Longevidade: modo de usar

Por Mariza Tavares — Rio de Janeiro


No começo do mês, fiz uma coluna sobre como a sexualidade dos mais velhos continua sendo ignorada em consultas médicas e até vista como uma aberração pelas famílias e instituições. Volto ao tema depois de assistir a seminário on-line sobre a importância de a medicina sexual respeitar as diferenças culturais para conseguir atender com êxito os pacientes, com duas especialistas: as psicólogas, sexólogas e psicoterapeutas Veronica Basso, do Uruguai, e a italiana Francesca Tripodi.

Casais maduros em restaurante: arsenal à disposição do bem-estar sexual deveria estar à disposição de todos — Foto: Mariza Tavares

“As crenças e os valores do grupo funcionam como uma âncora que regula a vida das pessoas. A sexualidade é um fenômeno biopsicossocial e sua vivência é afetada por problemas que tenham origem em qualquer uma das esferas: biológica, social e psicológica. A religião também cria uma bússola sexual para o comportamento e o produto dessa equação será diferente em cada comunidade. O tratamento tem que levar em conta todos os fatores, porque são muitas as mensagens internalizadas”, afirmou Basso.

Ela descreveu um quadro que conhecemos bem: a influência cultural forjando conceitos que interferem nas funções sexuais naturais. Por exemplo, para os homens, exigências e crenças pouco realistas sobre o desempenho na cama; para as mulheres, uma visão atrelada a modelos conservadores, imagens negativas sobre o corpo e padrões irreais nas redes sociais. Para Tripodi, diferenças étnicas e religiosas influem em como o distúrbio é tratado:

“Frequentemente há mensagens conflitantes entre o grupo social e a mídia, ou a escola. É importante ter em mente que, em 65 países, a homossexualidade é crime; em 12 deles, punida com pena de morte. Ansiedade e somatização levam a um quadro de doença sem doença”.

Para ilustrar sua tese, lembrou que, na Europa, prevalece a questão sobre a falta de desejo e o consumo de pornografia, enquanto, na Índia, as maiores preocupações são o tamanho do pênis e ejaculação precoce. Por isso, sugere que a conversa parta sempre de perguntas abertas, como: “O que você acha que causou seu problema, e o que sua condição provoca? O que mais teme em relação a ela e que tratamento acha que deveria receber?”. Basso e Triponi concordam que a medicina sexual ainda está longe de corresponder às necessidades do público idoso e que a família às vezes exerce um papel controlador que dificulta trazer o assunto à tona:

“Os mais velhos poderiam se beneficiar com um arsenal à disposição do bem-estar sexual. Temos que falar abertamente sobre como manter o prazer mesmo convivendo com deficiências e doenças crônicas. Só para citar alguns exemplos, há uma variedade enorme de lubrificantes e travesseiros para facilitar posições no sexo”, disse a psicoterapeuta uruguaia.

Para encerrar, listo os seis princípios da saúde sexual, que deveriam pautar todos os relacionamentos: consentimento, não exploração, proteção, honestidade, valores compartilhados, prazer mútuo.

Veja também:

Brasileira fala sobre sexo na terceira idade: 'Eu transo sim e gosto muito'

Brasileira fala sobre sexo na terceira idade: ‘Eu transo sim e gosto muito’

Brasileira fala sobre sexo na terceira idade: ‘Eu transo sim e gosto muito’

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!