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  • Tiramos a barba de molho




    Antes de deixarmos Belém, resolvemos dar um tapa no visual. Afinal de contas, já completamos mais de 30 dias em viagem e, além do desgaste físico, nossa aparência já não estava muito boa. Luciano Cury e eu fomos fazer a barba, como manda o bom figurino, depois que achamos, em nossas andanças pela capital paraense, uma barbearia diferente.

    O local é reduto de integrantes de motoclube, e a porta de entrada está repleta dos mais variados modelos de Harley-Davidson, além da chamativa inscrição Rockfeller no vidro da frente. Dentro, o ambiente é retrô, com três cadeiras de barbearia com assentos em couro vermelho. Do lado oposto aos espelhos, poltronas de espera. Mais adiante, um bar com algumas variedades de cervejas.

    barbeariaNeste mesmo ambiente, um grupo de homens fala em alto e bom som, como se estivessem num vestiário de futebol. Muitos estavam ali apenas pela reunião dos amigos, alguns de barba feita e outros de barba por fazer. O que vale é a confraria, mais que o desejo de sentar na cadeira do barbeiro.

    No tempo em que estivemos ali, pelo menos quatro pessoas escolheram o local para cortar o cabelo e aparar a barba pela primeira vez. Em uma das cadeiras de espera, vi uma senhora sentada, com um ar de desconforto no rosto e olhar fixo para o espelho. Interrompi o silêncio dela e perguntei se estava acompanhando alguém. Ela apontou para a cadeira do barbeiro do meio, onde estava o filho adolescente. Perguntei o que ela estava achando do lugar e o que sentia por ser a única mulher no ambiente. Ela respondeu que achava diferente, um pouco estranho e finalizou que ali era lugar de homem. Ao lado dela havia um revisteiro repleto de edições mensais com mulheres nuas nas capas.

    Logo que o adolescente, sem barba no rosto ainda, terminou o corte de cabelo e se preparava para sair do salão, perguntei se ele tinha gostado do resultado. Ele assentiu com a cabeça. A mãe concordou, mas disse que o filho iria sozinho da próxima vez.

    No andar de cima tem um salão de jogos com um videogame de última geração. Em outra sala tem um espaço de massoterapia. Foi aí que percebi que a mãe do adolescente não era a única mulher no salão. Duas se revezam no trabalho de relaxamento. A outra é responsável por manter o local asseado. Fiz a mesma pergunta que havia feito para a mãe do jovem para as três. Uma delas tomou a frente e logo disse sorrindo que se sentia como se um homem estivesse no meio de um monte de mulheres. Mas finalizou que aproveitava aqueles momentos para aprender como pensam os homens e o que falam quando estão juntos.

    A essa altura, passada a primeira hora de espera, o número de minha comanda foi cantado. Minha vez que de ficar diante do espelho. O barbeiro se apresentou: Alan. Perguntou como queria o corte de cabelo e a barba. Pedi para manter o corte já feito. Fiquei curioso em saber onde tinha aprendido a profissão e ele brincou respondendo que havia começado na prisão.

    Terminado o meu cabelo e minha barba, Luciano se acomodou na cadeira de couro vermelho. Fiquei espantado quando voltei ao salão, depois de fazer algumas fotos do lado de fora, e vi que o barbeiro tinha tirado toda a barba dele. Foi muito rápido. Na hora da toalha quente, Alan disse que não podia chorar, nem deixar sair uma lágrima sequer, que ali era lugar pra cabra macho.

    De visual novo, fomos intimados pelo grupo da algazarra. Por sermos novos no local, teríamos de contar uma piada. Titubeamos, mas acabamos participando do desafio. Claro, fomos um fiasco e motivo de zoação geral. A cerveja tomada por todos naquela tarde de sábado, conhecidos ou desconhecidos, foi paga pelo avô corujão ali presente. Ele estava celebrando o nascimento da neta.

    Todos embalados por blues, clássicos do rock nacional e internacional. Da próxima vou pedir para deixar só o mustache e lavar o cabelo com clean brew. Pelo menos o salão tem certificado de qualidade Chuck Norris.

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  • Peixe no saco em Tucuruí

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    mapa tucuruí paráComer peixe em Tucuruí, no Pará, é comum. A cidade é banhada pelo rio Tocantins, então peixe é o que não falta. Apesar da época do defeso, quando a pesca é permitida apenas para subsistência, não falta tucunaré na mesa. E uma das formas de comer essa iguaria é no saco.

    Achamos um lugar cuja especialidade é o prato. Chama-se Tô Toontin. Pedimos o cardápio, mas o garçom nos avisou que lá não tem cardápio: só o que servem é o peixe no saco. Ok, então traga um!

    O tucunaré recheado com vinagrete é assado no saco com molho shoyu, água e limão. O peixe é servido com farinha e arroz, sendo suficiente para duas pessoas.

    Jeová Leite, dono do estabelecimento, criou a receita há 25 anos. "Só não faço mais porque aqui todo mundo come peixe em casa". Vale a pedida.

  • Três semanas de caravana e 4.600 km rodados

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    Olá! Completamos a terceira semana de expedição. Até agora já foram mais de 4.600 km rodados. Nesta sexta-feira (22), o calor voltou a nos atingir em Altamira (PA). Aliás, estamos passando alguns apuros com as altas temperaturas registradas nas cidades por onde passamos.

    O primeiro choque que tivemos pela proximidade com a linha do Equador aconteceu em Picos (PI). E olhe que a cidade nem está assim tão perto do Equador. Foi de faltar o ar depois do meio dia. O sol forte, a poeira suspensa no ar e a falta de sombra fizeram o Luciano e eu ficarmos com leseira além da medida.

    Mapa ALTAMIRA (VALE ESSE)Em Guaribas (PI) também passamos calor, mas diferente dos outros. Lá a temperatura era resultado da falta de chuva. Segundo os moradores nos relataram, eles não sabem o que é chuva há três anos. Só uns pinguinhos.

    Em Balsas (MA), o calor continuou, mas deu uma certa refrescada. Em Estreito (MA) a coisa mudou. Chegamos em um dia chuvoso, literalmente caiu o céu. Chuva forte, daquelas que costumamos dizer em São Paulo que parece chuva de verão, só que dessa vez mais prolongada.

    Em Marabá (PA) também foi quente. Mas aí a umidade do ar, típica de algumas regiões do Pará, se fez presente. Era aquele famoso bafo quente, pra falar o famoso português claro. Mas diferente de Belém, não pegamos nenhuma chuva das três (15h). Apesar disso, não foi difícil que as lentes dos meus óculos ficassem embaçadas por causa do calor. Isso foi rotina.

    Chegando a Altamira (PA) e sentimos a brisa refrescante, bem típica de uma cidade margeada por um rio, no caso, o Xingu. Mas logo fomos castigados pela sombra quente da cidade. Mesmo nublada, Altamira estava absurdamente quente na manhã desta sexta. Foi até difícil fazer as entrevistas e conversar com as pessoas, tamanho era o suor. Claro, isso até serviu para quebrar o gelo, pois as pessoas que vivem em Altamira já estão acostumadas e mais riam do Luciano e de mim.

    O que mais impressionou a gente, em todas as cidades, foi que é tempo de inverno por aqui. Inverno, na verdade, é o período do ano que mais chove e por isso a temperatura cai. Por esse motivo não deveríamos estar com tanto calor assim.

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    Mas eu queria fazer um parêntese sobre a Transamazônica, sobre o trecho que liga Marabá a Altamira. Quando conversamos sobre o percurso, muitas pessoas nos relataram que fizeram a mesma rota recentemente. Claro, aproveitamos para pegar algumas dicas sobre o trecho. Uns disseram que a situação estava começando a ficar ruim por causa do inverno que relatei acima. Outros falaram que havia muitas obras de recapeamento e asfaltamento da rodovia e que estava bom para dirigir entre algumas cidades. Teve até quem recomendasse, por causa das chuvas, que a gente comprasse sacos de areia para colocar na caçamba de nosso carro e assim dar mais estabilidade na lama. Deixamos a areia de lado.

    De fato, o inverno não influenciou nosso desempenho no trajeto, mas a quantidade de trechos sem asfalto algum, buracos enormes, terra pura. Em outros pontos, obras sem sinalização alguma, curvas fechadas e mal sinalizadas. Vários trechos de recapeamento recente e alguns quilômetros novamente sem asfalto e nem iluminação elétrica ou sinalização reflexiva. Pontes que parecem ser a mesma da época da construção da rodovia, onde só passa um carro por vez, subidas extremamente íngremes, máquinas nas pistas, enfim, um verdadeiro caos.

    O trajeto de pouco mais de 500 km foi feito por nós em desconfortáveis 11 horas e meia. O fato de haver obras na região é um alento para quem precisa e usa a Transamazônica com frequência ou diariamente. É sinal de que as coisas por lá podem melhorar, mas, pelo que vimos, ainda vai demorar.

  • Poluição visual em Marabá

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    A avenida Antônio Maia, em Marabá (PA), conhecida como rua do comércio, provoca certo desconforto visual em quem circula por ali. São inúmeras as placas de propagandas de estabelecimentos comerciais instalados na via ou nas ruas adjacentes.

    No meio da via há um canteiro com árvores frondosas e copas generosas. Elas inevitavelmente oferecem aos pedestres uma chamativa sombra para amenizar o calor típico da região. Mas as simpáticas árvores precisam se "esforçar" para dividir espaço com as placas de publicidade.

    MapaAndei por boa parte da avenida e não vi, pelo menos não nos canteiros centrais, sinalização de trânsito que indicasse informações básicas. Vi uma ou outra placa com nome de ruas, mas não encontrei uma com o nome da própria via em que eu estava.

    A quantidade de placas de publicidade e o tamanho delas são espantosas. Elas ocupam espaço até sobre o asfalto da rua, onde poderia ter sinalização de trânsito ou semáforos. E mais: como precisam de sustentação, postes de todos os tamanhos ocupam o já pequeno espaço destinado ao fluxo de pedestres e consumidores pelas calçadas. Consumidores estes que são quase impedidos de circular com segurança e conforto frente aos "desafios e obstáculos" armados pelos responsáveis pelos estabelecimentos comerciais, que deveriam atrair os pedestres pelo que expõem em suas vitrines.

    O que eu questiono aqui não é a publicidade em si, mas a aparente falta de controle, de ordenamento. A poluição visual desvaloriza os empreendimentos, torna o local feio e desagradável. Não sei o que os moradores de Marabá pensam sobre isso. Há um plano diretor? Há um planejamento urbanístico para minimizar o excesso de informação visual?

    Marabá é conhecida por ser cosmopolita e poderia levar isso em consideração. Em 2011, quando estive na cidade pela primeira vez, tive a mesma impressão impactante e a sensação de poluição visual na mesma avenida e em seu entorno. Dois anos depois, não imaginava que fosse me impactar novamente. Será diferente na próxima visita?

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  • Tomada em hotel é raridade

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    Estamos no 14º dia de viagem. Passamos por incontáveis cidades, mas fincamos pé mesmo até agora em Piranhas (AL), Paulo Afonso (BA), Picos (PI), Guaribas (PI), Floriano (PI) e Balsas (MA). Cada uma delas, por mais óbvio que possa parecer, tem suas características. Mas um pequeno detalhe, que também devia ser padrão nacional, tem nos provocado situações difíceis e inusitadas nessa trajetória.

    MAPA Balsas Maranhão CaravanaEu não sei o motivo, mas a maioria dos hotéis por onde passamos não disponibiliza quantidades mínimas de tomadas. É, tomada. Nos tempos de hoje, tomada em quarto de hotel é uma raridade. Mas esse seria um problema de fácil solução, com réguas, com adaptadores etc. E nós temos isso.

    O problema real está nos padrões das tomadas. E aí não é ineficiência da hotelaria, mas dos fabricantes de eletroeletrônicos. Cada um tem o seu padrão de plugues.

    Desde 2011, todos os aparelhos eletroeletrônicos vendidos no Brasil devem ter plugues e tomadas de dois ou três pinos redondos. Este é novo Padrão Brasileiro de Plugues e Tomadas, que foi desenvolvido pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Apesar de o processo ter começado 2000, ainda assim a vida real com os eletrônicos e tomadas se torna cada vez mais difícil pelo país.

  • Um desvio cultural em Oeiras (PI)

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    Quando ainda estávamos em Picos (PI), recebemos via comentário do blog um pedido do internauta Marcelo César para que passássemos por Oeiras (PI). Olhamos o mapa, vimos que a cidade estava em nossa rota e decidimos fazer uma visita rápida. Ao entrar na cidade, vimos logo na primeira rua uma construção histórica, onde foi possível perceber a riqueza arquitetônica da cidade. Em 2012, o Centro Histórico do município foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

    Mas também vimos lixo espalhado nas ruas, principalmente em regiões mais afastadas dos pontos turísticos, muitas carcaças de carros e prédios históricos em ruínas ou em aparente estado de abandono. De qualquer forma, a cidade é carismática e tranquila. É um lugar para voltar, sem dúvidas.

    Resolvi contratar um mototaxista, mas foi por puro milagre, pois não havia quase nenhum comércio aberto na cidade e nenhuma pessoa circulando pelas ruas antigas do centro. A ideia de seguir com um mototaxista foi o de conseguir, em pouco tempo, circular rapidamente pelo maior número de prédios históricos da cidade, para depois seguirmos viagem até Guaribas (PI).

    Passei pelas igrejas Catedral de Nossa Senhora da Vitória, Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora da Conceição, pelo casarão chamado Sobrado Major Selemérico, pela casa do Visconde de Parnaíba, pelo antigo Palácio Episcopal (hoje Museu de Arte Sacra), pela ponte Grande (passa sobre o seco riacho Mocha), pelo monumento a Nossa Senhora da Vitória e pela Casa de Pólvora (primeira construção militar piauiense).

    A cidade fica a pouco mais de 300 quilômetros de Teresina e foi a primeira capital piauiense. Oeiras tem uma verve religiosa muito grande, com grandes espaços em frente às igrejas locais. Um dos destaques turísticos são as procissões, como a do Bom Jesus dos Passos e a do Fogaréu, realizadas na Semana Santa. Também há a Festa do Divino Espírito Santo, que atrai muitos turistas para a cidade.

    Veja algumas fotos:

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  • Edson, o MacGyver da Transamazônica


    Antes de seguir viagem até Balsas (MA), gostaria de contar uma história de superação que encontramos, eu e o Luciano, na rodovia Transamazônica, em Dom Expedito Lopes (PI), no povoado de Gaturiano. A história é recheada de fé, esperança, mistério e bom humor.

    Na altura do km 270 da rodovia, fazíamos a programação do dia, a estimativa de viagem e outros detalhes. O trajeto nos levaria a Guaribas (PI), onde estamos agora. Ao olhar pela janela do carro, vi uma sequência de placas com a inscrição: MacGyver. Uma delas dizia, em letras pichadas: "Laboratório do led. Arruma led, todos os tipos de lanterna. MacGyver". Em uma outra placa, "ao vivo e a cores, só aqui, MacGyver. 24 horas. Arruma todos os tipos de lanterna de led. 24 horas".

    mapa viagem caravana 10novParamos para ver do que se tratava. Descemos até uma oficina com aparência desleixada, várias ferramentas jogadas e um monte de lanternas de carro espalhadas pelo local com chão de terra. O jeito foi gritar: "MacGyver!" De imediato, uma voz feminina surgiu e disse: "ele não está". Perguntei se ele demoraria e a dona da voz disse que ele tinha ido até Picos e que não sabia se ele demoraria.

    A voz perguntou o que eu queria, se era para consertar lanterna, mas eu me identifiquei como jornalista e respondi que queria conhecer o MacGyver, fazer uma entrevista com ele. Em segundos a janelinha da porta da casa ao lado da oficina se abriu. A dona da voz, Luciana Barbosa da Silva, 23 anos, ainda com cara de espanto, perguntou se eu era mesmo um jornalista. Pediu uns minutos para se vestir adequadamente para receber visita. Ela abriu a porta e eu expliquei que estava no meio de uma expedição e que não poderia ficar muito tempo lá.

    A mãe do MacGyver, dona Maria Pereira, 44 anos, logo apareceu e disse, aos risos, que já tinha rezado para o espírito de MacGyver sair do corpo do filho, que já tinha jogado as coisas dele no lixo, mas foi vencida pela teimosia do filho. Ninguém sabia dizer quem era esse tal de MacGyver. Nenhum deles, nem o nosso MacGyver, tinham visto o seriado "Profissão perigo", exibido na TV nas décadas de 1980 e 1990. O personagem principal foi interpretado pelo ator Richard Dean Anderson.

    Bom, a mãe conseguiu achar o filho pelo telefone. Eu falei com ele rapidamente e, meio incrédulo ainda, ela disse que estava voltando para o "laboratório". Ele chegou em instantes em um carro branco, customizado por ele mesmo e com uma placa escrito "MacGyver". Já desceu falando, contando história, que estava ali para revolucionar, que os caminhoneiros o respeitavam e que adorava a família. Virei um quase segundo Deus quando contei que conheci, durante o carnaval em Salvador, o ator que interpretou MacGyver. A surpresa foi tanto pelo fato de eu ter conhecido o "espírito de MacGyver" e por saberem, agora, que ele está vivo.

    Edson Pereira de Freitas, 20 anos, (quase xará de Thomas Edison, inventor da lâmpada) aprendeu a lidar com elétrica com o pai, seu Francisco Assis, 60 anos, mas nunca pegou um livro sobre o assunto. Das experiências de criança, começou a pegar gosto pela eletricidade. Desvendou e ainda desvenda os mistérios da profissão pela teimosia. Espero que a estrada de sucesso do "MacGyver da Transamazônica" não tenha fim. Pelos rádios das boleias ele já foi citado por motoristas, ou caminhoneiros, na Belém/Brasília.

  • Banho de canequinha em Guaribas (PI)

    Bacia Depois de todo o perrengue da chegada a Guaribas, fomos tentar tomar banho. Completamos 40 horas sem banho. Assim que a cidade acordou, às 5h, perguntamos se poderíamos tomar banho. A resposta foi negativa, pois de madrugada a água da cidade foi desviada para um povoado de Guaribas, que fica a 40 km do Centro da cidade. A água só voltou ao Centro de Guaribas no meio da manhã, ainda assim com escassez. Só conseguimos uma bacia e um balde de água para dividirmos em dois banhos. O jeito foi se adaptar à realidade local.

  • Dormindo no carro em Guaribas (PI)

    mapa viagem caravana 10novDepois de mais de 12 horas de viagem de Picos a Guaribas (PI), ficamos sem hotel. A estrada que sai da PI-144 até a cidade é completamente inóspita, de terra, cercada de vegetação alta. À noite, é praticamente impossível se localizar sem conhecer a região.

    Com cerca de 100 km sem referências, erramos o caminho duas vezes por causa de bifurcações não sinalizadas. Conseguimos chegar às 23h30. Saímos de Picos às 11h. Não havia ninguém na rua. O hotel reservado estava fechado.

     Como não havia campainha, batemos na porta, batemos palmas e o único sinal de vida foi o latido de um cão. A sorte é que havíamos comprado castanha de caju e água na estrada ao sairmos de Picos. Dormimos no carro.

  • Zé do Alho é o rei do sorvete em Picos



    Quando se fala em terremoto e cacetada, logo pensamos em calamidade e violência. Mas, em Picos (PI), as pessoas logo se lembram de algo saboroso, refrescante. Isso mesmo, terremoto e cacetada são sabores de sorvetes na cidade. O mais curioso é o apelido de quem faz as iguarias, seu Zé do Alho. Mas não deveria ser Zé do Sorvete? José de Aquino Dantas, que completa 72 anos no próximo dia 17, disse que tem orgulho do apelido. Hoje, ele é o mais antigo fabricante de sorvete em atividade na cidade. Já são 40 anos no ramo.

    Fomos lá conferir se o sorvete é bom mesmo. O terremoto é feito de chiclete, coco, chocolate derretido, chocolate granulado, bombom e castanha. E o cacetada tem tudo isso, sem o bombom e a castanha.

    Zé do Alho explica que apelido surgiu quando ainda era criança, porque trabalhou plantando e vendendo alho desde os 10 anos, com o pai. Seu Zé do Alho disse que formou os filhos e comprou a casa onde mora com dinheiro do alho.

    Seu Zé do Alho ajuda na escola dos sabores e diz que passas, flocos e napolitano são os mais vendidos. Mas ele sempre procura surpreender a clientela com receitas novas, que ele mesmo cria para atrair ainda mais fregueses. Apesar da criatividade, ele afirma que não arrisca colocar alho no sorvete. “Alho só fica bem na panela e com sal.”

    Além do sorvete, seu Zé do Alho cria as vacas que fornece leite para fabricar os sorvetes. “Tudo que tenho na vida eu agradeço primeiro a Deus, ao meu pai e depois ao alho”.

    Boa praça e bom de conversa, ele costuma ficar com os clientes na mesa, batendo papo e contando histórias. E a ainda assim ele consegue manter e monitorar uma produção diária de massa de sorvete e picolés.

  • G1 completa uma semana de expedição; veja vídeos

    Completamos uma semana de expedição pelos Caminhos do Brasil. Eu, o repórter Glauco Araújo, e o cinegrafista Luciano Cury estamos contando neste blog a expedição que vai passar por quatro estados e o Distrito Federal.

     

    O roteiro foi inspirado em "Bye bye Brasil", dirigido por Cacá Diegues e filmado entre 1979 e 1980. Serão mais de 8 mil quilômetros pelo Brasil.

     

    Estamos em nossa segunda parada, na cidade de Picos (PI). Já percorremos 1.345 quilômetros, passamos por rodovias estaduais e federais, conhecemos pessoas, ouvimos histórias, passamos por litoral, pela caatinga, serrado e pelo semi-árido nordestino. Pegamos chuva, garoa e agora enfrentamos a dureza do sol piauiense.

     

    Você que acompanhou o blog viu um pouco do nosso diário de viagem. Eu até morri, mas nasci de novo e até andei de jegue pela primeira vez. Eu e Luciano ouvimos música pela primeira vez depois alguns dias, saindo do estado de Pernambuco, e logo um dos sucessos do rei Roberto Carlos.

     

    Hoje estamos em Picos (PI), de onde seguiremos neste sábado (9) para Guaribas (PI).

     

    Veja agora outras histórias e vídeos de nosso percurso:

     

    Roberto Carlos toca até onde rádio não funciona

    A caminho de Salgueiro, rádio passa a funcionar na rodovia BR-116. De imediato, um ouvinte entra ao vivo na programação e pede uma música de Roberto Carlos. Em instantes, a locutora começa a tocar “Como é grande o meu amor por você”.

    Resolvemos registrar um pouco do áudio da música por duas razões: foi o primeiro momento em que conseguimos ouvir música nas estradas da região e, segundo, porque se trata de Roberto Carlos e isso, por si só, já seria digno de registro, mas principalmente por ficarmos impressionados como ele faz sucesso até mesmo em cidades mais afastadas das capitais, onde nem as rádios pegam bem.

    Transposição do Rio São Francisco muda cenário em Pernambuco

    No caminho de Petrolândia (PE) até Salgueiro (PE), na rodovia BR-116, passamos uma das obras de Transposição do Rio São Francisco. A etapa da construção da nova calha do rio está em fase final na região, restando apenas a parte que vai passar sobre a pista da rodovia e a instalação das bombas. O valor estimado deste trecho da obra é de R$ 124 milhões e o prazo de entrega é de 1237 dias.

    Da estrada, a impressão que passa é que a obra é gigantesca e realmente tem proporções assim. Os funcionários que estavam trabalhando no canteiro pareciam pequenas formigas diante da imensidão da construção. Apesar disso, vimos poucas máquinas em operação no local. O trecho, que já sofreu paralisação em Salgueiro, não parece estar em ritmo acelerado, pelo menos nos pouco mais de trinta minutos que estivemos lá.

    A obra de transposição foi iniciada em 2007 e faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Um dos objetivos com essa operação é levar águas do rio para locais mais afastados e que sofrem com o desabastecimento e com a estiagem prolongada.

    O verde diferente dos arbustos de lixo 

    Sacos de lixo se prendem a arbustos em perto de Salgueiro (PE)

    O lixo jogado de forma inadequada às margens da rodovia BR-116 se espalhou com o vento e os sacos plásticos ficaram presos aos galhos espinhosos da vegetação local, perto de Salgueiro (PE). As cores dos saquinhos deixou a copa dos arbustos diferente. Apesar de verde, não é nada natural. O cenário se repetiu por outros pontos da região, evidenciando um problema relacionado ao destino do lixo residencial em Salgueiro.

     Pessoas são transportadas em pau-de-arara em Parnamirim

    Nos assustamos com uma cena que não deveria ser vista durante a passagem por Parnamirim (PE), a caminho de Picos (PI). Dois caminhões trafegando pela rodovia BR-116 levando pessoas na caçamba de maneira irregular.

    No primeiro momento, vimos um caminhão com essas pessoas saindo do trevo da cidade para a entrar na pista. Como estávamos no fluxo da rodovia, o caminhão ficou para trás. Logo adiante, resolvemos parar para fazer algumas fotos das margens da pista e inevitavelmente o caminhão nos passou.

    Não demorou muito para que a gente ficasse atrás do pau-de-arara. Ligamos a câmera e registramos a irregularidade. Para nossa surpresa, assim que ultrapassamos o pau-de-arara, demos de cara com outro pau-de-arara e tão cheio quanto o primeiro. Ambos tinham cerca de dez pessoas apertadas na caçamba.

    Apesar de o asfalto estar em bom estado no trecho, o risco de moradores de Parnamirim sofrerem acidentes é grande. Essa parece ser a rotina deles e o risco que a que estão submetidos para se locomover.

    Calor na estrada antecede temperatura de Picos


    Desde Maceió e Piranhas (AL), o calor sempre foi intenso. O sol forte, sem nuvens, marcou presença em praticamente todos os dias de nossa viagem. Já em Piranhas, nossa primeira parada prevista, já tínhamos ouvido relatos de moradores que conhecem Picos (PI) de que o calor por lá era ainda mais forte. Em todos os pontos de parada que estivemos, as pessoas diziam sempre a mesma coisa: “lá é muito quente”. Na cidade, a temperatura média é de 35 graus.

    Circo é montado no caminho percorrido pela Caravana Rolidei


    Encontramos um circo montado às margens da BR-230, em Marcolândia (PI). Logo fizemos a relação com a Caravana Rolidei, do filme Bye Bye Brasil. Na história, Lorde Cigano, interpretado por José Wilker, capitaneava shows por cidades pequenas no país. Ele montava uma espécie de circo e fazia apresentações de dança, mágica e até de adivinhação.

    Para nós, a sensação que tivemos com o circo de nossa viagem é a de que a Caravana Rolidei permanece viva por aqui.

     

  • Termômetro registra 40 graus de manhã em Picos

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     A temperatura de Picos (PI) assusta até quem mora na região. Imagine nós, que viemos de São Paulo, a conhecida terra da garoa. Desde que chegamos aqui, o termômetro da cidade, instalado na rotatória de entrada para Picos, registrou temperaturas variando entre 35 graus e 40 graus.

    Isso mesmo! Ontem e hoje de manhã o termômetro cravou 40 graus. O recorde recente foi de 41 graus, registrado em setembro. Segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a umidade relativa do ar nesta sexta-feira (8) é de aproximadamente 25%.

    Mapa_picos_especialÉ praticamente impossível permanecer por muito tempo ao ar livre, pois a sensação térmica é mais alta do que aponta o termômetro. A pele arde, o ar falta, o cansaço, o banzo e a leseira tomam conta do corpo com naturalidade.

    A situação fica ainda mais difícil no almoço. É quando a moleza atinge mais força. A umidade relativa do ar é baixa, tendo em vista que não chove na cidade há alguns meses. O período chamado aqui de inverno, que é quando há registro de chuvas, ocorre nos primeiros meses do ano. Nós tivemos a "sorte" de chegar a Picos na época mais quente do ano.

    Aqui faz tanto calor que até a água da torneira sai quente. Banho frio é morno, pois a água nunca fica fria. Nas casas, os moradores usam ar-condicionado junto com ventilador.

  • A 'Voz do Povo' anuncia morte de repórter em Picos

    Uma das curiosidades que encontramos em Picos (PI) são os carros de som, que estão espalhados por toda a cidade fazendo anúncios comerciais. Motoristas e locutores usam o microfone até mesmo para cumprimentar amigos durante o trajeto de divulgação.

    Mas o que dá mais resultado e audiência são as notas fúnebres. Isso mesmo! Em Picos, se alguém morre e a morte não é anunciada no carro de som, ninguém vai ao velório. E a resposta dos ouvintes é imediata. Para testar a eficácia, resolvi testar o serviço e pedir para o locutor mais antigo da cidade, Edvaldo Gonçalves Leal, conhecido como "A Voz do Povo", fazer a minha nota fúnebre. Ele é o mais requisitado para fazer esse tipo de mensagem.

    Mapa_picos_especial"A Voz do Povo" circulou por duas quadras anunciando que eu tinha morrido. Não demorou cinco minutos para o resultado aparecer. Os moradores começaram a sair nas janelas e um deles desceu do apartamento, intrigado, e foi perguntar para Edvaldo quem era Glauco Araújo e se ele o conhecia. Ficou contrariado quando soube que ninguém havia morrido e que se tratava de uma reportagem. Vivinho da Silva, fui até o morador, me apresentei e expliquei que estava vivo. Ele voltou para casa não muito contente, acho que preferia que eu tivesse morrido mesmo. Deveria estar pensando que “com essas coisas não se brinca”.

    Confesso que foi estranho ouvir minha própria morte ser anunciada em alto e bom som pelas ruas de uma cidade e ainda com a mensagem dos meus familiares convidando para o velório. Quem precisa do serviço da Voz do Povo desembolsa R$ 40 por hora de nota fúnebre. Normalmente, isso é feito por uma manhã inteira: de cinco a seis horas de serviço.

    Há 22 anos fazendo isso na cidade, Edvaldo Gonçalves Leal disse que inclui no pacote o anúncio da missa de sétimo dia. A audiência é tão certa que até outros locutores abaixam o volume do carro para ouvir a nota fúnebre sendo divulgada por um colega.

    Mas eu queria aproveitar para avisar mais uma vez que eu continuo vivo! Viu, gente? E a expedição Caminhos do Brasil continua.

  • Delegacia homenageia tenente que matou Lampião

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    A Delegacia Distrital de Piranhas (AL) tem o nome do tenente João Bezerra, policial militar que liderou a volante que matou Lampião, Maria Bonita e outros nove cangaceiros, em 28 de julho de 1938, na Grota de Angicos, em Poço Redondo (SE). O prédio fica a poucos metros do pórtico de entrada do Centro Histórico de Piranhas.

    João Bezerra chegou a ser nomeado prefeito interventor de Piranhas, antes mesmo da morte de Lampião e dos integrantes do seu grupo de cangaceiros.

  • Rivalidade em Piranhas: times da cidade tem nomes de morros do Rio

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    PiranhasA cidade de Piranhas (AL) tem dois times de futebol amador com nomes de morros do Rio de Janeiro: Rocinha e Mangueira.

    Os dois clubes ainda não se enfrentaram pelo Campeonato Municipal de Futebol desse ano, no Estádio Barrancão, que está na terceira rodada.

    A origem dos nomes das equipes não é conhecida com exatidão no município, mas a disputa entre as torcidas não fica apenas no futebol. Durante o carnaval, as agremiações se transformam em blocos e dividem os moradores do Centro Histórico de Piranhas em duas alas.

  • Velório em Piranhas é feito de acordo com o sol


    Cemitério foi construído em 1890 para atender as famílias mais ricas da cidade. Uma característica interessante é que na fachada do cemitério, ao contrário de ter imagens sacras, há uma caveira e dois ossos entrelaçados. Outra curiosidade é que, por conta da média de temperatura na cidade, que chega a 35 graus, os velórios são realizados sempre até as 10h ou a partir das 16h.

    Além disso, o acesso ao cemitério é feito por duas ladeiras muito íngremes, o que dificulta a realização de cortejos fúnebres.

  • Lampião e Maria Bonita param na estrada



    Piranhas Na divisa dos estados de Sergipe e Alagoas há uma rotatória com um posto de informações turísticas. No mesmo ponto foi construído um memorial para lembrar o centenário de nascimento de Maria Bonita.


  • Muro do amor acaba em casamento

    Em tempos de redes sociais, aplicativos de celular, e-mails e SMS, um rapaz resolveu escrever uma mensagem de amor no muro da casa onde morava a companheira, em Olho D’Água do Casado (AL). E foi com esse jeito diferente que ele conquistou a amada. Segundo os atuais donos do imóvel, depois de ver o que o namorado escreveu no muro, a moça aceitou o convite de casamento e se mudou com o jovem para São Paulo.

  • G1 anda de jegue até a margem do rio São Francisco

    O jegue é um animal típico do sertanejo nordestino, muitas vezes usado na lida do trabalho diário, como buscar água, carregar mantimentos e até cargas. Com o passar dos anos, as motocicletas se popularizaram e substituíram o animal, que acabou no esquecimento.

    Mesmo colocado para "escanteio", ainda é possível encontrar quem mantenha o jegue como animal de companhia e opção de transporte. Em Entremontes, povoado de Piranhas (AL), encontramos Corisco, o jeque de estimação do morador Manoel Araújo Castro.

    Como nunca havia andado em um jegue, resolvi fazer o caminho do Centro de Entremontes até a margem do rio São Francisco no lombo do animal.

     

Sobre a página

Quase 35 anos depois do filme "Bye bye Brasil", de Carlos Diegues, o G1 cruza três regiões do país e vê como estão hoje os cenários da produção que marcou época. O blog será um “diário de viagem” nesta visita ao trajeto do filme e mostrará as histórias encontradas no Brasil profundo.