Altamira é cenário marcante em “Bye Bye Brasil. Após ouvir de um caminhoneiro na beira da estrada que a cidade era o “centro da Transamazônica”, uma “terra preciosa” com “dinheiro pra todo mundo” e onde “todo mundo é rico”, Lorde Cigano (José Wilker) leva a Caravana Rolidei até a “princesinha do Xingu”, mas encontra uma cidade já grande e repleta de televisores.

Se há 35 anos Altamira vivia a construção da nova rodovia no meio da selva amazônica, hoje a cidade está envolvida com as polêmicas obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, a terceira maior do mundo. Os problemas evidenciados com a construção de Belo Monte, em boa parte, são os mesmos vistos há três décadas: ruas são intransitáveis, saneamento básico é insuficiente, não há vagas nas escolas, faltam empregos fora dos canteiros de obra da usina, os serviços são precários e a cidade é violenta.

Como parte da série especial “Bye Bye Brasil, três décadas depois”, que refaz a rota da Caravana Rolidei, do filme de Cacá Diegues, o G1 foi até Altamira, visitou o canteiro de Belo Monte, conversou com moradores ribeirinhos sobre os impactos ambientais da obra, presenciou os efeitos do crescimento desordenado na cidade. Também encontrou moradores que participaram do filme no final dos anos 1970 e conheceu o cineasta local que é sucesso de bilheteria.

No vídeo abaixo, moradores de Altamira falam sobre as mudanças na cidade com a chegada da hidrelétrica. Apesar de ter trazido empregos, a construção veio acompanhada de aumento de preços e da violência. As primeiras turbinas de Belo Monte devem começar a funcionar parcialmente em fevereiro de 2015, e até lá os habitantes esperam que o prometido desenvolvimento chegue à região.

Ribeirinhos protestam contra Belo Monte

Altamira é enorme. Tem mais de 160 mil km² – cem vezes o tamanho da cidade de São Paulo –, sendo 96% do território em área de preservação ambiental. Uma parte da usina de Belo Monte, às margens do Rio Xingu, está sendo erguida em terreno protegido. Por conta disso, para permitir a construção, o Instituto Nacional do Meio Ambiente (Ibama) estabeleceu 40 condicionantes ambientais a serem cumpridas pelas empresas responsáveis pela hidrelétrica.

O Consórcio Norte Energia S.A. informou que investiu cerca de R$ 1 bilhão em projeto ambiental, de desenvolvimento sustentável do Xingu e de plano emergencial. Isso inclui a reforma de postos de saúde, a construção do Hospital Geral de Altamira e do Hospital Regional da Transamazônica. A Norte Energia informou ainda ter doado para a comunidade 12 ambulâncias, uma ambulância UTI e quatro “ambulanchas”.

O G1 navegou pelo Rio Xingu até comunidades ribeirinhas, onde ouviu as histórias de quem precisará deixar suas casas com o aumento do nível da água da barragem. Muitos deles ainda não sabem para onde vão.

Panorâmica de Belo Monte

No sítio Pimental, um dos principais canteiros de obras, o G1 viu os trabalhos na área de barragem da usina.

Obras paralisadas pela Justiça

Em 19 de dezembro, a Norte Energia, empresa responsável pela construção e operação da Hidrelétrica de Belo Monte, em Vitória do Xingu (PA), informou que parou as atividades no canteiro de obras da usina. A medida cumpre a decisão judicial do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), que determinou no dia 16 de dezembro a paralisação devido ao descumprimento de condicionantes ambientais, com impactos negativos na natureza da região. A empresa afirmou que está tomando providências para cumprir a determinação da Justiça.

Cidade transformada 30 anos após 'Bye Bye'

Assim como Marabá (PA) e Estreito (MA), Altamira experimentou um crescimento desordenado com a chegada de trabalhadores de grandes obras. Com o “inchaço” populacional, os habitantes passaram a sofrer com problemas de ordem social e econômica. Passadas três décadas das filmagens de Cacá Diegues, a cidade mudou bastante, mas ainda conserva algumas paisagens mostradas no filme.

O artista plástico Ataíde de Farias, de 55 anos, participou do filme “Bye Bye Brasil”. Ele aparece em uma cena dirigindo um carro de som. Em outra sequência, ele participa da encenação de uma briga, “mas a cena foi cortada e só aparece o lado de fora do lugar”, segundo ele. Ataíde guiou o G1 até os lugares que serviram de locação para a equipe de "Bye Bye Brasil" e mostrou o que funciona agora no local.

Antes e depois de Altamira

A entrada de Altamira e seu centro comercial, no filme, e hoje, pelo olhar do G1.

O cineasta local que é sucesso de bilheteria

O filme “Bye Bye Brasil” deixou um legado cinematográfico para os habitantes de Altamira. O único cinema da cidade, que estava fechado, foi reinaugurado em agosto de 2013. Na primeira sessão, foi exibido o filme “Herói Garimpeiro 2”, do cineasta Orlando Nascimento, que é da cidade. A sala tem capacidade para 250 pessoas e ficou lotada na reestreia.

No vídeo abaixo, conheça o diretor cujos filmes têm mais procura na cidade que sucessos nacionais como “Serra Pelada”.

Próxima parada: Tucuruí, Belém e Brasília

No último capítulo da série especial que refaz a rota da Caravana Rolidei, do filme de Cacá Diegues, o G1 ficou na boleia de um caminhão por quase 18 horas, viajou de barco por outras nove e passou mais um dia e meio dentro de um ônibus até chegar na capital federal.

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