Aves X Cultivo
Aves X Cultivo
Aves X Cultivo
Introdução
A integração animal-vegetal constitui um dos princípios fundamentais da
Agroecologia e tem contribuído para a sustentabilidade dos sistemas agrícolas de
produção. Resultados positivos com esse consórcio são conhecidos e novas experiências
continuam sendo desenvolvidas.
Devido à crescente demanda por produtos “caipiras”, a avicultura tem
despertado o interesse de agricultores familiares, principalmente na região norte do
Espírito Santo. O café é o produto principal da agricultura capixaba, seguido pela
produção de frutas. Estas atividades são desenvolvidas na forma de monocultura, mas
algumas experiências realizadas por agricultores familiares têm demonstrado a
possibilidade de sua integração com a criação de aves (GUELBER SALES et al., 2005).
O uso racional dos recursos existentes na propriedade diminui o custo das
atividades de produção. A avicultura tem um papel importante neste contexto, pois
contribui, através de seus subprodutos para a recuperação e manutenção da fertilidade
do sistema, a redução da mão-de-obra na capina e da compra de insumos para o controle
Material e métodos
A experiência foi realizada no Sítio Nova Esperança, da família Trés, no distrito
do Jirau, município de Jaguaré, localizado na região norte do estado do Espírito Santo.
O município é o maior produtor de café conilon do país. A família participa do Grupo
Koomaya, fundado em 2000 por agricultores familiares agroecológicos.
A decisão de criar aves na propriedade surgiu durante oficinas realizadas por
técnicos do Instituto Capixaba de Pesquisa Assistência Técnica e Extensão Rural -
Incaper com algumas famílias do grupo, discutindo avicultura e a realização de uma
pesquisa participativa sobre a criação. A partir da experiência exitosa de um dos
membros do grupo, a família iniciou sua experiência com criação de galinhas em
outubro de 2005.
Nesta propriedade são cultivados café conilon, pimenta do reino, citros, cana-de-
açúcar e mandioca. Há uma agroindústria artesanal de açúcar mascavo, rapadura e
farinha de mandioca e uma criação de suínos para autoconsumo. Ao instalar a Unidade
de Experimentação Participativa de avicultura agroecológica, os objetivos da família
foram diminuir os custos com mão-de-obra nos tratos culturais, produzir um alimento
saudável para consumo próprio e aproveitar os resíduos da farinheira como ingrediente
da ração das aves. Por isso, decidiu-se pela instalação da criação de galinhas caipiras
nas lavouras de café e citros.
As atividades são desenvolvidas pela própria família, constituída pelo casal e
uma filha cursando o ensino fundamental. A contratação de mão-de-obra temporária se
dá principalmente na época da colheita do café e da pimenta-do-reino. Nesse período, o
tempo dedicado à criação é reduzido.
A criação iniciou com 50 aves de corte da linhagem Label Rouge mantidas em
pastoreio na área de citros (0,5ha), cuja forrageira predominante é Brachiaria brizantha.
As aves, no período noturno, ficam em abrigo rústico construído com recursos da
propriedade. Atualmente, a família possui um plantel de 150 aves de corte de linhagens
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Resultados e discussão
A capina da área de café tem sido realizada integralmente pelas aves. O
consórcio de aves com lavouras reduziu cerca de 45 dias/homem/ano nos tratos
culturais. A deposição de fezes pelas aves durante o pastoreio nas lavouras vem
auxiliando na sua adubação. Cerca de trinta quilos de excrementos acumulados nos
abrigos são removidos semanalmente para adubação de outras lavouras.
A falta de um manejo mais eficiente das áreas de pastagem é reconhecida como
um problema, contribuindo para o pastoreio desuniforme. A cerca viva tem
demonstrado ser uma alternativa viável e econômica. Além de conter as aves, ser de
baixo custo e fácil manejo, sua parte aérea vem sendo utilizada como ingrediente na
produção de ração. Contudo, a insuficiência de mão de obra para plantios de novas
cercas tem retardado a ampliação do seu uso para uma melhor divisão das áreas em
piquetes.
As aves do primeiro lote atingiram um peso vivo médio de 2,1kg ao abate, a
partir de 110 dias, apresentando rendimento de carcaça de 80%. Apresentaram padrões
normais de comportamento, não havendo canibalismo ou interações agonísticas entre si.
A mortalidade foi baixa (cerca de 2%). Semanalmente, são produzidas em média 12
aves e 9 dúzias de ovos, as quais são comercializadas na feira livre do município a R$
7,50 o quilo (cerca de R$13,00 por ave abatida) e a R$ 3,00 a dúzia, respectivamente.
Esta atividade incrementou em aproximadamente 10% a renda familiar, além de
contribuir para a qualidade da alimentação da família, através do consumo direto (carne
e ovos) ou de troca por carne bovina e suína com agricultores vizinhos.
A família considera satisfatórios os resultados da experiência e demonstra
interesse na expansão da atividade, já que a procura pelos produtos caipiras é superior à
oferta atual. Um fator limitante é a dificuldade de contratação de mão-de-obra para as
outras atividades da propriedade, impedindo maior dedicação à avicultura.
Há necessidade de aperfeiçoamento do sistema de criação em benefício das aves
e das lavouras. A experiência desenvolvida pela família com a integração de cultivos e
Referências bibliográficas
GUELBER SALES, M.N. et al. Revalorizando as pequenas criações na agricultura
familiar capixaba. Agriculturas, Rio de Janeiro, v. 2, n. 4, p. 28-31, 2005.
GUELBER SALES, M. N. et al. Emprego do trator de galinhas na criação de frango de
corte. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE AGROECOLOGIA, 4., 2006, Belo
Horizonte, MG. Anais... Belo Horizonte : Emater, 2006. 1 CD.
RUAS, E. D. et al. Metodologia participativa de extensão rural para o desenvolvimento
sustentável - MEXPAR. Belo Horizonte: EMATER-MG, 2006, 134p.