• Sua moto fica muito tempo parada? Veja como evitar problemas


    Em casa de ferreiro, o espeto é de pau. Este modo de dizer serve bem para mim, que paguei pecados por um erro que alguém às voltas como motores há muitas décadas como eu não poderia jamais ter cometido. O que fiz? Larguei minha pequena Honda Pop 100 sem uso durante meses, sem tomar as devidas providências.

    Em minha defesa, afirmo: eu sabia de tudo de ruim que aconteceria, mas não havia como contornar, e deu no que deu… Sem entrar nos detalhes da burrada, foco no ponto crucial que é como evitar problemas em uma moto parada por muito tempo.

    Primeiro de tudo, definir “muito tempo”? Uma semana pode ser muito, se sua moto estiver com uma bateria cansada. Se você usa sua moto regularmente – pelo menos umas 3 vezes por semana e por períodos acima de meia hora – sua bateria deverá suportar tranquilamente uma inatividade de ao menos uma semana-10 dias. Tal verdade se aplica a baterias de no máximo 2 anos de vida que é, hoje em dia, a média de vida útil deste componente. No passado, especialmente por conta dos materiais usados, baterias costumavam durar mais. Hoje baterias livres de manutenção (nas quais não é possível completar o nível da água destilada) têm vida útil menor. Conforme-se.

    Sugadora de volts
    Mas, então, o que fazer? Regra básica nº 1 é evitar descargas de energia excessivas no período imediatamente anterior ao de “hibernação”, no qual sua moto ficará muito tempo sem uso. Isso quer dizer, em termos práticos, evitar absolutamente o uso de buzina, um dispositivo sugador de volts. Se acaso sua moto tiver partida elétrica, evite também partidas prolongadas ou uso intenso no período imediatamente anterior ao da imobilização.

    Um truque que pode ajudar (e depende muito da facilidade de acesso da bateria) é desligar o pólo negativo, o cabo preto, tomando cuidado para isolá-lo de qualquer contato. No entanto, este expediente pode ser contraindicado em caso de motos com eletrônica mais sofisticada, as motos maiores, que podem sofrer uma desprogramação do sistema eletrônico. O melhor é consultar o seu mecânico sobre o tema, ou então deixar a bateria plugada a um pequeno carregador, que, mais do que carregar, evita que ela se descarregue.

    Nas motos pequenas, a bateria não é a maior fonte dos problemas pois, mesmo se 100% descarregadas (o que não fará muito bem à bateria…), geralmente elas não afetam o funcionamento do motor. A partida elétrica, óbvio, não funcionará, mas, como no caso de minha Pop 100, ali estará o salvador da pátria, o pedalzinho de partida, que sempre dá conta de "acordar" o motor, caso o mais cruel dos problemas das motos paradas por muito tempo não tenha se instalado, com todos seus malefícios: a gasolina velha.

    Combustível 'gagá'
    Gasolina velha pode prejudicar a moto

    Nada pior do que um sistema de alimentação impregnado de combustível deteriorado. No caso disso ter acontecido, você estará – como eu – ferradão, e haja tempo e mão de obra para recolocar as coisas seu devido lugar, fazer a correta assepsia do sistema para que tudo volta a funcionar.

    Qualquer gasolina tem prazo de validade. A nossa, de um modo geral, não prima pela qualidade. Técnicos no assunto estabelecem 6 meses como prazo máximo antes do combustível se tornar inadequado. Isso se ele for mantido em armazenamento ideal, que não é o caso do seu tanque.

    Pergunta: no posto onde você abastece te informam o prazo de validade do combustível? Claro que não! Por isso, é prudente considerar a metade deste prazo, 3 meses, como a validade real desde que alguns prodedimentos sejam respeitados desde o momento que você a adquire até o uso.

    Os sintomas
    Antes de falar como manter sua gasolina "jovem" por mais tempo, vou citar os sintomas que a gasolina ruim/velha causa em sua moto. Em casos extremos, o motor simplesmente não “pega” ou, quando funciona, o faz de maneira iregular, falhando, respondendo de maneira estranha ao comando do acelerador.

    Em caso de gasolina velha em motos mais simples ou antigas, equipadas com carburador, é preciso desmontar e limpar o sistema

    No caso de motos mais simples ou antigas, equipadas com carburador, a cura para isso implica na desmontagem e limpeza do sistema, pois a gasolina vencida se deteriora, formando depósitos, uma espécie de goma que adere às pequenas passagens dos giclês, nome dado a tubinhos com furinhos mínimos cujo papel é participar ativamente da elaboração da mistura ar+combustível, responsável pelo funcionamento de qualquer motor à combustão interna.

    Motores mais modernos, dotados de sistemas de injeção eletrônica de combustível também sofrem com a gasolina deteriorada, mas menos: geralmente o motor funciona, mas muito mal, dando clara mostra de não estar gostando nada da bebida que lhe está sendo servida.

    Gasolina velha retirada do tanque da moto

    Como resolver
    Procedimento padrão em ambos casos é se livrar do líquido deteriorado, com o cuidado de não empestear o meio ambiente, ou seja, jamais jogar gasolina (ou óleo) em um ralo ou em qualquer outro local que não seja um distribuidor de combustíveis. Isso mesmo: o lugar onde você adquire combustível é o ideal para se livrar dele. Em todo posto devem existir tambores destinados a receber óleo queimado e gasolina velha, que será transportada até um lugar onde tais líquidos serão devidamente reciclados.

    Desmontar um carburador e limpá-lo não é algo complexo, mas tal atividade é e será sempre melhor se deixada para profissionais.

    Como evitar
    Assim, se o mal já foi feito, melhor explicar o que fazer para evitar que tudo se repita da próxima vez, caso sua moto vá ficar parada por mais de duas semanas.

    1ª Sempre deixe o tanque cheio até a boca: quanto menos ar houver no reservatório, menor será a evaporação do combustível e sua consequente oxidação, que é a maior responsável pelo envelhecimento e surgimento da tal goma maldita.

    2ª Prefira gasolina aditivada ou do tipo premium, que à diferença da gasolina comum, conta com aditivos antioxidantes, que retardam o envelhecimento.

    3ª Se o período sem uso for maior do que 2 ou 3 meses, antes de ressucitar sua moto, simplesmente retire a gasolina velha do tanque e a substitua por uma nova.

    4ª Caso sua motocicleta tenha torneira de combustível, antes de deixar a moto descansar pelo período que for, coloque-a na posição fechada e deixe o motor funcionar até “apagar”. Isso fará com que o carburador praticamente seque. Quer caprichar neste item? Após o motor morrer sozinho, esvazie a cuba, nome dado ao reservatório situado na parte inferior do carburador, onde sempre há um parafuso e um dreno, mangueirinha destinada exatamente para esta finalidade. Não esqueça de apertar parafuso novamente, após o pouco de gasolina restante ter parado de escorrer.

    5ª Evite deixar sua moto exposta ao sol ou calor excessivo, fatores que aumentam a prejudicial evaporação do combustível.

    6ª Outra dica importante se refere aos pneus: se possível, deixe sua moto estacionada no cavalete central, se houver. Em caso negativo, infle-os com pressão maior do que a recomendada, cerca de 20%-25% a mais. O objetivo é duplo: tanto o de minimizar eventuais deformações dos pneus quanto encontrar a moto com condições de encarar o trajeto até o calibrador mais próximo.

  • Motos: o que esperar de 2016?


    Apesar do mergulho das vendas nos últimos quatro anos - dos mais de 2 milhões de motos comercializadas em 2011 passamos a 1,2 milhão em 2015 – o Brasil continua sendo um fenomenal mercado para a motocicleta.

    Qualquer analista minimamente informado sabe que, diante das condições econômicas atuais, a simples repetição dos números obtidos no ano passado já será um bom resultado neste 2016 prestes a começar.

    Esperar um crescimento nas vendas no ano novinho em folha, que começa capenga, com bolsos mais vazios do que nos anos anteriores, é pura ilusão. O que teremos, com sorte, é um pouco mais do mesmo visto em 2015: alguns segmentos mostrando algum vigor, especialmente o das motos acima de 500cc e os scooters, e os restantes marcando o passo.

    É um cenário pouco alentador mas que não desanima as marcas mais estruturadas, que continuarão a propor modelos atualizados e até mesmo 100% novos, buscando não apenas qualificar o mercado das motos com versões mais sofisticadas – a crise afeta menos os mais abonados! – como também renovando seu catálogo.

    2016 MAIS LIMPO
    Uma forte “lição de casa” teve de ser concluída em 2015 para atender a segunda fase do PROMOT 4, que vigorará a partir do primeiro mês do ano novo. A exigência não foi a de diminuir ainda mais a emissões de gases poluentes pelo escapamento, mas sim caprichar na contenção da poluição “silenciosa”, mas nem por isso menos nociva, que emana dos tanques de combustível e reservatórios de óleo. Deste modo, os modelos 2016 poderão ser reconhecidos facilmente pelo tipo de tampa do tanque, que agora não mais poderão deixar escapar gases fruto da natural evaporação do combustível ou lubrificante na atmosfera.

    O processo para tornar nossas motos menos vilãs do meio ambiente fez vítimas durante 2015: a líder Honda literalmente “matou” alguns motores, tirando-os de linha. Entre eles o robusto 100 cc da Pop e os festejados 150 cc das CG e Bros. Eles deram lugar aos novos 110 e 160 cc, mais “limpos”, que enveredaram por um caminho de qualificação ambiental que não tem volta. Empresas que não adequaram seus modelos às atuais exigências terão de se contentar em vender o que tem no estoque e aposentar o produto.

    SCOOTERS
    O segmento das motocicletas mais básicas não deve ser protagonista de grandes lançamentos em 2016 mas no âmbito dos scooters há fortes indícios de que o setor pegará fogo: o Honda SH 300 apresentado no Salão das Duas Rodas em outubro passado aterrisará nas revendas em breve com a missão de repetir o sucesso de seus irmãos Lead 110 e PCX 150. Honda SH 300
    Não será exatamente fácil já que o grande rival e rei inconteste desta faixa de mercado, o Dafra Citycom 300i, continuará tendo um forte apelo de vendas além de sua fama de robustez mecânica, que é o preço mais baixo. 

    Pode até ser que a Honda se decida por um improvávellucro zero na venda do SH 300, mas a previsão mais concreta é que o Dafra custe bem menos que a novidade da Honda. Assim, será interessante assistir o embate entre o poder do nome Honda e as vantagens de ter uma enorme rede de concessionárias contra o preço menor do Citycom 300i. Yamaha NMax

    Outra chegada importante entre os scooters é o Yamaha Nmax 160 que mira nos clientes do mais vendido da categoria no Brasil, o PCX 150, enquanto o Sym Fiddle III 125, proposto pela Dafra, é outra estreia confirmada que chegará para agradar quem busca um scooterzinho de look mais clássico e porte menor, como a ala feminina.

    MÉDIAS EM ALTA

    A CB Twister certamente se aproveitará do fator novidade (e da marca Honda estampada no tanque) para continuar dominando o segmento das 250-300cc, mas há sinais de guerra no horizonte. Uma Yamaha Fazer 250 renovada seria bem vinda mas o que mais salta à vista é o upgrade do segmento, que parece uma tendência irreversível.

    Motocicletas que custam até 50% mais do que a dupla Twister-Fazer estão em alta, e são inegavelmente mais atraentes. A pioneira Kawasaki Ninja 300 se juntaram em 2015 sua irmã naked, a Z300, as apimentadas KTM Duke 200 e 390 e a Yamaha R3.


    Para 2016 a chegada da naked Yamaha MT-03 é quase certa, e certas também são as exclusivas Ducati Scrambler Sixty2 e BMW G 310 R, que serão montadas em Manaus. Todas as citadas farão sombra tanto para a dupla do “andar de baixo”, Twister-Fazer de 13-15 mil reais, quanto para as do “andar de cima”, as 500-600 que vão dos 23 mil reais (Honda CB 500F) aos 28 mil (Yamaha MT-07). Ou seja, em 2016 teremos um paradoxo: as médias (grandes ou pequenas!!!) vão ferver….

    MT-07 DEVE MANTER SUCESSO EM 2016. ASSISTA AO VÍDEO:


    TRAILS COM GÁS
    Quer fazer uma aposta e ganhar? Coloque suas fichas nas trails. Das menores às maiores, as fascinantes maxitrails, este é um segmento que irá continuar em franca evolução em 2016. Elas são uma moda e também uma necessidade, ajudadas nisso pelo descaso com a pavimentação, marca registrada de todos nossos governantes atuais.

    A tendência aventureira está presente em todo canto, dos carros, às roupas e nos esportes mais seguidos. Nesse ambiente a Honda parece ser a mais ativa, e já está certa a chegada de sua novíssima maxitrail, a grande CRF 1000L Africa Twin. Porém, a primeira motocicleta que chegará desta nova safra será a revista Honda XRE 300, com novo cabeçote e retoques no visual. Honda CRF 1000L Africa Twin


    É logico pensar que a Yamaha, com este movimento, esteja trabalhando em versões modernizadas de suas 250Lander e Ténéré, ou até mesmo em ousar trazendo a interessante WR 250R. O que espanta é perceber que marcas com tradição em motos off-on road como Suzuki e Kawasaki não sejam fortes neste segmento das trail de entrada no Brasil. E o que dizer da KTM? A Freeride 350 cairia bem por aqui, não?

    CINQUENTINHAS & CIA.
    As cinquentinhas eram um segmento “submerso” em nosso mercado, com pouca visibilidade fora da região nordeste do país, atualmente o maior mercado do país em quantidade. Em 2016 a exigência do licenciamento, decidida no final deste ano, poderá travar o crescimento das 50 cc assim como a eventual exigência da CNH ou documento equivalente para sua condução. Barata para comprar mas cara para colocar na rua e restrita a maiores de 18 anos, a 50 cc poderá dar lugar as motonetas: Honda Pop 110i e a Biz assim como as Yamaha Crypton poderão herdar esses clientes.

    VONTADE DE MOTO
    Independentemente do ânimo das marcas, dependentes do andamento de nossa economia, a vontade de ter uma motocicleta continua forte no Brasil. Seja por necessidade – o transporte público aqui é precário e a facilidade em transformar a moto em ferramenta de trabalho atrai –, ou para simples uso por prazer e lazer, motocicletas e brasileiros vivem um romance que não parece ter ainda chegado a sua completa realização.
    Qual o potencial do mercado nacional se os ventos fossem favoráveis? Há quem diga 3 milhões de motos/ano, e há os otimistas que especulam que o teto poderia ser de 5 milhões. Certeza, agora, só uma: que 2016 com sorte será um ano igual ao já nada bom 2015 em vendas, má realidade que poderá ser compensada por lançamentos interesantes que buscarão a mencionada qualificação do mercado e bolsos que ainda tenham algum para gastar.

  • Cavalos sacrificados, mas por justa causa



    Perdemos, mas ganhamos! Esta paradoxal afirmação serve para explicar o que vem acontecendo com nossas motocicletas, mais específicamente com a potência de seus motores. Para exemplificar, nada melhor do que números.

    A mais vendida das 125 de vinte anos atrás era, como ainde é hoje, a Honda CG. Na ficha técnica declarada pelo fabricante naquela época a potência era de 12,5 cavalos. Já a CG 125 atual tem 11,6 cavalos declarados. Redução semelhante ocorreu com a CB 500. A bicilíndrica fabricada no final dos anos 1990 tinha 54 cavalos, a atual, 50. Em duas décadas, cerca de 7% de redução em potência pura. Qual a razão? A resposta é simples: emporcalhar menos a atmosfera.

    Gases emitidos por motores a combustão interna são um inimigo a ser derrotado. Quanto menos poluentes um motor emite, melhor para a saúde do planeta e de seus habitantes. Programas de redução de gases nocivos são uma realidade consolidada em praticamente todos os países do mundo que tenham uma grande frota de veículos.

    O nosso é o PROMOT – Programa de Controle da Poluição do Ar por Motociclos e Veículos Similares, que desde 2002 estabeleceu metas para motores mais limpos. Na contrapartida mais evidente, essas metas acarretam a assinalada perda de potência.

    Honda CG 125 Fan - Catalisador
    Um motor menos malvado com o meio ambiente se obtém trabalhando basicamente em duas frentes: otimizar a alimentação para que a queima do combustível aconteça de maneira eficiente e no tratamento dos gases resultantes desta combustão.

    Tecnicamente isso acontece com a troca dos anacrônicos carburadores por sistemas de injeção eletrônica, bem mais modernos e precisos, e filtrando o que é expelido pelo escapamento por meio de catalisadores.

    Dosar com precisão o combustível enviado à câmara de combustão é a principal vantagem da injeção eletrônica sobre os carburadores. Quanto menor for a quantidade de combustível queimado, menor a quantidade de gases expelida mas… menor também será a energia gerada.

    E quanto mais “estrangulada” for a saída dos gases queimados pelo escape, menor a capacidade do motor girar e “jorrar” potência. Ou seja, um problema de solução complexa no qual obter maior economia, aproveitamento energético e mímimas emissões de poluentes não poderiam resultar em motores decepcionantes e inseguros. Deste modo chegou-se a uma solução de compromisso e alguns cavalinhos foram sacrificados.

    Honda CB500 Anos 90


    Perdemos e basta, então? Não é bem assim. Potência, normalmente expressa em cavalos ou cv (cavalo-vapor) é uma medida importante para avaliar a competência de um motor em cumprir bem sua tarefa de empurrar um veículo, mas perder alguns cavalos (potência) em nome do meio ambiente resultou em uma contrapartida interessante, um ganho de força, o torque.

    Certamente você já ouviu falar nele, o torque. Medido em Nm (Newton metro) ou kgf.m (quilograma força metro) é algo fácil de endenter na prática, mas difícil de explicar com palavras. Em síntese, torque é a força que você aplica quando usa uma chave de fenda para tentar afrouxar um parafuso. Ele pode girar ou não, mas a força está presente. Já a potência seria a força empregada quando o parafuso girar, e quanto mais rapidamente for este movimento, maior potência está sendo empregada.

    Em uma motocicleta, um motor de bom torque, bem distribuído no arco de rotações, garante retomadas de velocidade imediatas e vigorosas. Um motor muito potente consegue levar a motocicleta a velocidades elevadas. Um com muito torque, a vencer a inércia com maior facilidade.

    Honda CB500R 2014

    É o equilíbrio entre estes dois “parceiros”, potência e torque, que determina o caráter de uma moto: superesportivas devem ser obrigatóriamente potentes e sua faixa de torque máximo fica em rotação elevada. Já motos para o uso no dia a dia, seja em cidade, estrada ou uso misto, tendem a ser mais agradáveis quando o torque é elevado desde as mais baixas rotações, e assim permanece, bem distribuído, em todas as faixas de giro do motor.

    Enfim, em nome de um planeta mais limpo, motores mudaram, a potência máxima diminuiu mas no lugar dela ocorreu uma saudável mudança que se percebe nitidamente: nas motos atuais é preciso girar menos o acelerador para tirá-las da imobilidade e ganhar velocidade.

    Abrimos mão de uma velocidade máxima mais elevada, mas esta, convenhamos, está cada vez mais difícil de ser alcançada sem desrespeito às leis. É a vitória do politicamente e ambientalmente correto sobre os excessos de outras épocas, sejam eles de consumo, fumaça ou quilômetros por hora.

    Honda CG 125 1989

  • Africa Twin e R 1200 GS: big-trails são 'tanques de guerra' das motos

     


    Fascinantes e cada vez maiores, as bigtrails são um fenômeno de sucesso relativamente recente na indústria motociclística mundial. Uma rápida olhada para o passado indica que foi do meio para o fim do anos 1970 que as trail, motos nas quais a agilidade e leveza era o maior predicado, receberam o “fermento” que as fez ir crescendo e crescendo cada vez mais.

    Qual é mãe de todas as bigtrail? Há quem sustente que foi a Yamaha XT 500. Apresentada em 1975, logo se tornou um sucesso comercial comprovando que alguns clientes não acharam nada ruim ter um motor mais forte em uma estrutura mais parruda em troca de alguns quilos a mais. Yamaha XTZ 750 Super Ténéré
    Divisor de águas para a consagração da receita foi o sucesso nos ralis africanos. As Yamaha XT 500 praticamente originais venceram as duas primeiras edições do rali Paris-Dakar e tais vitórias tendo como palco mítico deserto do Ténéré garantiram à marca as excelentes vendas de suas motos batizadas com este nome, sejam elas grandes como a Yamaha XTZ 1200 Superténéré, as mais comuns XT 600 ou 660 e as menorzinhas XTZ 250 Ténéré. Yamaha XT 1200Z Super Ténéré
    Mas foi em 1981 que a moto vitoriosa no rali Paris-Dakar fez nascer a verdadeira receita de bigtrail através de um modelo que virou lenda: a BMW R 80 GS, a primeira da série a usar estas tão conhecidas letrinhas. Desde então as GS foram sendo lapidadas e se transformaram em uma espécie de moto-referência quando o assunto é bigtrail.

    Na época de seu lançamento em 1980 a BMW R 80 GS foi vista por muitos como uma moto paradoxal, uma trail sem nexo. A principal causa era seu motor, um boxer bicilíndro de 800 cc largo e pesado. Também causava espanto a escolha da transmissão final por cardã, que em nada ajudava a traseira ter os predicados esperados de uma off-road tais como grande curso de suspensão e leveza. BMW R 80 GS
    No entanto estas BMW GS comprovaram que a estranha receita era boa e venceram o Paris-Dakar em 1983, 1984 e 1985com as R 100 GS, com motores ainda maiores, de 1.000 cc. Tal dominio no então popularíssimo rali africano serviu como uma verdadeira rampa de lançamento para a receita de bigtrail da marca alemã onde motor bicilindrico e peso elevado derrotavam as mais leves motos com motores monocilíndros.

    G1 JÁ AVALIOU A TRIUMPH TIGER 800. ASSISTA:


    Nova Africa Twin vem por aí
    No recém-encerrado Salão de Milão, a mostra mundial que anualmente traz aos olhos do mundo as principais novidades do setor, a Honda CRF 1000L Africa Twin talvez tenha sido o lançamento mais relevante. A intenção da Honda é a de reviver as glórias da XRV 650 Africa Twin original, que lançada em 1986 teve um grande sucesso de mercado, impulsionado pelas vitórias da versão “de briga”, o protótipo Honda NXR 750V e NXR 800V, ganhadoras do rali Paris-Dakar de 1986 a 1989.

    Resumidamente, entramos na quarta década de sucesso deste gênero de motos e mesmo se o rali Paris-Dakar não seja mais tão popular, e tampouco saia de Paris e chegue a Dakar – o palco de disputas agora é a América do Sul e as motos dominantes tem no máximo 450 cc por razões de segurança – praticamente todas as marcas tem em seu catálogo uma bigtrail. Honda CRF 1000L Africa Twin
    Líder deste segmento em todo o planeta é a BMW R 1200 GS, moto cuja receita não se distanciou da R 80 GS de 35 anos atrás na essência. O renascimento da Africa Twin atual, a Yamaha aperfeiçoando cada vez mais suas Ténéré super ou não e até mesmo marcas sem grande tradição no off-road como a Ducati ou a Triumph com representantes neste segmento, as Multistrada e as Tiger mostra o quanto a receita da BMW fez sucesso. Isso para não falar na austriaca KTM , marca especialista em motos off-road, cuja majestosa 1190 Adventure é exemplo.

    'Tanques de guerra'
    O que faz deste gênero de motos modelos tão ambicionados? Um conjunto de fatores. Primeiro deles é, talvez, o inegável ar de indestrutibilidade. Verdadeiros tanques de guerra, tais motos tem na aparência robusta um de seus mais admirados fatores mesmo se isso implique em peso elevado e consequente prejuízo em sua capacidade de superar obstáculos.

    Outro fator não indiferente é que qualquer motociclista sobre elas ganha ares de super-homem. Altas, largas, pesadas e geralmente dotadas de aparatos vistosos como barras de proteção, faróis suplementares, malas e parabrisas gigantes, passam uma impressão de serem difíceis de serem domadas. De fato não são motos indicadas para iniciantes mas na verdade não são tão complicadas de se levar quanto fazem crer. Basta apenas não esquecer da condução atenta e apropriada ao seu volume e peso e, é claro, ter pernas longas o suficiente para manobrá-las. BMW GS
    Hoje as bigtrail são as motos favoritas de quem pretende percorrer longas distâncias pois conciliam conforto e capacidade de rodar em qualquer tipo de estrada com grande capacidade de carga e performance. De fato, elas representam para o mundo da motocicleta o que são os SUV no âmbito dos automóveis com a diferença de que elas, as motocicletas com esta pegada multiuso que não temem estradas ruins e aparentam robustez, estão há bem mais tempo no topo das preferências dos motociclistas do mundo todo, uma moda que não dá menor sinal de estar perdendo força, pelo contrário.

  • Sons do motor ajudam a vender motos: escute os 'barulhos'


    O ruído produzido por um motor de motocicleta pode ser um forte motivador de vendas? Considerando que muitas vezes a compra de uma moto é uma atitude predominantemente emocional, a resposta é um enfático sim. Um bom e recente exemplo desta sedução auditiva é a para muitos a saudosa CB 600F Hornet, cujo som emanado pelo escapamento sempre esteve entre os melhores “garotos propaganda” do modelo. Equipada com um motor quatro cilindros em linha, a Hornet exalava pura esportividade pela ponteira de escape, um som agressivo, que das notas graves em baixa rotação passava às mais agudas em piscar de olhos.

    Tal característica, totalmente oposta a das Honda CB 500 – tanto faz quais delas, se as atuais ou a pioneira vendida de 1998 até 2007 – pode explicar a menor empolgação dos clientes ante a estas eficazes bicilíndricas. Todos sabem que seja os modelos antigos quanto os novos são motocicletas eficientes, de desempenho razoável mas… o som  do espace nem de longe se compara ao da Hornet, e não adianta inventar moda, substituindo a ponteira de escape original por uma do mercado paralelo, em geral mais permissivas em termos de decibéis liberados, pois a “música” não muda. Aumenta o barulho, mas a empolgação e agressividade não aparece. Honda CB 600F Hornet
    Como explicar essa diferença? A resposta já foi dada linhas acima, e é bem simples: o fracionamento do motor, ou seja, na quantidade de cilindros. Verdadeiro divisor de águas nesse curioso mais importante aspecto que tanto pode atrair clientes como afugentá-los, é a primeira motocicleta de quatro cilindros que alcançou relevante sucesso, a Honda CB 750 Four.

    Surgida no final dos anos 1960, a “Four” tinha quatro escapes, um para cada cilindro. Tal motocicleta era um produto surpeendente, à frente de seu tempo, época onde motos grandes eram bicilíndricas ou, no máximo, tricilíndricas. Mas o quatro em linha da Honda mudou o padrão, e para melhor, um som de motor maravilhoso que até hoje é uma referência. Enfim, desconbriu se que a quantidade de cilindros poderia ser não apenas um método de conseguir maior potência como conquistar clientes pelo som do motor.

    Como se não bastasse, alguém também descobriu que o que era bom podia ficar ótimo, trocando os quatro escapes individuais desta histórica Honda por um escapamento tipo “quatro-em-um”, no qual como o próprio nome diz, os quatro canos de escapamento convergiam para uma única saída e… haja ouvido! O som era rasgado, inesquecível, adorável para qualquer fã não só de motos, mas de tudo que se movia impulsionado por um motor a combustão interna, e muito similar ao som produzido pelo motor da comentada Hornet que, como sua bisavó Honda CB 750 Four, tem motor tetracilíndrico e vinha de fábrica com escape 4x1.

    ESCUTE SOM DO MOTOR DE 3 CILINDROS DA TRIUMPH TIGER 800XC:


    MODA DE ÉPOCA
    Com toda certeza em um projeto para um novo modelo de motocicleta, o quesito “voz do escape” é muito considerado hoje em dia. Quando se trata de motos utilitárias, o foco é manter baixa a emissão de ruídos por serem tais motos ferramentas de trabalho que em geral são usadas por horas e horas a fio. Um escapamento barulhento nestes modelos seria desconfortável. Em geral os motores monocilíndricos não são bons “cantores”, qualquer que seja seu tamanho. Idem, como já comentado, os bicilíndricos. Sons bacanas, agressivos, começam nos tricilíndros e especialmente nos “tetra”, mas nem sempre foi assim.

    Hoje o som do escape das motocicletas é mais contido inclusive por lei, pois há limites precisos a serem cumpridos. Medidos em decibéis de acordo com um padrão exato, uma moto que supere o limite de ruído estabelecido pela lei simplesmente não pode ser vendida, Outro aspecto que reduz o “vozeirão” dos motores é a necessidade de limitar as emissões de poluentes, o que sempre implica na presença de filtros como  catalisadores, verdadeiras mordaças dos motores.

    No passado, quando poluir por ruído ou por gases nocivos era algo que preocupava menos os fabricantes e usuários, os escapamentos das motos explusavam notas bem mais altas, e diferentes também. Era a época em que muitas motocicletas eram dotadas de motores de ciclo 2 tempos, hoje praticamente banidos da produção mundial. Por conta de suas características de funcionamento, tais motores literalmente gritavam, produzindo sons mais agudos para darem o melhor em termos de desempenho.Os ouvidos sofriam, mas o coração se alegrava: um motor dois tempos de pequena cilindrada ou não, monocilíndrico ou os excitantes tricilíndricos, causavam emoções não indiferentes.

    ESCUTE DE UMA ROYAL ENFIELD DE 1952:


    Exemplos? As Suzuki GT 750, 550 e 380 venderam bem no Brasil, muitos por conta da àspera voz, embaralhada em baixa, nas lancinante quando a agulha do contagiros lambia a faixa vermelha. Mais raras entre nós mas ainda mais gritadoras eras as Kawasaki H1 Mach 3, tricilíndricas de 500cc. Fecha a listinha as bicilíndricas Yamaha, da qual a mais conhecida foi a RD 350. Seja a importada, refrigerada a ar (a viúva negra…) ou a LC, Liquid Cooled made in Manaus, elas urravam uma espécie de hino à paixãoa por motos esportivas.

    Hoje, apesar das restrições comentadas,”vozes” sedutoras não faltam no mundo da moto. Para os fãs das americanas Harley-Davidson a compassada batida do V2 norte-americano é inigualável, e o charme é a rotação baixa, pulsante. No extremo oposto está o poderoso zumbido do motor seis cilindros em linha que equipa as BMW K 1600. Porquê zumbido? Pela necessidade por se tratarem de motos para o turismo, verdadeiros transatlânticos das estradas. O motor é uma usina inesgotável de força cujo poderio não pode ser explicitado no volume, o que causaria desconforto, mas sim na singularidade do som emanado pelos escapes seis-em-dois, cada um com três orifícios… HONDA CB 750
    Já nas superesportivas, a fórmula de sucesso da CB 750 Four de quase 50 anos de idade perdura. Os motores quatro cilindros em linha são em geral dotados do lendário escape 4x1, que espertamente libera o justo ruído exigido por lei na rotação especificada para o teste homologatório, mas que urram alucinadamente quando levados a rotações mais altas, verdadeiro marketing auditivo de grande efeito. E para os insaciáveis “audiófilos” do mundo da motocicleta, o mercado de acessórios oferece uma infinidade de sistemas de escapes onde a busca pela performance se confunde como a pela mais bela e agressiva “voz” do motor que, como dissemos, é e continuará sendo um eficiente motivador de vendas.

    ESCUTE O MOTOR DA HONDA XRE 300:



  • Honda Bros 160 supera CG 160 em vendas: entenda o motivo

    Honda Bros 160
    Qual é a moto mais vendida do Brasil? Quem falou Honda CG talvez não tenha acertado 100%. Analisar os números de vendas no atacado (o das fábricas para as concessionárias…) deste ano mostra que a moto mais vendida do momento é a Honda NXR 160 Bros.

    O brasileiro mudou de gosto depois de décadas? Hummm, não é bem assim. Não há dúvida que a NXR 160 Bros e sua antecessora, ainda a venda (por pouco tempo) a NXR 150 Bros, são motos muito bem sucedidas, que caíram no gosto do brasileiro desde que surgiram, mas daí a superar a lendária CG o espaço é grande.

    Todavia, enquanto a NXR 160 Bros é praticamente uma moto só, as estradeiras batizadas de CG são um montão. Querem ver: 125 Cargo, 125 Fan, 150 Cargo, 150 Fan, 150 Start, 150 Titan e, porfim, as últimas a chegar, as 160 Fan e 160 Titan. Tudo isso é CG!

    Se você entrar em uma concessionária da marca e disser para o vendedor “quero comprar uma CG” ele vai perguntar qual, pois atualmente elas são oito. É uma situação transitória pois o motor 150 dirá adeus à linha da Honda no final deste ano e assim restarão apenas as 160 e as 125. Mesmo assim, é interessante notar como a preferência do brasileiro está, cada vez mais, orientada para modelos estilo trail e entre elas a NXR 160 Bros é a campeã.

    Somando todas as CG vendidas em 2015 até setembro, o resultado dá 271.063 unidades. Essa a mesma conta com as NXR Bros (são apenas três: NXR 125 Bros, NXR 150 Bros e NXR 160 Bros) resulta em 164.239 unidades. Longe? Sim, mas chegando cada vez mais perto.

    Na coluna publicada 27 de maio passado já mostramos o quanto as trail estão caindo no gosto do brasileiro, cuja participacão no bolo subiu dos 11,1% em 2008 para 19,5% em 2014.  As razões: múltiplas. Suspensões de maior curso para encarar a crescente buraqueira, o estilo aventureiro cada vez mais em voga e, claro, o contínuo amadurecimento do motociclista brasileiro que percebe que elas são mais versáteis, pois fazem tudo que uma estradeira faz no asfalto e, quando aparece uma estrada sem pavimentação, mostra superioridade indiscutível. Detalhe: de acordo com o DNIT –  Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte – 80,3% das estradas nacionais não são pavimentadas.

    G1 AVALIOU A HONDA 160 BROS. ASSISTA:



    O QUE VEM POR AÍ
    O lançamento da Honda CB Twister, substituta da CB 300R está dando o que falar: é uma moto 100% nova e seu motor 250 cc, inédito, promete maior economia e dá à Twister um desempenho igual ao da CB 300R, apesar dos 50cc a menos no motor. O segredo está na maior leveza do conjunto, que faz sua majestade a relação peso-potência favorável à 250.

    Somando 1+1, muitos preveem que a próxima moto a ser lançada pela Honda é a subsitituta da XRE 300, que compartilhava o mesmo motor com a extinta CB 300R. Porém, esta lógica não parece ter fundamento: fontes bem informadas insistem que a XRE 300 continuará em produção.Yamaha XTZ Crosser 150

    A Honda não quer “largar o osso” desta categoria “plus” nas trail e assim o que teremos é uma nova XRE 300 atualizada, com um novo cabeçote tanto para ajudar o motor a cumprir sua missão de adequar-se aos restritivos testes do programa PROMOT4, expelindo menos sujeira na atmosfera, quanto conquistar aquela robustez que segundo muitos não é o forte destas Honda de 300cc.

    Se este atualização/aperfeiçoamento da XRE se confirmar, não é difícil prever que a fatia das motos com pneus de cravos e suspensões longas, como a citada XRE, a NXR 160 Bros ou as representantes da Yamaha, a Crosser 150 e as 250 Lander ou Ténéré, cresca ainda mais. Evidentemente a NXR 160 Bros foi uma resposta a moderna Crosser, e uma nova XRE 300 vai estimular a uma atualização das 250 Yamaha.

    Seja como for, uma coisa é certa: a moto mais vendida do Brasil neste 2014, individualmente, não é mais uma CG e sim a NXR 160 Bros…

    FOTOS: CAIO KENJI / DIVULGAÇÃO

Autores

  • Roberto Agresti

    Roberto Agresti pilota e escreve sobre motocicletas há três décadas.

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