Culturas Híbridas

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Culturas híbridas

Apresentação
A cultura pode ser compreendida como um sistema de ideias, conhecimentos, técnicas, artefatos e
padrões de comportamento que caracterizam uma sociedade. Essa cultura sempre foi dividida em
alguns tipos, como, por exemplo: cultura em massa, cultura erudita e cultura popular, mas,
atualmente, esses tipos de cultura estão se misturando, formando culturas híbridas, as quais são
formas de cultura em que há a mistura de variados fatores.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você entenderá o conceito de culturas hibridas, como esse tipo
de cultura acontece e como ela está presente na sociedade contemporânea. Além disso, verá
alguns exemplos de cultura híbrida relacionados ao artesanato e à arquitetura.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Caracterizar cultura híbrida.


• Reconhecer a cultura híbrida como nova configuração cultural.
• Apontar exemplos de cultura híbrida no artesanato e na arquitetura.
Desafio
No cenário atual de constante modernização e globalização, o hibridismo cultural ganha cada vez
mais espaço. Ainda que exista muita desigualdade e disparidade culturais, os intercâmbios de
cultura possibilitam a criação de um repertório que cria enriquecimento cultural.

A cultura híbrida pode ser compreendida como uma mistura de todos os diferentes tipos de cultura,
os quais não se definem mais como um rótulo, passando a conviver em um mesmo cenário social.
Com isso, é possível compreender que a cultura híbrida rompe as barreiras entre o que é tradicional
e o que é moderno, consistindo na miscigenação e na heterogeneidade cultural, que é o que
apresenta hoje o mundo moderno.

Os processos de hibridização frequentemente surgem da criatividade individual e coletiva, e não só


se restringem às artes, mas também às práticas do cotidiano e às voltadas ao desenvolvimento
tecnológico.

A maneira de representação gráfica na arquitetura é considerada um tipo de cultura erudita, na qual


o desenho técnico ainda é ensinado nas faculdades de arquitetura. Já a tecnologia aliada à
representação e à demonstração dos projetos pode ser considerada uma cultura de massa,
difundida por meio dos veículos de comunicação e da indústria.

Você, arquiteto e urbanista, deve estar sempre se atualizando na profissão, buscando


constantemente diferentes formas de agregar valor aos seus projetos, a fim de conseguir captar
mais clientes e apresentar, de forma mais completa, o seu trabalho. Para isso, sua intenção é
incorporar algumas tecnologias que sejam uma cultura híbrida, ou seja, que misturem os modelos
tradicionais de representação, gerando um produto mais tecnológico para as seguintes situações:

1. Demonstrar o ambiente físico de forma virtual e o mais real possível.

2. Demonstrar a edificação de forma física com riqueza de detalhes.

Após uma pesquisa, encontrou alguns exemplos dessa hibridização na arquitetura, os quais
atendem às situações acima. Cite a seguir um exemplo encontrado para cada situação e explique
por que é híbrido e o que traz de novo para a área.
Infográfico
Antigamente, as culturas estavam divididas em erudita, popular e em massa. Cada um desses tipos
de cultura apresenta suas particularidades, as quais, ao longo do tempo, serviram para o
entendimento de cada influência cultural.

Neste Infográfico, você vai ver as principais características de cada um desses tipos de cultura,
incluindo a cultura híbrida.
Aponte a câmera para o
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Conteúdo do livro
A cultura híbrida se desenvolveu à medida que houve a percepção de que as práticas culturais não
precisariam necessariamente estar separadas em disciplinas específicas, podendo ser combinadas
entre si. A separação é importante para entender e aprofundar cada assunto, porém, isso não
significa que haja um limitador para uma única definição.

Sendo assim, a cultura híbrida traz uma forma de manifestação, na qual é possível quebrar as
barreiras culturais, entendendo que cada civilização tem suas particularidades, mas também que
novas manifestações podem acontecer a partir da junção de costumes, estilos e histórias, a fim de
formar uma sociedade conectada e miscigenada, com menos preconceitos e diferenciações.

No capítulo Culturas híbridas, da obra Artesanato e cultura brasileira, base teórica desta Unidade de
Aprendizagem, você vai ver o conceito de cultura híbrida, entendendo a sua importância para o
desenvolvimento atual da sociedade. Além disso, vai compreender, por meio de exemplos voltados
para a arquitetura e o artesanato, como esse tipo de cultura se manifesta no cenário atual de
globalização.

Boa leitura.
ARTESANATO E
CULTURA
BRASILEIRA

Vanessa Guerini Scopell


Culturas híbridas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Caracterizar cultura híbrida.


 Reconhecer a cultura híbrida como uma nova configuração cultural.
 Apontar exemplos de cultura híbrida no artesanato e na arquitetura.

Introdução
O tema “cultura” é bastante complexo, pois abrange desde comporta-
mentos até crenças, técnicas e histórias. Assim, a cultura é o reflexo do que
uma sociedade vive. Hoje, devido aos meios de comunicação, a cultura
se dissemina de maneira cada vez mais fácil, o que origina misturas e as
chamadas culturas híbridas.
Neste capítulo, você vai estudar o conceito de cultura híbrida. Você vai
ver como esse tipo de cultura surgiu, como está presente na sociedade
e como a influencia. Além disso, você vai conhecer alguns exemplos de
cultura híbrida na arquitetura e no artesanato.

Conceito de cultura híbrida


Em 1877, o antropólogo britânico Edward Burnett Tylor usou pela primeira
vez o termo “cultura”. Segundo Mintz (2010), Tylor utilizou esse termo para
se referir a todos os produtos espirituais, comportamentais e materiais da
vida em sociedade. A partir daí, compreendeu-se que a cultura poderia ser
passada de geração em geração, criando uma identidade para cada comu-
nidade ou povo. Assim, ao longo do tempo, as culturas foram divididas em
cultura de massa, cultura erudita, cultura popular, entre outras tipologias.
A cultura híbrida (2019), segundo o Dicionário Informal, surge da mis-
tura de diferentes tipos de cultura, que não se definem mais com um rótulo e
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passam a conviver em um mesmo cenário social. Portanto, a cultura híbrida


rompe as barreiras entre o que é tradicional e o que é moderno. Ela consiste
na miscigenação e na heterogeneidade cultural, que é o que representa o
mundo contemporâneo. Para Canclini (1997), o termo “hibridização” é
o que melhor abrange as diversas mesclas interculturais que marcam a
atualidade. O autor vê a cultura híbrida como algo interdisciplinar:

Assim como não funciona a oposição abrupta entre o tradicional e o mo-


derno, o culto, o popular e o massivo não estão onde estamos habituados a
encontrá-los. É necessário demolir essa divisão em três pavimentos, essa
concepção em camadas do mundo da cultura e averiguar se sua hibridi-
zação pode ser lida com as ferramentas das disciplinas que os estudam
separadamente: a história da arte e a literatura que se ocupam do “culto”;
o folclore e a antropologia, consagrados ao popular; os trabalhos sobre
comunicação, especializados na cultura massiva. Precisamos de ciências
sociais nômades, capazes de circular pelas escadas que ligam esses pavi-
mentos. Ou melhor: que redesenhem esses planos e comuniquem os níveis
horizontalmente (CANCLINI, 1997, p. 1).

Conforme Bourseau (2017), a modernidade é constituída de culturas


híbridas. Portanto, esse conceito está intimamente ligado à globalização.
Veja:

Com o desenvolvimento de tecnologias de comunicação cada vez mais


ágeis, as trocas culturais ocorrem em uma dimensão praticamente impos-
sível de registrar, dada sua magnitude. O termo “troca” aqui empregado
deve ser visto com cautela, já que a distribuição de bens e inf luências
culturais segue o padrão determinado pela hierarquização econômica e
de poder, sob a qual os países dividem-se entre “desenvolvidos” e “em
desenvolvimento” (BOURSEAU, 2017, documento on-line).

Assim, aqueles países que têm grande produção cultural acabam ocu-
pando uma posição dominante, exportando seus produtos, costumes e
padrões com mais intensidade. Nesse contexto, a expressão “[...] culturas
híbridas refere-se a uma mescla entre expressões culturais locais e globais,
sem que, necessariamente, haja um quadro de dominação — ainda que
seja de suma importância problematizar essa possibilidade” (BOURSEAU,
2017, documento on-line).
Culturas híbridas 3

Na cultura híbrida, o que é local e o que é global coexistem, e não há


mais barreiras para que seja formada uma nova configuração cultural.
Conforme Canclini (1997), para compreender uma cultura popular como
cultura híbrida, é preciso entender como essas culturas se comportam no
cenário do capitalismo contemporâneo. Segundo o autor, a cultura popular
ou identitária se caracteriza por uma relação desigual de acesso a bens de
consumo culturais e econômicos. Assim, Canclini (1981, p. 43) descreve
as culturas populares como:

[...] o resultado de uma apropriação desigual do capital cultural e de bens


econômicos por parte dos setores subalternos de uma nação ou etnia, as
quais realizam uma elaboração específica das suas condições de vida
através de uma interação conf litiva com os setores hegemônicos.

Santos (2001) acredita que o processo de hibridização das culturas


populares não diz respeito somente à incorporação de culturas de massa,
mas também a estratégias de reconversão para que tais culturas sejam
inseridas no mercado massivo. Assim, a cultura híbrida tem o papel de
fundir estruturas e práticas sociais existentes para gerar novas, por meio
de uma reconversão.
Segundo Santos (2001, p. 253), a reconversão é uma forma de hibridi-
zação que envolve processos que “[...] se constroem na relação da cultura
massiva e das culturas populares através do consumo”. Ela pode acontecer
de forma espontânea, quando acontece sem planejamento, “[...] ou é re-
sultado imprevisto de processos migratórios, turísticos e de intercâmbio
econômico ou comunicacional” (CANCLINI, 2006, p. 22).
Existe também a reconversão intencional ou forçada. Ao contrário
da espontânea, ela acontece “[...] quando o sujeito se vê diante de uma
circunstância crucial, onde tem de reconverter seus códigos culturais em
função da sua própria sobrevivência” (CUNHA, 2003, p. 31). Canclini
(2006) exemplifica que isso acontece quando se busca reconverter um pa-
trimônio, como uma fábrica ou um conjunto de saberes, a fim de reinseri-lo
em novas realidades de produção e mercado. Um exemplo de reconversão
é o Shopping Total, situado na cidade de Porto Alegre. O empreendimento
atual, que conta com diversas lojas e até um supermercado, foi antigamente
a Cervejaria Bopp & Irmãos (Figura 1).
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Figura 1. Prédio da antiga Cervejaria Bopp & Irmãos,


em Porto Alegre.
Fonte: Shopping Total ([200?], documento on-line).

Os processos de hibridização frequentemente surgem da criatividade indi-


vidual e coletiva. Eles não se restringem às artes; abarcam ainda as práticas do
cotidiano e aquelas voltadas ao desenvolvimento tecnológico. Essas reconversões
são encontradas também nos setores populares. Considere, por exemplo: os
migrantes camponeses que adaptam seus saberes para trabalhar e consumir
na cidade, ou que vinculam seu artesanato a usos modernos para interessar
compradores urbanos; os operários que reformulam sua cultura de trabalho ante
as novas tecnologias produtivas; os movimentos indígenas que reinserem suas
demandas na política transnacional ou em um discurso ecológico e aprendem a
comunicá-las por rádio, televisão e internet (CANCLINI, 2006, p. 22).

Como você viu, o termo “cultura” é muito abrangente. Assim, há diferentes tipos
de cultura, relacionados à origem, ao acesso e ao público-alvo. A seguir, você pode
conhecer alguns dos tipos de cultura.
 Cultura de massa: é o conjunto de ideias e de valores que têm como ponto de
partida a mesma mídia, notícia, música ou arte. É transmitida sem considerar as
especificidades locais ou regionais e é usada para promover o consumismo entre
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os indivíduos. Um exemplo é uma camiseta da moda que todos adquirem por


ser uma tendência.
 Cultura erudita: é resultado do conhecimento adquirido por meio da pesquisa e
do estudo nos mais diferentes campos. Está disponível para poucos e representa
uma forma de diferenciação social permitida pelo acesso ao conhecimento. Um
exemplo são os concertos ou eventos culturais mais intelectualizados.
 Cultura popular: está intimamente relacionada com as tradições e os saberes de-
terminados pelo povo. Em oposição à cultura erudita, ocorre de forma espontânea
e orgânica. Portanto, ela não está associada aos equipamentos culturais, como
museus, cinemas, bibliotecas, etc.
 Cultura material: é um campo de estudos interdisciplinares que examina a relação
existente entre as pessoas, as coisas, a história dos objetos, a fabricação e a preser-
vação. Na prática, foca disciplinas como museologia, arqueologia, antropologia e
história da arte. São alvo de estudos os elementos arquitetônicos, a literatura e os
objetos de uso pessoal e coletivo, por exemplo. Um exemplo é uma edificação
que referencie algum estilo arquitetônico do passado.
 Cultura corporal: analisa o comportamento dos seres humanos em seus mais
diferentes grupos. Reúne as práticas relacionadas ao movimento, como danças,
jogos, atividades, medicina, comportamento sexual e festividades (DIANA, 2019).

Como você pode notar, a cultura híbrida se reconfigura constantemente,


na medida em que novas formas de pensar surgem e que reconversões são
realizadas na sociedade, de modo espontâneo ou intencional. Essa mistura
cria novas realidades e insere referências no mercado moderno e globalizado,
constituindo culturas inéditas.

A cultura híbrida como uma nova


configuração cultural
No cenário de modernização e globalização, o hibridismo cultural ganha cada
vez mais espaço. Ainda que existam muitas desigualdades e disparidades
culturais, os intercâmbios possibilitam a criação de um repertório que leva
ao enriquecimento cultural. Antigamente, as culturas estavam divididas em
erudita, popular e de massa. Elas possuíam seus próprios significados ide-
ológicos, de modo que não podiam se misturar. A cultura erudita, segundo
Miranda (2017), esteve sempre muito ligada a espaços como museus, teatros
e academias de arte. Esse tipo de cultura era visto como verdadeiro, de bom
gosto. Ele estava acima de qualquer cultura popular, encarada como uma
produção rudimentar, simplória e muitas vezes vulgar.
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Mas ainda que a cultura popular muitas vezes fosse vista como algo não
tão apropriado para a sociedade, em alguns momentos esse tipo de cultura foi
valorizado pelo Estado. Isso ocorria justamente para reforçar o nacionalismo,
abafar alguns conflitos de época e legitimar os regimes políticos. Um exemplo
é o uso de faixa, camisetas, bótons, entre outros elementos com frases que
afirmam identidades ou remetem a aspectos específicos. Já a cultura de massa
já foi criticada como algo de baixa qualidade, sem embasamento histórico,
movida apenas pelo intuito de lucro da indústria, sendo considerada até des-
cartável. Porém, segundo Miranda (2017), a dinâmica social atual mostra que
a interação entre as culturas erudita, popular e de massa transcende divisões
estanques. Os tipos não devem ser vistos isoladamente, ou como melhores ou
piores entre um e outro, pois de fato se complementam de alguma maneira.
Veja o que afirma Miranda (2017, documento on-line):

Se a cultura popular se apropria de elementos da cultura erudita, ainda que na


forma de paródia, a cultura de massa influencia a cultura erudita e a cultura
popular e, ao mesmo tempo, se vale da primeira para se legitimar e se nutre
da segunda para ganhar penetração social. Estudos culturais defendem que
o receptor de uma mensagem não é um objeto passivo, manipulado pelas
elites culturais ou pela indústria cultural. Da mesma forma como uma mesma
manifestação cultural será ressignificada. A partir dos valores de cada grupo
que entra em contato com ela, a cultura estrangeira é deglutida, hibridizada
com elementos locais e vertida, gerando algo novo, em um processo de an-
tropofagia cultural.

Miranda (2017, documento on-line) ainda acrescenta que a expressão “cul-


tura híbrida” aparenta ser no fundo “[...] um grande pleonasmo, uma vez que
uma cultura pura, autêntica, corresponde mais a um discurso ideológico do
que ao que vemos na realidade”. Com isso, o autor defende que um único tipo
de cultura, visto de forma isolada, é na realidade uma cultura estática, que
não possibilita qualquer transformação. Já a cultura híbrida está de acordo
com os conceitos da atualidade e pode refletir as mais diversas manifestações,
embasadas em diferentes conceitos e situações.
A cultura híbrida, portanto, se desenvolveu na medida em que houve a
percepção de que as práticas culturais não precisam necessariamente estar
separadas em disciplinas específicas e que podem ser combinadas entre si. A
separação é importante para entender e aprofundar cada assunto, porém isso
não significa que haja um limitador para uma única definição. Canclini (2006)
ressalta que a intenção de separar disciplinas específicas para determinadas
práticas culturais esteve intimamente ligada à preocupação de manter separadas
Culturas híbridas 7

as ações culturais de acordo com as divisões sociais de uma sociedade, bem


como ao interesse de criar identidades nacionais. Essas ações foram feitas para
estabelecer que os habitantes de determinado espaço compartilhassem uma
cultura homogênea e tivessem uma única identidade coerente.
Porém, a realidade atual quebra as barreiras culturais. Entende-se que cada
civilização tem suas particularidades, mas também que novas manifestações
podem acontecer a partir da junção de costumes, estilos e histórias, a fim de
formar uma sociedade conectada e miscigenada, com menos preconceitos
e diferenciações. Segundo Bhabha (2013), a cultura híbrida proporciona a
criação de entrelugares. Para o autor, a atualidade coloca a questão da cultura
na esfera do além. Nesse contexto, o que é teórica e politicamente essencial é
focalizar aqueles momentos ou processos que são produzidos na articulação
das diferenças culturais:

Assim, esses ‘entrelugares’ possibilitam a criação de estratégias de subjeti-


vação, tanto coletivas, quanto singulares, que desencadeiam novos signos de
identidade e postos inovadores de colaboração e contestação, nos processos
de idealização das sociedades (BHABHA, 2013, p. 20).

Leia o artigo de Camila Claíde Oliveira de Souza “O conceito de entrelugares e suas


ressonâncias para pensar o currículo na perspectiva da diferença”, disponível no link
a seguir.

https://bit.ly/2ZPTHDj

Canclini (2006) destaca que, apesar de haver desencontros entre o moder-


nismo cultural e a modernização social, entre a política cultural da elite e o
consumo de massa, entre as inovações culturais e a democratização, eles não
devem ser encarados como produções incompreensíveis ou sem valor. O autor
acredita que os sentidos desses bens são construídos justamente a partir da
interação entre os artistas e que tudo, de certa forma, possibilita a criação e
a recepção de novos produtos culturais.
Conforme Canclini (2006), as diferentes estruturas do campo artístico e
as suas relações com a sociedade geram diversas interpretações das mesmas
obras. Assim, na cultura híbrida, não existem interpretações corretas, perfeitas
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e únicas das obras e produções. Nesse sentido, “A cultura é um processo de


montagem multinacional, uma articulação flexível de partes, uma colagem
de traços que qualquer cidadão de qualquer país, religião ou ideologia pode
ler e utilizar” (CANCLINI, 1999, p. 41).
Canclini (2006) visualiza o hibridismo através de um prisma positivo
que se fundamenta, sobretudo, no multiculturalismo, entendido como a
possibilidade de diálogo entre as culturas. Assim, um fator novo resultaria
do embate entre duas culturas diferentes. Para o autor, o hibridismo pode
abrir espaços a uma espécie de tolerância às diferenças culturais. Já Hutcheon
(1991) chama a atenção para o fato de que as culturas híbridas possibilitam
a contestação do discurso dominante na construção de novos discursos,
descentralizados, fundamentados no contexto multicultural. Mas a autora
também afirma que essa reorganização cultural é fundamentada e possibili-
tada pela uniformização do consumo, ocasionando ganhos e fortalecendo a
política capitalista e os grandes conglomerados empresariais, o que resulta,
segundo ela, numa contradição.
Como você pode notar, não há um limitador ao desenvolvimento da cultura
híbrida. A maioria das coisas pode ser vista como forma de cultura, inde-
pendentemente de gostos, crenças ou princípios éticos. Tudo aquilo que gera
comoção, interessa e vira referência de certa forma contém informações que
influenciam a sociedade. Isso permite que cada observador crie suas próprias
leituras, preenchendo os espaços vazios e lacunas. Segundo Sousa (2013), as
culturas contemporâneas se encontram mescladas, dialogam entre si e, para
muitos estudiosos, têm se tornado homogeneizadas, não sendo mais possível
referir-se a elas como algo único.

Exemplos de cultura híbrida no artesanato


e na arquitetura
A cultura híbrida está presente nos mais diversos ramos, tendo destaque
também na arquitetura e no artesanato. Nessas áreas artísticas, o hibridismo
se apresenta na adoção das ciências e das tecnologias emergentes. Assim, em
suas produções, os artistas adotam a robótica, as ciências físicas, a inteligência
artificial, entre outros elementos.
A cultura híbrida voltada para a arte e os desenhos é denominada arte
híbrida. Segundo Karnauchovas (2012), trata-se da chamada arte contem-
porânea, a arte atual. A arte híbrida é definida principalmente por projetos
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transdisciplinares. A ênfase principal está no processo de fusão de diferentes


mídias e gêneros para a proposição de novas formas artísticas, transcendendo
fronteiras. Veja: “Cada vez mais se produz trabalhos em Arte que extrapolam
os limites de apenas uma linguagem e/ou cultura e/ou sociedade” (KARNAU-
CHOVAS, 2012, documento on-line).
A arquitetura e o artesanato se mesclam nas obras e possibilitam cada
vez mais a difusão das culturas híbridas. Exemplos relacionados a esse
contexto são as mais variadas misturas que ocorrem tanto externa quanto
internamente nas edificações. Um exemplo da hibridização na arquitetura
é a utilização de muxarabis, um elemento da arquitetura árabe, no projeto e
na construção de casas contemporâneas. O muxarabi é um elemento vazado,
normalmente produzido em madeira. Sua estrutura, bastante detalhada e
elegante, permite a passagem da ventilação e da iluminação, mas funciona
como um elemento de vedação. Esses elementos podem ser usados tanto em
fachadas como em interiores.

Trazido da arquitetura árabe, o muxarabi é um elemento de fechamento parcial, com


aberturas em formato de arabescos. O muxarabis consistem em treliças de madeira
instaladas nas sacadas e janelas das casas. Eles foram criados inicialmente com o intuito
de que as mulheres não fossem vistas no interior do edifício. Esse elemento dá um
estilo único à edificação, tanto pelos raios solares que incidem no espaço em formas
geométricas (que remetem geralmente a animais ou plantas) quanto pelo design
excêntrico vazado. Utilizados para lugares mais quentes e com grande incidência solar,
os muxarabis permitem certo controle da entrada de raios solares e da ventilação,
proporcionando conforto térmico à edificação.

O edifício Único, localizado na cidade de São Paulo, é um exemplo do uso


dessa referência na arquitetura atual. Projetado pelo Studio Arthur Casas, o
edifício residencial conta com oito andares e teve sua fachada frontal com-
posta por painéis vazados inspirados nos muxarabis. No Brasil, o elemento
inspirado no muxarabis é o chamado cobogó. Criado em 1929 por três pessoas
que trabalhavam na construção civil, seu nome foi formado pelas primeiras
letras dos nomes de seus criadores.
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O cobogó é um elemento de vedação vazado e modular tipicamente brasileiro.


Ele proporciona iluminação e ventilação natural, conceitos básicos da arquitetura
bioclimática. Inspirado no muxarabi, esse recurso foi também utilizado, de maneira
adaptada, na arquitetura colonial brasileira.

Na Figura 2, a seguir, você pode ver a fachada do edifício Único, inspirada


nos muxarabis.

Figura 2. Edifício Único, em São Paulo.


Fonte: Pereira (2019a, documento on-line).

Outro exemplo de mistura de culturas na arquitetura é o Museu Rodin, na


Bahia (Figura 3). Essa edificação apresenta uma arquitetura de época composta
com uma nova edificação extremamente moderna. A edificação antiga foi
construída em 1912 e apresenta estilo eclético, que é por si só uma mistura
de diferentes culturas. Já a nova construção compõe com a antiga, cheia de
detalhes, diferindo-se totalmente dela, já que tem uma arquitetura de linhas
retas e volumes simplificados.
Culturas híbridas 11

Figura 3. Museu Rodin, em Salvador.


Fonte: Pereira (2019c, documento on-line).

A Casa Marques (Figura 4) é um exemplar da arquitetura colonial que mis-


tura em seu interior obras de arte contemporâneas e coloridas. Essa edificação
abriga um hotel no Rio de Janeiro, próximo ao Pão de Açúcar. A edificação
original foi construída em 1940, com janelas e pisos em madeira. A remodelação
da construção anexou outros espaços, mas manteve as características originais
da obra. O projeto permitiu a composição do colonial com o contemporâneo
por meio de obras de artistas locais.

Figura 4. Hotel Casa Marques, no Rio de Janeiro.


Fonte: Casa... (2017, documento on-line).
12 Culturas híbridas

No artesanato, a hibridização acontece principalmente por meio de ofici-


nas que qualificam profissionais. As produções manuais podem incorporar
diferentes técnicas e produtos tecnológicos, complementando os objetos e
diversificando a produção. Os objetos artesanais utilizados juntamente às ar-
quiteturas contemporâneas formam outro exemplo de hibridização de culturas.
Considere o Louveira Apartament, do arquiteto Flavio Miranda (Figura 5).
Esse projeto teve como objetivo resgatar elementos presentes na arquitetura
brasileira dos anos 1950 e 1960 e aliá-los a objetos artesanais como pratos
pintados, mantas, vasos cerâmicos, entre outros.

Figura 5. Louveira Apartament.


Fonte: Pereira (2019b, documento on-line).

A hibridização da cultura voltada às áreas do artesanato e da arquitetura


pode ser percebida também em edificações antigas onde há cortinas, tapetes
e decorações artesanais, promovendo uma mistura entre o culto e o popular.
Isso ocorre também em edificações históricas que apresentam sistemas de
segurança, lógica e som. Assim, você pode perceber que as culturas híbridas
estão muito presentes no seu dia a dia, formando novas e diferentes combi-
nações e identidades. Afinal, a sociedade está cheia de misturas: elas são a
essência do homem moderno.
Culturas híbridas 13

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em: https://www.archdaily.com.br/br/910445/museu-rodin-bahia-brasil-arquitetura.
Acesso em: 4 maio 2019.
SANTOS, M. S. T. O consumo de bens culturais nas culturas populares: identidade
reconvertida ou diversidade refuncionalizada? In: COMUNICAÇÃO e Multiculturalismo.
São Paulo: INTERCOM, 2001.
SHOPPING TOTAL. O shopping. Porto Alegre: [S.n., 200-?]. Disponível em: http://www.
shoppingtotal.com.br/site/centro-cultural/historia/. Acesso em: 4 maio 2019.
SOUSA, L. L. de. O processo de hibridação cultural: prós e contras. Temática, v. 9, n. 3,
2013. Disponível em: http://www.periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/tematica/article/
view/21983. Acesso em: 4 maio 2019.

Leitura recomendada
SOUZA, C. C. O. O conceito de entre-lugares e suas ressonâncias para pensar o currículo
na perspectiva da diferença. In: SBECE, 6., 2015. Anais [...]. Porto Alegre, 2015. Disponível
em: http://www.2015.sbece.com.br/?. Acesso em: 4 maio 2019.
Dica do professor
Atualmente, as culturas híbridas estão demonstrando uma nova configuração da sociedade,
marcada pela mistura de elementos de identidade.

Essa hibridização já ocorreu no país nos séculos passados, sendo possível destacá-la na mistura de
culturas que formaram e desenvolveram o território brasileiro.

Veja a seguir:

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Exercícios

1) A palavra cultura foi utilizada ainda no ano de 1877 e, aos poucos, foi se desenvolvendo para
os significados atuais.

Segundo o antropólogo Tylor, em um primeiro momento, a palavra cultura se referia:

A) exclusivamente aos comportamentos da sociedade.

B) unicamente aos bens espirituais das comunidades.

C) exclusivamente aos bens materiais e espirituais de cada povo.

D) a todos os produtos materiais, espirituais e comportamentais.

E) a alguns produtos materiais e comportamentais.

2) A cultura é determinada por saberes, comportamentos e modos de fazer. Com o passar dos
anos, a cultura foi dividida em tipos, os quais se diferenciam pelos grupos e pelas formas de
manifestação.

Sobre os tipos de cultura, é correto afirmar que:

A) a cultura popular é o resultado de estudos e pesquisas.

B) a cultura em massa e a cultura erudita são de fácil acesso para todos.

C) a cultura em massa considera as especificidades de cada local.

D) a cultura erudita não é associada aos equipamentos culturais.

E) a cultura popular ocorre de forma orgânica e espontânea.

3) A expressão cultura híbrida está cada vez mais presente na sociedade.

Sobre o significado dessa expressão, assinale a alternativa correta.

A) É uma cultura baseada exclusivamente na tecnologia.

B) É a mistura de diversos tipos de cultura.


C) É uma cultura divergente da miscigenação cultural.

D) É um tipo de cultura de difícil acesso à população.

E) É uma expressão utilizada para nomear a cultura europeia.

4) A cultura híbrida colabora para o desenvolvimento da sociedade contemporânea,


possibilitando mudanças no cenário.

Assim, ela colabora:

A) para estabelecer barreiras entre o moderno e o tradicional.

B) para a heterogeneidade cultural e a democratização da cultura.

C) para a divisão abrupta e limitada dos setores e dos tipos de cultura.

D) para a separação de expressões locais e globais.

E) para criar obstáculos nas novas formações culturais.

5) Segundo Santos (2001), existem alguns processos relacionados à hibridização de culturas.


Um deles é a reconversão.

Sobre esse processo, assinale a alternativa correta.

A) Se estabelece na contraposição entre cultura em massa e popular.

B) Ocorre sempre de forma totalmente espontânea e inesperada.

C) Pode ocorrer de modo planejado ou de maneira intencional.

D) Ocorre somente por meio de bens culturais imateriais.

E) Pode ocorrer de forma planejada por meio de processos migratórios.


Na prática
A hibridização é um processo que pode ser percebido em diversas áreas.

A mistura de culturas atualmente é um facilitador da criatividade, pois permite a incorporação de


variados elementos para a composição de novos produtos, possibilitando a ampliação de visões.

Neste Na Prática, você vai estudar sobre a cultura híbrida no ambiente interno.
Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

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