Parece mas não é: celebridades vendem imagem e voz para perfis criados por inteligência artificial

Novidade já conta com a adesão de personalidades como Snoop Dog, Paris Hilton e Tom Brady.

Por Deborah Fortuna, CBN — Brasília


Kendall Jenner como Billie e Tom Brady como Bru Instagram
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O rosto e a voz são de uma das modelos mais bem pagas da atualidade e integrante da família Kardashian: a norte-americana Kendall Jenner. Mas quem comanda a conta no Instagran com mais de 200 mil seguidores é a Billie, uma personagem criada pela inteligência artificial da META, empresa responsável por redes sociais como Instagram, Facebook e WhatsApp.

A Billie é como uma irmã-gêmea da Kendall, que publica fotos, responde aos seguidores, dá conselhos e orientações. Mas ela não está sozinha no mundo virtual. Outros famosos também negociaram a própria imagem e a voz o para que os chatbots fossem criados. Por enquanto, a Meta anunciou 28 perfis criados pela inteligência artificial, e alguns usam a voz e o rosto das celebridades. O rapper Snoop Dog, por exemplo, se tornou o Dungeon Master, um gamer. Já a socialite Paris Hilton é a detetive Amber. O ex-marido da modelo Gisele Bündchen, o jogador da NFL, Tom Brady é um comentarista esportivo, o Bru, e a tenista Naomi Osaka é uma grande fã de anime.

Os perfis mesclam imagens e mensagens criadas por inteligência artificial com os vídeos de celebridades, influenciadores digitais gravados em estúdio - uma mistura de ficção com realidade. Para os especialistas no assunto, o lançamento desses perfis faz parte de uma proposta da empresa META de difundir a tecnologia dos assistentes virtuais para interagir, engajar e orientar usuários. Cada um tem uma personalidade diferente. Não entendeu nada? O professor de Inovação da FGV, Kenneth Corrêa explica:

"Eles quiseram aproveitar para criar a tecnologia dos assistentes, trazendo a imagem do famoso. Você vai ter aquela pessoa próxima de você. Imagina você poder ter dicas de pessoas que te influenciam de alguma maneira?"

É como uma Alexa, só que com uma tecnologia mais avançada e um rosto para tornar a experiência mais realistas, complementa o professor Corrêa:

"O problema era que até agora, um ano atrás, os assistentes eram muito limitados. A Alexa tem muita dificuldade de entender o que a gente está pedindo. A promessa dos assistentes era bacana, mas a entrega não estava legal. Desde que a tecnologia GPT apareceu, você passou a ter assistentes mais espertos."

Quando os novos assistentes virtuais chegam ao Brasil?

Por enquanto, o uso dessa tecnologia só está disponível para certos usuários nos Estados Unidos. Não há uma confirmação da META sobre os planos de expansão ou para o uso de imagem de celebridades brasileiras. Mas, os especialistas acreditam que é uma questão de tempo até chegar ao Brasil, e que essa tecnologia será parte de um futuro que já chegou.

O professor Pedro Burgos, gerente do núcleo de Inteligência de Dados do Insper, lembra que o chat GPT, por exemplo, foi criado há um ano. O especialista diz que ainda é difícil prever o que vai acontecer, mas ele aposta que os assistentes virtuais serão comuns, e que esse é apenas o primeiro passo:

"O seu professor de yoga vai ser uma inteligência artificial porque vai ser um tutor individualizado. Não só vai dar a aula como vai olhar sua postura e fazer observações. Essa possibilidade de você não ter apenas uma pessoa, mas um tutor é uma tendência. É muito difícil a futurologia, mas isso vai acontecer. A gente vai ver isso acontecer. O impacto da tecnologia é bastante profundo, não apenas para novos produtos, mas acho que ele pode mexer mais profundamente com coisas da natureza humana."

Epidemia de solidão

Apesar da curiosidade e dos benefícios, é preciso pensar nos riscos que ela oferece, não só para a humanidade, mas para a saúde mental do indivíduo. A pesquisadora e divulgadora científica na área de Psicologia e Inovação, Stephanny Sato, avalia que ainda não é possível falar em substituição das interações humanas por inteligência artificial, mas diz que é preciso prestar atenção nos efeitos dessa tecnologia, como por exemplo, a perda de habilidades sociais:

"Numa interação humano a humano não necessariamente você está prevendo o que vai acontecer. E essas inteligências artificiais estão aproveitando essa possível necessidade humana de trazer o que o usuário espera. O maior perigo é você ficar exposto a uma condição que você não aprenda, não desenvolva outras habilidades. Quais habilidades sociais ela pode estar deixando de aprender e desempenhar?"

Ela também pontua outros desafios como por exemplo uma epidemia de solidão. Um tema já retratado nas telas, como no filme HER, de 2013, que conta a história de Theodoro, que acaba se apaixonando pela voz do sistema operacional do próprio computador, uma entidade chamada Samantha. Isso não é muito Black Mirror?

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