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Inflação de verão não dá refresco para brasileiro

Preços de frutas, passagens aéreas, roupas e outros itens subiram em 12 meses

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Rio de Janeiro

A inflação não deve dar muito refresco para o bolso dos brasileiros neste verão. Frutas e roupas usadas na estação mais quente do ano, além de serviços de transporte e hospedagem, consumidos no período de férias, subiram bem acima do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).

Em 12 meses até novembro, o índice geral de preços acumulou alta de 5,90% no país, conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

De uma lista com 36 bens e serviços que compõem o IPCA e que são associados ao verão, 32 registraram inflação superior à do indicador geral no mesmo período.

Pessoas aproveitam areia da praia de Camburi, em São Sebastião (SP) - Mathilde Missioneiro - 14.dez.22/Folhapress

A maior alta foi a das frutas: 36,83%. Segundo economistas, os preços desses alimentos avançaram com o efeito do clima adverso em 2022, que reduziu a oferta das mercadorias, e com os custos de produção ainda elevados no campo.

"O clima é um fator importante para explicar a alta das frutas", afirma o economista Fabio Pesavento, professor da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) em Porto Alegre.

Para quem pensa em viajar nas férias, andar de avião ficou mais caro. Em 12 meses até novembro, a passagem aérea acumulou alta de 35,02%, segundo o IPCA.

Roupas vêm na sequência do ranking da inflação de verão. Os destaques são: vestido (25,41%), camisa ou camiseta masculina (23,29%), saia (21,07%) e bermuda ou short masculino (20,76%).

Já a hospedagem subiu 20,55% em 12 meses até novembro. Blusa (20,21%), sorvete consumido em casa (19,16%) e bermuda ou short infantil (18,99%) aparecem depois, entre os dez produtos e serviços com as maiores variações acumuladas.

Na visão de Pesavento, os dados sinalizam uma combinação de pressões de custo e de demanda. Nesse sentido, ele ressalta que os preços das passagens aéreas foram impactados pelo aumento do querosene de aviação e pela volta das viagens após as restrições na pandemia.

Um movimento semelhante ocorreu com as roupas, segundo o economista. A procura por vestuário subiu após a retomada da circulação de pessoas, e insumos têxteis ficaram mais caros na pandemia. "A matéria-prima foi para as alturas", diz o professor.

Para quem planeja viajar, a passagem aérea e a hospedagem não foram os únicos itens que tiveram alta de preços.

O pacote turístico avançou 17,04% até novembro, conforme o IPCA. Ônibus interestadual e ônibus intermunicipal acumularam aumentos de 16,85% e 7,75% em 12 meses, respectivamente.

O lanche fora de casa aumentou 10,65%, e a refeição, 6,80%. O refrigerante e a água mineral subiram 7,16% fora do domicílio, menos do que os mesmos produtos para consumo nos lares (12,51%).

A cerveja para consumo em casa, por sua vez, teve alta de 8,05%. A mesma bebida fora do domicílio avançou 5,94%, mais próxima do IPCA (5,90%).

Quem evitar viagens também pode ser pressionado pela alta de produtos como refrigerador (17,21%) e ar-condicionado (8,60%).

Devido ao processo inflacionário no Brasil, o BC (Banco Central) elevou a taxa básica de juros da economia, a Selic. A medida busca esfriar a demanda por bens e serviços e, consequentemente, conter os preços.

Esse ambiente de preços, juros e endividamento das famílias em níveis elevados deve dificultar o consumo ao longo do verão, prevê Mirella Hirakawa, economista sênior da AZ Quest.

"A inadimplência está alta, temos uma composição de crédito mais emergencial, isso deve de alguma forma segurar o consumo. É um efeito esperado de uma política monetária contracionista [de corte de juros quando a economia já está fraca]. Uma desaceleração da atividade passa pelo crédito. A gente já está vendo a atividade econômica desacelerar."

Combustíveis na contramão

Da lista de 36 produtos e serviços consumidos no verão, somente 2 acumularam queda de preços em 12 meses até novembro. O etanol e a gasolina recuaram 27,98% e 25,50%, respectivamente.

Por trás da trégua, houve o reflexo do corte de tributos sobre os combustíveis às vésperas das eleições do ano passado. A derrubada de impostos sobre os produtos levou o IPCA para baixo (5,90%) –a gasolina tem o maior peso individual no cálculo do índice geral.

"Os combustíveis foram os principais vetores que conseguiram trazer uma dinâmica desinflacionária em 2022", diz Hirakawa.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)assinou uma MP (medida provisória) que prorroga a desoneração sobre combustíveis no país.

Inicialmente, esse alívio tributário estava previsto até o final de 2022. A decisão do novo governo busca evitar um aumento expressivo nos postos logo no começo do mandato.

Com a MP, a desoneração dos tributos federais PIS e Cofins será válida até o fim de fevereiro para gasolina (que também terá isenção de Cide durante o período), etanol, querosene de aviação e gás natural veicular —além de nafta.

O corte valerá até o fim do ano para diesel, biodiesel e gás liquefeito de petróleo (GLP, o gás de cozinha).

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