O DONO DO MORRO

A vida de uma cidade � a hist�ria de sua gente - de seus intelectuais e comerciantes, de seus trabalhadores, policiais e bandidos. A menos que estes �ltimos estejam mortos, para o rep�rter ser� sempre mais conveniente tratar dos outros. No entanto, em certas sociedades o bandido tem grande for�a simb�lica, e dar as costas a ele � abrir m�o do bom trabalho jornal�stico. O Dono do Morro toma o caminho dif�cil ao contar a hist�ria de Nem da Rocinha, que est� t�o vivo quanto o leitor. Em novembro de 2011, ao ser preso, Nem era o criminoso mais procurado do Rio de Janeiro, se n�o do pa�s. Misha Glenny vai encontr�-lo na pris�o, e o que se segue � tanto a ascens�o e queda de um traficante como a trag�dia de uma cidade. Numa tarde de 2000, Ant�nio Francisco Bonfim Lopes "subiu o morro como Ant�nio e desceu como Nem". Em minutos, passou de trabalhador exemplar a bandido. O Rio � pr�digo em epis�dios de convers�o ao crime, mas raras vezes eles se apresentam com essa clareza tr�gica - com motiva��o, hora e local perfeitamente determinados. V�rios s�o os personagens deste livro, como Dudu, Lulu e Bem-Te-Vi, senhores ef�meros da vida e da morte, cuja notoriedade ser� aferida pelo fato de que, por uns meses - n�o mais de dez, tempo correspondente � expectativa de vida dos chefes da Rocinha -, bastava pronunciar as poucas s�labas de seus apelidos para que qualquer carioca soubesse de quem se tratava. Para a maioria deles o crime ter� sido um ato de consci�ncia pelo qual ter�o de ser responsabilizados. Diante das cartas que lhes foram dadas, mesmo aqueles que, a exemplo de Nem, n�o s�o monstros patol�gicos, preferiram o fuzil � carteira de trabalho, reafirmando a observa��o de Darcy Ribeiro: o Brasil � uma m�quina de moer gente. Da inunda��o do Rio pela coca�na nos anos 1980 ao atual n� que ata voto, armas, pol�tica, pol�cia e bandidagem, a apura��o impec�vel de Misha Glenny nos revela cada pe�a dessa moenda. Jo�o Moreira Salles