessimismo dos brasileiros.
     

    No final das contas, a pesquisa Datafolha não está nem um pouco equivocada. Se os analistas ouvidos pelo BC esperam que o IPCA vai ser maior em 2018 do que foi em 2017, eles não só corroboram esta visão dos consumidores como podem também influenciá-la. O que a pesquisa não revela exatamente, é qual a intensidade da alta esperada pelas pessoas.
     

    Ainda estamos muito mais perto do período de recessão, mesmo que ela tenha acabado. Há dois anos, ‘logo ali’, o IPCA foi de dois dígitos. A insegurança com o futuro do país e a decepção constante com a política misturam os sentimentos, seria incomum se isto não acontecesse. Vai levar um tempo para que a segurança com o controle da inflação seja assimilada pelas pessoas. Isto não anula a melhora da economia, mesmo que lenta e gradual; a queda acentuada do IPCA neste ano, a melhora no mercado de trabalho – ainda que de qualidade questionável.

  • PIB cresce com retomada do trabalho e consumo das famílias

    As famílias brasileiras estão cuidando da economia. O PIB cresceu 0,1% no terceiro trimestre, contra o período anterior, e quem nos empurrou para este saltinho foi o consumo das famílias, que subiu 1,2% contra o segundo trimestre, e 2,2% na comparação com mesmo período de 2016. Agora vamos deixar os números do IBGE de lado e olhar para o entorno deste resultado para entender de onde veio a força deste consumo. 

     

    O trabalho assume o primeiro lugar da lista de justificativas para este desempenho. Em segundo e terceiro lugares vêm a inflação e os juros, ambos em queda e proporcionando ganho de renda e a volta ao crédito. A intensidade do recuo do IPCA e a resposta dos juros a ela não eram esperados este ano, mas a grande surpresa de 2017 é a recuperação do emprego. Nesta quinta-feira (30), soubemos que a taxa de desemprego continua recuando, fechando o trimestre encerrado em outubro em 12,2% e agora são 12,7 milhões de pessoas sem trabalho. 

     

    A geração de vagas este ano, somada à queda da inflação, fez com que a massa de rendimentos reais subisse 4,2% no acumulado do ano até outubro. Com mais dinheiro disponível e a sensação de alívio com a volta ao mercado combinou com o desejo de consumo reprimido por mais de dois anos por causa da pior crise econômica já vivida no país. Os brasileiros voltaram às compras nos supermercados, nas concessionárias de carros, nas lojas de móveis e eletrodomésticos. 

     

    Apesar desta força ter voltado, ela não foi suficiente para alavancar os grandes setores da economia, como indústria e serviços. Ainda assim, ambos apresentaram recuperação no terceiro trimestre, segundo IBGE. No caso dos serviços, o resultado positivo, alta de 0,6% contra período anterior, foi uma surpresa positiva. Olhando para dentro do número, vemos que o comércio, que na estatística fica dentro dos serviços, foi um grande responsável pelo desempenho. Os serviços prestados às famílias são a única categoria do setor que tem reagido com mais intensidade.  

     

    A indústria caminha lentamente, com alta de 0,8% entre julho e setembro, mas ainda está 18% menor do que em 2013. A boa notícia que apareceu neste dado do IBGE foi o crescimento do investimento, que subiu 1,6% no período. Sendo justa com a informação, esta é uma meia boa noticia já que no acumulado do ano, a chamada formação bruta de capital fixo, o indicador que mede os investimentos, está recuando 3,6%. Isto significa que o investimento na capacidade de produzir mais e melhor não está acompanhando a demanda que cresce pelo consumo dos brasileiros. 

     

    Aqui começam as ressalvas da surpresa positiva do mercado de trabalho, aliado ao IPCA de 3% e aos juros na casa dos 7%. A primeira ressalva é exatamente a dependência que estamos do consumo das famílias. Crescer via consumo pode ser bom num momento de retomada, mas não é bom que seja só isso como vemos agora. O dinamismo esperado pelo lado da oferta, que está na indústria, nos serviços e nos investimentos, ainda não aconteceu. 

     

    Sinal claro que os consumidores não estão preocupados com a origem do que desejam comprar é o desempenho das importações, que subiram 14,6% no terceiro trimestre. Nós já vimos este filme antes e sabemos que, se persistir o mesmo roteiro, ele acaba em mais inflação, alta dos juros e na interrupção do processo de retomada. Aqui cabe outra meia boa notícia: temos tempo. A ociosidade do parque produtivo do país, depois da pior recessão da história, é grande e vai comportar esta demanda mais forte. 

     

    No curto prazo, ou seja, nos próximos seis meses, vamos assistir a uma alta leve do IPCA porque está chegando ao fim o período de queda acentuada dos preços dos alimentos e, ao mesmo tempo, alta mais acelerada dos preços de energia elétrica e combustíveis. Nada que comprometa a meta de inflação de 2018, de 4,5%. Nada que comprometa também a estratégia do Banco Central de aproveitar a oportunidade de baixar o juro para a casa dos 6%, mesmo que seja por um curto espaço de tempo, o que vai colaborar para a volta do crédito – que precisa voltar para as empresas já que até agora, são as famílias (de novo) que têm tomado novos empréstimos. 

     

    Mesmo com resultado tão miúdo, de apenas 0,1%, ainda dá tempo do PIB fechar o ano com crescimento de 0,8%, como espera a maioria dos economistas. O quarto trimestre é, obviamente, o mais forte porque conta com o Natal e as renovações de estoques. Esta mesma toada deve seguir em 2018, sem muita empolgação. Ainda mais se o Congresso Nacional não conseguir aprovar alguma reforma da previdência. Os investidores que deram aval ao governo este tempo todo já começam a cobrar um pedágio pela espera e não é possível saber como isto pode contaminar a trajetória da retomada da economia. 

     

  • "Temos que ser adultos e tomarmos decisões", diz Mansueto Almeida sobre a reforma da Previdência

    Não foi a primeira vez e não será a última que as redes sociais serão usadas por autoridades para dar recados ou chamar atenção para algum debate. O secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, Mansueto Almeida, foi para Twitter nesta quarta-feira para falar sobre a reforma da previdência. Também não é inédita a aparição dele para debater o tema, mas os posts de hoje chamaram atenção porque ele sinalizou como certo o que ainda era uma ideia sem confirmação: o fim da DRU, a Desvinculação das Receitas da União.
     
    Quem argumenta que não há déficit na previdência aponta a DRU como uma das vilãs das contas, já que ao liberar parte da arrecadação dos impostos para usar como quiser, o governo estaria “tirando dinheiro” destinado à seguridade social para fazer o que quiser e com isso provoca o rombo nas contas.
     
    Mansueto está em Frankfurt, na Alemanha, onde está para participar de um encontro com 100 investidores. Ele foi de última hora no lugar do chefe, ministro Henrique Meirelles, que foi convocado pelo chefe dele, presidente Michel Temer, a ficar no Brasil enquanto a votação da reforma da previdência não acontecer, ou chegar ao final da batalha deste ano. O secretário falou com o Blog pelo telefone.
     
    “Eu quis chamar atenção para esse ponto da proposta.  Eu escrevi o óbvio, não tem nenhuma novidade, não. Estou reforçando o debate sobre a previdência. Nós estamos num momento em que as pessoas querem acreditar que existe solução fácil para tudo, infelizmente não há.  Temos que ser adultos e tomar decisões. Para quem nega o déficit da seguridade social e da previdência, fala que a DRU retira dinheiro da seguridade. O governo vai acabar com a DRU, vai acabar a transferência dos recursos e o déficit vai continuar”, disse Mansueto.
     
    Fazendo as contas, a manutenção não faz mais sentido. Se toda liberdade que o governo ganha para usar os recursos dos impostos arrecadados está sendo consumida pelas despesas com a previdência, para quê ter o instrumento? A DRU deu ao governo este ano cerca de R$ 100 bilhões e o rombo com as aposentadorias está projetado para ser de R$ 189 este ano.
     
    “Muita gente acha que o problema é só o déficit. Não é. O problema é o crescimento do gasto ao longo dos anos.  Mesmo que a conta fosse zerada hoje, ou seja, que a arrecadação desse conta das despesas da seguridade, o problema seguiria ficando pior. O Brasil é país jovem, mas será velho em 30, 40 anos. Em 40 anos nós seremos como o Japão é hoje, o país do mundo com maior proporção de velhos sobre os mais novos. Nós gastamos o dobro que eles. Se a gente já fosse velho não seria anormal, mas nós vamos nos tornar velhos logo logo. É uma bomba relógio”, alerta o secretário. 
     
    O secretário não quis dar seu prognóstico sobre a votação da reforma no Congresso. Disse que o governo está mobilizado, tanto que ele teve que ir para Alemanha, no lugar de Meirelles, porque o ministro não pode largar a briga de jeito nenhum.
     
    “O governo está negociando. É um tema que desperta paixão no mundo todo. A sociedade brasileira espera por grande proteção do estado, isso passa pela previdência, por saúde, educação, segurança e todos os benefícios concedidos pelo governo como abono salarial e seguro desemprego. Se juntar toda esta despesa, o Brasil gasta como a Inglaterra, mas lá, só 6% do PIB vai para a previdência. Aqui, é o dobro”, aponta Mansueto Almeida.
     
    O debate sobre a votação da reforma voltou algumas casas nos últimos dois dias. O mercado financeiro sente e reage. A bolsa de valores voltou ao patamar de 72 mil pontos, fechando em baixa, e o dólar subiu. No final das contas ninguém sabe dizer se vai passar ou não alguma coisa pela Câmara do Deputados até o final do ano. Nos próximos quinze dias o caldo deve esquentar e olhe lá se vai adiantar tanta postagem nas redes sociais para convencer deputados a aprovarem a mudança.
     
    PS: Perguntei ao secretário Mansueto Almeida o que ele vai falar aos investidores em Frankfurt.
     
    “Vou contar a verdade! O Brasil de um ano atrás tinha risco país acima de 300 pontos, uma inflação de 9% , juros de 14,5%, mergulhado na pior recessão da história. Hoje temos inflação de 3%, juro de 7%, risco país em 170 pontos e um ajuste fiscal gradual sendo feito pelo lado da despesa e para isto tudo se manter dar certo a reforma da previdência é essencial. Mesmo depois disso, temos muitos desafios pela frente, mas o Brasil já mudou”, disse ao Blog.

  • "Nova MP do PDV dos servidores não terá mudanças nas regras", diz Secretário do Planejamento

    Que o governo tem um buraco gigantesco nas contas públicas, todo mundo sabe. Estão faltando R$ 159 bilhões neste e no próximo ano para cobrir as despesas primárias da União. O mês de outubro foi positivo em R$ 4,74 bilhões, depois de cinco meses de resultados no vermelho. O Tesouro Nacional, sob a gestão da Ana Paula Vescovi, tem melhorado e muito a gestão das contas e, apesar do tamanho do problema, há avanços relevantes na administração do caixa público.
     
    Além do esforço para organizar a casa, arrumar recursos e tapar o rombo, o governo também tem o desafio de melhorar a gestão pública como um todo, especialmente no que diz respeito ao funcionalismo. Foi com essa ideia que o Ministério do Planejamento editou uma Medida Provisória criando um Programa de Demissão Voluntária para os servidores públicos.
     
    A MP acabou de caducar por falta de votação no Congresso, mas conseguiu, em quase três meses em vigor, juntar apenas 76 funcionários para aderirem ao programa. Uma nova Medida será apresentada pelo governo em janeiro e, antes que alguém faça planos esperando que ela virá com mais benefícios do que na primeira versão, o secretário adjunto do Planejamento, Rodrigo Cota, avisa.
     
    “A nova MP não vai trazer nenhum benefício a mais. Pode haver alterações no texto mais por uma questão jurídica do que por mérito. Algumas emendas que foram apresentadas no Congresso poderão ser aproveitadas. Mas aqueles termos básicos, principais, não tem como mexer”, disse em entrevista ao Blog.
     
    Rodrigo Cota rebate as críticas de que o governo estaria preocupado com a poupança que faria se o PDV tivesse tido boa adesão, na casa dos 5 mil servidores. A economia poderia chegar a R$ 1 bilhão no ano que vem, se toda essa gente tivesse escolhido deixar o serviço público, ou até mesmo reduzido a carga horária para ter tempo livre para fazer outras coisas.
     
    “Mais importante do que o ganho fiscal imediato que teríamos, era dotar a administração pública de um instrumento de saída com regras claras e graduais para os servidores que quisessem. A ideia era uma espécie de escadinha: primeiro a redução da jornada para que ele pudesse experimentar um negócio ou outra atividade. Depois a licença sem vencimento e por último o desligamento total”, explica.
     
    O secretário explicou que não há como avaliar o que desmotivou os servidores a aderirem ao PDV. Seria por causa do medo do desemprego que atinge 13 milhões de brasileiros na iniciativa privada? Seria por que não querem perder os benefícios e a segurança do serviço público? Ou por que esperam que o governo possa ser mais generoso nas regras de saída?
     
    “É uma questão individual de cada servidor. Não temos como avaliar isto. É possível que muitos tenham preferido esperar a MP virar lei para depois ao PDV. Pode ser que tenham tido expectativa de mudanças nos benefícios do programa, não temos como afirmar. O que podemos dizer é que não vamos mudar os termos principais da primeira MP na versão quer será apresentada em janeiro”, afirmou Rodrigo Cota.

Autores

  • Thais Herédia

    Jornalista, especialista economia e política; é colunista da Globo News. Foi assessora de imprensa no BC e gerente de comunicação do Carrefour. Na TV Globo, foi repórter de economia do Bom Dia Brasil. Tem pós-graduação em finanças pela FIA.

Sobre a página

A jornalista Thais Herédia comenta os principais fatos econômicos do país e do mundo e explica como eles afetam a sua vida.