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Crime Scene

A alarmante situação dos desaparecimentos de mulheres pelo mundo

Cynthia Pelayo aborda o tema em Poemas para Meninas Esquecidas na Escuridão

23/09/2024

“Avise quando chegar.” Quantas vezes já ouvimos mulheres falando isso umas para as outras? Uma mãe falando para a filha? Uma amiga para outra amiga? Por mais chocante que pareça ser, a perspectiva de não chegar ao destino final e desaparecer para sempre é algo que infelizmente aterroriza mulheres do mundo todo. 

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Todos os anos, milhares de mulheres desaparecem de nossa sociedade. São crianças, meninas, adolescentes, mulheres adultas e idosas. Não importa a idade. São trabalhadoras, estudantes, esposas, mães e avós. São pessoas. Pessoas que têm suas vidas roubadas em questão de instantes e cujos casos jamais são solucionados. Ignoradas, esquecidas, arquivadas. Apenas mais um nome entre tantos outros. Mulheres que têm seus sonhos roubados e cujas famílias e entes queridos, por sua vez, são roubados do direito de dizer adeus.

É isso que motiva Poemas para Meninas Esquecidas na Escuridão, obra indicada ao Elgin Award e ao Bram Stoker Award, na Cynthia Pelayo eterniza casos esquecidos e negligenciados de desaparecimentos e assassinatos femininos. Levantando questões importantes como violência de gênero, discriminação racial e desigualdade social, Pelayo expõe a realidade das estruturas sociais que perpetuam o sofrimento e a marginalização contínua das mulheres, nos confrontando com a urgência de implementarmos mudanças sistêmicas. 

poemas para meninas esquecidas na escuridão

Lançamento da DarkSide® Books, Poemas para Meninas Esquecidas na Escuridão fornece voz às histórias dessas mulheres em um registro poético que ecoa como denuncia e imagina, de forma sensível, os futuros hipotéticos que lhes foram roubados. Pensando nessa importante questão, a Caveira levantou alguns dados sobre desaparecimentos de mulheres ao redor do mundo para você se informar. 

Um problema global

Embora seja um problema complexo e alarmante em diferentes partes do mundo, não existe uma base de dados unificada e padronizada que reúna os números totais de mulheres desaparecidas ao redor do globo. Isso acaba dificultando a coleta e a análise de dados em uma escala mundial. O próprio Brasil, por exemplo, ainda não possui um banco de dados com todas as pessoas que desaparecem no país. Para se ter uma ideia, em 2018 foi aprovada a implementação do Sistema Único de Segurança Pública, o qual seria responsável por centralizar os dados e as informações de segurança, facilitando o trabalho em conjunto dos estados. No entanto, até agora o sistema nunca saiu do papel

No geral, segundo o Anuário da Segurança Pública, em 2023 foram registrados 80.317 desaparecimentos — de homens e mulheres — no Brasil, representando um aumento de 3,2% com relação aos dados anteriores. Enquanto algumas pessoas são encontradas rapidamente, há outras que permanecem desaparecidas por décadas e nunca mais são encontradas.

É o caso, por exemplo, de Fabiana, uma menina de 13 anos que desapareceu na noite de 23 de dezembro de 1995 na maior cidade brasileira. Sua mãe, Ivanise Esperidião da Silva, voltou para casa após um compromisso e percebeu que a filha não estava lá. Fabiana havia saído de casa para dar feliz aniversário para uma de suas colegas da escola. Ela deveria voltar em 20 minutos, mas nunca mais foi vista. Sua mãe buscou ativamente por respostas, mas nunca as encontrou e teve negado o direito de enterrar e se despedir da filha. 

caso do desaparecimento fabiana

Infelizmente Fabiana segue desaparecida até hoje e sua família nunca teve o amparo necessário para enfrentar essa dor inimaginável. Em março de 1996, Ivanise se juntou a outros familiares de desaparecidos e criou a rede de apoio que não encontrou em nenhum outro lugar: a Associação Mães da Sé. Desde que foi fundado, o grupo já ajudou mais de 6 mil pessoas a serem encontradas e voltarem para suas casas.

O desaparecimento de mulheres

Uma das principais dificuldades na coleta de dados precisos sobre mulheres desaparecidas vem justamente da subnotificação. Isso significa que muitas vezes os desaparecimentos não são registrados ou que o registro é feito de forma inadequada, o que resulta no arquivamento do caso. A falta de políticas públicas e a invisibilização dos desaparecimentos faz com que muitas vezes as investigações não sejam continuadas. Em alguns casos, a denúncia é recebida com sexismo e preconceitos de gênero, classe e raça, com oficiais presumindo que essas mulheres e meninas saíram com namorados ou fugiram por vontade própria. Em outros, o processo é arquivado e a família nem fica sabendo. 

Um exemplo real disso ocorreu durante as investigações sobre o Assassino de Green River: como muitas das vítimas do assassino eram profissionais do sexo e/ou vinham de famílias de vulnerabilidade social, a polícia nunca levou muito a sério alguns dos desaparecimentos, deduzindo simplesmente que as jovens teriam fugido de casa. Ann Rule faz esse registro em Gary Ridgway: O Assassino de Green River.

gary ridgway

Há fatores que contribuem para a ocorrência específica de casos de desaparecimentos de mulheres. A violência de gênero é uma das principais causas, incluindo feminicídio, exploração sexual, trabalho forçado e tráfico de pessoas. Isso é acentuado por desigualdades raciais e de classe, por exemplo. Há ainda a vulnerabilidade das mulheres migrantes, que, devido a situações incertas e à falta de proteção, muitas vezes desaparecem e têm seus casos silenciados. A Organização das Nações Unidas, por exemplo, apontou que quando ocorrem desaparecimentos forçados, ou seja, em casos de repressão política e conflitos armados, as mulheres se tornam alvos vulneráveis para sequestros e atos de violência sexual. 

De acordo com o Anuário Brasileiro da Segurança Pública, publicado em 2024, a violência contra mulheres cresceu no Brasil durante o ano de 2023 em comparação com 2022. Quando somadas as modalidades de violências — homicídio e feminicídio, agressões em contexto de violências domésticas, ameaça, perseguição, violência psicológica e sexual — chega-se ao número espantoso de 1.238.208 mulheres agredidas em 2023

Já no México, por exemplo, estima-se que milhares de mulheres e meninas desaparecem todos os anos. O Estado do México, o mais populoso do país, divulgou o número aterrorizante de 1.238 desaparecidas em 2011 e 2012. Desse número, 53% eram meninas com menos de 17 anos de idade. No entanto, não existem dados de quantas delas foram encontradas vivas ou mortas. Nem mesmo se ainda estão desaparecidas. Entre os diferentes motivos desses desaparecimentos há um que se destaca: o tráfico humano. É estimado que 20 mil pessoas sejam traficadas todos os anos no México. Mulheres e principalmente meninas acabam sendo obrigadas a se prostituir e sofrem violências sexuais extremas, muitas vezes sendo aliciadas pela internet. 

protesto tráfico humano

Por outro lado, no Peru, mais de 3.400 mulheres foram dadas como desaparecidas entre janeiro e abril de 2023. Deste total, o relatório “O que aconteceu com elas?” apontou que 56% ainda não haviam sido encontradas. O país é outro que enfrenta um problema endêmico de desaparecimento feminino, o qual se agravou ainda mais durante a quarentena da covid-19. Segundo o Ministério do Interior, foram recebidas 2.766 denúncias de mulheres desaparecidas entre março e julho de 2020, sendo a grande maioria meninas e adolescentes. 

Assim como em outros países, as instituições peruanas não sabem ao certo o que aconteceu com essas vítimas e a falta de um sistema unificado impossibilita a análise de números reais. Geralmente, são as famílias que se tornam as principais responsáveis pelas buscas, muitas vezes auxiliadas por coletivos autônomos e ONGs. Foi o que aconteceu com o caso de Dominga Román, uma mulher de 46 anos que no dia 18 de janeiro de 2020 deixou sua casa no distrito de Sayán e nunca mais retornou. Sua família realizou buscas intensas e implorou por informações, mas até hoje ninguém sabe o que aconteceu com Dominga. 

Já na África, segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, mulheres e crianças são 75% das mais de 3,2 mil pessoas desaparecidas na Somália em 2020. Essa maioria se manteve na Etiópia, a qual registrava 3,3 mil desaparecidos no mesmo ano, sendo que 64% eram mulheres e crianças

O que podemos fazer?

Violência estrutural de gênero, discriminação racial e desigualdade social são alguns dos motivos por trás dos desaparecimentos de mulheres em todo o mundo. Enquanto mudanças sistêmicas e institucionais são imprescindíveis para mudar esse quadro, há outras coisas que podem e devem ser feitas. Inicialmente é fundamental a melhoria dos sistemas de registros nos países, assim como bases nacionais e internacionais unificadas de dados. Também é necessária uma maior cooperação entre nações, investimento em programas de prevenção, conscientização e educação contra violência de gênero, além de um treinamento mais adequado para as autoridades que recebem e investigam essas denúncias. 

Outro ponto ressaltado é a urgência de um atendimento de saúde e acolhimento para as famílias das vítimas. Vivendo a dor da incerteza, muitas mães, pais, irmãos, irmãs e familiares nunca sabem o que aconteceu com seus entes queridos, os quais permanecem assim, nem vivos, nem mortos. Segundo, Ivanise Esperidião da Silva, a mãe de Fabiana, a dor do desaparecimento é pior do que a da morte. Ela nunca acaba. Ela nunca tem seu ritual de despedida. É um luto inacabado. Uma ferida que nunca cicatriza.

LEIA TAMBÉM: 10 Documentários sobre crimes reais

Sobre DarkSide

Avatar photoEles bem que tentaram nos vender um mundo perfeito. Não é nossa culpa se enxergamos as marcas de sangue embaixo do tapete. Na verdade, essa é a nossa maldição. Somos íntimos das sombras. Sentimos o frio que habita os corações humanos. Conhecemos o medo de perto, por vezes, até rimos dele. Dentro de nós, é sempre meia-noite. É inútil resistir. Faça um pacto com quem reconhece a beleza d’ O terror. O terror. Você é um dos nossos.

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