• Bye Bye blog: veja a série de reportagens no G1 a partir da próxima semana



    A nossa viagem de 35 dias acabou nesta quarta-feira (5) em Brasília (DF). Percorremos mais de 7,2 mil quilômetros por estradas, navegamos pelos rios São Francisco, Tocantins e Xingu.

    Passamos por nove estados e o Distrito Federal. Paramos em 17 cidades. Ouvimos histórias e relatos, registramos imagens e conhecemos um pouco de cada um destes lugares.

    A partir da próxima semana você vai poder acompanhar aqui no G1 uma série de reportagens especiais que fizemos nesta jornada. O roteiro desta viagem foi inspirado no filme "Bye Bye Brasil", que registrou um país em desenvolvimento na década de 1980. Vamos  mostrar o que mudou e o que continuou do mesmo jeito.

    Até mais!

  • Um 'cordel sertanejo' para celebrar a chegada a Brasília

    Trinta e três dias depois de começarmos nossa viagem em Maceió (AL), chegamos na madrugada desta quarta-feira (4) em Brasília (DF), o destino final deste blog.

    No ônibus que nos trouxe de Belém até a capital federal, fiz de improviso um "cordel sertanejo", uma brincadeira para homenagear os ritmos musicais que (ou) vimos desde o começo deste blog.

    A letra, como os leitores poderão observar, narra as aventuras e curiosidades que eu e o cinegrafista Luciano Cury (olha aqui a dupla sertaneja) passamos durante este mês de novembro pelos rincões do Brasil.

  • Começa agora nossa maratona até Brasília

    Começamos nesta segunda-feira (2) o final de nossa jornada até Brasília. Estamos neste momento há 27 horas dentro de um ônibus que está nos levando de Belém (PA) até Brasília (DF). Recriamos a última viagem de "Bye Bye Brasil", quando o sanfoneiro Ciço (Fabio Jr.) e sua esposa abandonam a Caravana Rolidei atrás de um futuro melhor no Distrito Federal.

    Ônibus Belém-Brasília: blog Caravana G1

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Quatro motoristas se revezam no trajeto. A primeira troca é feita em Imperatriz (MA), na divisa dos estados de Maranhão e Tocantins. O nosso jantar foi em Dom Eliseu (PA), na divisa dos estados do Pará e Maranhão.

    A previsão é de chegar em Brasília até a meia-noite. Segue nosso diário de bordo até este momento:

    - Saída com uma hora de atraso pela BR-316. Hora prevista era 12h. Saímos às 13h de segunda-feira (3);
    - Primeira parada no terminal rodoviário de Castanhal (PA), na junção com as rodovias PAs 136 e 242;
    - Parada na Rodoviária de Santa Maria do Pará (PA), na junção das rodovias BR-316 e BR-010;
    - Parada em São Miguel do Guamá (PA), onde paramos por 10 minutos para lanche e banheiro a R$ 1;

    Detalhe de salgado: blog Caravana G1

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    - Parada na rodoviária Mãe do Rio (PA), na junção das rodovias BR-010 e PA-252. Na saída, primeiros indícios de prostituição às margens da BR. Mulher adulta abordando, com pano na mão, um caminhoneiro.
    Parada na Rodoviária de Paragominas (PA);
    - Trecho de asfalto ruim na BR-010 até Dom Eliseu (PA), quase na divida dos estados do Pará e Maranhão;
    - Troca de motorista em Imperatriz (MA);
    - Parada na Rodoviária de Porto Franco (MA);
    - Parada na Rodoviária de Estreito (MA);
    - Parada na Garagem da empresa;
    - Parada no Posto para lavar o para-brisa;
    - Parada na Rodoviária de Rodoviária de Araguaína (TO);
    - Café da manhã em Guaraí (TO) com troca de motorista;
    - Parada em Paraíso do Tocantins (TO);
    - Parada em Gurupi (TO), com parada de meia hora para o almoço;
    - Troca de motorista em Porangatu (GO);
    - Parada em Ceres (GO)


  • Tiramos a barba de molho




    Antes de deixarmos Belém, resolvemos dar um tapa no visual. Afinal de contas, já completamos mais de 30 dias em viagem e, além do desgaste físico, nossa aparência já não estava muito boa. Luciano Cury e eu fomos fazer a barba, como manda o bom figurino, depois que achamos, em nossas andanças pela capital paraense, uma barbearia diferente.

    O local é reduto de integrantes de motoclube, e a porta de entrada está repleta dos mais variados modelos de Harley-Davidson, além da chamativa inscrição Rockfeller no vidro da frente. Dentro, o ambiente é retrô, com três cadeiras de barbearia com assentos em couro vermelho. Do lado oposto aos espelhos, poltronas de espera. Mais adiante, um bar com algumas variedades de cervejas.

    barbeariaNeste mesmo ambiente, um grupo de homens fala em alto e bom som, como se estivessem num vestiário de futebol. Muitos estavam ali apenas pela reunião dos amigos, alguns de barba feita e outros de barba por fazer. O que vale é a confraria, mais que o desejo de sentar na cadeira do barbeiro.

    No tempo em que estivemos ali, pelo menos quatro pessoas escolheram o local para cortar o cabelo e aparar a barba pela primeira vez. Em uma das cadeiras de espera, vi uma senhora sentada, com um ar de desconforto no rosto e olhar fixo para o espelho. Interrompi o silêncio dela e perguntei se estava acompanhando alguém. Ela apontou para a cadeira do barbeiro do meio, onde estava o filho adolescente. Perguntei o que ela estava achando do lugar e o que sentia por ser a única mulher no ambiente. Ela respondeu que achava diferente, um pouco estranho e finalizou que ali era lugar de homem. Ao lado dela havia um revisteiro repleto de edições mensais com mulheres nuas nas capas.

    Logo que o adolescente, sem barba no rosto ainda, terminou o corte de cabelo e se preparava para sair do salão, perguntei se ele tinha gostado do resultado. Ele assentiu com a cabeça. A mãe concordou, mas disse que o filho iria sozinho da próxima vez.

    No andar de cima tem um salão de jogos com um videogame de última geração. Em outra sala tem um espaço de massoterapia. Foi aí que percebi que a mãe do adolescente não era a única mulher no salão. Duas se revezam no trabalho de relaxamento. A outra é responsável por manter o local asseado. Fiz a mesma pergunta que havia feito para a mãe do jovem para as três. Uma delas tomou a frente e logo disse sorrindo que se sentia como se um homem estivesse no meio de um monte de mulheres. Mas finalizou que aproveitava aqueles momentos para aprender como pensam os homens e o que falam quando estão juntos.

    A essa altura, passada a primeira hora de espera, o número de minha comanda foi cantado. Minha vez que de ficar diante do espelho. O barbeiro se apresentou: Alan. Perguntou como queria o corte de cabelo e a barba. Pedi para manter o corte já feito. Fiquei curioso em saber onde tinha aprendido a profissão e ele brincou respondendo que havia começado na prisão.

    Terminado o meu cabelo e minha barba, Luciano se acomodou na cadeira de couro vermelho. Fiquei espantado quando voltei ao salão, depois de fazer algumas fotos do lado de fora, e vi que o barbeiro tinha tirado toda a barba dele. Foi muito rápido. Na hora da toalha quente, Alan disse que não podia chorar, nem deixar sair uma lágrima sequer, que ali era lugar pra cabra macho.

    De visual novo, fomos intimados pelo grupo da algazarra. Por sermos novos no local, teríamos de contar uma piada. Titubeamos, mas acabamos participando do desafio. Claro, fomos um fiasco e motivo de zoação geral. A cerveja tomada por todos naquela tarde de sábado, conhecidos ou desconhecidos, foi paga pelo avô corujão ali presente. Ele estava celebrando o nascimento da neta.

    Todos embalados por blues, clássicos do rock nacional e internacional. Da próxima vou pedir para deixar só o mustache e lavar o cabelo com clean brew. Pelo menos o salão tem certificado de qualidade Chuck Norris.

    barbas_caravana_glauco_luciano

  • Chopp de frutas no Pará

    Raimundo Neves e seus 'chopps' de frutas

    Estivemos no Mercado Ver-o-Peso, ponto turístico inevitável para quem passa por Belém. Lá, é possível encontrar de tudo. Há frutas, legumes, peixes, carnes, farinhas, artesanato, pratos prontos e muita conversa, é claro.
    Mapa Bye Bye Belém (PA)E foi num desses papos, já me preparando para sair do mercado, que me deparei com um isopor e uma pequena placa com a seguinte inscrição: "Vende-se chopp de frutas".

    Fiquei curioso em saber como seria essa bebida, mas o dono da barraca não estava lá. Esperei alguns minutos, até que apareceu Raimundo Neves, um sujeito simpático, boa-praça e atencioso.

    Perguntei o que era esse "chopp de frutas", e ele respondeu que era um produto congelado. Foi aí que pedi para Raimundo abrir logo o isopor e me mostrar o que havia dentro.

    Em instantes, veio a descoberta: tratava-se de um geladinho (para os paulistas), sacolé (para os cariocas) ou dindin (para os nordestinos) – conhecido, ainda, como gelinho ou chup-chup pelo país afora. Ao todo, existem inúmeros nomes regionais para esse suco de frutas congelado em saquinhos.

    Aqui no Pará, a vantagem está na diversidade de sabores. Os mais vendidos são os de muruci (fruta nativa do Norte e Nordeste), cajá (lá chamada de taperebá), cupuaçu e açaí.

    Raimundo me disse que comercializa 30 "chopps" por dia, "dependendo da farinha (que o cliente comeu)". Cada saquinho sai por R$ 1.

  • Comida leve para dormir em Cametá (PA)

    Arroz paraense e vatapá

    Durante nossa parada em Cametá (PA), descobrimos um cantinho gastronômico chamado Delícias do Pará. Pensamos que era um restaurante típico paraense. De fato, servia apenas comida com receitas do estado, mas não era bem um restaurante.

    Passei pelo rechaud e fui entrando para escolher a mesa. Parei quando me dei conta de que estava quase dentro da sala de uma casa. Isso mesmo: o Delícias do Pará funciona quase na varanda ou na garagem da família. Mesas apenas na calçada, seis delas no máximo, de plástico, daquelas de beira de piscina.

    Mapa Bye Bye Cametá (PA)De imediato, veio uma mulher simpática, trajada com touca higiênica e roupa de chefe de cozinha. Logo notamos que aquele era apenas um uniforme, pois a mulher não poderia ser chefe após ter titubeado para responder uma simples pergunta: "Vocês servem apenas pratos típicos da região?" Ela ficou alguns segundos em silêncio, olhou pra cima e me disse: "Como assim, típico da região?". Encerrei o dilema perguntando se o cardápio tinha apenas o que estava exposto em um banner pendurado na fachada do estabelecimento. Ela disse que sim.

    Pedi, então, um arroz paraense e vatapá. O cinegrafista Luciano Cury, que me acompanha nessa viagem, foi de arroz paraense e caruru.

    O arroz paraense, para quem não sabe, é feito com caldo de tucupi (tempero amarelo extraído da raiz da mandioca-brava), camarão e jambu (erva da região Norte, que deve ser cozida antecipadamente). Os demais temperos vão a gosto, mas precisam conter chicória e cheiro verde. Já o vatapá é feito com miolo de camarão refogado e azeite de dendê. O camarão refogado é batido com casca e água no liquidificador. Depois de coado, é misturado com farinha de trigo. Após engrossar, vai o leite de coco e mais azeite de dendê.

    O caruru, por sua vez, é feito com camarão fervido, farinha de mandioca, quiabo, tomate, coentro e azeite de dendê. Tudo fervido e misturado, para simplificar a explicação do prato. Eu não gosto muito de quiabo, mas recomendo o caruru.

    Bom, o resultado foi que os dois pratos estavam muito bons. E, pelo adiantado da hora que chegamos a Cametá, foi uma pedida leve para comer e dormir em seguida, por incrível que pareça. Recomendamos! O Pará é genuinamente um celeiro de bons sabores.

    Cardápio

     

  • G1 completa quatro semanas de expedição (e mais de 4.915 km rodados)

    Completamos a quarta semana de viagem. Neste trecho paraense, deixamos o carro em Altamira (PA). Percorremos, desde Maceió (AL), mais de 4.915 quilômetros ao volante de uma picape alugada. Nos deslocamentos que fizemos em Altamira, foram mais de 300 quilômetros, somando os percursos de carona em caminhão de cacau até Novo Repartimento (PA) e de táxi até Tucuruí (PA).


    Soubemos, depois que desembarcamos, que estávamos com um dos produtos mais visados por quadrilhas especialistas em roubo de carga na região. Felizmente deu tudo certo, sem problemas. Sem falar, claro, no desconforto da boleia.

    Já em Tucuruí, adotamos o barco como meio de transporte para conseguirmos conhecer minimamente a região. Aqui o negócio é navegar. Andamos muito pelas águas do Tocantins, desde pequenas "voadeiras", embarcações maiores e de linha.

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     


    Na saída de Tucuruí, nesta quinta-feira (28), encaramos a falta de estrutura adequada e embarcamos em uma chamada "voadeira" até Cametá (PA), cidade de onde deveríamos continuar viagem até a capital paraense, também de barco. Apenas uma escadaria de pedra, com degraus altos e muito íngremes, faz o acesso dos passageiros aos barcos. Idosos, crianças e pessoas com dificuldade de mobilidade têm de se arriscar no local, faça sol ou faça chuva. Isso sem falar que essa dificuldade é ampliada com as bagagens. No nosso caso, muita bagagem para Luciano Cury e eu.

    Transporte em Tucurui: blog Caravana G1

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Por conta do atraso na viagem – foram sete paradas em trapiches até Cametá -, perdemos o barco que seguiria na noite desta quinta-feira (29) para Belém. A chegada prevista seria de madrugada. Dormimos em Cametá, bem perto da rodoviária.

    Resolvemos seguir de ônibus para Belém. Mas aqui nesta região, cercada de rios, lagoas e igarapés, o transporte mais comum é o barco, seja qual for. Mesmo tendo escolhido o trajeto rodoviário até Belém, adivinhem como começou o trajeto? De barco. Na rodoviária de Cametá, compramos a passagem de ônibus e descemos até uma embarcação, que nos levou até Carapajó, de onde conseguimos pegar o ônibus.

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Em Altamira, tivemos o prazer de conhecer Maykon, um fã do blog Caminhos do Brasil. Ele nos acompanhou, pela internet, durante toda a viagem e sabia até mais do que nossa memória poderia nos permitir as situações inusitadas pelas quais passamos. Um sujeito engraçado e que soubemos, depois que saímos da cidade, que sua mulher está grávida de seis semanas. Ficamos felizes por conhecê-lo e pela notícia de mais um filho.
     

  • Peixe no saco em Tucuruí

    peixe saco tucuruí

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    mapa tucuruí paráComer peixe em Tucuruí, no Pará, é comum. A cidade é banhada pelo rio Tocantins, então peixe é o que não falta. Apesar da época do defeso, quando a pesca é permitida apenas para subsistência, não falta tucunaré na mesa. E uma das formas de comer essa iguaria é no saco.

    Achamos um lugar cuja especialidade é o prato. Chama-se Tô Toontin. Pedimos o cardápio, mas o garçom nos avisou que lá não tem cardápio: só o que servem é o peixe no saco. Ok, então traga um!

    O tucunaré recheado com vinagrete é assado no saco com molho shoyu, água e limão. O peixe é servido com farinha e arroz, sendo suficiente para duas pessoas.

    Jeová Leite, dono do estabelecimento, criou a receita há 25 anos. "Só não faço mais porque aqui todo mundo come peixe em casa". Vale a pedida.

  • Mistério dos pneus vazios intriga passageiros do Aeroporto de Altamira

    Nos dias que ficamos em Altamira (PA), precisamos ir duas vezes ao aeroporto da cidade. Lá, vimos e ouvimos os relatos incrédulos de alguns moradores sobre um mistério no local. Quando voltam de viagem e desembarcam no Aeroporto de Altamira, eles ficam intrigados ao encontrarem os pneus dos carros vazios.
    Pneus vazios dos carros no Aeroporto de Altamira

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Os passageiros que moram na cidade costumam deixar os carros no estacionamento do aeroporto, que é gratuito, fica ao ar livre e não tem seguro. O problema já está incomodando os usuários do local.

    Enquanto os aviões não pousam ou decolam, as rodas de conversa sempre acabam tocando no assunto dos pneus. Em Altamira, é comum os moradores viajarem para cidades vizinhas ou para outros estados. No período da viagem, quem mora sozinho ou não tem carona para ir ao aeroporto acaba deixando o carro no estacionamento.

    O desconforto é ter de trocar o pneu ali mesmo. Os comerciantes e usuários não são unânimes, mas têm duas suspeitas. Uma delas é a de que alguém estaria interessado que os passageiros não consigam usar seus carros. A outra é a de que seja vandalismo mesmo. Eles esperam solucionar o caso em breve. Muita gente já está de olho nos pneus.


  • Expedição do G1 passa por greve de trabalhadores da usina de Belo Monte

    Decidimos seguir viagem de Altamira (PA) até Tucuruí (PA) na manhã desta terça-feira (26). O trajeto será feito de carona, em um caminhão que vai transportar cacau para o interior de São Paulo. O caminhoneiro André, mais conhecido como Cafona, parou para carregar em Anapu (PA), de onde segue até Novo Repartimento (PA).

    Lá iremos nos separar. Ele segue para Marabá (PA) e nós (Luciano Cury e eu) tentaremos pegar uma van até Tucuruí.


    Entre Altamira e Anapu, passamo pelo sítio Pimental, da obra da usina de Belo Monte. Todos os caminhões estavam parados, perfilados, estacionados. Os trabalhadores entraram em greve nesta terça-feira.

    Estivemos no mesmo local nesta segunda-feira (25) e o cenário visto foi completamente diferente. Caminhões, tratores, picapes e carros circulavam por todos os lados do canteiro de obras, que seguia, até então, em turno completo de 24 horas, sem parar.

    Mapa Bye Bye Bye Brasil: Tucuruí (PA)Durante os dias que estivemos em Altamira, conversamos com trabalhadores contratados pelo Consórcio Construtor Belo Monte e eles nos disseram que esperam por uma nova oferta na negociação do dissídio da categoria. Segundo eles, a proposta oferecida, de 10% de aumento, foi recusada. Eles me disseram, antes da greve, que não aceitariam menos dos 11% recebidos no ano anterior, além de reajustes nos benefícios.

    A Polícia Militar, também antes da greve, me informou que homens da Tropa de Choque, vindos de outras regiões do estado, estavam nas proximidades dos portões dos canteiros de obra para o caso de algum confronto. A Força Nacional está nos canteiros da obra.

    Bom, agora, estamos apenas esperando o carregamento do caminhão com as 20 toneladas de cacau para continuarmos a viagem. Será a primeira vez que Luciano e eu não iremos nos revezar ao volante do carro. Por nossas mãos, foram percorridos 4.915 quilômetros.

  • Fã do blog apronta uma surpresa durante feira em Altamira

    Neste domingo (24) fomos circular pela feira-livre de Altamira (PA). Conversamos com moradores, comerciantes e turistas. Passamos algumas horas circulando pelo local, ouvimos boas histórias, dando boas risadas e experimentando os sabores da terra.

    Mas nunca poderíamos imaginar que durante todo o tempo estivemos “vigiados”. Isso mesmo, desde o começo da feira dominical, uma pessoa estava nos olhando. Era o topógrafo Maykon Nascimento, 26 anos. Ele se aproximou, sem que a gente tivesse percebido, esperou terminarmos a entrevista e literalmente cutucou nossos ombros, o meu e do cinegrafista Luciano Cury.


    Quando nos viramos, vimos um rapaz ofegante, suado, óculos de sol e sorridente. Ele pareceu querer ver a nossa reação com o que estava por dizer. Ele logo quebrou o silêncio e disse que queria falar. Confesso que surpreendi com a abordagem. Maykon continuou sorridente, estendeu a mão e disse novamente que queria falar. Eu respondi: “então, diga o que você quer”.

    Em ritmo acelerado, ele disse que estava nos acompanhando e soltou: “Vocês tomaram banho de cuia, viram o MacGyver no Piauí, dormiram no carro e falaram sobre as estradas. Eu acompanhei vocês até Balsas (MA), mas vi que vocês iriam passar por aqui. Vi que vocês estavam em Marabá (PA) e fiquei esperando para ver se dava certo encontrar com vocês”. A partir desse surpreendente relato de parte do que fizemos durante a viagem, a única reação foi gargalhar. Foi uma mistura de sentimentos, ao mesmo tempo que sentimos a situação engraçada, ficamos muito lisonjeados com Maykon.

    Conversamos ali mesmo, mas o sol de rachar o coco fez com que Maykon nos oferecesse gentilmente um copo de água. Fomos até a casa dele e lá já estavam os filhos, a mulher e dois amigos nos esperando. Ele nos ofereceu o churrasco que estava preparando, disse que conhece praticamente todas as cidades por onde passamos e logo reclamou que nosso itinerário não tinha parada em Sergipe. Mas disse que navegamos pelos Cânions do Xingó, bem na divisa de Alagoas e Sergipe. Ele ficou aliviado.

    Durante a nossa rápida conversa, perguntei como ele tinha nos achado no meio da feira-livre. Ele me respondeu que a “espiã” foi sua mulher, que nos viu e correu para avisá-lo sobre nossa presença. Na sexta-feira ele nos viu trabalhando na Avenida Sete de Setembro, onde foram rodadas algumas cenas do filme "Bye Bye Brasil".

    Ele aproveitou para relatar o que conhece da rodovia Transamazônica. “De Cabedelo (PB) até Marabá a Transamazônica está 100%. De Marabá até Altamira não tem jeito, não, sem comentários. Não tem condições de andar. Eu conheço aquilo tudo, vocês passaram até em Oeiras (PI), que é uma cidade histórica”, disse Maykon. Aliás, nossa passagem por Oeiras foi um pedido do internauta Marcelo César, que recomendou fazermos uma parada na cidade.

    Para terminar a nossa conversa, Maykon ainda fez graça com o fato de termos passado apuros na viagem, voltando a falar sobre o banho de caneca, o momento em que Luciano e eu tivemos de dormir no carro e andar por estradas ruins. Nosso obrigado pela simpatia dele e de sua família e amigos. Espero que continue acompanhando a expedição Caminhos do Brasil.

  • O que a baiana tem? Mas em Altamira?

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     




    Quem circula pelas ruas de Altamira (PA) não demora muito a descobrir uma senhora simpática e sempre atenta a qualquer sinal com as mãos, ao que ela prontamente atende se aproximando com uma bacia na cabeça. Quem é essa mulher? É a Baiana, como Irene Guerri gosta de ser chamada. O tabuleiro típico da baiana, aqui em solo altamirense, virou uma bacia de alumínio reluzente e repleta de cocadas,doces de coco e trufas. Tudo feito por ela.

    Assim que você estende a mão para chamá-la, Baiana coloca a bacia na cabeça e começa a falar “vamos negociar”. A cocada sai por R$ 7 e é boa. A de coco queimado tem um caramelo no final, que deixa a boca adocicada.

    Natural de Vitória da Conquista (BA), ela está em Altamira desde 1977, onde se casou e teve quatro filhos, “todos criados” com a venda de manga, outras frutas e ervas. Baiana começou a fazer cocada há 24 anos. Todos os dias ela prepara 10 quilos da iguaria, mas já chegou a fazer 30 quilos.

    Ela anda por toda a cidade, entra em todos os estabelecimentos, restaurantes e casas em busca dos clientes, novos ou antigos. Se a presença dela não reverter em venda, pelo menos um bom papo sempre sai. Mas ela conquista com “meu amor”, “meu gatinho” e “meu querido”. Então, se encontrar uma mulher com bacia na cabeça aqui em Altamira, pode perguntar o que a Baiana tem.

     

  • Transamazônica vira pista de exercícios para moradores de Pacajá


    Encontramos, em vários pontos da Transamazônica, pessoas vestidas com roupas de academia e um boné para proteger do sol. Elas estavam fazendo exercícios no acostamento da rodovia, diante de carros em alta velocidade (quando o trecho é asfaltado, claro). Vimos o primeiro cenário do gênero no Piauí, mas não conseguimos parar o carro para conversar com essas pessoas. Ficamos com isso na cabeça, perguntando intimamente o motivo para elas estarem ali, se arriscando. Vale lembrar que em alguns pontos da Transamazônica asfaltada, o acostamento é estreito, o que aumenta ainda mais o risco de atropelamento.

    Na cidade de Pacajá (PA), voltamos a ver o cenário de academia esportiva às margens da rodovia. Desta vez conseguimos um espaço para estacionar o carro com segurança, sem colocar em risco essas pessoas e nem os motoristas que trafegavam pelo local.

    Abordamos um grupo de mulheres, com idades variadas. Todas pareciam bem concentradas nos exercícios, movimentando os braços durante a caminhada. Elas até tomaram um susto quando descemos do carro para falar com elas.

    O chocante da história foi a revelação que uma delas nos fez. Todas ali atuavam na área da saúde de Pacajá, portanto, sabem que o exercício é uma boa medida para se manter saudável e prevenir uma série de problemas para o corpo, principalmente o sedentarismo e suas consequências. A revelação foi a de que a cidade não oferece espaço algum para a prática de exercício. E parece que muitos moradores concordam com isso, pois o movimento de vai e vem de pessoas pelo acostamento era intenso.

    Leandra Silva de Souza, 26 anos, a mais jovem do grupo de abordamos, trabalha como agente de endemias na cidade. Ela me disse que não tem medo de ficar na estrada e só fez essa escolha porque não há espaço adequado em Pacajá para fazer exercício, principalmente por causa do movimento intenso de carros pela cidade e a falta de asfalto por lá.

    A amiga dela, Maria Aparecida Pereira, 38 anos, técnica de enfermagem na cidade, disse que sempre faz a caminhada na Transamazônica depois do expediente. A professora Sebastiana Gomes, 48 anos, disse que corre e anda no asfalto da rodovia, mas que a intensidade do exercício depende do horário que consegue sair do trabalho e do cansaço após o expediente.

    Iranilde felix de Souza, 32 anos, agente de saúde, disse que o percurso que as amigas fazem é de quatro quilômetros. Dois de ida e dois de volta.

    Elas pareciam felizes com a atividade esportiva, mas ao mesmo tempo ansiosas por um espaço adequado dentro da cidade de Pacajá, com segurança.

  • Três semanas de caravana e 4.600 km rodados

    transamazonica

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Olá! Completamos a terceira semana de expedição. Até agora já foram mais de 4.600 km rodados. Nesta sexta-feira (22), o calor voltou a nos atingir em Altamira (PA). Aliás, estamos passando alguns apuros com as altas temperaturas registradas nas cidades por onde passamos.

    O primeiro choque que tivemos pela proximidade com a linha do Equador aconteceu em Picos (PI). E olhe que a cidade nem está assim tão perto do Equador. Foi de faltar o ar depois do meio dia. O sol forte, a poeira suspensa no ar e a falta de sombra fizeram o Luciano e eu ficarmos com leseira além da medida.

    Mapa ALTAMIRA (VALE ESSE)Em Guaribas (PI) também passamos calor, mas diferente dos outros. Lá a temperatura era resultado da falta de chuva. Segundo os moradores nos relataram, eles não sabem o que é chuva há três anos. Só uns pinguinhos.

    Em Balsas (MA), o calor continuou, mas deu uma certa refrescada. Em Estreito (MA) a coisa mudou. Chegamos em um dia chuvoso, literalmente caiu o céu. Chuva forte, daquelas que costumamos dizer em São Paulo que parece chuva de verão, só que dessa vez mais prolongada.

    Em Marabá (PA) também foi quente. Mas aí a umidade do ar, típica de algumas regiões do Pará, se fez presente. Era aquele famoso bafo quente, pra falar o famoso português claro. Mas diferente de Belém, não pegamos nenhuma chuva das três (15h). Apesar disso, não foi difícil que as lentes dos meus óculos ficassem embaçadas por causa do calor. Isso foi rotina.

    Chegando a Altamira (PA) e sentimos a brisa refrescante, bem típica de uma cidade margeada por um rio, no caso, o Xingu. Mas logo fomos castigados pela sombra quente da cidade. Mesmo nublada, Altamira estava absurdamente quente na manhã desta sexta. Foi até difícil fazer as entrevistas e conversar com as pessoas, tamanho era o suor. Claro, isso até serviu para quebrar o gelo, pois as pessoas que vivem em Altamira já estão acostumadas e mais riam do Luciano e de mim.

    O que mais impressionou a gente, em todas as cidades, foi que é tempo de inverno por aqui. Inverno, na verdade, é o período do ano que mais chove e por isso a temperatura cai. Por esse motivo não deveríamos estar com tanto calor assim.

    transamazonica2

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Mas eu queria fazer um parêntese sobre a Transamazônica, sobre o trecho que liga Marabá a Altamira. Quando conversamos sobre o percurso, muitas pessoas nos relataram que fizeram a mesma rota recentemente. Claro, aproveitamos para pegar algumas dicas sobre o trecho. Uns disseram que a situação estava começando a ficar ruim por causa do inverno que relatei acima. Outros falaram que havia muitas obras de recapeamento e asfaltamento da rodovia e que estava bom para dirigir entre algumas cidades. Teve até quem recomendasse, por causa das chuvas, que a gente comprasse sacos de areia para colocar na caçamba de nosso carro e assim dar mais estabilidade na lama. Deixamos a areia de lado.

    De fato, o inverno não influenciou nosso desempenho no trajeto, mas a quantidade de trechos sem asfalto algum, buracos enormes, terra pura. Em outros pontos, obras sem sinalização alguma, curvas fechadas e mal sinalizadas. Vários trechos de recapeamento recente e alguns quilômetros novamente sem asfalto e nem iluminação elétrica ou sinalização reflexiva. Pontes que parecem ser a mesma da época da construção da rodovia, onde só passa um carro por vez, subidas extremamente íngremes, máquinas nas pistas, enfim, um verdadeiro caos.

    O trajeto de pouco mais de 500 km foi feito por nós em desconfortáveis 11 horas e meia. O fato de haver obras na região é um alento para quem precisa e usa a Transamazônica com frequência ou diariamente. É sinal de que as coisas por lá podem melhorar, mas, pelo que vimos, ainda vai demorar.

  • Poluição visual em Marabá

    maraba_placas1

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    A avenida Antônio Maia, em Marabá (PA), conhecida como rua do comércio, provoca certo desconforto visual em quem circula por ali. São inúmeras as placas de propagandas de estabelecimentos comerciais instalados na via ou nas ruas adjacentes.

    No meio da via há um canteiro com árvores frondosas e copas generosas. Elas inevitavelmente oferecem aos pedestres uma chamativa sombra para amenizar o calor típico da região. Mas as simpáticas árvores precisam se "esforçar" para dividir espaço com as placas de publicidade.

    MapaAndei por boa parte da avenida e não vi, pelo menos não nos canteiros centrais, sinalização de trânsito que indicasse informações básicas. Vi uma ou outra placa com nome de ruas, mas não encontrei uma com o nome da própria via em que eu estava.

    A quantidade de placas de publicidade e o tamanho delas são espantosas. Elas ocupam espaço até sobre o asfalto da rua, onde poderia ter sinalização de trânsito ou semáforos. E mais: como precisam de sustentação, postes de todos os tamanhos ocupam o já pequeno espaço destinado ao fluxo de pedestres e consumidores pelas calçadas. Consumidores estes que são quase impedidos de circular com segurança e conforto frente aos "desafios e obstáculos" armados pelos responsáveis pelos estabelecimentos comerciais, que deveriam atrair os pedestres pelo que expõem em suas vitrines.

    O que eu questiono aqui não é a publicidade em si, mas a aparente falta de controle, de ordenamento. A poluição visual desvaloriza os empreendimentos, torna o local feio e desagradável. Não sei o que os moradores de Marabá pensam sobre isso. Há um plano diretor? Há um planejamento urbanístico para minimizar o excesso de informação visual?

    Marabá é conhecida por ser cosmopolita e poderia levar isso em consideração. Em 2011, quando estive na cidade pela primeira vez, tive a mesma impressão impactante e a sensação de poluição visual na mesma avenida e em seu entorno. Dois anos depois, não imaginava que fosse me impactar novamente. Será diferente na próxima visita?

    maraba_placas2

  • Cosmopolita, Marabá vira terra de todos os times


    Hoje encontramos com o vendedor Luiz Carlos Silva de Oliveira Júnior, 34 anos, “mais nome do que gente”, como ele mesmo se define. Ele chamou nossa atenção por colorir a cidade, esvaziada pelo feriado, com várias bandeiras de times de futebol. Luiz nos contou que circula por várias cidades paraenses com um estoque de bandeiras na mala. Ele fincou algumas de suas bandeiras no canteiro central da Rua 28, em Marabá (PA) e aproveitou a rodada final da Copa do Brasil, nesta quarta-feira (20), entre Flamengo e Atlético-PR para faturar um trocado.

    Em dez minutos que acompanhamos seu trabalho, a clientela fez fila de motocicletas e de carros. A negociação é ali mesmo, no meio do trânsito. E não tem embalagem. Quem compra sai ostentando o adereço do time de coração na janela do carro ou vestindo a bandeira para seguir de motocicleta.

    FilaSegundo ele, as mais pedidas não são as do Remo e nem a do Paysandu, times do Pará. O que mais compram com ele são bandeiras do Flamengo. É o time que tem mais opções de tamanhos e formatos. A bandeira do Corinthians é a segunda na liderança. A do Paysandu vendeu bastante e esgotou o estoque.

    Ele garante que tem muito mineiro em Marabá só pela quantidade de bandeiras do Atlético-MG e do Cruzeiro que já vendeu. Luiz tem certeza também que na cidade tem muita gente do Sul e do Sudeste do país. “Tem gaúcho e paulista aqui de montão”.

    Luiz contou  que na região todos têm dois times da terra (Remo ou Paysandu) e um do Rio ou de São Paulo. Mesmo vestido com camiseta e boné do Flamengo, resolvi perguntar qual era o time dele, de coração. Ele confessou que era torcedor do Remo, mas que também torcia pelo Flamengo. Quando os dois times se enfrentam, bingo, ele fica dividido e torce pelo empate.

    Desafiei o vendedor dizendo que ele era vira-casaca, mas ele explicou que se sentia como os jogadores de futebol: “no coração é um time, mas no bolso é dinheiro. Sou profissional igual a eles”.

  • Do ‘fantasma’ de Serra Pelada ao Massacre de Eldorado dos Carajás

    Serra Pelada fantasma

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Olá. O post de hoje demorou, mas chegou. Ficamos muito tempo em deslocamento, na rodovia mesmo, entre uma cidade e outra, e foi por isso que aconteceu o atraso.

    O roteiro da nossa expedição foi inspirado no filme “Bye bye Brasil”, dirigido por Cacá Diegues e filmado entre 1979 e 1980. Serão mais de 8 mil quilômetros pelo Brasil.

    Memorial Eldorado dos Carajás

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Saímos cedo para Eldorado dos Carajás (PA), passamos pelo local onde 19 trabalhadores rurais foram mortos por policiais, em 17 de abril de 1996. A ação policial ficou conhecida como Massacre de Eldorado dos Carajás.

    Visitamos o memorial em homenagem às vítimas e seguimos para o assentamento instalado na fazenda que motivou a luta dos trabalhadores naquela época.

    Serra Pelada

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    De lá, viajamos para Curionópolis (PA). Conhecemos a lendária Serra Pelada, a vila dos garimpeiros.

    Ouvimos histórias, lendas, encontramos com as mulheres que chegaram ao território exclusivo de homens até 1986.

    O ouro deve voltar a ser explorado de forma mecanizada a partir de 2014.

    Mapa

    Apesar de o acesso ao distrito de Curionópolis nos mostrar uma vegetação densa, rica e plural, o cenário de Serra Pelada mais pareceu com o de uma cidade fantasma. Casas rudimentares, aparentemente abandonadas, outras completamente desabitadas e sem sinal de vida.

    Mesmo depois de ter abrigado milionários de uma hora pra outra, da noite para o dia na década de 1980, hoje, o que se encontra por lá são ex-milionários que ainda sonham com ouro, as mesmas casas de madeira e um distrito que não tem a mínima infraestrutura como saneamento básico, água e energia elétrica.

    Enquanto estávamos em Serra Pelada, faltou água nas casas e energia elétrica. E com toda essa penúria, poucos são os que desejam sair de lá.

    Serra Pelada fantasma

     

  • Atenção: (muitos) animais nas pistas

    Tatu-bola na estrada: blog Caravana do G1

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Um detalhe nos chamou a atenção durante nossa trajetória de Maceió até Marabá (PA). Por várias vezes os animais na pista nos obrigaram a desviar a rota, frear bruscamente para evitar um acidente ou parar para apenas admirar um ambiente familiar como a amamentação de filhotes.

    Em alguns trechos até havia sinalização sobre a presença de animais da pista, mas muitas vezes a presença animal ficava apenas nas placas. Mas em outras, a presença era múltipla.

    Na PI-143, encontramos desde sertanejos pastoreando gado, como até cabras soltas na pista, muitas até se alimentando da vegetação às margens da rodovia, perto de Simplício Mendes (PI).

    Na mesma rodovia, demos de cara com um senhor e um animal pendurado pelo rabo em uma de suas mãos, era um tatu. Na hora me lembrei do Fuleco, o mascote da Copa do Mundo no Brasil. Fizemos a manobra e voltamos. O senhor veio correndo, acreditando que tinha conseguido um freguês. Ele queria R$ 30 pelo animal. Eu perguntei se estava vivo, pois havia alguns pequenos sinais de sangue na carcaça, e ele respondeu que estava. Até me ofereceu para carregar, pois estava com as patas amarradas. Recusei, não queria ter a memória tátil do mascote da copa naquela situação.

    Seguimos viagem, mas fiquei pensando se deixar aquele senhor com o tatu para trás teria sido a melhor atitude da minha parte. Pensei até em retornar, comprar o animal e soltá-lo mais adiante, longe daquele caçador mercantil. Mas pensei também se aquele bichinho sobreviveria solto em um local desconhecido do habitat dele, machucado, se não viraria presa de outro animal. Ainda penso muito nisso, mas resolvemos seguir viagem.

    Animais na estrada: blog Caravana do G1

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Na rodovia que chega a Guaribas, vimos uma quantidade infinita de aranhas no acostamento e na pista também. Algumas já atropeladas e outras caminhando tranquilamente de margem a margem.
    Chegando a Balsas (MA), demos de cara com uma situação perigosa, mas que logo se tornou contemplativa e engraçada. Estávamos com uma câmera instalada no capô para registrar imagens da Transamazônica e, em uma lombada na estrada, tivemos de esperar calmamente uma galinha e seus dois pintinhos atravessarem. Como chegamos bem perto, a galinha se virou para o carro, para nossas câmeras, para nós, os espectadores, e ficou ali, olhando para nós.

    Leitoa na estrada: blog Caravana do G1Até aquele momento, era ela e um pintinho. Não demorou muito e entendemos o motivo para ela ficar parada na nossa frente. Ela não queria seus cinco minutos de fama, ela estava esperando outro pintinho, atrasado, atravessar a pista. Rimos demais dessa galinha protetora.

    Saindo de Guaribas (PI), vimos uma leitoa amamentando dez filhotes. O calor era tão grande que a mãezona estava acabada, deitada na terra enquanto os filhotes se revezavam, afoitos e mortos pelo sol e esforço alimentar, em abocanhar as tetas da mãe.

    Mas além destas situações, dividimos o asfalto ou a terra das rodovias com jegues, cavalos, vacas, codornas e rasantes de carcarás. É a natureza querendo retomar seu espaço, mas o preço parece ser alto. Chegando a Estreito (MA), cruzamos com dois filhotes de tamanduás mortos, atropelados.
    Bois na estrada: blog Caravana do G1

  • Transamazônica de 'Bye Bye Brasil' ainda vive na terra e lama



    Percorremos centenas de quilômetros pela BR-230, a conhecida Transamazônica. Pelo trecho piauiense, o asfalto e a manutenção da pista estavam em ordem. O mesmo se passou pelos trechos maranhenses e tocantinenses. O cenário se deteriorou alguns metros após passarmos pela ponte sobre o Rio Araguaia, quase na divisa de Tocantins com o Pará.

    O asfalto em solo paraense desapareceu e no lugar apareceu terra, ondulações e muitos buracos. Apesar de larga, suficiente para fazer duplicação da pista nos dois sentidos, a rodovia é tomada por carros e caminhões cruzando entre si em uma coreografia automobilística rotineira para superar os obstáculos. Praticamente um zigue-zague hostil onde não há contramão. Até chegarmos a Marabá (PA), a terra e o asfalto se revezaram por vários quilômetros.

    A cena da Transamazônica que vimos no Pará é bem semelhante da que foi mostrada no filme "Bye Bye Brasil", de Cacá Diegues, e produzido por Lucy Barreto. Ambos me relataram, antes de iniciar esta expedição, que a Transamazônica por onde circularam para gravar o filme, nos anos de 1979 e 1980, era caótica, um verdadeiro canteiro de obras e de muita terra e lama. Foi exatamente essa mesma imagem reportada por eles que vi com os próprios olhos, quase 35 anos depois. Neste trecho da Transamazônica, o tempo parece ter parado.

  • Mais de 3,5 mil km depois, G1 completa duas semanas de expedição

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Olá! Demoramos, mas chegamos. A nossa expedição completou nesta sexta-feira a segunda semana de estrada. Hoje o post chegou um pouco atrasado por causa da internet ruim em Estreito (MA), mas agora que chegamos a Marabá (PA) a internet voltou ao nosso convívio.

    O roteiro foi inspirado em "Bye bye Brasil", dirigido por Cacá Diegues e filmado entre 1979 e 1980. Serão mais de 8 mil quilômetros pelo Brasil

    Já passamos por cinco estados (Alagoas, Bahia, Pernambuco, Piauí e Maranhão). Foram mais de 3,5 mil quilômetros rodados por várias rodovias, desde estaduais, federais e alguns trechos urbanos.

    O cansaço é inevitável, mas a energia para seguir a viagem é renovada a cada história que encontramos, pelas pessoas que conhecemos e pelos cenários que nos deparamos. Eu e o Luciano Cury, que já dispensa apresentações, passamos por alguns perrengues durante essa segunda semana e nos surpreendemos com algumas rodovias.

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    (o cinegrafista Luciano em Estreitos)

    Logo na saída de Picos (PI), nos deparamos com a história do MacGyver da Transamazônica, na cidade de Dom Expedito Lopes (PI). Na altura do km 270 da rodovia, vimos placas curiosas de autoria do jovem Edson Pereira de Freitas, 20 anos. Eletricista autodidata, mas com apoio do pai também eletricista, ele montou uma espécie de laboratório às margens da rodovia e conserta de tudo. Alternadores complexos e lâmpadas mirabolantes são sua especialidade.

    O rapaz caiu nas graças dos caminhoneiros, que lhe deram o apelido de MacGyver, que adotou com carinho, mesmo sem nunca ter visto um capítulo sequer da série “Profissão Perigo”, que foi exibida na TV nas décadas de 1980 e 1990. O MacGyver das telinhas foi interpretado por Richard Dean Anderson. O do asfalto fica por conta do Edson mesmo.

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    (parada em Guaribas)

    Chegando a Guaribas (PI), depois de mais de 12 horas de viagem e alguns erros de logística, acabamos dormindo no carro, pois a cidade “dorme” cedo. A estrada que sai da PI-144 até a cidade é completamente repleta de buracos, em nada parece uma rodovia. Erramos o caminho duas vezes por causa de bifurcações não sinalizadas. Dormimos no carro e tomamos banho de caneca. Isso mostra um pouco das condições da cidade.

    Depois que cumprimos nossa jornada em Guaribas, o destino seguinte era Balsas (MA). O trajeto não foi possível ser feito de uma vez. Por questões de segurança, resolvemos dormir em Floriano (PI). Cidade movimentada e com comércio pulsante.

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    (plantação de soja em Balsas)

    Logo nas primeiras horas do dia seguinte, seguimos para Balsas. O asfalto neste trecho é impecável, a trafegabilidade foi muito boa. O fato de não ser duplicada dificultou a circulação, tendo em vista a quantidade de caminhões na pista. Apenas um trecho pequeno no acesso a Balsas que o asfalto estava deteriorado, mas em recuperação, com máquinas na pista.

    Fomos bem até o km 98 da Transamazônica, na cidade de São João dos Patos (MA). Paramos no asfalto por causa do primeiro acidente nas tantas estradas que circulamos até agora. Felizmente ninguém ficou ferido.

    De Balsas a Estreito (MA) a jornada foi rápida, a pista estava em boas condições. Encaramos uma verdadeira chuva de verão. Isso para paulista falando, porque aqui, período de chuva é inverno.

Sobre a página

Quase 35 anos depois do filme "Bye bye Brasil", de Carlos Diegues, o G1 cruza três regiões do país e vê como estão hoje os cenários da produção que marcou época. O blog será um “diário de viagem” nesta visita ao trajeto do filme e mostrará as histórias encontradas no Brasil profundo.