A indústria da motocicleta do Brasil retrocedeu uma década. As estimativa de vendas para 2015 é de 1,3 milhão, cifra praticamente igual à de 2006, bem longe do recorde de 2011 quando mais de 2 milhões de motos foram vendidas no Brasil. O Salão Duas Rodas 2015 reflete isso, com uma área expositiva nitidamente menor, mas apresenta um número impressionante de novidades.

Honda e Yamaha, principais fabricantes mundiais e donas do mercado nacional (81,4% e 12,5%, respectivamente, em 2014) parecem querer compensar investindo para valer não só na renovação de produtos como na introdução de modelos 100% inéditos.

Apesar deste panorama pouco favorável, o Salão das Duas Rodas deste ano

É o caso da CB Twister, que chega para ocupar o lugar da CB 300R, moto que mesmo no difícil 2014 superou a marca de 30 mil unidades vendidas.

Honda CB Twister

Menos é mais
Apesar de reeditar um nome, Twister, usado em uma moto da Honda fabricada de 2001 a 2008, esta 250 pretende mostrar que menos é mais, de certa forma acompanhando a tendência mundial da indústria do automóvel, oferecendo motores menores mas tão o mais eficientes em termos de consumo e emissões de poluentes. É o "downsizing" chegando ao mundo das duas rodas.

Leve, ágil e econômica a Honda CB Twister se propõe como o 2º degrau na vida do motociclista cansado da anônima motoneta ou da utilitária de 125 ou 150cc. Ou seja, um verdadeiro "upgrade" em termos de performance e status. Antes disso, 2 meses atrás, a Honda lançou uma nova CG 160, seu cavalo de batalha e número 1 em vendas desde sempre, reforçada por um motor mais potente – 160cc em subsituição ao 150cc – e aperfeiçoada no design.

Outra forte novidade é da Honda é o scooter SH 300i, moderníssimo, que chega para contrastar o dominador absoluto desta faixa de mercado, o Dafra Citycom 300i, verdadeiro “case” de sucesso lançado em 2010 e que nunca teve concorrente direto.

Yamaha Factor 150

Do lado da Yamaha, o salão serviu para a "avant première" da Factor 150, que vem para reforçar a linha de entrada da marca, qualificando-a: sai o motor de 125cc e entra o mais potente 150cc, acompanhado de um design que a aproxima de modelos mais elaborados da marca, as Fazer 150 e 250.

Esta investida da Yamaha com uma nova utilitária não foi a única: pouco tempo atrás, a marca lançou uma elegante esportiva de 300 cc, a YZF-R3. Com preço ao redor dos R$ 20 mil (a Factor 150 não supera os R$ 8 mil na versão mais elaborada), é uma moto para aficionados, direcionada para um público sensível ao estilo que remete às conquistas da Yamaha na motovelocidade.

Se a Factor foi o centro das luzes da marca no salão, tendo como coadjuvante ainda outras novidades bem mais caras, MT-09 Tracer e YZF-R1, um pequeno scooter a metros dali não mereceu palavra: o NMax 150. Todavia, bastou perguntar a qualquer executivo da marca para ouvir que, sim, o modelo será montado em Manaus, ainda no primeiro semestre de 2016, e terá preço alinhado ao do “dono” do segmento, o Honda PCX 150.

Mas e a crise?

Questionado sobre este vigoroso investimento em novos modelos, em um momento no qual o mercado está com o nariz apontando para baixo, deprimido, Shigeo Hayakawa, presidente da Yamaha Motor do Brasil explicou, sem meias-palavras, que tais ações são parte de um novo perfil da empresa: “A Yamaha tem excelentes produtos em todos os segmentos e queremos oferecê-los aos brasileiros”.

E emendou: "Um projeto como o da R3 ou o da Factor 150 não se desenvolve de um momento para outro. Exige um grande trabalho de equipe entre a matriz, no Japão, e nossa engenharia no Brasil. Agora o momento não é favorável, a economia do país passa por problemas, mas confiamos que isso é algo passageiro e alterar nosso planejamento não seria adequado."

Tal posição é corroborada por Alexandre Cury, diretor comercial da Honda, que enfatiza que a aposta da marca no Brasil é algo definitivo e que outros momentos ruins aconteceram desde quando a empresa começou a produzir no país, em 1976.

Para o executivo, investir em novidades em um momento de vendas fracas aproxima o Brasil de mercados mais evoluídos, como o europeu, onde a oferta de novos produtos foi a ferramenta certa para conter a queda nas vendas, especialmente depois da crise do final de 2008.

Para Cury, atrair o cliente neste momento exige caprichar no conteúdo do catálogo da empresa, qualificando modelos, e a chegada de uma novidade elimine algumas versões de motos mais antigas, para dar lugar as mais modernas, enxugando o "line-up", mas tornando-o mais atraente.

Dólar x mercado premium
Praticamente imunes à queda nas vendas do mercado de motocicletas de 2012 para cá, marcas como  BMW e Harley-Davidson parecem ter estratégias diferentes para 2016. Ambas atuam em segmento mais refratário à queda no poder aquisitivo e crédito escasso, mas a forte valorização do dólar frente ao real e a retração econômica implicou em ações específicas.

Como já noticiado nesta coluna, os planos de trazer a mais barata das Harley-Davidson, a Street 750 foram adiados pelo receio do preço não ficar convenientemente distanciado das atuais motos “de entrada” da marca, as Sportster. E a linha 2016 recebeu um aumento médio de 25%.

BMW de R$ 20 mil
BMW G 310 Stunt

A BMW mostrou no salão o protótipo de uma moto que deve quebrar o paradigma de que a marca alemã só oferece motos grandes e caras: uma monocilíndrica de 310 cc está em vias de entrar em produção.

De de acordo com Matteo Villano, gerente de vendas da marca, a novidade será comercializada no Brasil, possívelmente ainda em 2016. Porém, o executivo enfatiza que, mesmo sendo mais acessível em termos de preço (estimamos entre R$ 20 mil e R$ 22 mil, alinhado com o de concorrentes como a KTM 390, Kawasaki Z300 e Yamaha YZF-R3), a pequena BMW trará 100% de do DNA da marca, ou seja, tecnologia evoluída em embalagem “premium”.

Não só as marcas citadas trouxeram bons e belos modelos: a americana Indian, a inglesa Triumph, as italianas Ducati e MV Agusta, a austríaca KTM e a taiwanesa SYM (via Dafra) resolveram que, mesmo neste cenário nublado da economia brasileira, a falta de timidez e a sedução que a novidade exerce pode ser um eficaz instrumento de venda.

Fotos: (nesta ordem) Honda CB Twister, Yamaha Factor e BMW G 310 Stunt
Crédito: Caio Kenji/G1