Lilith, Lilibet e Lúcifer? Como a letra L passou a dominar os nomes de bebês
Nomes referentes à natureza são uma das categorias em alta
Nomes referentes à natureza são uma das categorias em alta
O príncipe Harry e Meghan Markle merecem crédito: os monarcas de Montecito, Califórnia, conseguiram escolher um nome para sua filha recém-nascida –Lilibet– que é completamente inédito fora do Palácio de Buckingham ou da série "The Crown".
Para os desinformados, Lilibet é um apelido usado na família real britânica para a avó do príncipe, a rainha Elizabeth 2ª; a origem é a dificuldade que ela tinha em pronunciar seu próprio nome, quando criança.
Ao desafiar as convenções vigentes sobre como escolher um nome para seu bebê, eles acabaram respeitando uma nova convenção: a busca pelo nome mais idiossincrático que pudessem para sua filha.
Em entrevista por telefone, Pamela Redmond, autora de dez livros sobre nomes de bebês, e fundadora do site Nameberry, discutiu a corrida armamentista entre os pais para selecionar para seus filhos nomes inéditos, que certamente despertarão atenção.
Deveríamos nos surpreender por Harry e Meghan terem sido originais na escolha de um nome para a segunda criança?
Batizar bebês sempre foi uma competição, e os pais sempre batalharam, para encontrar nomes que outras pessoas não tivessem descoberto, mas, ao mesmo tempo, portassem significados pessoais profundos. Muitos pais decidem ignorar os nomes convencionais e recorrem, em lugar disso, a nomes de lugares, inventados, internacionais e que desafiam os estereótipos de gênero.
E, é claro, "Lilibet" é mais um nome feminino começado por L.
L com certeza é a consoante da década. Lily é um dos nomes com L originais, acompanhado por nomes com dois Ls, como Lola, Lila e Lilian. Luna era quase inexistente 20 anos atrás, mas agora está na 14ª posição na lista de nomes mais usados, compilada pela Administração da Previdência Social americana. Chrissy Teigen e John Legend deram esse nome à sua filha. A mesma coisa aconteceu com nomes começados por J nas décadas de 1970 e1980 –Jennifer, Jason, Jessica, Joshua. Depois vieram os nomes com K, que os Kardashian ajudaram a popularizar na década de 2000. O som da letra é o que entra em moda.
Mas por que L?
Há muitas palavras que começam por essa letra e têm conotações positivas e calorosas, como "lover", "lovely", "lilting" [melodiosa] e "lively".
E os nomes para meninos?
Com certeza existem equivalentes para meninos –Lucas, Luca, Leo, Levi. Sei que parece loucura, mas no ano passado mais de 50 meninos nascidos nos Estados Unidos receberam o nome "Lúcifer".
Calma lá, Lúcifer?
Nomes proibidos vêm sendo mais usados. Temos meninas chamadas Lilith, um demônio no folclore judaico, e Kali, uma deusa indiana associada ao fim do mundo ou à morte. Entre os meninos, até mesmo Danger [Perigo] começa a ser usado. Por outro lado, temos toda uma nova categoria de nomes evangélicos: Amen, Savior [salvador], Canaan, Creed [credo] e Saint –este o nome do filho mais velho de Kanye West e Kim Kardashian.
Outra coisa que se destaca em "Lilibet" é que se trata de um nome familiar. Os não aristocratas também estão recorrendo a nomes de suas árvores genealógicas?
Com certeza. Isso oferece às pessoas uma maneira de estreitar o vasto universo dos nomes e também uma forma autêntica de conferir significado real ao nome de uma criança. A diferença é que agora as pessoas querem nomes que tenham mesmo sido usados em suas famílias. Na década de 1980, as pessoas usavam nomes como Parker e Morgan, que pareciam tradicionais, mas não eram.
O mesmo vale para os nomes não anglo?
Há claramente um movimento para retomar nomes culturalmente originais. Muitos dos americanos de origem latina estão voltando a nomes tradicionais em suas famílias, como Pablo, de preferência à versão americanizada, Paul. Pais com origens indianas que adotaram nomes americanizados às vezes dão a seus filhos nascidos nos Estados Unidos nomes indianos como Arjun, um nome que está na moda em hindi e quer dizer "brilhante", "reluzente".
Todo nome tradicional tem o mesmo valor?
Ninguém quer batizar um filho com o nome de seus irmãos ou das pessoas com quem foi à escola. E os nomes dos pais são ainda piores –os nomes da geração baby boom, como Susan, Debbie, Bobby ou Karen, que, aliás, despertam as próprias questões, é claro. É por isso que nomes da geração dos bisavós, como Beatrice e Arthur, voltaram a parecer atraentes. Eles ficaram para trás o bastante para parecerem interessantes, em vez de antiquados.
Quanto você precisa recuar no tempo para encontrar o ponto ideal?
Parece existir um padrão chamado "regra dos cem anos": depois de cem anos, nomes estão prontos não só para voltar ao uso, mas para estar realmente em moda. E há país que procuram nomes que não são usados há um par de milênios, nomes vindos da antiguidade ou da mitologia e fábulas. Julius, Cassius e Freya estão muito em moda, e nomes como Hera, Nyx e Osiris começam a surgir.
E quais são as outras grandes tendências agora?
Nomes referentes à natureza são uma das categorias em alta. Agora há pais que recorrem a nomes de animais, como Ox [boi] –sim, de verdade– ou nomes de minerais, como Onyx e Amethyst, ou celestiais como Venus, Celestia ou, claro, Skye.
A regra geral, portanto, é a de quanto mais original, melhor?
Um dos piores destinos, com relação a nomes, é descobrir que um nome que você achava altamente original –como Elodie, em homenagem a uma avó francesa– se tornou tão popular que quatro outras crianças na escola primária de seu filho o usam.
Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci.
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