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Por João Borges

Comentarista da GloboNews. Trabalhou em 'O Estado de S. Paulo', 'O Globo' e Banco Central

João Borges e Anna Carolina Papp


Nos encontros bimestrais dos presidentes de bancos centrais no Banco de Compensações Internacionais (BIS), na Basileia, na Suíça, um tema novo, no mundo financeiro pelos menos, tem sido cada vez mais debatido. O presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, em uma das últimas reuniões, disse que o aquecimento global tomou mais tempo do que as discussões sobre a situação financeira mundial.

A presidente do Banco Central Europeu, e ex-diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, ao abrir a discussão sobre o novo plano estratégico do banco, no final de janeiro, disse que naturalmente a instituição manteria foco na questão monetária. Mas acrescentaria também o tema da sustentabilidade.

"Teremos um debate sobre o lugar que o combate às mudanças climáticas ocupará nas estratégias futuras do BCE", afirmou. E acrescentou: " Estou consciente do perigo de não fazer nada e acredito que nem tentar seja no mínimo um fracasso".

Mas por que os bancos centrais de todo o mundo passaram a se interessar tanto por meio ambiente? O interesse pelo tema não reflete a consciência de cada um deles sobre ecologia. A novidade é que os bancos centrais passaram a incluir o tema do aquecimento global como uma variável de risco para a economia mundial.

O economista Otaviano Canuto, membro do Policy Center for the New South, ex-vice-presidente do Banco Mundial e ex-diretor-executivo do Fundo Monetário Internacional, aponta pelo menos três justificativas para o envolvimento dos bancos centrais na questão ambiental.

O primeiro deles seriam os riscos financeiros decorrentes de desastres ambientais. Dependendo dos danos causados, eventuais desastres podem afetar a estabilidade de bancos e seguradoras.

Canato cita relatório do Instituto de Finanças Internacionais (IIF) de junho do ano passado, segundo o qual mais de US$ 2,5 trilhões de ativos financeiros estavam , em 2016, sujeitos a risco derivado de mudanças climáticas.

Um trecho do relatório diz:" Riscos relacionado ao clima são uma fonte de riscos financeiros e, portanto, se encaixam-se perfeitamente no mandato de presidentes de bancos centrais e supervisores de assegurar que o sistema financeiro não esteja vulnerável a esses riscos".

O segundo ponto citado por Canuto está relacionado ao impacto que mudanças climáticas poderão ter sobre o crescimento econômico e sobre a inflação, "portanto, sobre suas decisões política monetária".

E, finalmente, o terceiro ponto seria como os bancos centrais poderiam atuar levando em conta mudanças climáticas. Por exemplo, dando tratamento diferenciado à compra de "títulos verdes" em programas de aquisição de ativos, favorecendo investimentos destinados a mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

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