Aviso
Este conteúdo é para maiores de 18 anos. Se tem menos de 18 anos, é inapropriado para você. Clique aqui para continuar.

Rosana Hermann
Descrição de chapéu Todas

Fofoca contada pela metade é a garantia do fofoqueiro

Informações passadas de forma incompleta servem para dar segurança jurídica ao emissor

Figura no centro do quadro sendo fotografada por várias mãos
Celebridades são vítimas de fofocas cifradas - Pixabay
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Todo mundo conhece o meme "fofoca contada pela metade quase mata fofoqueira", usado para sinalizar que corremos risco de vida se não descobrirmos a outra parte da história.

Se o meme for real, muita gente nas redes sociais deve ter visto a morte de perto devido a uma fofoca sobre traição contada de forma cifrada.

A história dizia que um apresentador casado e com filhos teria traído sua mulher no final de semana passado, durante uma viagem internacional, com uma atriz que também já havia tido o mesmo problema em seu casamento. O quebra-cabeça também tinha outros detalhes que facilitariam a busca dos leitores pela outra metade da fofoca, como alcunhas e apelidos do tal apresentador e declaração de amor que ele teria postado recentemente. Tudo feito na medida para que as pessoas pudessem pesquisar e encontrar o que foi omitido.

De fato, muita gente pesquisou, cruzou as dicas e publicou seus palpites com os nomes dos envolvidos junto com fotos postadas no Instagram, notícias antigas sobre traição e muitas opiniões sobre os supostos envolvidos. Teve até quem comentasse que foi muito fácil descobrir os nomes dos personagens que foram escondidos.

E aí vem a pergunta: mas se estava tão fácil descobrir, por que a fofoca foi publicada no estilo charada? Simples, para evitar processos.

Não é de hoje que fofoqueiros profissionais contam "o milagre sem mencionar o nome do santo", para não terem problemas jurídicos. Isso acontece porque as "fontes" que contam essas intimidades repassam o que ouviram sem nenhuma prova. É tudo na base do disse-me-disse, do "fulano me contou e jura que é verdade". Muitas vezes, essas fontes que repassam essas informações são pessoas que orbitam em torno dessas celebridades, como motoristas, babás, maquiadores, assessores e outros integrantes do staff do famoso. Ou qualquer outra pessoa que nutra sentimentos misturados de amor e ódio, admiração e inveja, afeto e ressentimento e que, diante de uma oportunidade, realizam suas pequenas vinganças entregando ou até vendendo segredos de pessoas públicas.

Confesso que, embora eu ache a atitude detestável, consigo entender o que há de humano num funcionário que faz fofocas de seu empregador. Qualquer pessoa que já foi explorada por um patrão ou teve que conviver com a hipocrisia dos ricos e famosos sabe que isso gera revolta. E que a revolta pode descambar em algum tipo de retaliação ou desforra.

O que eu não entendo é gente que não tem nenhuma ligação com a história nem vai ter nenhum benefício com a fofoca e que joga gasolina na fogueira com justificativas morais, a título de punir publicamente um ato de infidelidade. Essas pessoas, na minha opinião, são as piores da história.

Porque, pensando bem, a gente não sabe quais são os acordos entre os casais. Eles podem ter relações abertas inconfessas publicamente, podem ter casamentos que admitem terceiros, podem ter um casamento de fachada ou até cota de traição. Vai saber.

O que eu sei é que toda vez que tem uma fofoca contada de uma forma incompleta, não é para beneficiar os protagonistas da história, mas para garantir segurança jurídica ao emissor da fofoca. Ele se livra de processo, ganha visibilidade, ganha fama e ainda bota todo mundo para desvendar o mistério.

Moral da história: fofoca contada pela metade faz o curioso trabalhar em dobro.

Rosana Hermann

Rosana Hermann é jornalista, roteirista de TV desde 1983 e produtora de conteúdo.

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem