Quem é o justiceiro mascarado do TikTok?
Com um grande número de seguidores, o Grande Londini está enfrentando os trolls que intimidam usuários do aplicativo TikTok —mas esse não seria o trabalho do próprio TikTok? "Estamos tirando a rede social das mãos dos intimidadores, pedófilos, golpistas e trolls."
O homem mascarado de capuz preto fala diretamente para a câmera com uma voz eletronicamente distorcida. Parece ter saído de um filme de terror. Mas o objetivo dele não é assustar, a menos que você seja um troll anônimo ou praticante de cyberbullying. Neste caso, ele poderia ser seu pior pesadelo.
Em um de seus vídeos, ele aponta para um comentário abusivo deixado no perfil de uma mulher no TikTok.
"Se um estranho fizesse este comentário para sua filha, mãe, irmã, esposa, o que você faria? Dizemos: se você participa de jogos estúpidos, seus prêmios serão estúpidos (adaptação do termo que faz referência ao ditado em inglês "play stupid games, win stupid prizes", que quer dizer algo como: se você faz algo errado, deve estar preparado para aceitar as consequências)"
Este é o bordão do Grande Londini, um movimento online que se tornou tão popular no TikTok que conquistou dois milhões de seguidores em apenas alguns meses. O "jogo" ao qual ele se refere é a trollagem online, e o "prêmio" é que o Grande Londini vai atrás de você.
Se você é um troll, pode achar que é capaz de se esconder com segurança atrás de um perfil anônimo. Mas Londini trabalha com a premissa de que pode descobrir sua verdadeira identidade com de sete a oito cliques.
Se você for uma criança, ele vai tentar contar aos seus pais ou à sua escola que você está abusando das pessoas online.
Se você for um adulto —talvez alguém que tenha postado um comentário sexualmente ameaçador no vídeo de uma criança— ele vai te denunciar. Isso pode significar informar seu empregador ou avisar o departamento de polícia local.
É uma moderação de vigilância, no qual os usuários de uma plataforma se encarregam de tentar "limpar" o aplicativo. Mas é algo que não está deixando o TikTok muito feliz. O Grande Londini teve nove contas excluídas permanentemente, e a décima foi suspensa várias vezes.
As regras da plataforma que Londini foi acusado de violar variam —de bullying e assédio online a até mesmo violência extremista. Mas Londini contesta todas as acusações. "Até que todos os agressores racistas e golpistas saiam deste aplicativo, não vamos a lugar nenhum", diz ele em um vídeo.
'SOMOS O ANTI-TROLL'
Mas, afinal, quem é o homem por trás da máscara? Ele é conhecido como Leo. Este não é seu nome verdadeiro, e sua identidade é um segredo bem guardado, já que recebe ameaças de morte regularmente.
De vez em quando, Leo tira a máscara em suas lives no TikTok, em que ele conversa tanto com fãs quanto com detratores que estão abertos ao debate. E, na verdade, Leo é apenas a face pública de um movimento de voluntários com experiência militar, em segurança cibernética e hacking ético.
Conversando comigo de um local não revelado nos Estados Unidos, ele falou: "Somos o anti-troll. Se você está aí, agora no TikTok, está sendo trollado". Mas a moderação de conteúdo não é um trabalho do TikTok? "Eles não estão fazendo", diz Leo. "Contamos tudo ao TikTok. Enviamos ao TikTok todas as informações e denunciamos a conta."
O TikTok afirma, por sua vez, que faz grandes esforços para proteger os usuários e introduziu novos recursos, como permitir que os usuários escolham quem pode comentar em seus vídeos e filtrar certas palavras em seus comentários.
"Sabemos que não há uma linha de chegada quando se trata de proteger nossos usuários, e é por isso que continuaremos investindo em nossas equipes, produtos e recursos para garantir que o TikTok seja um espaço seguro para nossa comunidade", disse um porta-voz.
A plataforma enfrenta uma tarefa colossal quando se trata de moderação de conteúdo. De acordo com os próprios números do TikTok, eles derrubaram 61 milhões de vídeos no primeiro trimestre de 2021 —e 91% foram derrubados antes de serem denunciados por usuários.
COMO TUDO COMEÇOU
A missão de Londini de enfrentar os praticantes de bullying nasceu de uma tragédia. No ano passado, o filho autista de 14 anos de um dos amigos de Leo se suicidou.
"Meu amigo depois de um tempo, depois de viver o luto, entrou em contato com a gente e disse: Sabe, parte do motivo pelo qual ele estava tão deprimido é porque estava sendo muito assediado nas redes sociais."
A pedido do pai, Leo e vários amigos rastrearam os valentões anônimos que atormentavam seu filho. "Nós fomos capazes de dar as informações ao nosso amigo e dizer... faça o que você precisa fazer com isso. E ele entrou em contato com os pais deles e conseguiu, em grande parte, um fechamento."
O grupo de amigos não parou por aí. Sob o nome de Grande Londini —uma combinação de Houdini, o mágico ilusionista, e Linux, o sistema operacional— eles decidiram continuar e se concentrar no TikTok.
Os fãs do Grande Londini são tão empenhados que marcam a conta em vídeos e comentários o tempo todo, esperando que Leo e sua equipe persigam mais um troll. Mas essa legião de fãs tem um preço. Existe o risco de que o movimento, em algumas ocasiões, se torne aquilo que despreza.
Alguns apoiadores são tão engajados que acabam se tornando intimidadores, o que viola as regras do Grande Londini —assim como as Diretrizes da Comunidade do TikTok.
A BBC conversou com uma usuária do TikTok que foi alvo de abusos online depois que o Grande Londini criticou seus vídeos sobre o Memorial Day. Liz, uma ativista pela paz, descreveu o feriado em que os EUA prestam homenagem aos homens e mulheres mortos em serviço militar como "um feriado inteiro dedicado apenas ao assassinato".
Isso provocou uma resposta furiosa. Liz diz que foi alvo de uma avalanche de abusos, muitos deles de usuários com Londini em seu nome de usuário, que disseram a ela para se matar, e também entraram em contato com seu ex-empregador para tentar fazer com que fosse demitida.
"Parece hipócrita que eles sejam uma conta anti-bullying, mas muitos de seus seguidores estão intimidando as pessoas na plataforma", desabafa Liz.
Londini expulsa usuários de sua rede se eles infringirem as regras do grupo, e Leo —que serviu como fuzileiro naval dos EUA— fica um tanto pesaroso em relação ao que aconteceu com Liz. "Entendo a paixão deles, especialmente quando se trata de veteranos", afirma. "Mas tentamos dar o exemplo. Não a atormentamos —desejo a essa mulher tudo de bom."
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