Cometa: Em Busca Da Felicidade
Por AA DaSilva
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Información de este libro electrónico
quando pelos fi ns de Fevereiro de 1946 os salgueiros
comeavam a lanar os primeiros botes.
Estudou Humanidades com os Padres Vicentinos.
Frequentou o ISEE (Instituto Superior de Estudos
Eclesisticos), em Lisboa, onde cursou Filosofia
e Teologia.
Trabalhou em Cabinda, para a Cabinda Gulf Oil, como
intrprete e Time-keeper.
Foi professor, empregado bancrio e chefe de
Importaes e Exportaes, em Moambique, onde
casou e viveu quase vinte anos.
Na London Guildhal University, em ligao com a La
Universidad de Alcal de Henares cursou Psicologia e
Lnguas Modernas.
Vive em Londres e a trabalha em ligao com vrias
Organizaes ligadas Sade Mental.
AA DaSilva
A. A. DaSilva nasceu em Vilar de Nantes, Chaves, quando pelos fins de Fevereiro de 1946 os salgueiros começavam a lançar os primeiros botões. Estudou Humanidades com os Padres Vicentinos. Frequentou o ISEE (Instituto Superior de Estudos Eclesiásticos), em Lisboa, onde cursou Filosofia e Teologia. Trabalhou em Cabinda, para a Cabinda Gulf Oil, como intérprete e "Time-keeper". Foi professor, empregado bancário e chefe de Importações e Exportações, em Moçambique, onde casou e viveu quase vinte anos. Na London Guildhal University, em ligação com a La Universidad de Alcalá de Henares cursou Psicologia e Línguas Modernas. Vive em Londres e aí trabalha em ligação com várias Organizações ligadas à Saúde Mental.
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Cometa - AA DaSilva
INDICE
Em busca da felicidade"
Notas do Autor
1 Última Rainha de Sabá
2 Eu-Gisela
3 TESTAMENTO
4 REQUIEM
5 Metáfora
6 Epitáfios e Poemas
7 Missú: O conto de fadas
8 Ressonâncias
9 NOTAS DE VIAGEM
10 Boda e Lua-de-mel
11 London!
12 Pablo’s Café
13 Dies irae
14 Pedra filosofal
15 Cansados de viver
16 Areias do Tempo
17 Chá-das-cinco
18 Nossa Herança
19 Bons, velhos tempos
20 Carpe diem!
21 Old Brompton
22 Sonhos e fantasmas
Epílogo: Terra-Mãe
Agradecimentos
Dedicatória: Na impossibilidade de erguer um enorme monumento em memória do meu amigo, cunhado-irmão João Cândido Andrez Cabrita, que nasceu em Algoz (Albufeira) em 13 de Maio de 1951, e, depois de uma longa e inglória luta, partiu na madrugada de 29 de Junho, 2012, aqui deixo esta simples memória para enaltecer as suas qualidades de altruismo, coragem, persistência, dedicação, carinho… E lançando mão daquelas célebres palavras que o sábio Dalai-Lama terá escolhido para definir a grande ilusão da maioria de nós mortais, gostaria de as gravar na sua lápide de epitáfio:
"Levamos uma vida de trabalho árduo para juntar dinheiro que depois gastamos a tentar curar-nos das doenças que esse esforço nos trouxe".
COMETA—em busca da felicidade
©António Alves DaSilva
15 Evelyn Fox Court
2 Kingsbridge Road GB
*****2012 halloween*****
31809.jpg A materia-prima deste livro ficou pronta em 2004. Após a publicação do rascunho
em ingles com o título Cometa-last queen of sheba
começou o processo de organização deste texto em portugues.
"Cometa
Em busca da felicidade"
Canta 0 aconchego da Terra-Mãe e a doce ilusão da felicidade no desenrrolar desta aventura a que chamamos VIDA.
400 Páginas em 22 capítulos de envolvente ficção na melíflua língua de Camões.
Uma nova bíblia onde os códigos e mandamentos fogem á linha recalcada do dogma sem sentido.
Publicação experimental prevista para 2012
Capa: Terra-Mãe de Hernani Alírio Gonçalves
http://www.facebook.com/tonywriter1946
Comentário à versão Inglesa:
Cometa-Last Queen of Sheba
, a novel of the NEW ERA by GISELA (Gisela: nom-de-plume for the author - AA DaSilva) is sort of compilation
of nine big essays which emerged from 1999 to 2004, when the author studied Languages and Psychology at London Guildhall and Alcalá de Henares (Madrid). Only two of those 9 essays were written in English, however English Language appeared as most appropriate for the first attempt at developing something as a new thesis on the sweet illusion of happiness. It’s a rough attempt (awkward at places, along these 9 long chapters) to depict a clear-cut picture of those quixotesque characters who try to weigh-up about the rat-race society and any possibility of transcendence in human life.
The hug of Mother-Earth
as Rod seems to advocate or, the Philosophy of the day
as Pablo preaches it from behind the bar of his Café… Can this be enough help, along this nebulous adventure we call LIFE?
Perhaps Portuguese originals (22 chapters, under the title Cometa-em busca da felicidade
), which is soon expected to be handed to publishers, can bring more clarity to what we mean by sweet illusion of happiness
.
Cometa
which is Spanish for kite
should be understood as conscience
, innocence
or just soul
… a bit like any last ray of hope to the old and decrepit King Solomon with no more hope for happiness than some last sweet look from his Queen of Sheba.
Buscai primeiro o Reino de Deus e tudo o resto vos será dado por acréscimo.
(Mat. 6, 33)
Notas do Autor
I - Lenda de Sabá> Cairo, Set. 2001: Uma equipa internacional de Arqueólogos publica em "Lenda e Historia" os seus trabalhos de investigação.
"…e após duros anos de trabalho em diferentes partes do continente Africano, a nossa equipa de cientistas acabou por chegar a diferentes conclusões sobre a lenda da Rainha de Sabá.
Por muito tempo foi unanimemente aceite a ideia de que o Reino de Sabá seria algures no Médio Oriente. Mais tarde houve quem o imaginasse pela bacia do Rio Níger…Mas de acordo com os nossos estudos, esse famigerado Reino terá florescido na África Oriental.
Em vastas áreas a sul do Rio Zambeze, alguns pontos importantes espalhados pelo actual Moçambique e Zimbabwe não deixam dúvidas quanto aos movimentos migratórios que deram origem ao Novo Reino de Sabá.
As Ruínas de Zimbabwe e importantes vestígios de navegação antiga espalhados pelas praias de Sofala assim como a toponímia de vastas áreas da África Central e Austral, tais como Chiva-Ababa, Sabieh e muitos outros, formaram a base de investigação que levou às conclusões actuais.
Podem agora os historiadores e arqueólogos corrigir os seus mapas e alterar as suas teorias quanto aos acontecimentos de centenas de anos, ao longo dos quais, milhões de descendentes dos súbditos de Shabah se deslocaram para sul do Zambeze em busca do ouro e dos famigerados diamantes, na ilusão de fama, felicidade e glória."
II - Título> Alguns dos títulos que inicialmente pareceram estar de acordo com os tópicos da novela, tais como Última Rainha de Sabá
, Versos do Rei Salomão
, Sonhos e Poemas de Pablo
…foram eventualmente abandonados.
Depois, esteve em consideração algo mais perto da linguagem alegórica usada no Mundo Ibérico: "FADO-COMETA! Fado… é o fado – o destino, e, COMETA é a palavra castelhana que em ingles se traduz por
kite e em portugues as crianças chamam de
papagaio ou
estrelinha".
Mas, por fim, para simplificar, ficou apenas a Cometa! E aqui, neste trabalho onde as equivalências alegóricas têm o seu papel para a compreensão da história e dos conceitos filosóficos, COMETA poderá ser traduzido por "alma ou
consciência".
E assim, para efeitos de concordância gramatical, COMETA será considerada no feminino - a minha Cometa!
III - Circunstância> Quando o autor estudava Psicologia e Línguas na London Metropolitan Univesity em ligação com a Universidade de Alcalá de Henares, nos primeiros anos deste novo Milénio, a par de interessantes leituras houve desenvolvimentos a nível global e familiar que o levaram a ir tomando notas muito sentidas de tudo o que ia observando. Também os ensaios académicos iam traduzindo esses trágicos momentos da História:
Setembro 11, 2001, ao começo da tarde, esperando o comboio para Madrid, ia concentrando a minha atenção nas páginas de Rebelion de las Masas
. As catastróficas imagens no ecran da Gare do Oriente não podiam deixar-me impune para seguir aquela vidinha de rotina em que os problemas pessoais se empilham para nos envolver em dramas que nos vão distraindo ao longo dos dias e dos anos. A partir desse momento a vida mudou; a transcendência das nossas existências rotineiras foi forçada a subir para um novo escalão de consciência. E, assim foi nascendo a minha COMETA!
Ora, como a par dos temas psicológicos havia o estudo da língua espanhola e francesa, alguns dos ensaios e projectos, com títulos tais como O homem normal
, Londres em tempo de mudança
, Rumo à felicidade
, etc., etc., não foram escritos em Inglês. Quando no entanto surgiu a ideia de fazer um arranjo de compilação e síntese de todos os ensaios (alguns originalmente escritos em inglês), a língua que se apresentou à frente de todas as hipóteses foi a língua inglesa, e, por isso é que apareceu no mercado Cometa-Last Queen of Sheba
como um rascunho do presente texto em PORTUGUES.
IV - História> "COMETA" é uma história contada por Gisela, a neta de Quixote e Dulcineia, quase no seguimento das cerimónias fúnebres, pelos finais da terceira década do século XXI. E quando a jovem ainda rebuscava pelos caixotes guardados no apartamento do pai – Ely - à procura de recordações esquecidas pelo sótão e pelo fundo das gavetas, recebe um email da madrinha –Missú - que está sentada ao volante do seu Land-Cruiser enquanto Pablo dorme pacificamente ao seu lado.
As memórias que Missú gurdara sobre aquele grupo quixotesco que se juntava em Londres no Pablo’s Café
, aí pela viragem do Segundo Milénio, foram passadas em Testamento para Gisela.
O chamamento da Terra e do Céu confundem-se e nem a evolução tecnológica parece ajudar muito na tarefa que é o "caminho da felicidade".
A filosofia do dia
como é pregada por Pablo e o aconchego da Terra-Mãe
como é advogado por Rod poderão ser a base do sucesso na labiríntica e complexa jornada a que chamamos VIDA.
V - Tese> Pour tous, il n’y a q’une façon d’entrer dans la vie comme d’en sortir
(grito final do Rei Salomão: Livro da Sabedoria, 7, 6 - Traduction Oecuménique de la Bible, Editions du Cerf, 1975)
R – Deixa-me em paz, monstro de tristeza! Vai-te da minha frente, pesadelo de esquecimento e morte! Não vês que sou o rei – o famoso Rei Salomão que todo o mundo admira?
I – Papá, papá! Acorda! Não podemos chamar a atenção da guarda real. Estão à nossa procura; está tudo em alvoroço…temos que partir! Vamos, vamos! Dá a mão ao teu filho Isaac. Já organizei um plano para deixar o Palácio.
R – Quem pode avaliar o abismo onde me sinto? Quem pode calcular o meu desespero? Poderá algum sábio chegar a conhecer as profundezas da alma? Já não pertenço a este mundo; não sinto mais o sangue a correr nas veias; só vejo sombras e silhuetas estranhas a mover-se à minha volta; não há nada mais que possa alegrar o meu coração. Qual é o interesse de continuar assim? Como é que posso encontrar uma última fonte de alegria, um fiozinho que seja de felicidade e conforto antes de descer ao Hades?
S – Deixa-o descansar mais um pouco, Isaac. Não vês que os seus pensamentos já são muito confusos? O que podes esperar de um ancião a quem já falta a vista, por mais que tenha sido aclamado como o sábio dos sábios? Quem sabe? Talvez, tudo o que lhe poderá dar um pouco de alento seja a perspectiva de uma morte honrosa, caindo aos golpes da espada de um guerreiro, no meio de toques de trombetas…
I – Oh, irmão Samuel! Francamente, não sei de que é que estás a falar!?
S – Irmão Isaac, a vida não pode ser uma perpétua Primavera. Tudo anda; tudo roda…É como as estações do ano: à Primavera sucede o Verão e logo vem o Outono para dar lugar ao Inverno. E, logo a seguir, com um pouco de paciência, outra vez as nossas colinas se cobrem de um manto de alegria. Em minhas viagens pela Grécia e Egipto, pude perceber muitos segredos que envolvem a nossa existência; mas, quem sabe tudo o que está para além do Hades? Aqui temos o nosso pai, o mais sábio dos sábios que chamou para junto de si todos os famosos matemáticos, filósofos e astrólogos… aqui o temos nós tateando para encontrar um último sopro de alento que o mantenha na doce ilusão de uma vida feliz…
I - Xiu! Xiu! Eis que acorda dos seus pesadelos. Vê se falas baixo…Mas, voltando, onde ias…Ehm, não sei mesmo onde queres chegar com as tuas filosofias! Para mim a vida é um dom de Yhaveh…humm…
S – Tá, bom, tá bom! Vamos deixar as coisas por aí. O que agora precisamos é aprontar tudo e andar com destreza, olhos e ouvidos bem alerta. Quando a aurora despontar já teremos que estar ao abrigo dos rochedos das colinas, fora dos jardins do Palácio.
I – Sim, meu irmão, corremos grande perigo e as esperanças de as coisas correrem a nosso favor…Ehm… o que poderá fazer aquela centúria de guerreiros fiéis que ainda terão de atravessar o deserto para nos vir socorrer? Já pensaste nos milhares de guardas reais espalhados pelo palácio e por toda a cidade – todos esses pérfidos generais que se revoltaram contra o rei?
S – Sim, irmão Isaac, terás razão; mas, quem sabe se o nosso mensageiro já contactou o fiel comandante Ben Gulion na fronteira de Sudoeste? Ele logo irá juntar o seu exército aos velozes corcéis de Sabá!
I – Tudo muito hipotético, meu irmão! Para já, o que me parece melhor é pegar nos nossos alforges e levarmos o rei pelos subterrâneos até às portas que dão para lá do bosque. Foi aí que combinámos encontrar-nos com o fiel ajudante de copa. Ele deverá ter levado quanto pôde de farinha, azeite, nozes e mel. Espero também que se lembre da senha…
S – Espero que sim! Vamos, vamos, e que nos proteja a sombra do Altíssimo! Oh, como eu tenho medo destes labirintos até chegar ao bosque real! Quem me dera ouvir as trombetas e os tropéis do deserto! Será que não vamos ser surpreendidos pela guarda…
I – Não sejas tonto! A estas horas todos dormem sob o efeito do vinho…e, caso algum ainda tivesse força para gritar…não tens aí a tua adaga?
S – Louvado seja o Senhor dos Exércitos Celestes! Vamos, vamos e que Ele oriente os nossos passos!
I – Sim, vamos apertar as sandálias e preparar a tocha. Em breve estaremos a salvo.
S – Estou um pouco preocupado com a fragilidade do nosso pai. Deixa ver se come um pedaço de pão e bebe um gole de vinho para dar força aos seus joelhos.
I – Espero que o servente tenha encontrado um jumento…Vamos, vamos! Vamos estugar o passo. Em breve estaremos a salvo!
R – Graças te dou, oh Senhor meu Salvador! Tantas vezes ergui para ti a voz desde que os meus olhos deixaram de distinguir entre o dia e a noite! Tantas vezes levantei as minhas mãos como uma criancinha pedindo a ajuda dos braços maternos…a vida do rei ou do sábio, nada tem de mais que o simples mortal quando chega ao fim a caminhada dos seus dias. Como fui insensato ao pensar:
"Sou o rei; sou o mais sábio dos sábios; que poderei temer?
Mas agora sei que ao chegar a este ponto voltamos a ser crianças que têm de ser cuidadas para que não pereçam. E pior do que isso, temos que estender a mão e pedir ajuda para não tropeçar. E depressa nos transformamos num montão de esterco que é preciso cobrir. Que tipo de esperança poderei acalentar? Quem me dera poder uma vez mais ver o nascer do sol! Quem poderá dizer: ajoelhai, que está a passar o Rei de Israel
? As pessoas têm que gritar no meu ouvido e ninguém sentirá receio de uma gargalhada na minha presença. Os meus dentes já não podem trincar um pedaço de cordeiro e mesmo o pão tem que ser molhado no vinho para eu poder saboreá-lo. Quando me trazem uma das lindas donzelas de Israel que posso eu fazer? Daqui do meu abismo, meu Senhor, Altíssimo, Guia do Povo de Israel, ergo as minhas trémulas mãos – deixa que o teu servo possa ver a tua face ao nascer do sol!
S – A Rainha de Sabá! A Rainha de Sabá! É ela! É ela! Conheço o trote dos corcéis e dos camelos. Escutem, escutem: conheço o toque! Vamos, vamos; estamos salvos. Viva a Rainha de Sabá!
R – Sabá? Sabá! Onde está ela? Oh! Oh! Oh! Bendito seja Yaveh para sempre! Já vejo! Já vejo! Samuel, Samuel, vê se me arranjas aí um estileto e uma folha de pergaminho!
S – Sim, meu pai, aqui tens tudo!
• R- Oh!!! Deixa-me descansar em teus braços minha bela amiga dos tempos
• da adolescência,
• minha bela cigana dos
• tempos da juventude.
Deixa-me embriagar com o teu perfume de rosmaninho e alfazema.
A tua beleza não precisa adornos
Como eu gosto da tua pele morena!
O odor do teu corpo é
a fusão da terra e do céu.
Fazes-me sentircomo um rei
nestas colinas.
• RS- Vamos esconder-nos entre as urzes, meu querido; vamos para aquele nosso refúgio entre os rochedos. É aí que vivemos o nosso mundo de doce ilusão.
• R- Sim! É melhor o nosso esconderijo do que todos os palácios; é mais confortável do que todas as casas de tijolo e cimento; é aí que se desenvolve o nosso amor.
• RS- Come estas amoras, meu querido; come-as todas sem parar. Come também esta maçã que colhi para ti junto ao rio.
• R- Quão bela és minha amada! Os teus olhos reflectem todas as nuances destas colinas; o teu cabelo é como a aveia silvestre a ondular pelas encostas ao sopro da brisa; os teus dentes são como estes rochedos que filtram a chuva a escorrer para o vale; o teu pescoço é fofo e morno…como és bela! Como és bela, minha querida!
• RS- Termina o teu vinho, meu querido, e vamos embora para debaixo do castanheiro grande. Aí poderei passar nos teus braços a hora da sesta.
• R- Quando olhei os teus passos passando a orla do deserto, bela como sempre, altiva e magnificente, logo esqueci a beleza das muralhas que construi à volta da cidade. O teu cabelo dançava ao ritmo da brisa das colinas, leve como um pássaro, doce como o luar, brilhante como a aurora… Estou pronto, minha querida! Eis-me aqui esperando a tua chegada, aqui naquele mesmo lugar onde nos encontrámos a primeira vez. Os castanheiros já cresceram e está a chegar o momento de deixarem cair as castanhas. As colinhas estão cobertas de arbustos com amoras e doces abrunhos. Tudo é igual como no nosso primeiro encontro! Como poderia eu esquecer-me de ti; esquecer aquele primeiro momento em que te vi? Deixa-me agora terminar os meus dias na doçura dos teus braços e gozar a paz e quietude destas montanhas.
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Última Rainha de Sabá
Atravessando as largas vidraças do Restaurante OCEANA, os meus olhos perdem-se na imensidão do Oceano Índico à minha esquerda. Para a direita as ondas lamacentas do PÚNGUE e do BÚZI, lutando contra a maré que sobe do Índico reflectem o fulgor do globo dourado que paira por cima das montanhas de Manica, Chibavava e Zimbabwe.
Por longos minutos a corrente de pensamento é desviada do concreto que me trouxe até aqui: Por um lado, é o azul do oceano a levar-me até um norte longínquo de onde terão partido os filhos de Sabá que navegaram até estas praias de areias brilhantes; por outro lado são os misteriosos reinos perdidos na densa floresta para lá das montanhas a Ocidente.
Mas já os fortes vapores vindos da churrasqueira me fazem voltar ao aqui-e-agora da minha circunstância e já não vejo o momento de saborear os famosos camarões grelhados da costa Moçambicana. Mas terei que esperar por Cecília, a jornalista do NOTÍCIAS DA BEIRA. A mensagem deixada no meu portátil é bem explícita:
Gisela, é impossível ir receber-te ao aeroporto; mas estará lá o nosso motorista do NOTÍCIAS. É o Rolin – hás-de vê-lo com um cartaz com o teu nome. Espera por mim no OCEANA. Tem um pouco de paciência! Até logo!
Sempre detestei esperar; mas enfim, mais do que esperar custa-me que alguém tenha que esperar por mim. E, envolvida neste meu traço estóico, cá estou tirando partido das duas palhinhas enfiadas no coco verde – ou lenho como lhe chamam localmente. É um sabor como não haverá igual. Lembro-me do que a minha avó contava a respeito desta preciosa seiva por aqueles anos quase logo a seguir à independência:
Segundo ela me dizia e acho que também o meu pai, apesar de não ser muito de falar desses tempos da sua infância, ao menos uma vez me acenou que sim que era verdade, os médicos dos regimes Marxistas-Leninistas que vieram dar cobertura na queda das instituições coloniais teriam muitas vezes utilizado a seiva do lenho como soro nas mesas operatórias dos Hospitais da Beira e de Quelimane.
Já quando o avião sobrevoava a baixa altitude estas enormes planuras moçambicanas pude ver a imensa profusão de coqueiros e cajueiros. Em algum ponto da WIKIPÉDIA lembro-me de ter lido que foi por aqueles tempos da Invasão Verde dos filhos de Sabá, vindos da Arábia e da Abissínia, quando a plantação destas maravilhosas árvores começou. Lendas ou factos, para mim, neste momento em que começo a romagem pelas terras cheias de recordações, tudo é cheio de significado e vejo-me mergulhada em meditação. Sim, a saída do avião e a brisa quente do Oceano Índico a afagar-me o rosto foi um doce despertar, como se tivesse atravessado a cortina para outra dimensão.
Do aeroporto para o ponto-de-encontro, depois de passar pelo Hotel Moçambique, foi um deslizar reconfortante ao longo da linha azul do oceano. Ao dizer o meu nome logo fui conduzida para uma mesa junto às enormes vidraças que dão para as areias douradas da baía e quase de imediato este meu precioso refresco foi colocado à minha frente.
E o meu sonho começa a desenrolar-se ao ritmo do meu olhar pela paisagem sem limites para lá das areias escaldantes, voando por cima dos pinheiros das margens e dos barquinhos dos pescadores, pela costa acima até aos mistérios das terras etíopes, trazendo até mim, aqui sentada em frente deste lenho refrescante, tempos e lugares distantes ,que de repente se tornam um fragmento do mistério do aqui-e-agora, diante do sorriso aberto de Cecília, tal como eu, cheia de ansiedade com o nosso primeiro encontro, depois de tantas e tantas vezes nos termos visto nos ecrãs do computador.
NB – Oh, minha querida! Imensas desculpas. Não me foi possível estar no aeroporto! Como foi este vôo directo de Lisboa à Beira? E o hotel o que te pareceu? Ah! Deixa-me abraçar-te outra vez!
G – Ah! Cecília! Finalmente podemos ver-nos cara-a-cara! A viagem? Sim! Não! É que, à última da hora, acabei por optar por este vôo que pára na Ilha do Sal e Luanda. Assim, tive a oportunidade de tratar de uns assuntos pendentes. Estes voos directos, segundo o meu pai me disse, existiram até ao fim dos anos setenta – mais ou menos quando ele nasceu. Agora foram relançados, o que é muito bom para o desenvolvimento desta região central moçambicana, não é? Hum…Ah! O hotel!? Bem, ao descer para a recepção, depois de ter pousado as malas no quarto, enquanto esperava pelo Rolin que tinha ido abastecer, estive a admirar todos aqueles troféus de caça que adornam as paredes… Bem, se queres que te diga a verdade, não sou muito do género… Bem, acho que deviam deixar em paz todas essas girafas e leões! O que te parece?
NB – Oh, Gisela! Vê-se mesmo que estás ligada ao Movimento Verde! Mas, então, conta lá: como é que resolveste vir à minha terra? Claro que não és uma simples turista como outra qualquer que vem para ver a Gorongosa ou as praias do Bilene!?
G – Oh, não! Claro que não! Sabes que sou uma jornalista aventureira por conta própria e agora não tarda que me possa considerar uma escritora: Em Londres, deixei tudo preparado para o lançamento de Cometa-Last Queen of Sheba
. Bom, também acabo de assinar um contrato com PALOPS TURISMO E VIAGENS, LDA… lembras-te? Foi em 2036 que eu terminei o meu primeiro contrato com eles e foi por essa ocasião que trocámos as primeiras mensagens…hum…já lá vão cinco, quase seis anos, não é? Bom, mas agora, como já sabes, foi Moçambique… este chamamento especial, compreendes?
NB –Sim, penso que compreendo. Acho que já nos conhecemos o bastante para nos compreendermos um pouco. A Redacção do Notícias da Beira ficou interessada na tua história e nos teus projectos da versão Portuguesa de COMETA… e, aqui estou, encarregada de ser a tua guia neste primeiro encontro com a terra dos teus antepassados – pelo lado da tua avó paterna, claro!
G – Oh, Cecília! Até me fazes sentir pequenina! Obrigada por tudo, minha querida!
NB – Oh, Gisela, não tem de quê! O contacto com a terra dos nossos avós é sempre um motivo de excitação. Eu sou moçambicana por nascimento, mas o meu avô nasceu em Portugal, não muito longe da terra natal do teu avô, uns setenta quilómetros para sul, na margem norte do Rio Douro, aí onde crescem as uvas que dão o Vinho do Porto. Ambos desembarcaram nestas praias do Índico… Sim! Assim se vai desenrolando a vida: o teu avô lá se casou em 1976 com a mais bela filha desta terra, nascida não longe daqui…e, depois, nasceu o teu pai, do outro lado da fronteira, no Malavi, que antigamente se chamava o Niassa Britânico. Por esses tempos, há mais de meio século, logo após a independência em 1975, Moçambique tinha uma assistência médica que deixava muito a desejar…Claro que o teu pai deve falar-te dessas peripécias!?
G – Sim! Já vejo que conheces a minha história. E, o teu pai? E o teu avô ainda é vivo?
NB – Oh, Gisela! Hum…vai para três anos, sim, aí pelos fins da estação quente de 2039…hum, demos com ele caído sobre o teclado…hum, assim deixou a meio o seu livro "Sofala, Chibabava e Zimbabué: os mistérios do rei Salomão"…
G – Oh, que pena! Haveria de ser um um livro interessante!
NB – Sim, é um tema interessante. E é interessante também como no teu livro, conforme me foi dado notar pelo texto que me enviaste, ainda antes de decidires sobre qual editora irias escolher, retomas este tema do velho Rei Salomão desiludido de tudo, buscando uma fonte de esperança. Bom, tudo somado, e apesar daquilo que me dizias em algumas das tuas mensagens quando estavas em Londres e já tinhas o livro, digamos, tecnicamente terminado, acho que o essencial… Talvez… Talvez a forma! Mas, como agora já estás a trabalhar seriamente na versão…
G – Pois, o facto é que já estou a trabalhar nesse projecto, quer dizer, já estou a pensar em português! E, como já te expliquei, não se deveria aqui falar de tradução a partir do inglês, já que a maioria dos textos originais foram escritos em português e espanhol. E com isto já estarei a responder ao que me perguntavas sobre os meus verdadeiros intentos para esta visita a Moçambique, ou seja, a terra da mãe do meu pai. Para mim, ela é a imagem da Rainha de Sabá, a estrela que gera luz e esperança no rosto de um Rei Salomão tomado pelo desespero. Antes de organizar esta jornada até ao coração da África já fiz uma longa romagem pelas terras do meu avô e do seu amigo Pablo, o meu padrinho Pablo… Às vezes até me rio sozinha, quando me lembro daquelas animadas quixotices! Mas, no fundo, podia ver-se a pureza de alguém, que busca, sem preconceitos, desvendar o mistério da alma…
NB – Desculpa, Gisela; estou perdida! Deixa-me cá tentar ver o enredo… Hum… Não! Não! Deixemos agora isso! Onde é que nós íamos, mesmo? Ah! A versão portuguesa! Então, achas que financeiramente…
G – Bom, falando em termos de lucros, bem sabes que um livro é uma aposta muito volátil, e, a língua portuguesa…
NB – Desculpa, Gisela, mas terei que discordarr com as tuas reticências. Temos que ter em linha de conta o quanto a língua portuguesa subiu em cotação como língua viva, ao contrário, por exemplo, da língua francesa que nos últimos cem anos passou de número um para um sexto ou sétimo lugar. A língua portuguesa continua a crescer… Mas, olha só! Quem sou eu para estar aqui a ensinar o padre-nosso ao padre-cura! Voltemos aos personagens do teu livro. O meu avô falou-me algumas vezes do teu avô e daquelas terras serranas de onde eram originários. Do Rod e Missú… Hum…Mas, tu, claro…
G –O Pablo e a Missú eram os meus padrinhos. A vida deles, por aquilo que eu pude presenciar e pelo pouco que o meu pai conta… Sim! Acho que já te disse que o meu pai não é muito de remexer com o passado! Pois, pude também lançar mão de todo esse material que foi deixado pela minha avó, pela Missú, os poemas do Pablo… Se eu te falar das minhas experiências aquando da minha visita às montanhas do Barroso e do Larouco… Até parece que o ar, o aroma da carqueja… Às vezes tinha a impressão de que todos eles andavam por ali… Estranho! Muito estranho! Pois, quanto ao Rod, ou seja o Rodrigo O’Sulivan, claro que não o conheci. Foi um dos muitos que foram tragados pelas chamas das malfadadas Torres Gémeas. Lá ficou com a filha do primo Big, a Gisela… Por essa altura ainda eu não…nem sequer os meus pais se conheciam… Pois! Se ela vivesse teria agora 43!
Rod, Rod…Sabes que ele veio a Moçambique um par de vezes! A primeira vez veio representar o Partido Socialista… Acho que esteve ali no Pavilhão dos Desportos a dar uma conferência!? Mais tarde havia de passar ao Partido dos Verdes e dedicar-se de alma e coração ao Meio-Ambiente.
NB – Estou a ver; estou a ver toda essa história, esses tempos da juventude dos nossos avós, tempos bem diferentes, claro! E a propósito de tempos: nasceste…pois! Exactamente! Quinze de Setembro de 2010. Poderíamos ter cortado o bolo de aniversário juntas se tivesses vindo há um mês! Bom, como se diz: há mais marés que marinheiros
!
G – Pois! Pois é! Sabes que também a minha avó nasceu em 15 de Setembro!? A minha avó! A minha avó Dulcineia! Sabes que desde o primeiro dia em que o Pablo a conheceu, pelos meados da década de 90 começou a chamar-lhe Rainha de Sabá? A minha madrinha, essa, ao princípio parece que se deixou levar por essas coisas de ciúmes, compreendes? Mas depois, repara como pelo Outono de 2003, já quebrada e macerada, pela morte da Giselinha, do Big e do Rod… Sim, então, quando teve que voltar a Londres para arrumar os assuntos financeiros referentes ao Café e ao O’Sulivan Lettings, que entretanto tinham ficado sob a orientação da irlandesa, solteirona, tia do Rod, aí Missú fez questão em ir ficar com a minha avó, e, como ela me dizia em resposta as minhas perguntas adolescentes, fui receber a
coroa"…
NB – Desculpa, Gisela, se interrompo, mas, não achas um excesso de fantasia e metáfora…? Talvez, se te debruçasses mais sobre a vida do dia-a-dia, os problemas dos relacionamentos, as dificuldades financeiras…sei lá, menos fantasia e símbolos?
G – A minha madrinha muitas vezes me falou do seu relacionamento pouco vulgar com o meu padrinho, mas nunca entrava nesses pormenores que os meios de comunicação dos últimos cem anos tornaram vulgares. E também nos relacionamentos entre o meu padrinho e a minha avó… Como hei-de dizer? Também, conforme a minha madrinha me confessou, havia muitas más línguas. Mas no que toca ao meu avô e ao meu padrinho, a primeira razão para a sua amizade seria certamente o facto de virem da mesma cidade nortenha. A minha avó, essa, como dizias, era uma das lindas filhas desta terra onde, com o impulso colonial dos anos sessenta viriam parar muitos Portugueses não só como soldados mas também como professores, diplomatas… como foi o caso dos nossos avós. Terá sido aqui certamente que a avó começou a apreciar a natureza e todas as coisas simples que a Terra-Mãe nos oferece. Ela era inigualável em seus cozinhados e também no que respeita a conhecimentos de plantas para tratamentos disto e daquilo. Naquele tempo em que estas coisas da Nova Era e das Medicinas Alternativas eram ainda coisas olhadas de sobrolho franzido… Sim, a minha avó tinha aquele carisma que flui naturalmente como um regato de montanha. Não é para admirar, podes crer, toda aquela, como direi…veneração!?…que o padrinho tinha por ela. O meu padrinho! Sim! O meu padrinho era aquele personagem de outro mundo! A sua atitude perante a vida… Ainda me lembro de uma vez em que teria ficado de boca aberta com alguma história ou alguma das suas explicações singulares acerca do mistério que nos envolve: Ele olhou-me com carinho e depois como que perdido no infinito, dava a sua receita para uma atitude correcta perante a vida:
"A vida não é mais que o dia folgazão da borboleta; um mistério que se desenrola entre o nascer e o pôr-do-sol. O que mais temos a fazer senão, quais crianças de boca aberta ante o arco-íris, olhar o sol que desponta por trás das montanhas? Depois, com ele, o globo doirado que se afunda no mar, vamos também, sem pressa, quando for a nossa vez. E, na espera, nada mais há a fazer senão manter o sorriso e a admiração da criancinha".
Já viste, Cecília? E ainda me lembro dos comentários da minha avó:
"Sim, sim! Para o teu padrinho, morrer não é o problema; o que ele procura é estar saudável e alerta para o dia que começa".
NB – Estou a ver! Estou a ver! Aliás, nem deveria fazer essa observação, já que tu como autora é que sabes como tocar a corda exacta, não é verdade? E, deixa-me perguntar-te: Tencionas fazer algumas alterações substanciais, agora que estás a pensar na versão portuguesa?
G – Bom, para te falar com franqueza, ainda nem contactei nenhuma editora e por outro lado tenho andado a aprofundar os meus conhecimentos sócio-historicos sobre os últimos 150 anos da nossa história – tanta coisa que ainda há por aclarar!
NB – Corrige-me se estiver errada; mas fiquei com a impressão de que para além de não te debruçares sobre problemas psicológicos, pelo menos em seus pormenores sociais mais prementes, também não parece que tomes algum acontecimento histórico em particular…
G – Não! Não! De facto, poderei ter uma costela de historiadora ou psicóloga; mas fundamentalmente sou uma jornalista que, dadas as circunstâncias, se tornou escritora de ficção. História será outro tipo de ficção. Os, assim chamados, factos históricos não serão mais do que lugares-comuns talhados ao gosto e interesse da Sociedade, ou Besta Soberana, como o meu padrinho costumava chamar ao Matrix, que parece governar a vida de toda a gente com as suas tradições e códigos, que nem um espartilho de aço, compreendes? Considera, por um momento, aquele personagem que normalmente chamo Rod. Estás a ver? Historiador, epigrafista, arqueólogo, heráldico, genealogista, filólogo, político…e ao mesmo tempo o poeta, o amante da Natureza…Tenho andado a ler uns dossiers que ele deixou com a minha madrinha e que ela passou para a minha avó. Aí se pode adquirir uma ideia do que eram as pequenas comunidades ibéricas nos dois primeiros quartéis do século XX e muito em particular a sociedade Portuguesa pelos fins dos anos 50, quando se aproximava o fim do Salazarismo, com a guerra das colónias africanas. O drama do Rod foi o de muitos jovens estudantes que logicamente não podiam concordar com uma tomada de armas para fins tão injustos. E no caso do Rod, em vez de se refugiar na França ou Escandinávia, foi para onde poderia ter apoio, ou seja, a Grã-Bretanha de onde o pai era originário. E também, o facto de a família do pai ter as raízes na Irlanda do Norte ter-lhe-á despoletado todo aquele interesse pelos sítios arqueológicos celtas que abundam a norte do rio Douro. Não sei se estás a ver o meu ponto de vista, mas o que realmente se pretende com a criação de personagens deste tipo, assim com linhas quixotescas com ar indefinido… Temos crenças e lendas, símbolos e tradições: Assim somos, nós, os escritores de ficção – assim, uma espécie de astrólogos em relação aos astrónomos, compreendes? Pois, no meu caso, é assim que eu me sinto em relação aos historiadores!
NB – Não sei! Não sei! Sinto-me a navegar sem rumo num oceano sem margens… Talvez a minha pergunta… Bem, o que eu gostaria de perguntar é: Há alguma época, alguma comunidade, tipo de vida em especial…?
G – Bom, se queres pôr as coisas nesse contexto, digamos então que estamos na segunda metade do século XX e o foco central é uma sociedade de desajustados dentro de um quadro que já não comporta o alargamento dos horizontes. Aí se movem personagens que, mais ou menos como o que terá acontecido há dois mil e tal anos, no caldeirão helenístico onde fervilhava o germe do Cristianismo… Compreendes onde quero chegar? Bom, então, surge a necessidade de encontrar novos caminhos para a felicidade… Estás a ver? Assim é que tive de pensar na criação de um pequeno mundo, um pequeno paraíso perdido onde o Padre Zé, a Dona Marta, a pia baptismal da pequena igreja românica de Bucella junto a Aquae Flaviae…tudo isto mais ou menos contraposto a um mundo londrino., nova-iorquino…onde se desenham horizontes impensáveis. Claro que a Igreja ou a Cristandade, tudo baldeado para o caldeirão da Besta ou seja a Sociedade vigente - o Império Romano…
NB – Ah! Bom! Já estou a ver: o teu palco central seria o Império Romano!
G – Não, não! Nem penses nisso, Cecília! O meu trabalho não se estrutura a partir do Império Romano… e até, se fosse para uma análise histórica, começaria a ficar do lado daqueles que actualmente acham que se tem dado ao longo dos séculos demasiado realce ao Império Romano. De facto, parece estar a ganhar terreno aquela ideia de que os Romanos nada mais foram do que salteadores organizados, arrasando as estruturas Celtas…Bom! Não cabe aqui nesta nossa conversa um debate sobre isso, pois não? Deixa-me então partir do princípio que o Império Romano apenas alargou os carreiros das montanhas e fez as suas estradas e pontes para melhor explorar o Planeta.
E falando de Planeta, o nosso Planeta Terra, logo vem a nossa aspiração à felicidade. Em Última Rainha de Sabá
ou "Fado-Cometa", como provavelmente será chamado este livro, teremos então um grito de desespero e um raio de esperança: como é que nos vemos a nós próprios a uma luz das realidades últimas…será que somos apenas um mecanismo, um montão de átomos que obedecem a uma lei fatídica e sem consequências para além da Biologia, ou seremos, realmente uma alma prisioneira…? Materialistas? Espiritualistas? Poetas piedosos? Religiosos fanáticos? Cavaleiros quixotescos lutando contra os moínhos da ilusão? Que sei eu?
NB – Então, quer dizer que cada personagem da tua novela estará enquadrado numa corrente…?
G – Não! Não! Nada poderá algum dia ser assim tão claro e definido como isso! Mas, claro que há paradigmas, caixilhos do pensamento, se assim podemos expressar-nos. Por exemplo, o Rod, ainda uma criancinha chorando no meio dos destroços do automóvel dos pais, passa para os braços do avô, Dom Lopes e os carinhos da avó Dona Marta. Ela é o símbolo daquela paciência cristã, daquela fé sem limites, e, por outro lado, de um certo fatalismo e obscurantismo, herança de uma Sociedade Ocidental judeo-cristã semeada de becos pouco iluminados…
NB – Acho bastante estranha a maneira como falas destas coisas! Afinal, estudaste Teo…?
G – Espera! Espera! Deixa-me explicar um pouco! O meu padrinho foi quem estudou Teologia, não eu! Entre todas aquelas pastas que a minha madrinha e um tal amigo dela, chamado Zen, deixaram com a minha avó e que acabei por descobrir no sótão do meu pai, encontrei um enorme dossier em A4 com o título De Aristóteles e Alexandre até Paulo de Tarso
. Trata-se de uma obra que nunca foi publicada, mas que no meu entender poderia entrar na lista das inúmeras publicações que