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Rosana Hermann
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Por que todo mundo aplaude quando Virginia ostenta?

Curiosamente, influenciadora sempre usa a religião para explicar viagens, mansões e milhões arrecadados com suas vendas

A influenciadora e apresentadora Virginia Fonseca - Rogerio Pallatta 18.mai.2024/SBT
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São Paulo

Não, isso não é uma crítica à Virginia Fonseca. Nem ao Zé Felipe. Eu sei que uma parte do sucesso do casal tem relação com a carreira dele, e outra parte com o reconhecimento dela na internet, que fez com que ela se tornasse influenciadora, empresária e apresentadora de TV.

Tudo feito de forma honesta e com aprovação popular. Longe de mim questionar as propriedades, a fortuna, os aviões, as mansões.

Mesmo em termos de comportamento nas redes sociais, acho que ela até melhorou. No começo, fazia umas coisas esquisitas e questionáveis que cheguei a comentar nessa mesma coluna, como fotos com leques de dólares e posts de notas de dinheiro espalhadas sobre a cama. Achei de muito mau gosto, mas, até aí, é só minha opinião. Ela não cometeu nada de ilícito.

O que me intriga, de fato, é outra coisa.

A gente sabe que, na internet, quem ostenta muito acaba recebendo muito hate das pessoas. Já vi artistas consagrados sendo atacados porque exibiram férias nababescas em hotéis de luxo. Aliás, tem gente que quando vê a foto de um famoso num resort cinco estrelas corre para procurar em sites de hotéis o valor da diária para calcular quanto a pessoa gastou na temporada.

Quando Cleo Pires mostrou as mansões da família, por exemplo, a reação negativa foi imediata. E olha que Gloria Pires e Orlando Moraes construíram o patrimônio ao longo de várias décadas. Até as Kardashians já foram criticadas por excesso de ostentação. No entanto, Virginia é tratada de outra forma.

Ela mostra viagens, mansões, aviões ou mesmo os milhões e milhões que conseguiu em vendas de produtos durante lives, e todo mundo aplaude. Nesta semana mesmo, Virginia Fonseca postou mais uma conquista: uma mansão de praia em Mangaratiba (RJ), e os comentários foram todos positivos.

Curiosamente, Virginia sempre usa a religião quando ostenta, louvando e glorificando que tudo o que ela consegue é em nome e para a honra do Senhor. Eu não sei se isso é realmente algo que vem do coração ou se é uma técnica de blindagem, só sei que funciona. Toda vez que ela se exibe e, no texto, adiciona alguma expressão como "Toda honra e glória a Deus, 2024 é nosso", ninguém tem coragem de criticar.

Minha teoria é que as pessoas se sentem parte desse sucesso de Virginia. Lembro de uma fã que, ao ver as fotos da mansão que seu ídolo construiu, comentou dizendo: "Um desses tijolinhos dessa linda casa foi graças a mim!".

A pessoa sente orgulho de fazer seu ídolo ficar multimilionário.

Ainda assim, acho essa celebração pelos milhões alheios uma coisa muito estranha, como se a prosperidade financeira fosse um mérito divino ou como se não fosse apenas o resultado do capitalismo, dos mercados, da influência da mídia e do marketing. Sem contar que, num país tão socialmente injusto como o Brasil, não há sentido em ver gente que luta para pagar aluguel comemorar o fato de pessoas absurdamente ricas comprarem mais uma mansão.

O mais triste é que, quando qualquer pessoa comenta essa disparidade, os fanáticos imediatamente alegam que o comentarista está com inveja, o que nem faz sentido. Se fosse para invejar, seria melhor escolher um bilionário russo com aqueles iates que parecem navios.

Para mim, ostentar é, sobretudo, cafona. E o dinheiro deveria servir também para que as pessoas se aculturassem, abrissem seus horizontes, crescessem como cidadãos, como fez a cantora Anitta. Hoje uma estrela internacional, Anitta se tornou uma pessoa esclarecida, poliglota e com consciência de classe. Uma artista que se declarou a favor da criação de uma lei para limitar fortunas, dizendo que "ninguém precisa de bilhões".

Essa, sim, merece todos os aplausos. Mas, como aplauso é gratuito, cada um bate palmas para quem quiser.

Rosana Hermann

Rosana Hermann é jornalista, roteirista de TV desde 1983 e produtora de conteúdo.

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