Leia e veja a íntegra do debate da Globo no 2º turno
WILLIAM BONNER: Olá, boa noite. Está começando o último debate entre os candidatos à Presidência da República na eleição de 2014. E com uma novidade em relação aos outros debates que nós fizemos. Aqui no estúdio nós temos 70 eleitores indecisos, selecionados pelo Ibope em todas as regiões do Brasil. Ele escreveram perguntas sobre 14 temas de interesse geral. Aí foram selecionadas as 12 questões mais representativas. E aqui, ao vivo, eu vou sortear oito delas. O próprio autor é quem vai fazer a pergunta diretamente ao candidato, exatamente como ela foi formulada e referendada por um funcionário do Ibope. Essa regra impede que o eleitor improvise ou acrescente algo àquilo que ele mesmo escreveu. Porque, se isso acontecer, aí o microfone dele será desligado e eu vou sortear outro eleitor para perguntar. Os eleitores aqui presentes participam de dois blocos do programa e a novidade que eu mencionei está nos outros dois blocos desse debate: o confronto direto entre os candidatos. Nós tivemos um problema aí com as regras, mas eu vou explicar aqui, ao vivo, como vai funcionar isso. No primeiro e no terceiro blocos desse debate os candidatos fazem perguntas um para o outro. Meio minuto para pergunta, um minuto e meio para resposta, 50 segundos para a réplica e 50 segundos para a tréplica. Cada um dos candidatos terá direto a fazer três perguntas para o adversário. Como eu disse, no primeiro bloco e no terceiro. No segundo bloco e no quarto bloco, aí as perguntas serão feitas pelos nossos eleitores indecisos aqui presentes. Eu vou sortear o nome de um eleitor, ele vai se levantar, fazer a pergunta em 30 segundos. Aí segue a pergunta ao candidato a quem ele fizer a pergunta e essa pessoa já terá sido determinada previamente por sorteio. O candidato a quem ele fizer a pergunta terá um minuto e meio para a resposta e 50 segundos para que o adversário faça uma réplica e 50 segundos para a tréplica. Todos os tempos serão cronometrados, como temos feito habitualmente aqui. Eu quero lembrar também que esse debate está sendo transmitido na internet, pelo G1, que é o portal de notícias da TV Globo. Muito bem, neste ponto do debate eu tenho que esclarecer que aquele que se sentir ofendido pessoalmente ou caluniado, numa tréplica poderá pedir o direito de resposta e ele será analisado. Se a produção do programa considerar procedente esse pedido, aí o candidato ofendido terá um minuto para fazer a sua defesa. Os convidados atrás de mim aqui devem se manter em silêncio para não prejudicar os candidatos, para não prejudicar você que está nos acompanhando pela televisão, e como eu já disse, nós estamos também ao vivo na internet, em g1.com.br. Agora vamos receber os candidatos à Presidência. Aécio Neves, do PSDB, e Dilma Rousseff, do PT. Muito obrigado pela presença dos dois candidatos. Agradeço os dois. Boa noite, candidata Dilma.
DILMA ROUSSEFF: Boa noite, Bonner.
WILLIAM BONNER: Boa noite, candidato Aécio Neves.
AÉCIO NEVES: Boa noite, Bonner.
WILLIAM BONNER: Muito bem. Pelo nosso sorteio, quem deverá começar fazendo perguntas é o candidato Aécio Neves. É o senhor. Peço aos dois que se aproximem e venham até o púlpito. É o senhor que abre este debate fazendo a primeira pergunta à candidata Dilma Rousseff. A pergunta, como eu disse, tem 30 segundos.
Pergunta 1
AÉCIO NEVES: Candidata, essa campanha vai passar para a história como a mais sórdida das campanhas eleitorais do nosso sistema democrático. A calunia, a infâmia, as acusações irresponsáveis foram feitas não só em relação a mim, com relação ao Eduardo Campos, em relação à Marina, agora em relação a mim. Isso é um péssimo exemplo. Mas eu lhe faço uma pergunta, candidata. A revista hoje publica que o delator, um dos delatores do “petrolão”, disse que a senhora e o ex-presidente Lula tinham conhecimento da corrupção na Petrobras, uma oportunidade da senhora responder aos brasileiros. A senhora sabia, candidata, da corrupção na Petrobras?
DILMA ROUSSEFF: Candidato, é fato que o senhor tem feito uma campanha extremamente agressiva a mim. Isso é reconhecido por todos os eleitores. Agora essa revista que fez e que faz sistematicamente oposição a mim, faz uma calúnia e uma difamação do porte que ela fez hoje. E o senhor endossa. Candidato, a revista Veja não apresenta nenhuma prova do que faz. Eu manifesto aqui a minha inteira indignação. Porque essa revista tem o hábito de nos finais das campanhas na reta final, tentar dar um golpe eleitoral e isso não é a primeira vez que ela fez. Fez em 2002, fez em 2006, fez em 2010 e agora faz em 2014. O povo não é bobo, candidato. O povo sabe que está sendo manipulada essa informação porque não foi apresentada nenhuma prova. Eu irei à Justiça para defender-me e ao mesmo tempo tenho certeza de que o povo brasileiro vai mostrar a sua indignação no domingo votando e derrotando essa proposta que o senhor representa e que é o retrocesso no Brasil.
AÉCIO NEVES: Candidata, eu apenas dei a senhora a oportunidade de apresentar sua defesa, não acredito que a acusação à revista ou a tentativa do seu partido de tirá-la de circulação seja a melhor resposta. A delação premiada traz ao réu o benefício dele obviamente apresentar provas, caminhos que levem à comprovação das acusações e nós temos que aguardar que isso ocorra. Uma outra revista, para ver que não há um complô contra a senhora, lança hoje na sua capa, a revista Isto É, fala da campanha da mentira, da campanha da infâmia. Hoje aqui no Rio de Janeiro, na sede do seu partido, foram apreendidos boletins apócrifos contra a minha candidatura. No Nordeste brasileiro, carros de som estão circulando dizendo que se o eleitor votar no 45, ele está automaticamente desligado do Bolsa Família. A senhora se orgulha, candidata, de uma campanha nesse nível?
DILMA ROUSSEFF: Candidato, eu fico muito estarrecida com o senhor, porque eu na minha vida política, na minha vida pública, jamais persegui jornalista, jamais reprimi a imprensa. Tenho respeito pela liberdade da imprensa, porque eu vivi os tempos escuros desse país. Agora candidato, eu acredito que o senhor cita duas revistas candidato, que nós sabemos para quem fazem campanha. E agora acredito que a partir de segunda-feira vai desaparecer essa acusação. Agora, eu não vou deixar que ela desapareça. Eu vou investigar os corruptos e os corruptores, e os motivos pelos quais isso chegou a esse ponto.
WILLIAM BONNER: A candidata Dilma agora faz a pergunta ao candidato Aécio.
Pergunta 2
DILMA ROUSSEFF: Candidato, o Brasil é um país que se destaca hoje no mundo pelo fato de ter criado milhões de empregos. Nós não só criamos empregos, como também tivemos um aumento significativo da renda neste mês de setembro, 1,5% real. O senhor concorda com o que fala o seu candidato a Ministro da Fazenda, que diz que o salário mínimo está alto demais?
AÉCIO NEVES: Candidata, não é justo colocar palavras na boca de alguém que não está aqui para respondê-la. Eu tenho orgulho enorme do meu candidato a Ministro da Fazenda. A senhora parece que não tem do seu, até porque já demitiu o atual Ministro da Fazenda. Mas o Brasil, candidata, é visto sim pela comunidade internacional como um dos países que menos cresce na nossa região. Temos uma taxa de investimentos hoje de 16,5% do PIB, a pior da década, porque o seu governo afugentou os investimentos e a inflação, infelizmente, está de volta. A situação do Brasil é extremamente grave, candidata e é preciso que o seu governo reconheça isso, porque os mercados, outros países, os brasileiros já reconhecem. O governo do PT e o governo da candidata Dilma Rousseff fracassou na condução da economia, pois nos deixará uma inflação saindo de controle, por mais que ela não reconheça, um crescimento pífio, fracassou na gestão do estado nacional. O Brasil é hoje um cemitério de obras abandonadas, inacabadas, e com sobre preço de fortes denúncias de desvios por toda a parte, e fracassou na melhoria dos nossos indicadores sociais. Lamentavelmente candidata, esse é o retrato do Brasil real, não é o retrato do Brasil da propaganda do seu marqueteiro. Mas nós vamos muito mal na saúde ou a senhora acha que vai bem? Vamos mal na segurança pública, uma omissão criminosa do governo federal e vamos muito mal na educação. A senhora será a primeira presidente da República pós-plano real que deixará o país com uma inflação maior do que aquela que recebeu.
DILMA ROUSSEFF: Eu acho que o senhor está mal informado, porque quem deixou o país com uma inflação maior do que recebeu foi o governo tucano do Fernando Henrique. Além disso candidato, eu queria dizer que nós criamos empregos sim candidato e o senhor não pode questionar esse fato. São dados reais. Nós aumentamos o salário mínimo 71% em termos reais. Além disso candidato, na saúde quem não gastou o mínimo constitucional foi o senhor quando era governador, que ficou devendo R$ 8 bilhões. Além disso candidato, eu quero deixar claro que eu tenho certeza que eu neste próximo mandato farei um governo muito melhor se for eleita, principalmente controlando a inflação.
AÉCIO NEVES: Vamos aguardar o eleitor decidir se a senhora vai ter o próximo mandato candidata.
DILMA ROUSSEFF: Eu disse se eu for.
WILLIAM BONNER: Por favor.
AÉCIO NEVES: Mas nós estamos aqui falando para milhões e milhões de brasileiros. A senhora acaba de dizer que o governo do presidente Fernando Henrique deixou a inflação maior do que recebeu. Em 94, candidata, a inflação era de 916% ao ano. O plano real que o seu governo, que o seu partido votou contra permitiu que ela chegasse a 7,5% e depois com a eleição do presidente Lula a 12,5%. Eu pergunto ao telespectador, você confiaria mais no governo que traz a inflação desse patamar de 916% ao ano ou deixar esse período do Lula na minha conta a 12% ou um que a entrega maior, como acontece no caso da presidente Dilma? A história a gente não reescreve presidente, o futuro sim. Esse nós podemos escrever de forma diferente do que está sendo escrito pelo seu governo.
WILLIAM BONNER: Sua pergunta agora candidato Aécio.
Pergunta 3
AÉCIO NEVES: Candidata, nós sabemos da absoluta carência de infraestrutura no Brasil por todas as partes. Falta tudo: ferrovias, hidrovias, faltam portos. O seu governo optou por financiar a construção de um porto em Cuba, gastando R$ 2 bilhões do dinheiro brasileiro, do dinheiro do trabalhador brasileiro, enquanto nossos portos estão ai aguardando investimentos. Nenhum teve investimentos nesta linha. O que é mais grave: esse financiamento vem com carimbo de secreto, ele não é acessível à população brasileira. O que o seu governo tem a esconder, candidata, em relação ao financiamento do porto de Marial em Cuba?
DILMA ROUSSEFF: O meu governo nada, agora acredito que o seu tem muito o que esconder quando se trata dos gastos com publicidade, não claramente veiculados no que se refere aos jornais e à televisão da sua família. Acredito, senador, que é necessário a gente parar e olhar com muito a cautela essa questão do porto. Nós financiamos uma empresa brasileira, que gerou emprego no Brasil. Tanto que gerou emprego que foram dos 800 milhões contratados, nós conseguimos gerar quase 156 mil empregos. E quero lembrar ao senhor que também o governo Fernando Henrique financiou empresas brasileiras a exportar e colocar produtos tanto na Venezuela quanto em Cuba. Então eu não entendo o estarrecimento do senhor. Agora, eu queria voltar à questão do emprego. Candidato, vocês deixaram o país com 11,4 milhões de pessoas desempregadas. Candidato, era a maior taxa, só perdia para a Índia, que tinha 41 milhões. Vocês bateram recordes de desemprego, recordes de baixos salários, e quando o senhor se refere à inflação, estou falando do governo Itamar, e não do Fernando Henrique.
AÉCIO NEVES: Mais um engano da senhora, mas volto a Cuba que é a minha pergunta. Talvez eu possa revelar hoje aqui ao Brasil as razões pelas quais o empréstimo é considerado secreto, diferente de todos esses outros a que a senhora se referiu. Recebi um documento hoje e estou solicitando que seja enviado à Procuradoria Geral da República para que faça a investigação documento do Ministério do Desenvolvimento Econômico que diz que o financiamento para Cuba, diferente do financiamento para outros países, onde o prazo para pagamento é de 13 anos, foi de 25 anos. E o mais grave, candidata, em todos esses financiamentos, a solicitação do governo brasileiro e do grupo técnico era de que as garantias fossem dadas em uma moeda forte, geralmente euro ou dólar, um banco internacional de credibilidade. E o governo brasileiro aceitou que essas garantias fossem dadas em pesos cubanos num banco na ilha de Cuba. É justo com o dinheiro brasileiro fazer favores a um país amigo que não respeita sequer a Democracia, candidata?
DILMA ROUSSEFF: Candidato, não tem Ministério do Desenvolvimento Econômico, tem o Ministério da Indústria e Comércio, e das Relações Internacionais. Então, eu queria te dizer o seguinte. Sempre que se financia uma empresa, as cláusulas de um financiamento diz respeito a essa empresa. As garantias, são elas, quem dá não é Cuba, quem dá a garantia é a empresa brasileira para o BNDES. Então, candidato, o que eu quero te dizer que você pondere. O governo Fernando Henrique fez o mesmo empréstimo. Nós também fizemos, mas beneficiamos quem, candidato? Empregos brasileiros, brasileiros que são empregados. Eu queria também que o senhor tivesse tanto zelo pela liberdade de informação no caso das empresas que o senhor tem em Minas.
Pergunta 4
DILMA ROUSSEFF: Candidato, o Minha Casa, Minha Vida é o maior programa habitacional do Brasil. O senhor tem feito algumas críticas a ele. Eu não entendo a razão das críticas uma vez que nós batemos todos os recordes construindo habitações no Brasil. Eu tenho certeza que nós iremos construir mais ainda se eleito. Eu gostaria que o senhor se pronunciasse a respeito de construções dentro da sua perspectiva de governo.
AÉCIO NEVES: Candidata, eu aproveito a pergunta sobre o Minha Casa, Minha Vida para mais uma vez denunciar o terrorismo que seu partido vem fazendo. Pessoas que estão na lista para serem beneficiadas pelo Minha Casa, Minha Vida estão recebendo mensagem dizendo que se votarem no PSDB sairão do cadastro. Não é verdade. Eu quero tranquilizar a todos os brasileiros e brasileiras porque nós não vamos apenas manter o Minha Casa, Minha Vida, nós vamos aprimorá-lo. Focando especialmente as regiões de mais baixa renda, onde o atual governo não avançou. Aquela de até três salários mínimos, que existia no início do seu governo um deficit de 4.000.100 moradias. Existe hoje um deficit próximo de 4 milhões. Essa será uma grande prioridade no nosso governo. E vamos fazer parcerias desburocratizadas, mais ágeis com os municípios brasileiros e com os estados brasileiros. Ninguém pode, candidata, querer se apropriar de programas como se fossem apenas seus. Vários programas são da sociedade brasileira e são pagos pelo dinheiro do trabalhador brasileiro. E nós vamos subsidiar, sim, programas sociais que têm alcance na vida real, na vida das pessoas. Nós não vamos fazer é o bolsa empresário que ajuda apenas um grupo muito restrito de brasileiros em detrimento da grande maioria. Fique tranquila, candidata, fiquem tranquilos brasileiros, porque nós vamos avançar e avançar muito mais também no programa habitacional.
DILMA ROUSSEFF: Candidato, o senhor não entende, não conhece direito então esse programa. Porque o foco desse programa é em quem ganha uma renda até R$ 1.600, mas ele abrange também que ganha até R$ 5.000. Candidato, vocês falaram o tempo inteiro que os bancos públicos vão ser redefinidos. Agora o senhor vem aqui e quer que as pessoas acreditem que vocês vão manter o subsídio. Eu não acredito nisso, candidato. Eu não acredito nisso, porque vocês sistematicamente, ao longo de todo o governo Fernando Henrique, foram contra o subsídio. Para a pessoa que está nos assistindo ter uma ideia, para os indecisos terem uma ideia, caso fosse a preço de mercado, a prestação seria R$ 940. Dentro do Minha Casa, Minha Vida, o máximo é R$ 80.
AÉCIO NEVES: Eu já disse mais de uma vez e quero dizer mais uma vez a milhões de brasileiros. Me honra muito essa comparação com o presidente Fernando Henrique, mas eu me chamo Aécio Neves. Eu disputo a Presidência da República para governar a partir de 1º de janeiro de 2015. E o tema que a senhora traz é um tema que merece aqui uma reflexão. Bancos públicos serão fortalecidos, não serão aparelhados no meu governo, candidata. Em 2003, o Banco do Brasil tinha três diretorias, entre presidência, vice-presidência e diretorias. Hoje tem, candidata, talvez a senhora nem saiba, 37, um terço delas ocupadas por filiados do PT. Essa é uma demonstração clara da perversidade do aparelhamento da máquina pública em benefício de um projeto de governo. Um vice-presidente está preso na Itália e o presidente atual alvo de gravíssimas denúncias.
Pergunta 5
AÉCIO NEVES: Candidata, vamos a um tema que interessa a todos os brasileiros: inflação. Vamos voltar a ele até porque é preciso que os brasileiros que nos assistem saibam que a senhora, nos últimos debates, reafirmou que a inflação no Brasil está sob controle. Eu não acredito nisso, candidata. Ela estourou o teto da meta e ao mesmo tempo a perversa equação que o seu governo deixará ao sucessor, estou preparado para ela, inflação alta e crescimento baixo. Dou-lhe mais uma oportunidade, o que eu seu governo fará se vencer as eleições para controlar a inflação, ou ela não é um problema?
DILMA ROUSSEFF: Candidato, eu vou reportar primeiro ao Banco do Brasil. Vocês deixaram o Banco do Brasil com uma grave dívida. Nós não, nós demos lucro no Banco do Brasil, profissionalizamos o Banco do Brasil. Vocês quebraram a Caixa, candidato, vocês quebraram o BNDES, reduziram tudo ao tamanho que vocês acharam que devia ter, ou seja, sem política industrial e sem política social. No caso da inflação, o senhor pode ter certeza, candidato, é meu compromisso o controle da inflação. Nos últimos dez anos nós mantivermos a inflação dentro dos limites da meta. Quem não mantinha a inflação dentro dos limites da meta, sem o senhor apesar de agora desconhecer o governo Fernando Henrique, era líder do governo Fernando Henrique, quem não mantinha era o governo Fernando Henrique, que vocês querem botar na conta do Lula, que em 2002 era por causa do Lula que a inflação foi para 12,5%. Não senhor. Em 2001, ela estava já em 7,7%. Vocês chegaram à obra-prima, candidato, de aumentar imposto e deixar uma dívida muito maior do que a que vocês receberam. Candidato, não há termos de comparação entre o que nós fizemos e o que vocês fizeram. Nós enfrentamos a crise, não deixamos que a diminuição de salário recaísse na conta do povo brasileiro.
AÉCIO NEVES: Candidata, muito confusa essa sua explicação. Mas eu vou voltar à questão central. A senhora então quer dizer que o PT controlou a inflação? Não fomos nós com o Plano Real? A história não se reescreve, candidata. Nós fizemos naquele momento o que precisava ser feito. E tenho uma honra e um orgulho enorme de ter hoje como um aliado muito forte o presidente Fernando Henrique, aquele a quem a senhora teceu elogios que talvez eu não tenha tido a oportunidade de fazer. Mas vamos voltar ao presente, porque as pessoas que nos escutam hoje, que nos assistem no Brasil inteiro, querem que nós falemos de futuro. Quem tem responsabilidade e compromisso com o controle da inflação, com a gestão profissional dos bancos públicos somos nós. O seu governo deve à Caixa Econômica Federal mais de R$ 10 bilhões, deve ao Banco do Brasil R$ 8 bilhões no crédito safra, porque seu governo descontrolou a economia do país, candidata, essa é a realidade incontestável.
WILLIAM BONNER: Candidata, a sua tréplica.
DILMA ROUSSEFF: Eu quero reiterar que vocês quebraram os bancos públicos do Brasil. Quero reiterar que a Caixa, que era um dos maiores bancos do país, vocês minguaram a Caixa. Vocês, candidato, eram contra fazer política social com subsídio. Agora o senhor vem para mim com esta conversa de que vão fazer política social. Me desculpe, candidato, eu não acredito, sabe por que? Porque a prática fala muito mais que palavras vazias. E a prática de vocês é uma. Quando vocês enfrentaram a crise, vocês jogaram a crise nas costas de quem? O povo lembra, candidato. Jogaram a crise nas costas do povo brasileiro. Com desemprego e baixos salários. Mais claro do que isso, candidato, é impossível. Nós não. Nós mantivemos emprego e mantivemos o salário.
WILLIAM BONNER: Candidata Dilma, a senhora pode fazer a última pergunta.
Pergunta 6
DILMA ROUSSEFF: Candidato, eu sempre gosto de perguntar a respeito do Pronatec. Por que que eu gosto do Pronatec, candidato? Porque o Pronatec ele resolve várias questões e desafios. Vocês fizeram uma lei proibindo que o governo federal fizesse e mantivesse escolas técnicas. Por isso fizeram, ao longo de oito anos, só 11 escolas técnicas. O senhor era líder do governo FHC. O senhor vai continuar com essa política?
AÉCIO NEVES: Eu não devia lhe corrigir em público, mas eu era líder do PSDB, mas vamos passar isso, deixar isso um pouco mais barato. É, mais ou menos candidata. Para quem não conhece o Congresso Nacional, talvez sim, mas é muito diferente, é muito diferente.
WILLIAM BONNER: Por favor. Vou pedir silêncio mais uma vez.
AÉCIO NEVES: Candidata, o Pronatec é uma inspiração e é bom reconhecer isso. É uma inspiração em programas como feito em São Paulo, as Etecs do governador Geraldo Alckmin, do governador José Serra, cuja presença aqui hoje eu agradeço. Da Pep em Minas Gerais, que foi um programa de ensino profissionalizante de Minas Gerais, inspiraram o Pronatec. Agora falta a fiscalização. Nessas últimas semanas as denúncias em relação ao Pronatec são graves, candidata. Em relação às estatísticas, porque vocês contabilizam o aluno quando ele entra, e se ele ficou ali uma semana, duas semanas e depois saiu, ele continua fazendo parte da estatística. Aliás, o seu governo é o governo das estatísticas desde que elas lhe sejam favoráveis. Nós vamos aprimorar esses programas, aumentando a carga horária. Mais de 70% têm uma carga horária de cerca de 160 horas. Venhamos e convenhamos, é muito pouco para a formação mais adequada ainda de um aluno. Eu quero mais, eu quero que o aluno frequente o Pronatec, mas ele complete seu ciclo de estudo no ensino médio, candidata. Isso sim vai permitir o Brasil dar um avanço na educação. O Pronatec é uma etapa apenas de um processo muito mais complexo e que tem que ser muito mais ousado e ambicioso do que esse que tem o seu governo.
DILMA ROUSSEFF: Candidato, o senhor não respondeu. Vocês em oito anos fizeram onze escolas técnicas federais. Nós, candidato, fizemos 422. O Lula, 214, e eu, 208. O meu número é só 1.600% maior do que vocês fizeram em oito anos. Candidato, sabe por que fazer escolas técnicas é tão importante? Porque ela é a base da parceria que nós fizemos com o sistema S. O Pronatec é um ensino gratuito e ele comporta tanto ensino técnico de nível médio quanto qualificação profissional. É gratuito, o material didático é gratuito, o transporte. Candidato vocês jamais tiveram essa dimensão. Aliás, o programa de vocês são programas piloto, pequenos e fragmentados.
WILLIAM BONNER: Ok, vamos ao fim então deste primeiro bloco do debate. Perdão, perdão, perdão, erro meu. Tréplica do candidato Aécio. Peço só um minuto, ainda estou com minhas anotações, errei com anotações.
AÉCIO NEVES: Está perdoado, Bonner.
DILMA ROUSSEFF: É da vida.
WILLIAM BONNER: Contando o tempo a partir de agora, por favor, candidato.
AÉCIO NEVES: Candidata, acho mais do que esses números decorados, essas estatísticas, vamos falar de educação, que é o essencial. O Brasil inteiro está nos escutando hoje. O que é que esse governo fez que a qualidade da educação pública no Brasil avançasse? Absolutamente nada. Em qualquer ranking internacional, candidata, é vergonhosa a posição do Brasil. Inclusive em relação a nossos vizinhos. Eu, se eu puder vencer essas eleições e ser lembrado com uma marca, eu digo a todos os brasileiros, quero ser lembrado como o presidente que revolucionou a educação no Brasil. Vocês tiveram 12 anos e nada aconteceu. Eu governei Minas, com um orgulho enorme, candidata, por oito anos, e levei Minas Gerais, que não é o mais rico dos estados brasileiros, é o segundo mais populoso, a ter a melhor educação fundamental do Brasil. E quem fez, candidata, tem mais autoridade para dizer que vai fazer.
WILLIAM BONNER: Agora sim. Perdoem, mais uma vez candidatos, meu erro. Chegamos ao fim do primeiro bloco. Nós voltaremos a seguir com os eleitores indecisos fazendo perguntas para ambos os candidatos. Até já.
WILLIAM BONNER: Estamos de volta com o debate dos candidatos à Presidência e neste bloco, como eu disse há pouco, as perguntas serão feitas por eleitores indecisos aqui presentes. Por sorteio ficou determinado que a candidata Dilma Rousseff, do PT, irá responder à pergunta do primeiro eleitor, que eu vou sortear agora. É Luiz Alexandre, de São Paulo, quem faz a pergunta. Luiz. Enquanto isso, os dois candidatos, eu quero lembrar, os senhores podem ficar de pé, têm toda a arena para se movimentar ao longo deste bloco inteiro. Luiz, você pode fazer sua pergunta em trinta segundos, por favor.
Pergunta 1
LUIZ ALEXANDRE FILHO: Meu nome é Luiz Alexandre Filho, eu tenho 43 anos, sou florista. Qual será, qual será é...desculpe. Qual será a sua política para quem mora de aluguel, pois está cada vez mais difícil e muito mais caro alugar uma casa, os preços estão muito acima da inflação? Moro há 15 anos e o meu aluguel triplicou nos últimos quatro anos.
DILMA ROUSSEFF: Luiz Alexandre, muito boa a pergunta. Você vai me dar a oportunidade para mim falar do Minha Casa, Minha Vida. O Minha Casa, Minha Vida contempla quem quer ter e comprar um imóvel até R$ 5 mil. Com vários níveis de subsidio. Até mil e seiscentos o subsidio é maior, mas nas outras duas faixas também tem subsidio que facilita a você a pagar a prestação que não compromete muito a sua renda e ao mesmo tempo garante uma série de vantagens como, por exemplo, que você não pague o seguro, por que nós assumimos o seguro e você também não tem de dar garantias por que a gente já, a gente tem um fundo garantidor. Assim, Luiz Alexandre, nós vamos fazer, se eu for eleita, mais três milhões de casas do Minha Casa, Minha Vida e vamos reajustar as faixas de renda, ampliando as faixas de renda, porque de quatro em quatro anos a gente faz isso, a gente amplia as faixas de renda. Assim, eu tenho certeza que você vai poder ser uma das pessoas contempladas caso você seja sorteado, por que é um processo bastante democrático, para impedir que haja uso político e manipulação. Não passa, não passa pelos, não passa por nenhum órgão político, passa diretamente do empresário com você, o empresário que vai construir a casa e a gente não financia o empresário.
WILLIAM BONNER: Tempo, candidata.
DILMA ROUSSEFF: A gente financia diretamente a você.
WILLIAM BONNER: Candidato Aécio tem cinquenta segundos para a réplica.
AÉCIO NEVES: Luiz Alexandre, esse é um drama que milhões de brasileiros vivem, a dificuldade de pagar aluguel e a dificuldade de ter a sua casa própria. Ao contrário daquilo que nós assistimos na propaganda oficial, não foram entregues três milhões e meio de habitações no Brasil. Foram entregues metade disso. Se tivesse sido entregue esses três milhões e meio de habitações, provavelmente um milhão e meio ou um pouco mais disso de brasileiros estaria numa situação hoje de muito mais tranquilidade. Nós vamos ampliar esses programas habitacionais com parcerias mais efetivas e desburocratizadas com os municípios e com os estados brasileiros. Esse é um grande desafio, eu dizia agira há pouco que ninguém pode ter a exclusividade da preocupação com a questão social. E nós teremos uma preocupação permanente em ampliar o programa habitacional e permitir que pessoas como você tenham acesso a moradia digna, de qualidade, que infelizmente não vem acontecendo.
WILLIAM BONNER: Tempo, candidato. Seu tempo terminou, a tréplica é da candidata Dilma.
DILMA ROUSSEFF: Candidato, ah, desculpa, ô, você pode um dia ser candidato, né, querido? Nós, hoje, temos um milhão e oitocentas mil casas entregues. E tem um milhão e oitocentos mil em construção. A cada dia esse número aumenta, por que as casas vão sendo entregues. Você pode ter certeza que esse foi o único programa feito desse porte no Brasil. Nós vamos construir até, nós vamos construir e contratar até o final deste ano, três milhões, setecentos e cinquenta mil moradias. Nunca no Brasil aconteceu isso, agora, por que que eu acho que eu tenho condições de fazer. Por que nós construímos o programa. Não é que ele seja monopólio, é que nós fizemos. Eles jamais fizeram, eles não têm experiência.
WILLIAM BONNER: Seu tempo, candidata. Seu tempo está esgotado, candidata.
DILMA ROUSSEFF: Obrigada, Luiz Alexandre.
WILLIAM BONNER: Eu gostaria de observar que o posicionamento dos candidatos agora talvez dificulte um pouco a visão dos cronômetros, é mais fácil quando os senhores se enfrentam. Mas eu, por isso fui obrigado a interrompê-los e isso vai, talvez aconteça. Mas estou aqui para isso. Agora eu vou fazer o sorteio do eleitor que fará a pergunta para o candidato Aécio Neves como está definido naquele sorteio. É a Renata, de Belém. O microfone já chegou para Renata fazer a pergunta. Renata.
Pergunta 2
RENATA ELIZONDO SOUZA: Meu nome é Renata Elizondo Souza, tenho 38 anos e sou contadora. Desde que me entendo por gente, ouço dizer que o Brasil é o país do futuro. Sempre ouvi candidatos afirmando que irão transformar a nossa educação, as nossas escolas. Que irão valorizar o trabalho dos professores. O que o candidato pretende fazer para que esse futuro seja possível para os nossos filhos e que o Brasil do presente valorize e respeite a educação?
AÉCIO NEVES: Renata, eu respondo com uma alegria enorme a sua pergunta, com um cumprimento. Estive na sua terra esta semana, peço que leve um abraço aos amigos do Pará, de Belém. E, realmente, se nós não enfrentarmos com coragem, não com promessas, mas com coragem a questão da baixíssima qualidade da educação no Brasil nós não vamos a lugar algum. Esse é o grande desafio, essa é a grande questão. Eu fui governador de Minas, Renata, e consegui fazer com que Minas Gerais, que é o estado que tem o maior número de municípios do Brasil, são 853, é um estado muito heterogêneo, por que nós temos lá, para muito orgulho nosso, um Nordeste encostado no nosso território, conseguimos fazer com que Minas tivesse a melhor educação do Brasil. A minha proposta é fazer isso em todo o Brasil. Nós vamos começar pelas creches. E as creches que tiverem recurso público no nosso governo vão ficar abertas até as oito horas da noite. Como as pré-escolas, que vão receber as crianças de até quatro anos de idade também, com qualidade, e ficarão abertas até esse horário. Vamos qualificar o ensino médio, flexibilizando os currículos, Renata. É muito importante que a pessoa se fome para uma atividade que ela vai exercer na sua região, na região onde mora, onde a sua família mora. É muito importante, isso é um compromisso do meu governo, apoiar a qualificação e a remuneração dos professores. Nós não vamos ter uma educação de qualidade se os professores não forem bem remunerados. O meu governo vai apoiar aqueles municípios e estados que remuneram pior os seus professores, que têm dificuldades financeiras de dar um salário melhor e uma qualificação melhor aos seus professores. Nós vamos revolucionar a educação no Brasil.
WILLIAM BONNER: A réplica.
DILMA ROUSSEFF: Muito boa a sua pergunta. Eu tenho assim um grande compromisso com creche e pré-escola. Por que eu acredito que creche e pré-escola é o futuro do país. A gente dá oportunidade para as brasileirinhas e para os brasileirinhos. Nós vamos fazer 6 mil creches. Duas mil já entregamos, estamos construindo mais 4 mil. Se eu for eleita, vou construir mais tantas creches quanto forem o necessário, primeiro para a gente universalizar de quatro a cinco anos a pré-escola e ampliar o número de crianças de zero a três. Agora, eu queria te dizer uma coisa, nós aprovamos uma lei no Congresso que dá 75% dos royalties e 50% do fundo social do pré-sal para educação. Para que? Para pagar melhor os professores. Essa é a condição para esse país ter educação de qualidade.
WILLIAM BONNER: Tréplica do candidato Aécio.
AÉCIO NEVES: Renata, eu volto a sua pergunta, né. A gente escuta sempre as mesmas promessas, os mesmos compromissos, lamentavelmente, estão no poder há doze anos e não fizeram aquilo que dizem que vão fazer. Se as seis mil creches prometidas, há quatro anos atrás, tivessem construídas, muito provavelmente o seu filho, ou seu sobrinho, ou o neto de tantas pessoas que estão aqui nos ouvindo estariam tendo a tranquilidade de onde deixar seu filho. Nós vamos cumprir com cada um dos compromissos que nós assumimos. Infelizmente, o candidato oficial não apresentou um programa de governo para que nós pudéssemos saber quais são as metas, quais são as prioridades que ela tem. O nosso está aí e fala em construção de seis mil creches, fala das pré-escolas e da qualificação. Isso no fundamental e em especial no ensino médio. Portanto esteja certa, Renata, se eu tiver o privilégio de governar o Brasil daqui a quatro anos você vai ter uma nova realidade na qualidade do ensino público.
WILLIAM BONNER: Eu vou sortear mais um eleitor, que fará a pergunta para a candidata Dilma Rousseff. É Adriana, de Vespasiano, Minas Gerais. Adriana, vamos deixar só que o microfone chegue mais pertinho, para você poder fazer sua pergunta. Agora sim.
Pergunta 3
ADRIANA PEREIRA DOS SANTOS: Meu nome é Adriana Pereira dos Santos, tenho 40 anos, sou assistente de compras. A corrupção é uma doença contagiosa que tem sido uma pedra no calcanhar de todos os governos, causando danos irreparáveis. Acredito que isso se dá porque a lei que pune os corruptos é muito branda. Candidata, como pretende acabar com a corrupção no Brasil e fazer com que os responsáveis sejam punidos de forma exemplar pelos seus atos que tanto envergonham o nosso Brasil?
DILMA ROUSSEFF: Adriana, você tem toda a razão, a lei é branda. Quando a lei é branda você investiga, você identifica e na hora de punir o criminoso, o corrupto se evade. Por isso que eu propus cinco grandes medidas de combate à impunidade. Primeiro: transformar em crime eleitoral o caixa dois. Segundo: o funcionário público que enriquecer sem mostrar a origem, ele perde o bem e além de perder o bem ele é criminalizado. Ao mesmo tempo o direito do poder público em relação às pessoas que enriqueceram sem deixar claro qual é a origem do bem, ele perderá o bem. Hoje no Brasil ele paga o Imposto de Renda e ele não perde o bem. E criar também uma instância especial dentro dos tribunais superiores para julgar mais rápido os crimes com foro especial, os crimes de colarinho branco também. Isso significa que nós vamos ter um conjunto de medidas para que haja a punição daquele que foi o corrupto e o corruptor. Eu tenho orgulho de ter dado inteira autonomia, que não era dada nos governos anteriores, porque nomeavam filiados de partidos para dirigir a Polícia Federal. A Polícia Federal no meu governo investiga.
WILLIAM BONNER: Seu tempo, candidata. A réplica do candidato Aécio.
AÉCIO NEVES: Minha querida conterrânea, eu reconheço que você hoje expressa o sentimento de milhões de brasileiros que não aguentam mais abrir todo dia os jornais e ver qual é o caso novo de corrupção. E quando não há punição a indignação é ainda maior. É o que nós estamos assistindo no Brasil de hoje. Eu vejo a candidata Dilma apresentar aqui um conjunto de propostas. Muitas delas estavam em tramitação no Congresso Nacional durante todos esses últimos anos. Não houve qualquer ação do PT ou do governo do PT para que algumas dessas propostas pudessem avançar. Por quê? Porque não houve preocupação do PT no combate efetivo à corrupção. Essa é a grande realidade. Eu vou lhe dizer aqui olhando nos seus olhos. Existe uma medida que está acima de todas as outras e não depende do Congresso Nacional para acabarmos com a corrupção no Brasil. Vamos tirar o PT do governo.
WILLIAM BONNER: Sem manifestações do público, por favor. Candidata, só um minuto para a senhora não ser prejudicada. Não pode haver manifestação do público. Os senhores sabem, por favor.
DILMA ROUSSEFF: Adriana, veja você que quem fala é o representante do partido que tinha uma prática, Adriana, que era engavetar todas as investigações. Tudo que era investigação engavetava. De deputado, de senador, de ministro. Isso, Adriana, levou o Brasil a sempre ter um conjunto de julgamentos que ninguém nunca viu e nem deu fé. Foram todos soltos. Eu queria te dizer uma coisa. Para que você combata a corrupção, que é o que eu quero, eu tenho certeza que é o que o Brasil quer, eu tenho na minha vida um orgulho. Eu nunca compactuei com corrupto ou corrupção. Sempre combati. Fui atrás. E vou te dizer, doa a quem doer, eu vou condenar corruptos e corruptores.
WILLIAM BONNER: Seu tempo terminou, candidata. Por favor, mais uma vez eu peço que o público não se manifeste. Vamos sortear mais um candidato. Agora é a próxima pergunta. Ela será feita para o candidato Aécio Neves por Carla, de Curitiba. Carla, só um minutinho, o microfone está chegando. Pronto.
Pergunta 4
AÉCIO NEVES: Carla, eu agradeço a sua pergunta, e essa deve ser uma preocupação de qualquer governante responsável. O Brasil envelhece. O Brasil não tem hoje serviços e nem mesmo a proteção necessária aos idosos. O INSS, Instituto Nacional de Seguridade Social, no nosso governo, nosso programa de governo, que nós apresentamos até em respeito em respeito aos eleitores, aos cidadãos, um programa de governo, ele se transforma também em um instituto da cidadania. Onde nós vamos cuidar inclusive de casos por exemplo de pessoas que contribuíram durante um determinado período na sua vida, passaram alguns anos sem contribuir e são desestimuladas a fazê-lo, porque elas não têm como voltar atrás. Nós vamos cuidar dessas pessoas, encontrar formas para que elas possam se aposentar. E eu tomei uma decisão, Carla, em relação a uma questão que afeta em muito a renda do aposentado brasileiro, que é o fator previdenciário. Eu quero aqui falando a você, aos paranaenses, mas a todos os brasileiros, que nós vamos rever o fator previdenciário, para que ele não puna, como vem punindo, a renda dos aposentados. Portanto, nós construímos, ao longo de todos esses meses, em uma ampla discussão com centrais sindicais, com lideranças extremamente importantes, representativas dos aposentados brasileiros, políticas que visem garantir a eles uma remuneração melhor, como por exemplo incluindo a cesta de medicamentos no cálculo dessas aposentadorias. Mas o compromisso definitivo é fazer a revisão do fator previdenciário, pois isso dará um alívio muito importante aos aposentados brasileiros.
DILMA ROUSSEFF: Carla, muito boa sua pergunta, porque ela mostra uma coisa: quem criou o fator previdenciário? Criou o fator previdenciário o governo PSDB, sendo líder o senador, na época eu acho que ele era deputado. Então, Carla, essa é uma questão muito séria. E você perguntou o seguinte: quando o país ficar cheio de idosos, quem vai pagar a aposentadoria daqueles que ficaram idosos e que não trabalham? Vai ser, como sempre, o pessoal da ativa. Por isso, quando a gente olha para a questão do fator previdenciário, é muito importante abrir a discussão com as centrais sindicais. Nós sistematicamente abrimos. Quase chegamos a um acordo do 85 para a mulher, 95 para os homens. Eu acredito que esse acordo é possível, um acordo que resolva a questão criada pelo governo do PSDB, que é esse do fator previdenciário.
WILLIAM BONNER: Tempo, candidata. Candidato Aécio, a tréplica.
AÉCIO NEVES: Olha, eu confesso que fico feliz com a evolução da posição da candidata. Realmente foi criado o fator previdenciário em um momento de aguda crise da previdência. E depois ele foi derrubado no Congresso Nacional. E quem vetou sua derrubada? O presidente Lula, o governo do PT. Foi derrubado por uma proposta do deputado Fernando Coruja. O que eu quero dizer é que os nossos compromissos, eles não mudam às vésperas das eleições. Nós vamos construir uma rede de proteção aos idosos hoje que passa pelo fator previdenciário revisto, portanto por um outro instrumento que não puna tanto como vem punindo os aposentados o fator previdenciário. Mas uma rede de proteção que passa pela saúde, com ação específica aos idosos. As casas de cuidado, que nesse governo são muito poucas. Nós temos que criar e estimular os profissionais que cuidam dos idosos para que eles tenham uma melhor remuneração e mais estímulo a dedicarem-se a essa carreira.
WILLIAM BONNER: Seu tempo, candidato. Nós estamos encerrando aqui o segundo bloco desse debate. Daqui a pouco os candidatos voltam a fazer perguntas entre si. Até já.
WILLIAM BONNER: Vamos continuar com o debate entre os candidatos à Presidência e, neste bloco, eles já estão posicionados porque voltam a fazer perguntas entre si. Na ordem determinada pelo sorteio prévio, quem abre essa rodada é Aécio Neves. Candidato, 30 segundos.
Pergunta 1
AÉCIO NEVES: Candidata, a diretora de assistência social do seu governo confirmou essa semana numa reunião com prefeitos em Minas Gerais que os repasses do Fundo Nacional de Assitência estão atrasados em três meses. Esse fundo na verdade ele atende aos programas mais fundamentais do seu governo, programas de assistência de repasse de recursos para entidades que prestam a primeira atenção às pessoas que mais necessitam. Em relação ao orçamento voltado às pessoas portadoras, com deficiência, que é o termo adequado, foi executado apenas 11% do que foi aprovado até aqui. O que vem acontecendo com seu governo, candidata?
DILMA ROUSSEFF: Candidato, acho que o senhor está muito mal informado. O meu governo tem feito um imenso esforço para levar atendimento de saúde, de educação e acessibilidade a pessoas com deficiência. Temos também tido todo um cuidado de, na assistência social, criar nos Cras, centros de referência a assistência social, criar toda uma política de assistência social, o centro dessa política é o Bolsa Família, mas além do Bolsa Família, candidato, que nunca teve um atraso, nós temos uma série de outros programas complementares. Eu não tenho a menor dúvida em afirmar para o senhor, e aqui para os nossos eleitores indecisos, que o meu governo não atrasa programas sociais, nunca atrasou nem contingenciou. E quero dizer mais uma coisa para vocês. Enquanto vocês no Bolsa Família por todos os oito anos do governo Fernando Henrique gastaram R$ 4,2 bilhões, nós gastamos R$ 4,2 bilhões em apenas dois meses de pagamento do Bolsa Família. Não tem a menor dimensão, nem comparativa, com o governo que vocês fizeram.
AÉCIO NEVES: Lamento, candidata, que a senhora esteja tão mal informada em relação ao seu governo. Estão, sim, atrasados os repasses aos municípios brasileiros. Quero me dirigir aos munícipios brasileiros, aos prefeitos que sabem exatamente o que estou dizendo, que no nosso governo isso não vai acontecer. Que as pessoas com deficiência terão prioridade na liberação dos recursos. 11% apenas executados até o final do mês de outubro. Tenho conversado muito, candidata, com parceiros e amigos meus que se dedicam sua vida a essa questão, Mara Gabrilli, Otávio Leite, Eduardo Barbosa, agora o meu amigo Romário, cujo apoio aqui agradeço. Assumi com eles um compromisso, no nosso governo as Apaes serão fortalecidas, diferente do seu governo que tentou extingui-las. E esses repasses da garantia das transferências nesses recursos será prioridade absoluta no meu governo. Pode faltar para outras, coisas, para essa não faltará.
DILMA ROUSSEFF: O seu governo candidato, eu tenho certeza, os seus governos, tanto do PSDB como em Minas Gerais, vocês jamais repassaram para as Apaes o que nós repassamos em todo meu período de governo: R$ 5,9 milhões. Isto, candidato, está escrito e registrado. Nós fizemos com as Apaes o maior programa dentro do que nós entendemos como viver sem limites. Ao mesmo tempo, candidato, nós oferecemos para as pessoas com deficiência toda uma assistência e uma atenção, seja no que se refere à saúde como educação. Além disso, candidato, tem um dado importantíssimo, a nossa política para as pessoas com deficiência reconhece nas pessoas com deficiência cidadãos brasileiros.
WILLIAM BONNER: Tempo encerrado, vamos agora a sua pergunta para o candidato Aécio.
Pergunta 2
DILMA ROUSSEFF: Candidato, em qualquer governo, tenho certeza que os eleitores indecisos aqui sabem disso, é fundamental é planejar, quem não planeja não consegue enfrentar os desafios que ocorrem principalmente num governo. Eu gostaria de saber como o senhor enxerga essa questão da água em São Paulo. Houve ou não houve falta de planejamento, candidato?
AÉCIO NEVES: Certamente que houve, candidata, e segundo o TCU, no seu governo, porque o Tribunal de Contas da União aciona órgãos do seu governo. O que nós estamos tendo, candidata, não é apenas em São Paulo, estamos tendo em toda região Sudeste ausência de água, e a senhora sabe muito bem que nós tivemos a maior crise hídrica dos últimos 80 anos, falta de chuva. O governo de São Paulo, diferente do governo federal buscou fazer o que estava em suas mãos, e o eleitorado de São Paulo decidiu quem estava com a razão, quem realmente falava com sinceridade. O seu candidato aqui em São Paulo, candidata, fez campanha demonizando a ação do governo estadual, onde o governador Geraldo Alckmin foi eleito e propôs iniciativas como um bônus para aqueles que economizassem água. Cerca de 80% dos paulistas aderiram. Infelizmente, não tivemos a parceria da Ana, por que será que a Agência Nacional de Água não estava aqui planejando? Será porque por indicações da senhora Rosimere levaram os diretores da Ana ao presídio ao invés de trazê-lo a São Paulo para planejar com o governador de São Paulo? Candidata, esse aparelhamento da máquina pública é a face mais perversa do seu governo e do governo anterior. Os técnicos foram substituídos por apadrinhados políticos. A Agência Nacional de Água e posso citar outras na sequência se a senhora quiser não foram ali colocadas pessoas pela sua qualificação, mas por sua indicação, faltou parceria do governo federal nessa questão candidata.
DILMA ROUSSEFF: Candidato, o fato é que a agua é responsabilidade do estado. Nós somos parceiros. Nós, nesse caso agora do projeto de São Lourenço, que é o único que o governo do estado apresentou, nós demos o dinheiro para fazer o projeto e estamos financiando R$ 1,8 bilhão. Candidato, não planejar no estado mais rico do país é uma vergonha, é uma vergonha, candidato, porque o Nordeste enfrentando a mesma seca e em nenhum você tem um quadro com essa gravidade. Aí, o senhor vai me desculpar, mas eu vou concordar com o humorista José Simão, vocês estão levando o estado para ter o programa “Meu banho, minha vida”. É isso que vocês conseguiram.
WILLIAM BONNER: A tréplica do candidato Aécio Neves, eu peço silêncio.
AÉCIO NEVES: Candidata, a ausência de planejamento não é uma vergonha nos estados mais ricos, é uma vergonha em todas as regiões do Brasil, e essa é a marca do seu governo, candidata. A transposição do rio São Francisco, que levaria água para as regiões mais carentes do país. Era para ter ficado pronto em 2010, nós estamos em 2014 e aqueles que estão lá próximos das obras não acreditam mais que verão uma gota d’água. Mas eu, ao assumir a presidência da República, estejam certos que esta obra será concluída. A Transnordestina, candidata, falta de planejamento, orçada em R$ 4 bilhões, já se gastou mais de R$ 8 bilhões, ninguém sabe quando ficará pronta. Abreu e Lima candidata, uma obra orçada em R$ 4 bilhões, já se gastou mais de R$ 30 bilhões, onde é que houve o planejamento, candidata? Seu governo é o da ausência de planejamento. Por isso nós temos hoje um custo Brasil altíssimo, baixíssimos investimentos sem logística e quem é punido por isso é o cidadão brasileiro.
WILLIAM BONNER: Candidato, o senhor pode fazer agora a pergunta à candidata Dilma Rousseff.
Pergunta 3
AÉCIO NEVES: Candidata, eu tenho dito que é preciso que façamos uma reforma política no Brasil. Entre todas propostas que tenho apresentado, conheço as suas, acredito que temos que acabar com a reeleição, vivemos a experiência da reeleição, e o seu governo acabou por desmoralizá-la. A “Folha de São Paulo” publicou há poucos dias que numa sexta-feira, dos seus 39 ministérios apenas 15 ministros estavam trabalhando, e que a senhora ao longo dos últimos 35 dias, segundo o jornal de hoje, foi duas vezes ao Palácio do Planalto. Quem tá governando o Brasil?
DILMA ROUSSEFF: Candidato, eu governo o Brasil e governo sistemática e diuturnamente, candidato. Agora, eu acredito que a questão da reforma política não é a reeleição, não. Se de fato o senhor está interessado em combater a corrupção, a questão mais séria da reforma política é o fim do financiamento empresarial das campanhas, porque com o fim do financiamento empresarial nós acabaremos com a influência do poder econômico sobre as eleições brasileiras. Isto, candidato, é que é uma vergonha! Além disso, candidato, eu sou a favor da paridade homens e mulheres, e aqui tem as mulheres indecisas que sabem a importância da representação feminina. Sou a favor do fim da coligação na eleição proporcional e sou a favor dos dois turnos na eleição proporcional, que é a proposta da CNBB e da OAB. Candidato, eu acho que o senhor não tem interesse na reforma política, porque a única coisa que o senhor fala é sobre reeleição. Quando, vocês são interessantes, vocês foram e criaram a reeleição. Existe, inclusive, todo um processo por corrupção que era a compra de votos para a aprovação da reeleição, e agora o senhor me vem com essa, que o senhor é contra a reeleição.
WILLIAM BONNER: Tempo, candidata.
DILMA ROUSSEFF: Que o senhor é contra a reeleição.
AÉCIO NEVES: Candidata aqui nos brinda com uma pérola. Quer dizer que a senhora é contra o financiamento privado.
DILMA ROUSSEFF: Empresarial, candidato.
WILLIAM BONNER: Candidata, a senhora precisa aguardar que ele responda.
AÉCIO NEVES: Vamos manter as regras?
WILLIAM BONNER: Vamos retomar do começo, 50 segundos para o candidato Aécio Neves.
AÉCIO NEVES: Agradeço sua gentileza e a da candidata. Candidata, o ano passado, um ano não eleitoral, o seu partido, o PT, recebeu 80 milhões de reais em doações empresariais, candidata. Que o senhor seu partido não tem autoridade para falar sobre isso. A sua campanha é uma campanha milionária. Agora, às vésperas do segundo turno, o seu coordenador financeiro da campanha pediu para aumentar o teto de gastos, porque não tinha mais onde colocar dinheiro, candidata. Eu não, eu sempre defendi limitações no financiamento privado e defendi o voto distrital misto, e defendi a cláusula de desempenho, algo, inclusive, que foi aprovado no tempo em que eu estava na Câmara dos Deputados. A senhora apresenta uma proposta que eu gostaria de conhecê-la, porque não sei como funcionaria, dois turnos de eleição proporcional, essa é a primeira vez que ouço. As nossas propostas para reforma política estão claras, entre elas, o fim da reeleição e mandatos de cinco anos para todos os cargos públicos.
WILLIAM BONNER: Candidato, o seu tempo está esgotado. Tréplica da candidata Dilma.
DILMA ROUSSEFF: Candidato, fim do financiamento empresarial é diferente do fim do financiamento privado, sabe por que, candidato? Você pode ter financiamento de pessoas físicas, não pode de empresas, candidato. Isso acontece em várias democracias do mundo. Candidato, eu fico muito surpresa com as posições do senhor. Eu acredito que hoje nós sabemos que, se não for investigado e se não for punido, o crime de corrupção vai se reproduzir. Um dos fatores responsáveis pelos crimes de corrupção é que no Brasil o financiamento empresarial das campanhas coloca dentro das campanhas, de todas, candidato, o fator do poder econômico e isso parece que o senhor é a favor dele.
WILLIAM BONNER: Tempo esgotado. A senhora já pode fazer a pergunta para o candidato Aécio.
Pergunta 4
DILMA ROUSSEFF: Vou fazer. Candidato, nós temos uma, damos muita importância à agricultura no Brasil. Durante o meu governo, nós tivemos um aumento muito grande da safra, vocês... Em 2002, tiveram um financiamento de 30 bilhões, hoje nós temos um financiamento para a agricultura de 180 bilhões, se o senhor for eleito quais são as principais medidas que o senhor tomará nessa área?
AÉCIO NEVES: Candidata, mais uma vez o convite eu lhe faço: vamos olhar para frente. Não vamos aqui debater olhando no retrovisor da História, cada governo em seu tempo fez aquilo que julgava essencial. O PSDB, para muito orgulho nosso, fez o maior programa de distribuição de renda desse país que foi o Plano Real, a estabilidade econômica que tirou o flagelo da inflação das costas dos cidadãos brasileiros. E o meu compromisso com o agronegócio não é um compromisso que vem de agora, é um compromisso que eu trago comigo desde a minha formação em Minas Gerais, nós vamos ter uma política agrícola baseada no crédito, no seguro e no respeito, na segurança jurídica no campo, candidata. A senhora permitiu que no seu governo um dos setores de maior potencialidade do país, o etanol, fosse destruído, cerca de 70 usinas deixaram de moer, o desemprego chega, candidata, no Nordeste brasileiro, nas regiões mais pobres que fornecem a cana-de-açúcar. Nós temos que ter uma política agrícola, candidata, que em primeiro lugar tire o Ministério da Agricultura desse loteamento político a que ele foi submetido. Eu tenho dito que criarei o “Superministério” da Agricultura e lá estarão pessoas conectadas com o setor, pessoas que têm autoridade para sentar-se com o ministro da Fazenda, para definir política econômica, com o ministro do Planejamento, para definir orçamento e com o ministro da Infraestrutura, porque esse era um ministério criado no meu governo para definir os investimentos em logística que garantam maior competitividade a quem produz no Brasil, candidata.
DILMA ROUSSEFF: Candidato, vocês deixaram a agricultura a pão e água. Candidato, uma pessoa ela fala para o futuro, mas ela tem de mostrar suas credenciais. Quando eu falo para o futuro eu mostro as minhas credenciais, as credenciais de vocês no caso da agricultura é parcos recursos, pouquíssimos! Financiamentos a juros elevados, não tinha política de seguro, não tinha política de assistência técnica e não davam a menor importância ao agricultor familiar, não davam importância a um dos segmentos mais importantes do Brasil que responde por 70% dos alimentos. Então, candidato, me desculpa, mas o senhor falou, falou e não apresentou nada de concreto. Nem no presente, agora, tampouco para o futuro.
AÉCIO NEVES: Candidata, não tente reescrever a História, o Pronaf foi criado no nosso governo, o mais importante instrumento da agricultura familiar que esse país já viu. A grande, verdade, candidata é quem olha muito para o passado é porque quer fugir do presente, ou não tem nada a apresentar em relação ao futuro. Vamos debater o Brasil daqui para frente. A crise é gravíssima em todos os setores, o Brasil é um país extremamente produtivo da porteira para dentro, da porteira para fora falta tudo, candidata, falta ferrovias, faltam hidrovias, faltam rodovias, portos, já que os recursos estão indo para portos fora do Brasil e é preciso que haja planejamento para que nós façamos o quê? Um combate, um combate quase que uma guerra ao custo Brasil, quem produz no Brasil não tem competitividade, nós estamos perdendo o mercados fora do Brasil, porque o seu governo optou por um alinhamento ideológico a nossa política externa que não abriu um novo mercado ao Brasil.
WILLIAM BONNER: Candidato, o senhor pode fazer a pergunta já na sequência à candidata Dilma.
Pergunta 5
AÉCIO NEVES: Candidata, há algum tempo atrás o mediador desse debate, William Bonner, ele fez uma pergunta que a senhora não respondeu, eu gostaria que agora a candidata Dilma Rousseff, que está aqui, pudesse responder aos brasileiros: não há nenhum brasileiro, candidata, que não tenha uma opinião clara sobre o que aconteceu no mensalão, ou contra ou a favor, eu, por exemplo, acho que os condenados foram condenados, porque cometeram irregularidades, membros do seu partido, acham que eles são heróis nacionais. Para a candidata Dilma Rousseff, o seu José Dirceu por exemplo foi punido adequadamente ou é herói nacional?
WILLIAM BONNER: Tempo candidato.
DILMA ROUSSEFF: Candidato, se o senhor me responder por que é que o chamado mensalão tucano mineiro até hoje não foi julgado, por que é que o senhor Renato Azeredo, aliás, Eduardo Azeredo, pediu, pediu renúncia do seu cargo para o processo voltar para a primeira instância, o senhor estaria sendo de fato uma pessoa correta. Mas não, o senhor faz uma política e adota uma estratégia nesse debate que é uma estratégia estranhíssima. Primeiro, o senhor fala no Pronaf, o Pronaf do seu governo era 2 bilhões, o Pronaf do meu governo é 24 bilhões, há uma diferença, candidato, expressiva. Da mesma forma, houve o julgamento do mensalão ligado ao meu partido. É necessário dizer que eles foram condenados e foram para a cadeia. No entanto, o mensalão do seu partido não teve nem condenados nem punidos. É essa a realidade, candidato, não fuja dela! O senhor é o primeiro a falar em corrupção, mas eu posso enumerar todos os processos de vocês que nunca foram julgados e as pessoas estão soltas. O processo do Sivam, todos soltos. O processo da Pasta Rosa, todos soltos. O processo dos trens de São Paulo, todos soltos.
WILLIAM BONNER: Seu tempo, candidata.
AÉCIO NEVES: Candidata, a senhora traz agora, além da negação da resposta do que eu perguntei, acho o que Brasil merece saber o que a cidadã, o que a candidata Dilma acha em relação à condenação do mensalão, não sei por que tanto constrangimento, mas a senhora traz aqui duas afirmações muito perigosas, candidata. A primeira delas é em relação a essas denúncias, porque a senhora era dona da mesa e da gaveta e o seu partido ao longo desses 12 anos, se existia algum indícios de irregularidade, a obrigação do governante é mandar abrir investigações. Vocês não fizeram isso. Se a senhora quer falar com o mensalão mineiro o chamado mensalão mineiro, vamos aguardar que ele seja julgado, mas a senhora agora comete um grave, talvez até uma... A senhora antecipou algo que possa, que pode amanhã lhe criar constrangimentos, porque o principal acusado do mensalão mineiro é o coordenador da sua campanha em Minas Gerais.
WILLIAM BONNER: Tempo candidato.
AÉCIO NEVES: O senhor Walfrido dos Mares Guia, que voou no avião presidencial com a senhora.
WILLIAM BONNER: Tempo candidato.
AÉCIO NEVES: Essa semana, candidata.
WILLIAM BONNER: Eu vou pedir silêncio. O microfone está fechado, o microfone está fechado e os senhores, por favor, não se manifestem. Nós estamos respeitando aqui as regras do debate. Candidata Dilma tem agora. Mais um minuto, eu estou controlando o tempo e estou permitindo que ambos os candidatos tenham condições de concluir raciocínio. O que não permito é que eles comecem um novo raciocínio, é razoável e está equilibrado até agora, por favor, os senhores não se manifestem.
DILMA ROUSSEFF: Candidato, o senhor precisa estudar mais, sabe, candidato, processos arquivados, processos encerrados. E vocês arquivaram e encerraram, e deixaram, também, passar o tempo para o julgamento. Sabe o que que acontece, candidato? Eu não sei se o senhor sabe, só o Ministério Público abre processos engavetados e processos arquivados, e vocês arquivaram todos os processos, inclusive, o seu candidato a ministro ia ser, ia ser julgado por improbidade, mas como tinha passado o prazo do julgamento ele não foi sequer denunciado. Então, candidato, a estratégia do engavetador para o caso da impunidade durante o seu governo deu certo.
WILLIAM BONNER: Concluída a tréplica, é a sua pergunta ao candidato Aécio, candidata Dilma.
Pergunta 6
DILMA ROUSSEFF: Pois não, eu queria falar sobre um assunto muito importante que é a educação. Nós somos a favor do Enem, que é uma forma de acesso democrático à universidade. Ao mesmo tempo, criamos o Prouni, criamos o Prouni que é o acesso à universidade privada e à faculdade privada das pessoas que não têm renda para pagá-los e também fizemos o Fies. Candidato, por que que vocês foram contra o Enem, foram contra o Prouni, entraram até na Justiça contrário a ela, ao Prouni.
WILLIAM BONNER: Tempo, candidata.
AÉCIO NEVES: Candidata, não posso deixar de retornar à pergunta anterior, dizer que infelizmente nós vamos às urnas, todos nós brasileiros, sem que saibamos o que a candidata e o que a cidadã Dilma Rousseff acha em relação ao mensalão, talvez por dificuldades com os seus companheiros de partido, para que os brasileiros possam fazer esse julgamento. Candidata, a senhora deveria honrar aquilo que escreveu, candidata, ao presidente Fernando Henrique reconhecendo quais eram as prioridades naquele momento. O grande presidente da estabilidade, segundo disse a senhora. Em relação a mim, ao meu governo, candidata, eu fico sempre com os enormes elogios que a senhora me fez, até constrangido porque eram elogios realmente muito fortes, que nem correligionários costumeiramente me faziam. A senhora me considerava um dos melhores governadores do Brasil. O governador, abro aspas para a senhora, exemplar. O que é que mudou? O fato de eu ser candidato? Ser o seu adversário hoje? Não, candidata, nós temos que tratar as coisas como elas são. Nós sempre valorizamos a educação. O Prouni, vamos de novo, é inspiração de um projeto de um governo tucano em Goiás, ampliado, e precisará ser ainda mais ampliado. Mas ele tem um problema, candidata, que o meu governo que existe, já que o da senhora ninguém conhece, nós vamos cuidar de apoiar esses jovens, porque muitos estão deixando a universidade porque não têm como chegar na universidade, não tem como comprar o material didático necessário. Nós vamos dar, além de ampliar o Prouni, nós vamos dar um apoio a esses jovens para que eles possam completar.
WILLIAM BONNER: Candidato, seu tempo. É sua réplica.
DILMA ROUSSEFF: Já que o senhor perguntou, eu quero dizer que a sua máquina de propaganda, candidato, é muito eficiente. Eu acreditei no seu choque de gestão. Até saber que o senhor tinha conseguido transformar o estado de Minas no segundo mais endividado do país. Eu acreditei, candidato, que o senhor investia em saúde e educação, até ler um parecer do TCU em que fica claro que o senhor não cumpriu o mínimo constitucional, nem em saúde, nem em educação. Agora, candidato, vocês nunca foram a favor do Prouni. Vocês entraram no Supremo Tribunal Federal pedindo para que a lei do Prouni fosse considerada inconstitucional. Candidato, no Enem vocês sempre criticaram. Agora que 8 milhões e 700 mil pessoas estão fazendo isso, o senhor vem aqui dizer que concorda?
WILLIAM BONNER: Tempo esgotado. Tréplica, candidato.
AÉCIO NEVES: Candidata, nem o fato de ter passado toda a sua vida longe de Minas Gerais justifica ofender tanto a realidade de Minas Gerais, candidata. A senhora, no último debate, fez uma ofensa aos fatos. E teve o constrangimento, acredito eu, de ler no dia seguinte um documento do ministro do Tribunal de Contas dizendo que aprovou as nossas contas, aliás, foram aprovadas por unanimidade, pela correção dos nossos investimentos, candidata. Quem não gasta em saúde é o seu governo. Em 2009, o TCU pediu que vocês retirassem do cálculo do gasto com saúde recursos para o Bolsa Família, candidata. Essa é a grande realidade. Vocês demoraram a regulamentar a Emenda 29, muito mais do era cabível, aceitável. Minas Gerais é um estado extraordinário, candidata. É o estado que só cresce. Tem a melhor educação fundamental do Brasil. A melhor saúde da região Sudeste, é o que teve um governador muito correto.
WILLIAM BONNER: Tempo esgotado, candidato. Muito bem. Depois do intervalo nós teremos o último bloco deste debate, e os candidatos a presidente voltarão a responder as perguntas dos eleitores indecisos. Até já.
WILLIAM BONNER: Voltamos com o debate entre os candidatos à Presidência. E neste bloco as perguntas voltarão a ser feitas por eleitores indecisos aqui presentes. Por sorteio ficou determinado que a candidata Dilma Rousseff ira responder a pergunta do eleito que eu vou sortear agora. Será Elizabeth, do RIo de Janeiro. Onde está a Elizabeth? Ali está a Elizabeth. O microfone chegou. Elizabeth, pode fazer a pergunta.
Pergunta 1
ELIZABETH DA SILVA GOMES ANDRADE: Meu nome é Elizabeth da Silva Gomes Andrade, tenho 48 anos e sou dona de casa. A maioria dos bairros próximos da onde eu moro tem esgoto a céu aberto. Quando chove, as pessoas perdem o pouco do que puderam conquistar. O que impede de verdade de os governos resolverem este problema?
DILMA ROUSSEFF: Elizabeth, uma boa pergunta. Eu tenho um compromisso com o futuro, Elizabeth. É acelerar essa questão do tratamento e da coleta de esgoto. Nós estamos colocando hoje R$ 76 bilhões em parceria com estados e municípios. Por que em parceria, Elizabeth? Porque não é governo federal que realiza diretamente a obra, porque a Constituição passou o saneamento para os estados e para os municípios. Mas nós achamos que o governo federal tem a obrigação de colocar dinheiro, porque saneamento é uma questão de saúde pública e também de civilização. Nós temos feito uma série de investimentos, geralmente obra pública, mas muitas PPPs, ou seja, parceria público privadas. Eu vou dar absoluta prioridade a esgotamento sanitário. Nós conseguimos um avanço nos últimos quatro anos, mas esse avanço ainda não é suficiente porque durante muitos anos nesse país não se investiu em esgoto tratado. No caso da água, do recurso hídrico, também é uma questão muito séria, porque têm municípios ainda que não têm tratamento de água. Isso, esse fato, é menos importante, porque são menos municípios.
WILLIAM BONNER: Tempo esgotado candidata.
DILMA ROUSSEFF: Mas é outra questão que eu vou dar total atenção.
WILLIAM BONNER: Seu tempo está esgotado, candidata. A réplica do candidato Aécio Neves.
AÉCIO NEVES: Elizabeth, eu não vou terceirizar responsabilidades. Eu, Presidente da República, vou cumprir o meu papel. O primeiro deles é desonerar as empresas de saneamento do PIS/COFINS, algo que foi prometido pela candidata há quatro anos e não foi cumprido. Hoje, Elizabeth, são 52% dos domicílios brasileiros, algo quase inacreditável, que não têm esgotamento sanitário adequado. Sete milhões dos domicílios brasileiros não têm sequer um banheiro em casa. É sim fundamental que nós resgatemos a capacidade de fazer parceria com os municípios, mas é fundamental que nós permitamos aos municípios também darem a contrapartida e isso não vem acontecendo nesse governo. Eu, Presidente da República, vou tratar essa questão diretamente e não vou transferir essa responsabilidade para municípios e tão pouco para estados brasileiros.
DILMA ROUSSEFF: Elizabeth, ele não pode fazer isso porque não é atribuição da União fazer isso. Nós não podemos interferir no estado, por que seria crime de responsabilidade de governo federal. Nós podemos sim fazer parcerias Elizabeth e é isso que nós fazemos. Nós geralmente Elizabeth, nos estados mais pobres e nos municípios mais pobres, nós tiramos dinheiro do nosso orçamento e colocamos para pagar as obras de saneamento que é tratamento de esgoto e coleta. Agora nos estados mais ricos, nós financiamos, mas financiamos em condições muito razoáveis, 20 anos para pagar, cinco anos de carência e juro bastante baixo. Então Elizabeth, eu quero te dizer o seguinte...
WILLIAM BONNER: Tempo esgotado candidata.
DILMA ROUSSEFF: Que é preciso também melhorar o planejamento.
WILLIAM BONNER: Seu tempo está esgotado candidata. Eu vou sortear o eleitor que fará a pergunta agora ao candidato Aécio Neves. É o Adriano, do Rio de Janeiro.
Pergunta 2
ADRIANO CORRÊA DINIZ: Meu nome é Adriano Corrêa Diniz, tenho 19 anos, sou modelo. Morei durante toda a minha vida num lugar que hoje está tomado pelo tráfico de drogas e assassinos. Há dois anos, além de ter o meu primo assassinado por bandidos, eu e minha família fomos obrigados a sair da nossa casa, sem poder levar nada. Quais são as suas propostas para o fortalecimento da segurança em lugares menos favorecidos?
AÉCIO NEVES: Adriano, essa foi talvez de todas a maior preocupação do meu programa de governo e apresentamos aos brasileiros um programa, que começa pela proibição de que os recursos aprovados no orçamento da União para a segurança pública sejam represados para o governo fazer superávit primário, como vem acontecendo com grande parte dos recursos até aqui. Anunciei uma política de fronteira, diferente da que vem hoje sendo conduzida e que deixa nossas fronteiras desguarnecidas. As nossas fronteiras é exatamente por onde as drogas e as armas entram. E nós vamos ter uma relação com os países produtores de drogas diferente da relação atual, cobrando que eles tomem também atitude interna para coibir essa produção. E eu tenho dito que, além das casas de recuperação que nós vamos ampliar em todo o Brasil para dependentes químicos, nós temos que fazer uma profunda reforma no nosso Código Penal e nosso Código de Processo Penal, para que essa sensação de impunidade não continue a permear e se espalhar por todo o Brasil. Portanto, nós temos uma política nacional, nós teremos uma política nacional de segurança pública que não existe hoje. A terceirização de responsabilidade também nesse caso é muito grave. Para você ter uma ideia, vou te dar um número aqui. O governo federal é aquele que mais arrecada, ele tem mais. Eles gastam apenas 13% de tudo o que se arrecada em segurança pública no Brasil, 87% é dos estados e é dos municípios. Nós vamos ser mais solidários no enfrentamento da criminalidade do que vem sendo do atual governo.
DILMA ROUSSEFF: Eu queria te dizer uma coisa: a sua pergunta é ótima. Primeiro, por que o Brasil hoje tem um grande desafio que é o combate à violência e às drogas. No caso das drogas, nós fizemos um plano estratégio de fronteira que une Polícia Rodoviária Federal, Polícia Federal, com as Forças Armadas. Conseguimos apreender 640 toneladas de droga, alem de apreendermos armas, prendermos pessoas e de determos veículos. Agora, é fundamental que haja uma maior participação da União nesta ação. Nós fazemos algo chamado garantia da lei da ordem. Agora mesmo o governo federal está aqui no Rio ali na favela da Maré ajudando o governo do estado, em parceria com ele, para enfrentar o crime e as drogas.
WILLIAM BONNER: Tempo esgotado, candidata. A tréplica agora.
AÉCIO NEVES: A grande verdade, Adriano, é que as nossas fronteiras estão desguarnecidas. Hoje os estados precisam fazer gestão política, quase que pessoal, junto à União para garantir algum recurso do Fundo Nacional de Segurança ou mesmo do Fundo Penitenciário. Menos de 40% desses fundos foi aplicado ao longo dos últimos três anos de governo. Eu tenho um projeto no Congresso Nacional como senador, que infelizmente o PT não permitiu que fosse aprovado, que obriga que todo o recurso disso para a área de segurança seja aplicado, para que cada estado tenha como planejar, seja investindo no aumento do contingente de policiais, seja investindo em inteligência, seja investindo em viaturas. Portanto, no momento em que o governo contingencia esses recursos, obviamente mostra que segurança pública não é uma prioridade. E programas, por exemplo, como programas de combate ao crack, ao uso de crack, 40% apenas foi executado ao longo desses últimos anos, que é muito grave.
WILLIAM BONNER: Tempo candidato. Candidata Dilma, vamos ver quem é que lhe vai fazer a próxima pergunta. É a Vera Lúcia, de Salvador.
Pergunta 3
VERA LÚCIA AZEVEDO SIMÕES: Meu nome é Vera Lúcia Azevedo Simões, tenho 45 anos e sou professora. A droga tem dizimado boa parte dos jovens. Muitos morrem antes de completar a maioridade. Conheci um jovem que foi morto no meu bairro devido a uma dívida de drogas de apenas R$ 50. Tive um aluno que deixou a escola para ser chefe do tráfico. A caneta como a arma, o caderno pela lápide. Qual a proposta para melhorar essa realidade que tem prejudicado os jovens e destruído famílias?
DILMA ROUSSEFF: Vera Lucia, muito obrigada pela pergunta, por que vai me dar condições de responder a anterior também. Na verdade, esses fundos aos quais o candidato se refere são 4 bilhões e 400 milhões de reais. Nós aplicamos 17 bilhões e 700 milhões no combate à droga, ao crime organizado e ao tráfico de armas. E fizemos isso em parceria entre a Polícia Federal e as forças armadas e a Polícia Rodoviária. Isso deu muito certo na Copa, por que nós criamos um centro de comando e controle e as polícias militares e civil dos estados também participaram. Por que não basta só você controlar uma das maiores fronteiras do mundo, que é a nossa. Além de controlar as fronteiras, tem de ter uma política de controle das fronteiras dos estados. Aqui, por exemplo, nós estamos na favela da Maré. Nós já tivemos lá na Bahia, também fazendo essa operação de garantia da lei e da ordem. Quando você vai num estado, eles fogem pra outro. Eles agem de forma coordenada, nós agimos de forma desarticulada e fragmentada. Por isso é que eu propus que nós modifiquemos a Constituição, pra atribuir ao governo federal sim a responsabilidade na ação conjunta com os estados, coordenando os estados. E fazendo com que essa atuação seja uma atuação contra o crime organizado e as drogas.
WILLIAM BONNER: Tempo, candidata. Seu tempo está esgotado.
DILMA ROUSSEFF: Pois eu falo reto.
WILLIAM BONNER: A réplica é do candidato Aécio.
AÉCIO NEVES: Vera Lucia, realmente o governo federal, como diz a candidata oficial, age de forma desarticulada nessa questão e como confirma a candidata, não executa os fundos que são aprovados pelo Congresso Nacional e não são tão expressivos mesmo, mais uma razão para que estivessem sendo executados integralmente. Quero falar de propostas. Eu estou propondo um mutirão de resgate, Vera Lucia. Nós temos hoje no Brasil cerca de 20 milhões de jovens entre 18 e 29 anos, que ou não completaram o ensino fundamental ou não completaram o ensino médio. Nós vamos permitir que ao longo dos próximos dez anos todos que se dispuserem receberão uma bolsa de estudo de um salário mínimo para concluir o ensino fundamental e depois o ensino médio. E eu quero que, eu quero criar no Brasil inteiro o Poupança Jovem, que também é um recurso que é depositado na conta dos alunos do ensino médio, que só pode ser sacado ao final do curso para que ele tenha um estímulo a mais para concluir a sua formação.
WILLIAM BONNER: Candidata Dilma, sua tréplica.
DILMA ROUSSEFF: Eu queria dizer uma coisa para você. Eu vi numa reportagem da GloboNews que todas as pessoas que participaram do debate de 2010 disseram que melhoraram de vida. Eu quero que também com vocês aqui que cheguem aqui e digam que melhoraram de vida se eu for eleita, ficarei muito feliz. Agora, eu quero dizer uma coisa, eu acho que nós temos de tratar a questão da droga com duas ações, tratamento e prevenção. A prevenção é um trabalho fundamental que tem que ser feito nas escolas esclarecendo as consequências, principalmente do tráfico.
WILLIAM BONNER: Candidata, eu vou sortear agora o nome do último eleitor a fazer pergunta e será para o candidato Aécio Neves. É a Elisabete Maria, de Fortaleza.
Pergunta 4
ELISABETE MARIA: Meu nome é Elisabete Maria Costa Timbó, tenho 55 anos e sou economista. Sou uma pessoa qualificada profissionalmente. Mas pelo fato de estar com 55 anos, atualmente me encontro fora do mercado de trabalho formal. Qual a sua proposta para que pessoas maduras tenham sua experiência de trabalho valorizada e possam manter sua empregabilidade.
AÉCIO NEVES: Elisabete, você toca numa questão essencial em relação ao Brasil que nós queremos construir, o Brasil do futuro. E os meus olhos, a minha energia está toda focada nesse Brasil do futuro. O que que ia acontecer no Congresso de hoje? Nós paramos de crescer, nós estamos na lanterna de crescimento na nossa região, angariando às vezes revezando com a Venezuela e com a Argentina. Países que não crescem, minha gente, não geram empregos, principalmente os empregos mais qualificados. Nós estamos vendo o desmonte da indústria nacional. Ao longo desses últimos anos, nesses últimos quatro anos, mais de um milhão de empregos na indústria deixaram de existir. E esses são os empregos que pagam melhor, para pessoas mais qualificadas como você. Aqui apenas em São Paulo a indústria está demitindo cem pessoas por dia. Essa é a minha grande preocupação, fazer o país voltar a crescer, porque aí sim haverá mais espaço no mercado de trabalho para pessoas qualificadas e também para todas as pessoas, porque nós temos que tratar da qualificação de todos. A grande verdade é que o governo atual perdeu a capacidade de recuperar o crescimento, porque não gera confiança nos investidores. Sejam eles nacionais, sejam eles internacionais. A Fundação Getúlio Vargas, que você certamente conhece, nos últimos sete meses vem mostrando ao Brasil que a confiança dos empresários de todos os setores vem diminuindo mês a mês. Por isso o Brasil precisa de um governo novo, com gente nova e com credibilidade. Certamente aí o espaço no mercado de trabalho vai ser ampliado, pessoas qualificadas vão ter mais oportunidades.
DILMA ROUSSEFF: Muito boa a sua pergunta. Eu não acho que o Brasil não está gerando emprego. O que eu acho, Elisabete, é que seria interessante que você olhasse, entre os vários cursos que têm sido oferecidos, inclusive pelo Senai, são cursos para pessoas que têm a possibilidade de conseguir um salário e um emprego melhor se você não acha colocação. Porque eles têm uma carência imensa de trabalho qualificado no Brasil. Não é o que o candidato está dizendo. Nós temos hoje uma taxa de desemprego de 4,9%, ele queira ou não. E uma coisa é certa. Se não se puser uma qualificação profissional, o que que não se consegue fazer, você não consegue fechar aquela demanda por trabalho, por mão-de-obra qualificada, com a oferta. Então, o que que é o Pronatec. O Pronatec é para garantir que você tenha um emprego adequado a sua situação.
WILLIAM BONNER: Tempo candidata. Vamos à tréplica do candidato Aécio Neves.
AÉCIO NEVES: Existem duas formas de ver a questão do emprego. Pega uma fotografia de um determinado momento, analisa essa fotografia ou olha o filme. O caminho que nos espera, se não tiver uma mudança radical na condução da nossa política econômica, é o pior de todos. Porque o que vem acontecendo com os investidores impacta na condição dos trabalhadores. Repito, candidata, o país tem que voltar a crescer. Nós não temos alternativa. A nossa taxa de investimentos hoje é de 16,5% do PIB. Já disse isso anteriormente, a menor da última década. E eu tenho absoluta convicção, com a clareza das nossas propostas, com respeito às regras, com respeito às agências reguladoras, com uma política fiscal transparente, nós vamos gerar novos empregos para gente qualificada como você.
WILLIAM BONNER: Muito bem, nós estamos encerrando aqui as rodadas de pergunta deste debate. A partir de agora cada um dos candidatos terá um minuto e meio para deixar suas mensagens aos eleitores.
DILMA ROUSSEFF: Agradeço a Globo, agradeço ao candidato, agradeço a vocês que nos acompanharam até aqui. O Brasil que nós estamos construindo é o Brasil do amor, da esperança e da união, o Brasil da solidariedade, o Brasil das oportunidades, o Brasil que valoriza o trabalho e a energia empreendedora, o Brasil que quer crescer, que quer melhorar de vida e faz isso com muita autoestima. É um país que cresce e que faz todas as pessoas crescerem, mas com um olhar especial para as mulheres, para os negros e para os jovens. É o Brasil da educação, da cultura. É o Brasil da inovação e da ciência. É um Brasil que quer crescer e garantir que todos, todos os brasileiros, cresçam com ele. Eu deixo aqui minha palavra: nós que lutamos tanto para melhorar de vida, nós não vamos permitir que nada nem ninguém, nem crise nem pessimismo, tire de você o que você conquistou. O Brasil fez com que você crescesse e melhorasse de vida. Não vamos permitir que isso volte atrás. Vamos garantir que haverá um futuro conjunto, nosso, um futuro de esperança e de unidade.
WILLIAM BONNER: Tempo esgotado candidata. Concluído seu raciocínio. Candidato Aécio Neves, senhores da plateia podem parar de aplaudir, Obrigado, candidato Aécio Neves, o senhor tem um minuto e meio para considerações finais.
AÉCIO NEVES: Eu cumprimento aos organizadores, cumprimento a candidata, agradeço a presença dos eleitores que vieram de várias partes do país que aqui estão e me dirijo a você que está hoje nos ouvindo de todas as partes do país. Eu chego ao final dessa campanha de pé, honrado, pelo apoio, pelas manifestações de carinho e de confiança no nosso projeto. Eu não sou hoje mais o candidato de um partido político, eu sou o candidato da mudança, essa mudança que você e sua família querem ver no país, mudança de valores, mudança na eficiência do estado e, principalmente, na generosidade com que o governante deve tratar os brasileiros. Eu estou extremamente honrado de ter podido andar por esse país e visto uma coisa nova surgindo, uma emoção nova, uma confiança nova. Eu não posso deixar de me lembrar que há 30 anos atrás, acompanhando meu avô Tancredo, eu fiz essa mesma caminhada pelo Brasil. Ele, infelizmente, não teve o privilégio de assumir a Presidência da República. Quero dizer a você minha amiga, a você meu amigo, de todas as partes desse país, se eu merecer a sua confiança e o seu voto no próximo domingo, esteja certo que subirei a rampa do Palácio do Planalto com a mesma coragem, com a mesma determinação, com o mesmo amor ao Brasil, com a mesma generosidade, com que ele nos conduziu à democracia. Eu sou hoje já um vitorioso, porque, como disse São Paulo, eu travei o bom combate, falei a verdade e jamais perdi a minha fé.
WILLIAM BONNER: Muito obrigado aos dois candidatos. Nós estamos encerrando aqui o último debate entre os candidatos à Presidência da República. Antes da votação de domingo, eu agradeço aos candidatos, aos eleitores aqui presentes, aos convidados da nossa plateia e a você que nos acompanhou de casa até agora e pelo portal G1. Muito obrigado a todos. Bom voto no domingo.